Vida que segue à espera do próximo desastre
Ainda não foi desta vez
que Michel Temer renunciou à presidência da República obrigado pelas
circunstâncias, ou acabou removido dela por iniciativa de amigos,
ex-amigos e adversários inconformados com seus erros. Por mais que muitos o
critiquem, insultem e até peçam sua cabeça, todos preferem que ele
governe ou desgoverne até o último dos seus dias. Forçá-lo a sair seria
investir no imprevisível e contrariar os próprios interesses.
Nenhum partido tem
candidato com pinta de vencedor da próxima eleição presidencial. Eleger
um presidente tampão seria perda de tempo e de energia a ser concentrada
nas eleições gerais de outubro. Que ele fique, portanto. Temer é conveniente para
todos. Para seus aliados que arrancam dele quase tudo o que querem. E
para a oposição que precisa de um governo fraco e de um presidente
morto-vivo para tentar extrair vantagem nas urnas.
Como Dilma foi um
desastre e estava destinada a ser se governasse até o fim, o PT não
chorou lágrimas sinceras quando ela foi deposta. Livre do desgaste de
sustentá-la, contaria com Lula para voltar ao poder. Lula não tem mais. Então o
PT agarra-se a Temer como meio de salvar-se do buraco. Nem nos seus
mais absurdos sonhos o PT imaginou que Temer faria um governo tão
acidentado e impopular. Quanto pior, melhor para ele.
Não há possibilidade de
que Temer se recupere. Sua companhia tornou-se corrosiva para os que
antes o exaltavam. Espancar Temer e atribuir-lhe todos os males do país é
o esporte nacional de 10 em cada 10 brasileiros. E assim será até que ele transfira a faixa ao seu sucessor. Vida que segue.
Josué, filho de José Alencar, pode ser a alternativa a um candidato do PT a presidente
Antes de ser condenado e
preso, algo que custou a acreditar que seria possível acontecer, Lula
tinha um plano: repetir com a família Alencar de Minas Gerais a
dobradinha que o levou a se eleger e se reeleger presidente. O empresário José
Alencar, patriarca da família, foi seu vice em 2002 e 2006. O filho
dele, Josué, também empresário e que herdou os negócios do pai, seria
seu vice este ano. Ele e Josué conversaram a respeito. E Josué topou a
parada.
Aconselhado por Lula, o
patriarca filiou-se ao então Partido Liberal (PL) do deputado Valdemar
Costa Neto. Aconselhado por Lula, Josué filiou-se ao Partido da
República (PR) do ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto. A condenação implodiu o
plano original de Lula, mas ele não desistiu de outro que havia guardado
para sacar caso fosse impedido de ser candidato: fazer de Josué uma
alternativa a um eventual nome do PT para presidente. O plano continua de pé.
Ontem, depois se reunir-se com Valdemar e com a bancada de deputados
federais do PT, Josué admitiu que para ele seria uma honra disputar a
sucessão de Temer. [Josué, excelente candidato, fenomenal mesmo, ideal para perder.]