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quinta-feira, 13 de abril de 2023

E se Lula for o Plano B? - Percival Puggina

 

         Não se requer muita imaginação para perceber uma certa ordem (no sentido filosófico da palavra) quando se rememora a sequência de decisões judiciais que iniciou com aquele voto do ministro Gilmar Mendes. Em 2016, com Lula e outros réus graduados soltos, o ministro votou a favor da prisão após condenação em segunda instância. Em 2019, com Lula e seus amiguinhos, o ministro mudou de ideia e prisão de quem tem bons advogados ficou para a véspera do Juízo Final.

Essa foi a ponta de uma corrente de decisões judiciais ordenadas e irrecorríveis. Na outra, aparecem duas bizarrices da política brasileira: 1ª) Lula candidato à presidência da República e 
2ª) interdição judicial a quaisquer referências a seu passado recente. Sobre todo um período triste da nossa história se impôs silêncio. Recaiu sobre aqueles “malfeitos” uma espécie de sigilo de cem anos, servilmente obedecido pela mesma mídia que cobriu as denúncias, investigações e julgamentos a que se submeteram corruptos e corruptores.

Como se sabe, há uma diferença importantíssima entre as palavras casual e causal. “Casual” se diz do que acontece por acaso; já a palavra “causal” refere algo que dá causa a determinado efeito. Acontecimentos fluem quando se abre a torneira das causalidades.

De outro lado, tenho bem presente o estupor nacional quando irrompeu na pauta política a impensável aproximação entre Luiz Inácio e Geraldo Alckmin.  
Muito foi dito sobre isso, ao longo de vários meses, sempre na sessão de curiosidades. 
Tratou-se como loucura, devaneio, coisa de terraplanistas a ideia de que essa aproximação fosse possível.  [o maligno, ateu, ex-presidiário, servidor do diabo, das forças satânicas, unir-se a um ex-membro da OPUS DEI.] 
 Que curvatura precisaria ter a espinha dorsal de alguém que, um dia disse ser a volta de Lula à presidência o retorno do criminoso à cena do crime e, noutro dia, ambicionava ser seu vice-presidente?

A linha das causalidades seguia seu curso. Tudo que parecia impossível se foi tornando provável e o provável se convertendo em fato, como se os movimentos fugissem das leis da mecânica política. Só que não! As consequências do ingresso de Alckmin na chapa da oposição, mobilizou os caciques partidários e os “donos do poder” (nas palavras de Faoro) que farejam habilmente a atmosfera política e institucional mesmo quando rarefeita. E isso ela não era. Verdadeira enxurrada de siglas partidárias e patrões da Economia, com apoio das grandes máquinas da comunicação social, fechou fileiras com a dupla.

Os primeiros cem dias do novo governo, se para algo serviram, foi para mostrar que o Poder Executivo, sob a regência do petismo e de Lula, age com uma obstinação: destruir. Destruir não apenas o que foi feito após sua saída do poder, mas, até mesmo, a memória do que foi feito
Editados com furor missionário, decretos e medidas provisórias destes cem dias lembram marretas, marteletes demolidores e rompedores, furadeiras e cortadores de concreto. Derruba tudo!
 
As atenções se voltam para Geraldo Alckmin e as especulações do ano passado sobre os planos dos donos do poder ganham consistência.  
E se a sequência de causalidades estiver seguindo seu curso? 
E se Alckmin for, desde o início, o Plano A, com Lula de Plano B, só cumprindo todo o mandato se algo der errado? [mesmo com toda a contaminação sofrida por Alckmin ao se associar ao maligno e a sua seita de demônios - lembrando  que o antes vulgo 'picolé de chuchu', já não era boa coisa quando era apenas o sucessor de Covas -  Alckmin é para o Brasil e milhões de brasileiros que não fizeram o L e outros milhões que fizeram e hoje se arrependem, a melhor, quiçá, a única, opção para o Brasil se livrar de todo o mal que o maligno está ainda iniciando a execução.]

Como Miguel de Cervantes, “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”...

