Ubiratan Jorge Iorio
Não há dúvida de que o arcabouço fiscal é uma licença para o governo queimar o dinheiro dos pagadores de impostos
Foto: Shutterstock
“O povo arca com o prejuízo e os políticos enchem o
‘bouço’ (sic)”.
Definição do “arcabouço fiscal”, vista em um para-choque de caminhão
Dois meses após aquele anúncio espetaculoso do dito
“arcabouço fiscal” e poucos dias depois de sua aprovação pelos denominados
representantes do povo na Câmara, não há muito a acrescentar aos inúmeros
comentários sobre o enorme retrocesso que representa essa tapeação. Por certo,
muitos economistas de diversas tendências vêm afirmando que se trata de um
logro do tipo “me engana que eu gosto”, inventado pelo ministro da Fazenda e
seus assessores “progressistas”. Não há dúvida de que se trata de uma licença
para o governo queimar o dinheiro dos pagadores de impostos e que, para
completar, isenta de qualquer culpa os responsáveis por estouros orçamentários
futuros, eventos antecipáveis como líquidos e certos, tendo em vista a natureza
perdulária do atual Executivo.
Esse salvo-conduto legal para gastar o nosso
dinheiro como se não houvesse amanhã joga por terra toda e qualquer esperança
de responsabilidade fiscal por parte do governo. Ao contrário, abre um leque
enorme de oportunidades de gastanças descontroladas e destemperanças
desenfreadas. Em outras palavras, a política e o regime fiscais — ou seja,
tanto a conjuntura quanto a estrutura das contas conhecidas como “públicas” —
apontam para o desregramento, o descomedimento e a imoderação. O preço disso
será muito alto.Cumpre frisar que, contrariamente ao que acredita a
desastrosa equipe econômica atual, os três mecanismos de financiamento de
déficits têm limites: a relação entre a dívida e o PIB pode atingir um nível
crítico (que ninguém pode saber de antemão qual é), em que a falta de confiança
dos detentores dos títulos públicos em seu resgate impedirá que a dívida
continue a aumentar; subir impostos é um contrassenso sem tamanho, além de
haver pouco espaço para isso; e aceitar taxas de inflação maiores é, em bom
português, uma perigosa burrice.
Infelizmente, a boa teoria econômica e a velha
experiência estão sugerindo que o estouro está mais do que anunciado, é
líquido, certo e será amplo. É apenas uma questão de tempo.
Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e
escritor
Instagram: @ubiratanjorgeiorio
Twitter: @biraiorio
Leia também “As lições de um
grande economista”
Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA
“O povo arca com o prejuízo e os políticos enchem o
‘bouço’ (sic)”.
Definição do “arcabouço fiscal”, vista em um para-choque de caminhão
Cumpre frisar que, contrariamente ao que acredita a desastrosa equipe econômica atual, os três mecanismos de financiamento de déficits têm limites: a relação entre a dívida e o PIB pode atingir um nível crítico (que ninguém pode saber de antemão qual é), em que a falta de confiança dos detentores dos títulos públicos em seu resgate impedirá que a dívida continue a aumentar; subir impostos é um contrassenso sem tamanho, além de haver pouco espaço para isso; e aceitar taxas de inflação maiores é, em bom português, uma perigosa burrice.
Infelizmente, a boa teoria econômica e a velha experiência estão sugerindo que o estouro está mais do que anunciado, é líquido, certo e será amplo. É apenas uma questão de tempo.
Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e
escritor
Instagram: @ubiratanjorgeiorio
Twitter: @biraiorio
Leia também “As lições de um grande economista”