O risco está em a intolerância exposta por terroristas islâmicos em Paris ser respondida na mesma moeda em todo o continente
Do ataque terrorista à Redação do “Charlie Hedbo” restaram os assassinatos e fissuras no conceito da tolerância — básico para a convivência numa sociedade democrática —, além do abalo no exercício das liberdades essenciais de expressão e imprensa.E na esteira da tragédia reforçam-se os grupos políticos de extrema-direita, xenófobos, portanto anti-imigração, já em longo processo de fortalecimento durante a crise econômica por que passa o continente desde 2009. A recessão e o consequente desemprego, males da crise, acirraram as tensões entre comunidades locais e de imigrantes e descendentes.
O fortalecimento do islamismo sectário, sua penetração entre jovens em áreas muçulmanas na Europa, criou condições para a tragédia do “Charlie Hebdo” e seus desdobramentos até ontem. O fato de os terroristas serem franceses de nascimento torna a atmosfera política na França e em outros países europeus ainda mais pesada diante da questão da imigração.
A francesa Marine Le Pen, líder da Frente Nacional (FN), radical de direita, já propõe um plebiscito para a volta da pena de morte, banida em 1981. Na Alemanha, o movimento Pegida (sigla que significa em alemão Europeus Patriotas Contra Islamização do Ocidente) declarou na quinta, enquanto organiza mais uma manifestação para segunda-feira, em Dresden, que “os islamistas mostraram em Paris que não estão prontos para a democracia, e buscam respostas na violência e na morte”.
Sugestivo que pesquisa da Fundação Bertelsmann, citada pelo jornal inglês “Financial Times”, haja constatado que, para 61% dos alemães, o Islã nada tem a ver com o Ocidente. Não é bom o sentido de repulsa subjacente à resposta. Outra reação preocupante foi a de Matteo Salvini, líder do partido xenófobo italiano Liga do Norte. Segundo ele, será “suicídio” se os europeus responderem aos fundamentalistas com tolerância. Salvini, numa atitude rara para um italiano, criticou até o Papa por defender o diálogo com o Islã. “Ele não está fazendo um bom trabalho.”
Já na Holanda, Geert Wilders, do Partido da Liberdade, anti-Islã, criticou o primeiro-ministro Mark Rutter e outros líderes do Ocidente por seguirem a linha do Papa de aproximação com os islamistas. “Quando eles, afinal, entenderão a mensagem? É guerra.” A direita radical já avançou nas eleições para o Parlamento europeu. No caso da França em particular, a Frente Nacional colheu bons resultados no último pleito regional e espera avançar ainda mais nas urnas de março, também departamentais.
Especialistas preveem que a FN poderá vencer no Norte e no Sudeste. E, se os ânimos xenófobos continuarem agitados, talvez o avanço vá além, contra o projeto de uma Europa unida e aberta ao mundo.
Fonte: Editorial - O Globo
[não é correto que uma Nação sacrifique seus nacionais, seus interesses patrióticos e soberanos e seu próprio progresso em prol de imigrantes que quase sempre trazem miséria, terrorismo, violência e outras mazelas.]