Não será
fácil o governo cumprir na área econômica o que prometeu para tentar controlar
a greve do transporte de carga. O Brasil não é autossuficiente em diesel, isso
significa que ele passará a subsidiar um produto que é importado e que pode ser
trazido ao país pela Petrobras ou outras empresas. Não se pode saber antes o
custo desse subsídio. Ainda não está claro de onde sairá o dinheiro.
O governo
anunciava como vitória o fato de que havia uma redução de 45% dos bloqueios nas
estradas. Mas o Brasil ainda vive uma situação crítica, com hospitais com
carências, supermercados sem produtos, pessoas cancelando seus planos de
viagem, combustíveis em falta até em alguns aeroportos, como disse o general Etchegoyen.
Os ministros que deram entrevista ontem à noite admitiram que a situação ainda
não está resolvida, tanto que o grupo da “sala da situação” passará o fim de
semana reunido.
Uma das
dificuldades do acordo que o governo assinou é o fato de que outros
importadores podem trazer o diesel. Afinal, a importação é livre. E aí, o
governo compensaria também outras empresas? É o que pergunta o especialista em
energia Adriano Pires. — O
governo também vai subsidiar o importador? Se não subsidiar, faltará óleo
diesel. A partir de hoje, o estímulo a importação caiu, porque o produto será
vendido internamente a um preço mais baixo do que no mercado internacional. Se
a Petrobras tiver que importar diesel, ou ela vai ficar com o prejuízo ou o
governo irá subsidiar a sua importação. E isso terá que ser estendido às demais
empresas do setor. Ficou tudo mais confuso e desorganizado — afirmou.
A
importação de diesel em 2017 foi recorde, de 82 milhões de barris de petróleo
equivalente (bep), com alta de 63% sobre o ano anterior. O gasto com essa
importação chegou a US$ 5,6 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, o
crescimento foi de 29% sobre o mesmo período do ano passado, segundo dados da
ANP. Outra
dúvida é em relação ao cálculo de quanto vai custar. O governo diz que a
diferença a compensar à Petrobras pela manutenção do preço fixo a cada 30 dias
ficará em R$ 5 bilhões, mas é difícil dizer de antemão. Vai depender dos preços
mais imprevisíveis da economia, do petróleo e o do dólar. Este ano será de
muita volatilidade do câmbio por causa da eleição. As tensões internacionais
podem manter o petróleo alto. Tudo isso pode elevar o custo. Mas principalmente
o valor é incerto.
Mesmo se
fosse possível estimar exatamente o custo desse subsídio, haveria ainda a
dúvida de onde tirar o dinheiro. E se fosse fácil encontrar dinheiro sobrando,
num orçamento apertado, num país com déficit tão alto, haveria a seguinte
dúvida: por que mesmo subsidiar combustível fóssil? Será essa a melhor
destinação do dinheiro? Pode-se argumentar que o diesel é o combustível dos ônibus
dos transportes públicos e dos caminhões da distribuição de mercadorias pelo
país, e por isso o benefício acaba sendo da população. Ficará apenas o travo
amargo de o contribuinte estar subsidiando também o combustíveis dos SUVs dos
ricos.
Mesmo
se a greve tivesse acabado ontem, a economia teria ficado em situação pior após
esse evento. A Petrobras perdeu valor de mercado e parte da confiança na
capacidade de manter uma política técnica na formação de preços. A equipe
econômica teve que encontrar fórmulas para tornar possível mais um subsídio,
num país que deveria estar se esforçando para acabar com os incentivos fiscais
que tanto distorcem a economia.