O Rio esquece tudo o que foi estudado e tentado para comunidades como a Rocinha e volta a enxugar gelo
Enquanto escrevo, sexta-feira de manhã (22), recebo
áudios desesperados e vídeos de pessoas carbonizadas, agonizando,
compartilhados por moradores da Rocinha. “Leva seu filho daí. Se tranque
com sua filha na casa da avó. Balearam o filho da vizinha. Tá tudo
dominado.” Fecharam o túnel entre Gávea e São Conrado. O tiroteio é
intenso. A Escola Parque, onde minha neta estuda, na Gávea, não vai
abrir.
Há dez anos, em agosto de 2007, escrevi para ÉPOCA uma reportagem especial, “A nova cara da Rocinha” (leia a reportagem: parte 1, parte 2, parte 3, e os pontos do projeto). Foi antes da UPP. Com o conhecimento do tráfico, então comandado por Antonio Bonfim Lopes, o Nem, para não arriscar minha vida, eu morei na Rua 2, na Rocinha, que fica a dez minutos de minha casa, no Leblon. Eu era e continuo a ser uma pessoa “de fora”, para eles. Tão estrangeira quanto uma americana ou europeia.
Foram dias vertiginosos. Vi rapazes com uma metralhadora cromada numa das mãos e uma sacola de legumes na outra, para contrabalançar o peso, vida e morte lado a lado, na saída do supermercado, a caminho do “trabalho na boca”. Noites sem dormir, com o barulho dos bailes funk até as 6 horas. Participei de churrasco na laje, em companhia de famílias modestas, trabalhadoras e mais bem-educadas do que muitos ricos do asfalto.
A reportagem nada tinha a ver com o narcotráfico. Era sobre um projeto inovador de urbanização, com participação do Estado, sob a batuta do arquiteto Luiz Carlos Toledo, que fincou escritório ali, perto da curva do S, e mapeava cada rua com a ajuda de universitários. O projeto incluía remoção de áreas de risco. Custaria R$ 580 milhões e duraria de dez a 15 anos para ser concluído. A Rocinha, segunda maior favela da América Latina em habitantes, estava destinada a ser um laboratório-modelo de comunidades carentes para o Brasil.
Eu escrevi: “O primeiro obstáculo a vencer é a descrença. Será que vai dar certo?”. Já sabemos a resposta.
“O êxito da iniciativa”, escrevi ainda, “depende de uma condição básica: o Estado precisa entrar no morro e não sair mais. Há quem acredite que desta vez a urbanização (da Rocinha) seja para valer. Há quem suspeite que o Estado não tem competência para consertar o caos instalado, fornecer os serviços públicos essenciais, coibir a expansão irregular que ameaça o Parque Nacional da Tijuca e expulsar o crime organizado.” Já sabemos a resposta. Dói. Muito.
Você sabe qual é o maior passatempo na Rocinha? A igreja, para 76% dos moradores. De todos os problemas vividos, o maior, na voz deles, sempre foi a falta de saneamento, que tornava a vida menos digna: 40% queriam acabar com os ratos na porta de casa e diminuir o índice de tuberculose, o maior do estado do Rio de Janeiro. O que aconteceu de lá para cá? Nada, além da UPP, que, durante um bom tempo, acabou com a ostentação de armas, a briga de gangues e o domínio do território pelo tráfico. [sempre tendo como Norte criminalizar o policial, o que fazia quando ocorria algum ilícito se acusava a polícia; vejam que o Amarildo, tentou dar a volta no tráfico, dançou e os traficantes resolveram forçar a barra para jogar a culpa do 'sumiço' do Amarildo nos policiais da UPP e tiveram êxito total.
Policiais militares foram punidos pelo 'assassinato' de Amarildo.
Só que o 'politicamente correto' - defendido pelas ONG dos defensores de direitos humanos - que sempre priorizam os direitos humanos dos bandidos em vez de priorizar os DIREITOS HUMANOS dos HUMANOS DIREITOS - e seus aliados funcionou contra eles.
Desmoralizou as UPPs e revelou a farsa - diversas vezes apontada neste Blog: os bandidos fingiam temer as UPPs, o Beltrame para manter as aparências sempre divulgava com antecedência quando iriam 'ocupar' nova área, os bandidos tiravam férias e voltavam mais discretos e a população continuava sendo enganada.] Nem foi preso. Está em Rondônia. Rogério o substituiu. Com a falência das UPPs, Rogério, o novo “dono da Rocinha”, passou a agir como milícia e extorquir. Gás, água, a preços exorbitantes. Nem, do presídio, mandou invadir a Rocinha e expulsar o bando de Rogério. Famílias estão sitiadas entre traficantes e policiais. Aterrorizadas.