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

domingo, 15 de dezembro de 2019

Caso não se torne ministro ou se candidate, Moro já sabe o que fazer - Lauro Jardim/O Globo

BRASIL

Por Gabriel Mascarenhas


Mauro Pimentel


Sérgio Moro vai amargar a incerteza sobre o próprio futuro até Jair Bolsonaro indicar o nome à última vaga a que terá direito de preencher no Supremo, em 2021, quando Marco Aurélio Mello pendura a toga.

Mas Moro tem plano B. Ele não cogita se submeter a outro concurso para voltar a magistratura e nem advogar. Se não virar ministro ou candidato em 2022 — planeja migrar para a área jurídica e de "compliance" de uma grande empresa.

Lauro Jardim, colunista - Blog em O Globo 


domingo, 24 de março de 2019

Plano "B"

O vídeo abaixo é uma resposta aos militontos petistas, adeptos do 'quanto pior', melhor' que, eventualmente, estejam pensando em comemorar os revezes iniciais do Governo do nosso Presidente Bolsonaro - primeiro tópico do post abaixo.

Vale também para corroborar  o dito no último parágrafo, último tópico do post citado, visto que os professores as vezes complicam, mas, na maioria,  gostam de trabalhar. 

O que atrapalha são os sindicatos daquela categoria.

 Blog Prontidão Total

terça-feira, 24 de julho de 2018

Lula e o dilema do PT na eleição

Encarcerado há mais de 100 dias em Curitiba, petista continua sendo o único a dar as cartas no partido

Que Luiz Inácio Lula da Silva dificilmente terá sua candidatura confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), isso o PT já sabe. A questão agora é a hora de parar. O partido vai registrar o nome do ex-presidente na disputa ao Palácio do Planalto no dia 15 de agosto, e se prepara para dois cenários: acatar a provável rejeição da candidatura do petista pelo tribunal e desencadear imediatamente o plano B (Jaques Wagner ou Fernando Haddad) ou recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) e judicializar até o fim a questão.

Como sempre, o partido está dividido. Há quem defenda o lançamento do sucessor de Lula tão logo a derrota na esfera eleitoral aconteça, evitando maiores traumas institucionais para o país. Isso pode acontecer em qualquer momento entre meados de agosto e meados de setembro. Lula é o líder das pesquisas com 30% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha do mês passado. Sem ele na disputa, 30% dizem que votam em alguém indicado por ele. Outros 17% cogitam fazê-lo. Se isso se confirmar, o candidato do PT está virtualmente no segundo turno, seja ele quem for. Mas os que advogam por levar a candidatura de Lula até a última instância argumentam que foi o Judiciário que “cavou” essa situação, ao prender “injustamente” o pré-candidato mais bem quisto dos eleitores. Caso vença essa tese, Lula tentaria obter liminar na Justiça para figurar nas urnas. O risco seria ver todos os milhões de votos conquistados serem anulados por uma decisão judicial derrubando a liminar que o garantiu nas urnas.

– O PT vai agir com um olho na eleição e outro na história – prega um grão petista.
Nessa conta, os petistas terão que considerar o fator tempo de TV. Dono de pelo menos um minuto e meio por bloco, o PT terá o direito de apresentar Lula como candidato aos ouvintes e telespectadores até a decisão final sobre sua candidatura pelo TSE. Depois disso, ainda tem um prazo de dez dias para substituí-lo enquanto mantém seus programas no ar. Esgotado esse prazo, se não apontar um outro nome, perderá o valioso ativo, que seria então distribuído entre seus concorrentes.

Encarcerado há mais de 100 dias em Curitiba, Lula continua sendo o único a dar as cartas no PT. É quem vai bater o martelo de quem assumirá a candidatura presidencial no seu lugar – e quando isso ocorrerá. Até lá, o PT vai tocando a campanha. Com programa, mas sem candidato. O partido prevê gastar R$ 50 milhões – R$ 20 milhões a menos do que o teto definido em lei – para levar a cabo a campanha que mescla o grito de “Lula Livre” com propostas que conversam com os menos favorecidos, como, nas palavras de um dos coordenadores da campanha, “a necessidade de baixar o preço do gás, o alerta de que voltou o pesadelo da fome e que o SUS e as universidades públicas estão em situação de penúria”.

