O governo está dividido sobre o que fazer diante da crise do Rio
Grande do Norte, mas só existe um caminho: o de cumprir a lei. Não é
possível seguir a cabeça dos ministros políticos e do ministro do
Planejamento, que estão se esforçando para atender ao pedido do governo
estadual. Existe uma lei de recuperação fiscal, que estabelece regras, e
só através dela se pode dar ajuda federal.
Foi esse caminho que o Rio de Janeiro seguiu. É doloroso, difícil,
mas é isso que está na lei. A própria legislação que estabelece a forma
de socorrer estados em crise foi uma concessão. Ela cria uma espécie de
monitoramento das contas estaduais pelo governo federal e faz exigência
de que o estado, antes de ser ajudado, se enquadre em um programa de
recuperação das contas públicas. No Rio, os funcionários ficaram o ano
inteiro com seus salários atrasados enquanto o governo tentava aprovar o
programa de recuperação que previa cortes de gastos, aumento da
contribuição de funcionários e a privatização da Cedae. Há percalços,
até judiciais, mas o fato é que o Rio vem tentando conseguir formas de
se enquadrar na lei de recuperação. O mesmo acontece com o Rio Grande do
Sul.
Se o governo quiser transferir recursos para o Rio Grande do Norte
para que o governo estadual pague os salários atrasados, estará
desrespeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal, que veda este tipo de
socorro. É isso que internamente tem dito a secretária do Tesouro, Ana
Paula Vescovi. Oficialmente, o Ministério da Fazenda vetou a ajuda de R$
600 milhões, depois que ouviu do Tribunal de Contas que a ajuda seria
inconstitucional.
É crime pela LRF transferir recursos aos estados sem que eles se
enquadrem em um programa de recuperação. Além disso, é quebra da
isonomia federativa. Se ajudar um estado, terá que transferir recursos
para todos os outros. No dia em que, neste ponto, vencer a ala gastadora
do governo, haverá outros 26 governadores na porta do Palácio do
Planalto querendo recursos. E é bom lembrar que este é um governo que
enfrenta uma enorme crise fiscal e que está com déficit primário nas
suas contas.
Em qualquer governo, há divisão entre os gastadores e os que querem
manter, em maior ou menor grau, o controle de gastos. Desta vez, a cisão
é ainda pior e parece haver, na prática, dois governos Temer, tal a
distância que está se abrindo entre um lado e outro. Um deles tem
resultados a mostrar porque controlou o pior da crise econômica, já
reduziu fortemente a inflação, e esta semana mesmo mostrou melhora de
arrecadação e até um superávit primário nestes tempos difíceis de
déficits sequenciais. Há outra parte que repete a fórmula da gastança e
do toma-lá-dá-cá que o ministro Carlos Marun explicitou esta semana ao
defender o uso político dos recursos da Caixa como se fosse natural e
apenas “ações de governo”.
O Congresso depôs a presidente Dilma exatamente por não cumprir a Lei
de Responsabilidade Fiscal e por usar politicamente os recursos dos
bancos públicos. Se cada disputa interna continuar sendo vencida pela
ala que acha que os limites legais são meros detalhes que podem ser
contornados, o perigo é enorme. Não para o governo, mas para o país, que
tem uma situação fiscal desastrosa e vive uma recuperação econômica
frágil.
O Rio Grande do Norte está em uma crise social e de segurança de
grandes proporções, com os policiais e os bombeiros aquartelados e em
greve há uma semana. No Espírito Santo, houve um motim da PM, deflagrado
apesar de os salários não terem atrasado. O governo capixaba enfrentou o
problema e ele foi resolvido sem a ajuda financeira do governo federal.
Não há outra saída a não ser avisar ao governador potiguar que ele tem
que propor um programa de ajustes dentro da Lei de Recuperação Fiscal e
só depois disso começará a ser discutida a ajuda federal.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que foi rigoroso com o Rio
de Janeiro e o Rio Grande do Sul, não pode se ausentar nesta discussão.
E neste assunto ele tem que pensar com a cabeça de ministro das
finanças e não como possível futuro candidato. O governo federal tem que
ter a cabeça na lei que aprovou e sancionou, e não em interesses
políticos momentâneos.
Blog da Miriam Leitão
Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
Duas cabeças
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