Não sei se foi por
descuido que a presidente Dilma Rousseff apareceu em Boa Vista, ontem, com olheiras acentuadas de quem não dorme
direito há vários dias. Ou pode ter sido de propósito que apareceu assim,
interessada em impressionar quem pudesse sentir pena dela. De um jeito ou de
outro, deixou a
impressão de uma mulher sofrida.
Há razões de sobra para isso, mas
não pretendo aqui me debruçar sobre elas. Dilma aproveitou a entrega de novas unidades do
programa Minha Casa Minha Vida para defender seu mandato. Se não o tivesse
feito, no ritmo alucinante com o que o seu governo
parecia desmoronar, talvez ela tivesse ficado ainda menor do que está.
Dilma só tem perdido estatura desde que se reelegeu.
Sem o amparo da mais formidável
coalizão de partidos jamais vista, semiabandonada pelo PT, confrontada rudemente pelo
presidente da Câmara Eduardo Cunha, Dilma está no seu
pior momento. E foi
nessa condição que ela pregou aos convertidos, uma vez
que os demais a rejeitam e se valem de panelas para não ouvi-la. Sete de cada 10 brasileiros reprovam o
desempenho de Dilma.
“Ninguém vai tirar a legitimidade
que o voto me deu”, disse
Dilma, tentando afastar o fantasma do impeachment. “Esse país é uma democracia que respeita a eleição pelo voto popular”. Em
seguida, Dilma se remeteu ao seu passado
de opositora da ditadura militar, presa e torturada. Ela sempre procede assim quando quer exaltar sua capacidade
de suportar pressões. - Quero
dizer que ao longo da vida eu passei por muitos momentos difíceis. Eu sou uma
pessoa que aguenta pressão, aguenta ameaça. Eu sobrevivi a grandes ameaças. [uma coisa é certa: o visual da
Dilma neste foto está mais adequado a quem levou 22 dias de TACA, do que
o exibido na já conhecida foto do julgamento. Ela agora conseguiu piorar o
impiorável, tornar horroroso o que já assusta.] Dito de outra maneira: não
pensem que renunciarei ao mandato. Ou que me deixarei derrubar. Resistirei até
o fim. Como? Esperem para ver se for o caso.
Dilma não vencerá no
grito a batalha pela preservação do seu mandato. Por ora, as condições políticas necessárias para tirá-la do poder
ainda não foram reunidas. Mas isso não
significa que não possam ser reunidas em breve. Até o fim do mês, o
Tribunal de Contas da União decidirá pela rejeição ou não das contas do governo
de 2014. Se
rejeitar, a tendência do Congresso será confirmar o parecer do tribunal.
Se isso
de fato ocorrer, estará aberto o espaço
para a apresentação de um pedido de impeachment de Dilma por crime de
responsabilidade.
[lembrando sempre que o nome técnico
é crime de responsabilidade, mas, nada impede que também punam os crimes de
irresponsabilidade cometidos por Dilma e estes não estão vinculados apenas ao
mandato em curso.]