Catarina Alencastro, O Globo
 

domingo, 8 de julho de 2018

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Temer fica e os políticos respiram aliviados - O plano B de Lula

Vida que segue à espera do próximo desastre 

Ainda não foi desta vez que Michel Temer renunciou à presidência da República obrigado pelas circunstâncias, ou acabou removido dela por iniciativa de amigos, ex-amigos e adversários inconformados com seus erros. Por mais que muitos o critiquem, insultem e até peçam sua cabeça, todos preferem que ele governe ou desgoverne até o último dos seus dias. Forçá-lo a sair seria investir no imprevisível e contrariar os próprios interesses.

Nenhum partido tem candidato com pinta de vencedor da próxima eleição presidencial. Eleger um presidente tampão seria perda de tempo e de energia a ser concentrada nas eleições gerais de outubro. Que ele fique, portanto.  Temer é conveniente para todos. Para seus aliados que arrancam dele quase tudo o que querem. E para a oposição que precisa de um governo fraco e de um presidente morto-vivo para tentar extrair vantagem nas urnas.

Como Dilma foi um desastre e estava destinada a ser se governasse até o fim, o PT não chorou lágrimas sinceras quando ela foi deposta. Livre do desgaste de sustentá-la, contaria com Lula para voltar ao poder.  Lula não tem mais. Então o PT agarra-se a Temer como meio de salvar-se do buraco. Nem nos seus mais absurdos sonhos o PT imaginou que Temer faria um governo tão acidentado e impopular. Quanto pior, melhor para ele.

Não há possibilidade de que Temer se recupere. Sua companhia tornou-se corrosiva para os que antes o exaltavam. Espancar Temer e atribuir-lhe todos os males do país é o esporte nacional de 10 em cada 10 brasileiros.  E assim será até que ele transfira a faixa ao seu sucessor. Vida que segue.

Josué, filho de José Alencar, pode ser a alternativa a um candidato do PT a presidente 

Antes de ser condenado e preso, algo que custou a acreditar que seria possível acontecer, Lula tinha um plano: repetir com a família Alencar de Minas Gerais a dobradinha que o levou a se eleger e se reeleger presidente. O empresário José Alencar, patriarca da família, foi seu vice em 2002 e 2006. O filho dele, Josué, também empresário e que herdou os negócios do pai, seria seu vice este ano. Ele e Josué conversaram a respeito. E Josué topou a parada.

Aconselhado por Lula, o patriarca filiou-se ao então Partido Liberal (PL) do deputado Valdemar Costa Neto. Aconselhado por Lula, Josué filiou-se ao Partido da República (PR) do ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto. A condenação implodiu o plano original de Lula, mas ele não desistiu de outro que havia guardado para sacar caso fosse impedido de ser candidato: fazer de Josué uma alternativa a um eventual nome do PT para presidente. O plano continua de pé. Ontem, depois se reunir-se com Valdemar e com a bancada de deputados federais do PT, Josué admitiu que para ele seria uma honra disputar a sucessão de Temer. [Josué, excelente candidato, fenomenal mesmo, ideal para perder.]

 

 

sábado, 10 de março de 2018

As goleadas sofridas por Lula

Já são nove juízes (atente para o número!), nove magistrados de tribunais distintos, de instâncias variadas, de escolas de pensamento diversas, a apontar para a inevitabilidade da prisão de Lula. Além de Moro, que o condenou a 12 anos e um mês de cadeia (no primeiro dos seis processos em que é réu), ele amargou o placar de três a zero na apelação em Porto Alegre e engoliu outros cinco a zero no Superior Tribunal de Justiça, na semana passada, quando foi solicitar um habeas corpus preventivo. 

Lula perde de goleada a cada recurso, sem sequer um voto favorável a seu intento de escapar das grades. E não é para menos. O petista e o time de advogados estrelados que o cerca adotaram uma tática, no mínimo, temerária. Querem ganhar no grito, procrastinar a ação, falando em “julgamento político”, evitando confrontar os fatos. Não fazem uma sustentação concreta que desabone as provas e evidências. Anseiam agora a revisão da lei, pura e simplesmente, no que configuraria um casuísmo gritante, sem precedentes. No STJ, no STF, no TRF-4 e mesmo nas barras da comarca do juiz Moro o que se viu, nas defesas orais ou através das petições de apelação, foi a soberba do acusado e dos que o representam. Às favas com a Lei. O que diz Lula, por exemplo? Dias atrás, em um vídeo gravado logo após a última derrota, saiu-se com essa: “eles vão ter que arcar com o preço de decretar a minha prisão”, ameaçou. O que leva Lula a pensar que é diferente de qualquer outro condenado e que está a merecer tratamento especial? 

