É o fim do caminho
Ditos só se tornam
ditados porque contêm lições preciosas de correntes de situações já testadas. De onde convém
levá-los em consideração na vida e também na prática da política. “Quem tudo
quer tudo perde” reza sobre o mau posicionamento da ganância desmedida como
conselheira. “Não se pode enganar a todos o tempo todo” fala a respeito
dos malefícios da prepotência e da cegueira soberba ante o discernimento
alheio.
O menosprezo a tais
preceitos é uma receita fadada ao desastre mais dia menos dia,
conforme agora pode comprovar o Partido dos Trabalhadores nesse momento em que
o partido se vê diante da cobrança dos equívocos cometidos ao longo de sua
trajetória no governo e na oposição. A conta salgada hoje impõe ao
PT a condição de ente em situação de inevitável falência. Perda Total parece
ser a tradução atual para a legenda.
Nunca antes na história
do Brasil se assistiu a uma derrocada dessas proporções, notadamente em se
tratando de um partido na posse do poder formal. Os partidos ditos aliados se
posicionam dizendo com todos os efes e os erres que nada querem com o governo.
Cansados
de serem tratados como vendidos – o que alguns efetivamente são, mas
que não gostam de ser tratados como tais –, agora dão o troco,
como a dizer: tantas vocês fizeram que agora é a nossa vez de dizer chega.
Sentimento
semelhante toma conta da sociedade, evidenciado na crescente rejeição ao
governo e ao partido. Implicância? Nem de longe. O PT recebeu do eleitorado
brasileiro tudo o que queria e muito mais. Foi conduzido à Presidência da
República quatro vezes, mas não soube honrar essa delegação. Entre
outros motivos, por um pecado de origem: o partido jamais compreendeu as
normas nem a ele se deu ao trabalho de seguir as normas da República e da
democracia. Uma
vez no poder o PT tomou como verdade a instituição da bandalheira e da
impunidade como regra geral. Não viu que não era assim e sob a
direção petista passou a ser. O partido mergulhou fundo no modelo da podridão,
desprezando todas as chances de se engajar num programa de melhoria
institucional.
Ao contrário. Optou por se manter
alheio ao movimento pelo fim do regime militar escolhido pelas demais forças
políticas – a eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral de 1985 –, bombardeou o plano de
estabilidade econômica à revelia da sociedade e depois, quando no
poder, escolheu
o populismo aliado ao fisiologismo de Estado para governar.
O partido, seus
representantes e governantes mentiram de maneira afrontosa, estabeleceram um
padrão de divisão entre brasileiros governistas e oposicionistas, entrou de
cabeça no “modo gastança” em detrimento da poupança e agora está
paralisado no beco sem saída aparente que ele mesmo construiu.
Os anteriormente
aliados hoje deixam bem claro que querem os petistas fora do jogo. Razão? O exagero nos
gestos e falas de outrora. Tivesse sido mais cordial com os aliados, talvez o
PT não vivesse situação tão adversa. Na pior das hipóteses, teria ao menos
alguém com motivação para defendê-lo.
Eduardo Cunha –
disse algumas vezes e vou repetir – não é causa, é consequência. Foi eleito porque a
maioria dos deputados queria que fizesse o que está fazendo. Um instrumento para
expressar desagrados e urdir a vingança por anos de imposição da soberba
sustentada em altos índices de popularidade. Depois da virada a
canoa, o cenário é o de um final melancólico, cuja escrita retrata um final
melancólico. Não há mais a opção de mudar como preconizam os otimistas, pois o
sonho transmudado em pesadelo já se acabou.
Fonte: Dora Kramer – O
Estado de São Paulo