Não consigo engolir a cobertura da guerra na Rocinha e o leque de soluções inócuas apontadas. A discussão de sempre. Chama ou não chama as Forças Armadas? Não se entendem o secretário de Segurança Roberto Sá, o governador Pezão e o ministro da Defesa Raul Jungmann? Então, ok. A solução para a Rocinha é chamar o Exército. E esquecer tudo o que foi estudado e tentado no Rio de Janeiro, jogado no lixo por governadores ladrões e prefeitos claudicantes e omissos.
Vamos voltar a enxugar gelo. Não há estratégia de urbanização ou pacificação. Não se debate a descriminalização das drogas. Ah, sim. Barra as visitas para o Nem. Mata o Rogério. Prende seu bando. Pega os fuzis e distribui para a polícia mal armada. [uma coisa é certa: a Rocinha e demais favelas do Rio que estão sob controle do tráfico, precisam ser consideradas pelas forças de segurança - FF AA e Polícia - como áreas inimigas e que precisam ser militarmente ocupadas, limpas e depois devolvidas aos moradores que não sejam bandidos.
Mesmo com todo esse processo de consolidação da erradicação do tráfico, deve haver sempre vigilância para evitar que outros bandidos tentem retomar o controle.] Toque de recolher. Lei do silêncio. Apaga os vídeos, mano. Tá tudo dominado. Quem domina? Ninguém sabe. A boçalidade domina.
Só a impotência explica que fiquemos de joelhos para o Exército, implorando por uma intervenção que nós, cidadãos, não temos como delimitar às ruas ou às favelas. [o nome mais adequado para substituir impotência é = só o Exército resolve] O que começa como presença física de tropas, aplaudidas pelo efeito imediato de dissuasão da violência, pode se encaminhar para uma intervenção política. Aberta ou disfarçada. Para “preservar a lei e a ordem”.
Diante da corrupção repugnante dos políticos, os “generais-tipo-mourão” botam as manguinhas camufladas de fora. Jair Bolsonaro, nacionalista de extrema-direita, ganha apoio no meio do caos e tenta se candidatar a presidente por um partido intitulado Patriota ou PAB, Pátria Amada Brasil. É o desespero que move muitos brasileiros. E o desespero é péssimo conselheiro.
Fonte: Ruth Aquino - Revista Época
Há dez anos, em agosto de 2007, escrevi para ÉPOCA uma reportagem especial, “A nova cara da Rocinha” (leia a reportagem: parte 1, parte 2, parte 3, e os pontos do projeto). Foi antes da UPP. Com o conhecimento do tráfico, então comandado por Antonio Bonfim Lopes, o Nem, para não arriscar minha vida, eu morei na Rua 2, na Rocinha, que fica a dez minutos de minha casa, no Leblon. Eu era e continuo a ser uma pessoa “de fora”, para eles. Tão estrangeira quanto uma americana ou europeia.
Foram dias vertiginosos. Vi rapazes com uma metralhadora cromada numa das mãos e uma sacola de legumes na outra, para contrabalançar o peso, vida e morte lado a lado, na saída do supermercado, a caminho do “trabalho na boca”. Noites sem dormir, com o barulho dos bailes funk até as 6 horas. Participei de churrasco na laje, em companhia de famílias modestas, trabalhadoras e mais bem-educadas do que muitos ricos do asfalto.
A reportagem nada tinha a ver com o narcotráfico. Era sobre um projeto inovador de urbanização, com participação do Estado, sob a batuta do arquiteto Luiz Carlos Toledo, que fincou escritório ali, perto da curva do S, e mapeava cada rua com a ajuda de universitários. O projeto incluía remoção de áreas de risco. Custaria R$ 580 milhões e duraria de dez a 15 anos para ser concluído. A Rocinha, segunda maior favela da América Latina em habitantes, estava destinada a ser um laboratório-modelo de comunidades carentes para o Brasil.
Eu escrevi: “O primeiro obstáculo a vencer é a descrença. Será que vai dar certo?”. Já sabemos a resposta.