O próprio PT entrou numa chicana de pressões imorais visitando, um a um, os gabinetes de vossas excelências para convencê-los, na base da camaradagem e de um poder de influência que ainda imagina deter, a dar uma colher de chá para o seu líder. É o fim do mundo a agremiação, através dos emissários, se achar na condição de forçar a mais alta Corte do País a encontrar um modo de rever a jurisprudência – já votada duas vezes e colocada em prática há menos de um ano –, que estabelece o cumprimento da pena após confirmação em segunda instância. Os petistas “cobram” urgência de um recurso que livre Lula da cadeia. E o pior é a disposição de algumas cabeças coroadas do Supremo em atender a exigência, colaborando nesse sentido. Elas tentam a todo custo fazer um ajuste sob encomenda no entendimento em vigor para acomodar as pretensões de Lula – mesmo que isso represente a desmoralização completa do colegiado. 

Pelo atalho em discussão, o cumprimento da sentença ocorreria só após a terceira instância, retardando em várias etapas a aplicação da justiça. Será deveras escandaloso qualquer jeitinho que se dê no momento ou interpretação contrária ao acertado anteriormente. Não dá para imaginar logo o Supremo “se apequenando”, como bem definiu a presidente Cármen Lúcia. Mas essa possibilidade, que ainda paira no ar, é hoje lamentavelmente o maior fator de insegurança jurídica do País. As convicções precárias de certas excelências resvalam na politicagem e cedem aos encantos dos poderosos que os colocaram naquele lugar. Não deveria ser assim. Ao zelar pela Constituição, como guardiões da ordem e do sentimento de que a Lei vale para todos, nenhum dos magistrados poderia se arriscar a provocar tamanha instabilidade institucional pedindo vistas de uma regra já aprovada – mesmo tendo ele sido voto vencido na sessão anterior. Qualquer brecha aberta nesse sentido será vergonhosa, e deixará a Nação às portas da anarquia por não acreditar mais na Justiça. 

O correto seria o STF deixar o devido processo legal seguir os trâmites dentro das regras em vigor, sem interferência oportunista. Qualquer ameaça de uma eventual volta atrás na atual conjuntura configurará um golpe fatal na Lava Jato e na batalha que vem sendo travada contra a corrupção. Sem o mecanismo da prisão em segunda instância, as chances de denunciados desistirem da colaboração e de acordos de delação, devido à possibilidade de postergar suas acusações até a prescrição, são enormes. É inevitável verificar um certo desespero dentre os petistas e esperar que eles saiam para o tudo ou nada. O Partido está em frangalhos. Sem opções, repleto de processos por desvios bilionários, com uma debandada de quadros históricos, e vive agora uma cizânia interna. Intelectuais correm atrás de alianças, desobedecendo à orientação central. Setores descontentes buscam um “plano B”, sem sucesso. Reina a indefinição. Mas nem por isso magistrados podem ser indulgentes com malfeitos e cederem a apelações dessa turma por mero sentimento de dívida de gratidão. Seria um retrocesso e tanto no conceito de que a Lei é cega e imparcial.

Carlos José Marques é diretor editorial da Editora Três

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

PF sinaliza ao PT a necessidade de um Plano C

A despeito das negativas, um pedaço do PT discutia a sério a necessidade de colocar em movimento um plano de contingência para 2018. O debate avançara para o segundo estágio. Além de se fixar no nome do baiano Jaques Wagner como alternativa possível a Lula, o grupo havia enxergado no mineiro Patrus Ananias, ex-ministro do Bolsa Família, uma opção para vice. De repetente, o petismo descobriu uma nova contingência para a qual não havia se programado. Antes de ser lançado, o Plano B recebeu ''Cartão Vermelho'' da Polícia Federal. Caiu sobre a cabeça de Wagner um pedaço da marquise da Arena Fonte Nova.

