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quarta-feira, 18 de julho de 2018

As tungas dos sindicalismos



Como a bolsa da Viúva deu sopa, maganos que se dizem representantes de patrões e de empregados fazem a festa

Quem leu a reportagem de Philipe Guedes constrangeu-se. O Sindicato dos Trabalhadores em Entidades de Assistência e Educação à Criança e ao Adolescente cobrava uma “taxa negocial” aos seus 40 mil filiados, e quem não quisesse pagá-la deveria ir à sua sede para carimbar um documento. As vítimas tiveram três dias para cumprir a exigência, e o resultado foi a formação de uma fila de quase um quilômetro nas ruas vizinhas à sede do Sitraemfa.

Esse truque está sendo usado por inúmeros sindicatos desde que a reforma trabalhista desmamou-os, tirando-lhes o dinheiro do imposto sindical. (Um dia de suor de cada empregado formal, gerando uma caixa de R$ 3 bilhões em 2017.) Os sindicatos poderiam receber os documentos pela internet, mas criam uma burocracia intimidatória que supera, de muito, o tempo que um trabalhador perde para tirar uma carteira de identidade no Poupatempo de São Paulo. É razoável que um sindicato cobre taxas por ter negociado o dissídio de uma categoria, desde que o tenha negociado. Milhares de sindicatos nada mais fazem do que cuidar da vida de seus dirigentes. Os mandarins dizem que as taxas foram aprovadas em assembleias dos associados, mas ganha uma visita ao sítio de Atibaia frequentado por Lula quem já foi a uma assembleia de sindicato. (“Nosso Guia” entrou na política combatendo o imposto sindical.)

A questão acabaria se fosse aberto o cadeado que blinda o peleguismo sindical de empregados e patrões. Bastaria abolir o dispositivo que obriga todos os trabalhadores e empresários de uma categoria a serem filiados a um só sindicato. Uma profissão ou atividade poderia ter inúmeros sindicatos, e o trabalhador escolheria o que lhe presta melhores serviços. Poderia até não se filiar a nenhum.  O sujeito que leu a reportagem de Guedes pode ter pensado que a praga é coisa do andar de baixo. Engano, a repórter Raquel Landim mostrou que no andar de cima a coisa é pior. Enquanto os trabalhadores eram tungados em um dia de salário, as empresas são mordidas num percentual de suas folhas de pagamento. O chamado Sistema S arrecadou R$ 16,4 bilhões em 2017. Uma parte desse dinheiro vai para atividades meritórias, outra financia a máquina sindical dos patrões. 

Uma beleza de máquina. Os presidentes de 42 federações patronais estão no cargo há mais de nove anos; cinco, há mais de 40; Fábio Meirelles, presidente da Federação da Agricultura de São Paulo, há 43.  Em tese, essa liderança corporativa seria representativa da elite empresarial. Não é. O atual presidente da Federação da Agricultura do Acre já foi condenado a seis anos de reclusão por participar de uma rede de exploração de menores. Clésio Andrade, que está há 25 anos à frente da Confederação Nacional do Transporte, teve uma condenação a cinco anos. No Rio, pegaram na rede das roubalheiras de Sérgio Cabral o presidente da Fecomércio e seu colega da Fetranspor, doutor Lélis Teixeira. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, foi acusado de operar um caixa 2 em suas campanhas políticas.
A trama das “taxas negociais” e o coronelato patronal nada têm a ver com classes sociais, o que aproxima e encanta sindicalistas do andar de cima e do andar de baixo é o acesso à Bolsa da Viúva.




domingo, 5 de março de 2017

Por estas e outras é que o Temer vai dar certo - tem errado muito, feito bobagens, mas, está mais para Itamar que para Sarney, o que salva o Brasil

A boa notícia vem do São Francisco

Parte do projeto de transposição está ficando pronta

Durante o consulado petista, Lula encantou-se com a ideia de transposição das águas do Rio São Francisco e transformou-a numa das joias de sua coroa. A obra demorou dez anos e custou o dobro do que se previa, salpicada por mordidas de empreiteiras. Apesar de tudo isso, uma parte do projeto está ficando pronta. As coisas boas também acontecem. [a grande verdade é que Lula inventou de realizar a transposição do Rio São Francisco para ter uma fonte de recursos públicos para roubar - ainda não sabia que as fontes são muitas e ele AINDA não sabia que surgiria o 'mensalão-pt' (por favor, notem bem o AINDA não sabia, logo que surgiu o esboço do mensalão -pt ela foi informado e autorizou a execução - o que põe por terra a alegação que não sabia.
Assim, ele inventou a transposição, entregou a administração direta da organização criminosa para o Ciro Gomes, mas, logo optou por dirigir pessoalmente outras fontes de desvio de dinheiro público.
O mesmo vale para a TRANS NORDESTINA, que Lula inaugurou quatro vezes e mesmo com tanta festança ainda não tem um quilômetro com tráfego comercial, tanto que na última inauguração os vagões ferroviários foram para o local da 'inauguração' em carretas rodoviárias.
Temer com certeza vai entregar - com tráfego comercial efetivo - pelo menos com algumas centenas de Km.]