“O êxito da iniciativa”, escrevi ainda, “depende de uma condição básica: o Estado precisa entrar no morro e não sair mais. Há quem acredite que desta vez a urbanização (da Rocinha) seja para valer. Há quem suspeite que o Estado não tem competência para consertar o caos instalado, fornecer os serviços públicos essenciais, coibir a expansão irregular que ameaça o Parque Nacional da Tijuca e expulsar o crime organizado.” Já sabemos a resposta. Dói. Muito.
Você sabe qual é o maior passatempo na Rocinha? A igreja, para 76% dos moradores. De todos os problemas vividos, o maior, na voz deles, sempre foi a falta de saneamento, que tornava a vida menos digna: 40% queriam acabar com os ratos na porta de casa e diminuir o índice de tuberculose, o maior do estado do Rio de Janeiro. O que aconteceu de lá para cá? Nada, além da UPP, que, durante um bom tempo, acabou com a ostentação de armas, a briga de gangues e o domínio do território pelo tráfico. [sempre tendo como Norte criminalizar o policial, o que fazia quando ocorria algum ilícito se acusava a polícia; vejam que o Amarildo, tentou dar a volta no tráfico, dançou e os traficantes resolveram forçar a barra para jogar a culpa do 'sumiço' do Amarildo nos policiais da UPP e tiveram êxito total.
Policiais militares foram punidos pelo 'assassinato' de Amarildo.
Só que o 'politicamente correto' - defendido pelas ONG dos defensores de direitos humanos - que sempre priorizam os direitos humanos dos bandidos em vez de priorizar os DIREITOS HUMANOS dos HUMANOS DIREITOS - e seus aliados funcionou contra eles.
Desmoralizou as UPPs e revelou a farsa - diversas vezes apontada neste Blog: os bandidos fingiam temer as UPPs, o Beltrame para manter as aparências sempre divulgava com antecedência quando iriam 'ocupar' nova área, os bandidos tiravam férias e voltavam mais discretos e a população continuava sendo enganada.] Nem foi preso. Está em Rondônia. Rogério o substituiu. Com a falência das UPPs, Rogério, o novo “dono da Rocinha”, passou a agir como milícia e extorquir. Gás, água, a preços exorbitantes. Nem, do presídio, mandou invadir a Rocinha e expulsar o bando de Rogério. Famílias estão sitiadas entre traficantes e policiais. Aterrorizadas.
Não consigo engolir a cobertura da guerra na Rocinha e o leque de soluções inócuas apontadas. A discussão de sempre. Chama ou não chama as Forças Armadas? Não se entendem o secretário de Segurança Roberto Sá, o governador Pezão e o ministro da Defesa Raul Jungmann? Então, ok. A solução para a Rocinha é chamar o Exército. E esquecer tudo o que foi estudado e tentado no Rio de Janeiro, jogado no lixo por governadores ladrões e prefeitos claudicantes e omissos.
Vamos voltar a enxugar gelo. Não há estratégia de urbanização ou pacificação. Não se debate a descriminalização das drogas. Ah, sim. Barra as visitas para o Nem. Mata o Rogério. Prende seu bando. Pega os fuzis e distribui para a polícia mal armada. [uma coisa é certa: a Rocinha e demais favelas do Rio que estão sob controle do tráfico, precisam ser consideradas pelas forças de segurança - FF AA e Polícia - como áreas inimigas e que precisam ser militarmente ocupadas, limpas e depois devolvidas aos moradores que não sejam bandidos.
Mesmo com todo esse processo de consolidação da erradicação do tráfico, deve haver sempre vigilância para evitar que outros bandidos tentem retomar o controle.] Toque de recolher. Lei do silêncio. Apaga os vídeos, mano. Tá tudo dominado. Quem domina? Ninguém sabe. A boçalidade domina.
Só a impotência explica que fiquemos de joelhos para o Exército, implorando por uma intervenção que nós, cidadãos, não temos como delimitar às ruas ou às favelas. [o nome mais adequado para substituir impotência é = só o Exército resolve] O que começa como presença física de tropas, aplaudidas pelo efeito imediato de dissuasão da violência, pode se encaminhar para uma intervenção política. Aberta ou disfarçada. Para “preservar a lei e a ordem”.
Diante da corrupção repugnante dos políticos, os “generais-tipo-mourão” botam as manguinhas camufladas de fora. Jair Bolsonaro, nacionalista de extrema-direita, ganha apoio no meio do caos e tenta se candidatar a presidente por um partido intitulado Patriota ou PAB, Pátria Amada Brasil. É o desespero que move muitos brasileiros. E o desespero é péssimo conselheiro.
Fonte: Ruth Aquino - Revista Época