O ex-governador baiano ainda resistia à ideia de se tornar candidato ao Planalto. Dizia-se que ele preferia disputar o Senado. A notícia de que Wagner é investigado sob a acuação de receber R$ 82 milhões em propinas e caixa dois da Odebrecht e da OAS pode ser uma razão mais palpável para evitar a exposição em vitrine nacional. Às voltas com a inelegibilidade de Lula e com a súbita crise de um Plano B que resistia em assumir, o PT limitou-se a ligar o automático, apertando novamente o botão da “perseguição política.”

''A invasão da residência do ex-governador Jaques Wagner por agentes da Polícia Federal, na manhã de hoje (26) é mais um episódio da campanha de perseguição contra o Partido dos Trabalhadores e suas principais lideranças”, escreveu em nota oficial a ré Gleisi Hoffmann, presidente da legenda. “A sociedade brasileira está cada vez mais consciente de que setores do sistema judicial abusam da autoridade para tentar criminalizar o PT e até os advogados que defendem nossas lideranças e denunciam a politização do Judiciário.”
[essa mulher, que é além de presidente do PT, senadora e ré, tem que se conformar que é dificil não perseguir petista, já que é DEVER das autoridades prender bandidos;
E conta-se nos dedos da mão esquerda  do Lula o número de petistas honestos.]
Impossível discordar de Gleisi. A sociedade recebe que a Lava Jato está criminalizando não apenas o PT, mas a política. De operação em operação, os agentes do Estado encrencam criminosos que transformaram articulações políticas em trampolim para alcançar os cofres da República. Mas quem criminalizou o PT foram os criminosos do partido —alguns —como Lula, José Dirceu e João Vaccari— já foram inclusive condenados.

O cúpula do PT já tinha feito escala na cadeia após o julgamento do mensalão.  O partido melecou-se novamente porque quis. Precisa buscar agora um Plano C. Fernando Haddad pode ser uma opção. Contudo, se não virar o disco da perseguição política, a legenda arrisca-se a percorrer todo o alfabeto, até chegar ao Plano Z.

Blog Josias de Souza 

domingo, 15 de maio de 2016

PT não tem plano B

Os fatos e as fotos que registraram a passagem de Luiz Inácio da Silva no último dia de Dilma Rousseff no exercício da Presidência da República, disseram mais que todas as análises de especialistas e discursos de petistas sobre o futuro do partido, em sua volta para a oposição e a necessidade de encontrar o caminho do recomeço a partir da estaca zero.

O silêncio, o retraimento e o semblante desolado do ex-presidente no dia fatídicopara não dizer “histórico”, devido à banalização do termo –, tanto podiam ser vistos como sinais de desnorteio quanto serviriam para traduzir a consciência de que, ao fim e ao cabo, foi ele o grande responsável pelo fim melancólico de um ciclo de glórias.

“Não merecíamos isso”, parecia querer dizer diante da derrota arrasadora de um partido que se acostumou a colecionar vitórias. Na realidade, os petistas não precisariam estar passando por isso, caso tivessem preparado as respectivas cabecinhas para assumir o poder. Partindo do princípio de que é algo que se exerce com moderação, principalmente quando se tem muito dele à disposição. O abuso dessa preciosa matéria-prima, nas democracias, leva à perdição.

Se o constrangimento de Lula, praticamente escondido atrás de Dilma (sua genial invenção) quando iam ao encontro do povo na saída do Palácio do Planalto em clima muito diferente daquele de saudação nacional de janeiro de 2003, decorria da constatação realista sobre os motivos da derrocada, melhor para ele e seu partido. Há boas chances de recuperação. Afinal, o PT não é um agrupamento de venais. É, antes, uma agremiação que se deixou tomar pelas venalidades da ambição, do DNA firmado na lógica do atrito e pela ideia equivocada de que ao governante vencedor de eleições tudo é permitido.

Agora, a questão não é nem só para onde ir, mas como ir. Seria exagero dizer que o PT acabou, mas é fato que se colocou na trajetória descendente de legendas que se perderam ao longo do tempo. Um exemplo (sempre guardadas as proporções) é o ex-poderoso PFL, hoje reduzido a um acanhado DEM que tentou, mas não soube se reinventar ao querer se livrar da má fama de fisiológico, coronelista e obsoleto.

