Análise Política
As
pessoas gostam mais de algumas pesquisas e menos de outras, mas infelizmente não há outro
jeito de saber como anda a eleição. E quase todas elas apontam a liderança de
Luiz Inácio Lula da Silva, com possibilidade de liquidar a fatura no primeiro
turno, e Jair Bolsonaro folgado logo atrás, sem ser ameaçado por nenhum dos
nomes remanescentes da terceira via. Assim entra a última semana antes do 2 de
outubro.
Há, porém, um detalhe nas pesquisas menos explorado, mas que se tem
mostrado decisivo nos rumos da corrida: o gradiente
entre as taxas de rejeição, aliás muito altas, entre os dois ponteiros.
Quando a rejeição é medida da maneira mais adequada, perguntando ao
entrevistado se ele vota com certeza, pode votar ou não vota de jeito nenhum em
determinado nome, a oposição radical a Bolsonaro gira sempre em torno de 55%,
dez pontos acima da de Lula.
[depende a quem as pesquisas
perguntam? o descondenado não vai às ruas para não ser vaiado, ovado,
apedrejado; e os devotos que comparecem aos seus "comícios" -
realizados em locais fechados, entrada restrita aos devotos, são roubados até
em celulares. Quando o criminoso petista aparece em um local 'público' as
imagens sempre são close deles e de alguns cúmplices que o rodeiam.]
Esse número 10 aparece nas mais diversas medições da corrida. Em ordem de
grandeza, baliza a diferença entre os dois no primeiro turno, com alguma
ampliação no segundo. Também parametriza as distâncias entre o
ótimo+bom+regular positivo e o péssimo+ruim+regular negativo. Bem como a
distância entre aprovação e desaprovação, medição binária essencial para
conhecer com mais precisão a imagem de governos e governantes.[falando em rejeição - CONFIRA]
Bolsonaro
encontra dificuldade para reduzir significativamente a distância entre ele e
Lula, mesmo com a melhora notada na percepção sobre a situação da economia. Por quê? Porque não consegue reduzir o hiato nas
rejeições, que parece ter origem mais na resistência à pessoa do presidente do
que a seu governo. Esta eleição não está sendo tanto um plebiscito sobre o
governo Bolsonaro, mas sobre o Jair.
Uma das principais razões para o PT e aliados lutarem
com todas as forças para liquidar a fatura na primeira rodada é o risco de a
polarização "depurada" de um segundo turno, com
alguma paridade de condições, acabar equalizando as rejeições e tornando o
desfecho menos previsível. Até agora não aconteceu, apesar das campanhas
negativas. Talvez por cada um dos boxeadores estar enfatizando fraquezas do
adversário bem cristalizados no eleitorado.
Fragilidades já bem precificadas.
Neste momento, na comparação com 2018, Bolsonaro e Lula parecem reproduzir os
desempenhos dos então candidatos do PSL e do PT em todo o país, com exceção do
Sudeste. Na maior concentração populacional e eleitoral do Brasil, o atual
presidente deu um banho quatro anos atrás e hoje luta para equilibrar o jogo.
Decorrem principalmente daí as distâncias abertas pelo ex nas pesquisas
nacionais.
Bolsonaro enfrenta um forte antibolsonarismo na classe média (definida pelos generosos critérios brasileiros) do
Sudeste, cultivado nas atitudes do presidente durante a pandemia e pelas suas
arriscadas relações, ao menos verbais, com a institucionalidade. [será? em 2 out 2022 Bolsonaro será reeleito com
mais de 95.000.000 de votos - pesquisas fake serão mais uma vez desmoralizadas.
É pagar para ver. O que as pesquisas mostram não é visto no Brasil real.] Como vai resolver isso será
tarefa para seus profissionais de comunicação, se houver segundo turno. Quatro
semanas a mais de oportunidades nunca são demais.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
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Publicado na revista Veja de 28 de setembro de 2022, edição nº 2.804