Como a bolsa da Viúva deu sopa, maganos que se dizem representantes de patrões e de empregados fazem a festa
Quem leu
a reportagem de Philipe Guedes constrangeu-se. O Sindicato dos Trabalhadores em
Entidades de Assistência e Educação à Criança e ao Adolescente cobrava uma
“taxa negocial” aos seus 40 mil filiados, e quem não quisesse pagá-la deveria
ir à sua sede para carimbar um documento. As vítimas tiveram três dias para
cumprir a exigência, e o resultado foi a formação de uma fila de quase um
quilômetro nas ruas vizinhas à sede do Sitraemfa.
Esse
truque está sendo usado por inúmeros sindicatos desde que a reforma trabalhista
desmamou-os, tirando-lhes o dinheiro do imposto sindical. (Um dia de suor de
cada empregado formal, gerando uma caixa de R$ 3 bilhões em 2017.) Os
sindicatos poderiam receber os documentos pela internet, mas criam uma burocracia
intimidatória que supera, de muito, o tempo que um trabalhador perde para tirar
uma carteira de identidade no Poupatempo de São Paulo. É
razoável que um sindicato cobre taxas por ter negociado o dissídio de uma
categoria, desde que o tenha negociado. Milhares de sindicatos nada mais fazem
do que cuidar da vida de seus dirigentes. Os mandarins dizem que as taxas foram
aprovadas em assembleias dos associados, mas ganha uma visita ao sítio de
Atibaia frequentado por Lula quem já foi a uma assembleia de sindicato. (“Nosso
Guia” entrou na política combatendo o imposto sindical.)
A questão
acabaria se fosse aberto o cadeado que blinda o peleguismo sindical de
empregados e patrões. Bastaria abolir o dispositivo que obriga todos os trabalhadores
e empresários de uma categoria a serem filiados a um só sindicato. Uma
profissão ou atividade poderia ter inúmeros sindicatos, e o trabalhador
escolheria o que lhe presta melhores serviços. Poderia até não se filiar a
nenhum. O sujeito
que leu a reportagem de Guedes pode ter pensado que a praga é coisa do andar de
baixo. Engano, a repórter Raquel Landim mostrou que no andar de cima a coisa é
pior. Enquanto os trabalhadores eram tungados em um dia de salário, as empresas
são mordidas num percentual de suas folhas de pagamento. O chamado Sistema S
arrecadou R$ 16,4 bilhões em 2017. Uma parte desse dinheiro vai para atividades
meritórias, outra financia a máquina sindical dos patrões.
Uma
beleza de máquina. Os presidentes de 42 federações patronais estão no cargo há
mais de nove anos; cinco, há mais de 40; Fábio Meirelles, presidente da
Federação da Agricultura de São Paulo, há 43. Em tese,
essa liderança corporativa seria representativa da elite empresarial. Não é. O
atual presidente da Federação da Agricultura do Acre já foi condenado a seis
anos de reclusão por participar de uma rede de exploração de menores. Clésio
Andrade, que está há 25 anos à frente da Confederação Nacional do Transporte,
teve uma condenação a cinco anos. No Rio, pegaram na rede das roubalheiras de
Sérgio Cabral o presidente da Fecomércio e seu colega da Fetranspor, doutor
Lélis Teixeira. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, foi acusado de operar um
caixa 2 em suas campanhas políticas.
A trama
das “taxas negociais” e o coronelato patronal nada têm a ver com classes
sociais, o que aproxima e encanta sindicalistas do andar de cima e do andar de
baixo é o acesso à Bolsa da Viúva.
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