Dos 91 deputados federais que tiveram no seu auge (a eleição de Lula), os petistas têm hoje 57. Dos 148 deputados estaduais eleitos com Dilma em 2010, restam 96. O número de prefeitos caiu de 818 (em 2004) para 544. Os vereadores aumentaram expressivamente (de 1.977 em 2002 para 5.185). Há, no entanto, uma eleição municipal pela frente na qual todos os partidos terão dificuldades por causa do fim das doações de pessoas jurídicas, mas ao PT vão se apresentar obstáculos adicionais.
A maior delas decorrente da perda do poder central e, com ela, dos instrumentos de mobilização do eleitorado dos pequenos municípios e, nas grandes cidades e capitais, da crescente rejeição ao discurso (aliás, qual?) petista. Raros também serão os candidatos e partidos dispostos a fazer alianças com o PT, que terá um baque em suas contas com o fim do dízimo recolhido dos filiados postos em cargos de confiança. Isso sem falar nos presumíveis efeitos da Lava Jato.

O horizonte não é favorável e as ideias até agora lançadas para o PT se reorganizar indicam a falta de um plano B delineado para atuar como oposição. Das hipóteses cogitadas – caravanas de Lula para animar a militância, montagem de um gabinete de resistência no Palácio da Alvorada, denúncia do “golpe” e não reconhecimento da legitimidade do governo Temer, organização de uma frente de movimentos sociais, defesa de novas eleições já, entre outras – todas foram testadas e devidamente fracassadas enquanto o PT estava no comando e na posse do direito de manejar recursos públicos.
Por mais razão não é crível que o partido consiga executá-las depois de apeado do poder.


Fonte: Dora Kramer - O Estado de São Paulo


terça-feira, 15 de setembro de 2015

CPMF: Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira - Tentativa de recriar tributo pode liquidar de vez a gestão Dilma



“O remédio amargo” para a crise do País                                           
Encurralado política e economicamente, o governo da presidente Dilma Rousseff apelou para o velho expediente de aumentar impostos para tentar sanear o caixa, esvaziado pela farra administrativa dos últimos anos. O governo apresentou nesta terça-feira, 14, um pacote de medidas dentro do chamado ajuste fiscal que, na sua maior parte, repassa para o contribuinte a conta pelo longo período de descalabro nos gastos públicos.  A proposta de recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) prevê injetar cerca de R$ 32 bilhões nas contas do governo e cobrir o rombo da Previdência Social, cada vez mais deficitária, e responderá por cerca da metade do valor do pacote apresentado nesta terça.

O problema com o plano é que a CPMF derrubada pelo Senado em 2007 – é rejeitada pela imensa maioria dos parlamentares, que não desejam arcar com o desgaste político de aprovar a criação de mais um imposto. A medida é tão desgastante que nem a presidente Dilma quis anunciá-la, delegando aos ministros da área econômica a tarefa de apresentar publicamente o chamado “remédio amargo” para a crise do País. 

Mesmo que tivesse defensores ardorosos, a CPMF ainda tem contra si o rito processual necessário para sua aprovação. Por ser uma proposta de emenda à Constituição, precisa de alta quantidade de votos para ser aceita: são exigidos três quintos de votos favoráveis de todos os senadores e deputados, em dois turnos de votação em cada uma das Casas. Nunca é demais lembrar que a base de apoio do governo dentro do Congresso hoje, simplesmente, desapareceu e ninguém no Palácio do Planalto tem a menor ideia sobre quantos votos poderá ter nessa batalha política.

 Assim, o governo apresentou como saída central para a barafunda administrativa em que se meteu a aprovação de um imposto impopular e altamente rechaçado por quem precisaria apoiá-lo. E, sem o dinheiro da CPMF, o governo coloca em risco sua própria continuidade. Não existe um plano B. O governo precisa desesperadamente fazer caixa para tapar seus rombos. Simples assim. Só que, se a proposta for derrotada nesse movimento – algo imensamente provável nas atuais condições políticas –, a sinalização que o governo passará é a de fracasso na tentativa de obter uma saída para a crise.

Fonte: Estadão