Desde janeiro, as águas do São Francisco saem do lago da barragem de Itaparica, em Pernambuco, percorrem 222 quilômetros pelo chamado Eixo Leste e entram na Paraíba. Na próxima quinta-feira, elas chegarão ao açude de Poções, no município de Monteiro, de onde descerão por gravidade para o reservatório de Boqueirão, que abastece Campina Grande e outras 18 cidades.[lamentavelmente, nesse final de semana,  ocorreu um acidente,  com o rompimento de uma das barragens mas a situação já está sob controle.]

Ao contrário do que diziam os adversários do projeto, a transposição das águas do São Francisco não foi “a Transamazônica do Lula”. A ideia foi vista com um certo preconceito regional, e uma greve de fome de um bispo transformou em problema algo que era solução. No capítulo dos grandes projetos petistas, o do trem-bala, que ligaria o Rio a São Paulo, apanhou muito menos que o da transposição. Com uma diferença, a velha ideia das águas do São Francisco era boa e deu certo. [começa a dar certo, especialmente por se não cessou total, pelo menos diminuiu a roubalheira e começam a surgir resultados.] Felizmente, o trem-bala ficou no papel.

Os quilômetros de canais que atravessam o semiárido estarão para Lula assim como Brasília está para Juscelino Kubitschek. Também vai para a conta do estilo petista de operar; a transposição de R$ 200 milhões para o bolso de maganos metidos na obra do Eixo Leste.  Em janeiro passado, quando inaugurou uma estação de bombeamento no município de Floresta, em Pernambuco, o presidente Michel Temer pareceu generoso: “Quero render homenagens aos governos anteriores que tiveram a ideia, desde 15 anos atrás, de fazer a transposição” Deu também uma aula de Ciência Política: “Aqui no Brasil é assim, quando você faz uma obra o sujeito esquece quem começou”.

Temer esqueceu o nome de Lula e fez uma conta astuciosa. O primeiro projeto de transposição de águas do São Francisco para terras do semiárido é de 1847. Há “15 anos atrás” (portanto, em 2002, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso) continuava-se no mundo dos debates e dos projetos centenários. Quem transpôs a ideia para a vida real, arrostando anos de críticas, foi a jararaca petista. [lembrar nunca é demais: o que motivou Lula não foi resolver, ou minorar, a falta de água em parte do Nordeste, o que ele queria mesmo era uma fonte de propina.] Temer tem o mérito de estar concluindo uma obra que estava encalhada no final do governo de Dilma Rousseff. Tendo seu quinhão no êxito, não deve fazer com Lula o que ele fez com Fernando Henrique, jamais reconhecendo o valor da moeda estável que lhe entregou em 2003.

ODEBRECHT É O REI DOS MALANDROS
Ao contrário do que tenta fazer crer, Marcelo Odebrecht nunca foi o bobo da corte, muito menos um otário qualquer. Bem-nascido, bem-educado e bem relacionado, ele deixou-se coroar como o Rei dos Malandros. Se tivesse vivido alguns meses na velha Lapa de Madame Satã, onde Ismael Silva jantava no Capela e o imenso Boi tomava conta da porta do cabaré Novo México, saberia que o Rei dos Malandros era um otário.

Doutor Marcelo nunca teve a competência do avô, faltou-lhe a discrição do pai e chutou o balde de velhos sócios, julgando-se senhor da Justiça baiana. Misturou caixa um com caixa dois e deu inédito formato empresarial a um departamento de propinas. Como Rei dos Malandros, Marcelo Odebrecht nunca foi um bobo qualquer. Arruinou sua empresa, tisnou seu sobrenome, está na cadeia, mas continua acreditando que os otários são os outros.

ALVORADA INFERNAL
O casal Michel Temer fugiu do Palácio da Alvorada e fez muito bem. O cartão postal de Oscar Niemeyer é uma daquelas casas onde se pode ir, mas não se deve morar.

Seis dos 13 presidentes condenados a habitar o Alvorada fugiam de lá sempre que podiam. Houve época em que não se organizavam cerimônias de manhã caso houvesse peixe frito no menu do almoço. A iluminação da sala de jantar era feita com as velhas lâmpadas fluorescentes, daquelas que arruínam a maquiagem das senhoras.

Temer foi gentil ao proteger seu filho de 7 anos apenas com grades no mezanino. Ficou parecendo um galinheiro, mas o acesso àquele prédio devia ser proibido para menores de dez anos.

PILANTROPIA
O deputado Arthur Maia, relator da PEC da reforma da Previdência, anuncia que vai em cima das isenções de entidades ditas filantrópicas, beneficiadas por isenções tributárias que irão a R$ 4,5 bilhões neste ano.

A sorte levou para sua mesa uma revelação do repórter Reynaldo Turollo Jr: o doutor Fábio Meirelles, presidente da Federação de Agricultura de São Paulo desde 1975, tem quatro filhos ligados ao orçamento da instituição. Isso para não se falar da copeira da filha, paga pela federação. Meirelles preside o conselho do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, o Senar, uma estrela do Sistema S, constelação de entidades do sindicalismo patronal que capta compulsoriamente R$ 15 bilhões anuais da folha de pagamento de empresas. Em 2015, a Faesp recebeu R$ 120 milhões do Senar.

Nenhum governo conseguiu mexer nessa caixa-preta.

(...)

Fonte: Elio Gaspari - O Globo