Este ano de 2021 vai merecer um rótulo já bem usado: “decisivo”. Atravessar politicamente vivo é condição sine qua non
para Jair Bolsonaro chegar a 2022 competitivo. E vai ser um ano
daqueles. Mesmo que a vacinação se prove um sucesso, seus efeitos macro
só devem ser sentidos em (muitos) meses. Um período suficientemente
longo para os adversários trabalharem com afinco o desgaste
presidencial.
Três ameaças rondam o Palácio do Planalto. Um agravamento da Covid-19,
um repique da recessão e uma instabilidade institucional. Esta última
podendo vir do Legislativo ou do Judiciário. Para atravessar o ano, o
presidente e seu governo precisarão mostrar capacidade operacional e
política num cenário de turbulências, em que deixar o avião no piloto
automático não será opção.
Sobre o agravamento dos índices da pandemia aqui no Brasil, mesmo países
com vacinações muito mais agressivas enfrentam pioras de curto prazo
nos índices da Covid-19. E há as novas variações do SARS-CoV-2. E junto
vêm a dúvida sobre se as vacinas produzidas a partir do vírus “velho”
servem para combater os novos. Ou quanto tempo levará para adaptar os
imunizantes, se isso for necessário para serem eficazes contra as novas
variantes.
E a chacoalhada institucional? Ela estará contratada se os candidatos
apoiados pelo presidente não vencerem as disputas pelo comando das duas
Casas do Congresso Nacional. Principalmente da Câmara dos Deputados.
Saberemos em dias o que vai acontecer. Mesmo vitórias oficialistas não
devem impedir que a oposição, agora anabolizada pela aliança entre a
esquerda e a direita não bolsonarista de olho em 2022, coloque minas
prontas a explodir no campo presidencial.
Se Jair Bolsonaro sair vitorioso das votações do dia 1º, poderá contar
com a pressão do empresariado para o Legislativo voltar a dar foco à
agenda liberal, em vez de paralisar-se numa guerra política sem solução
de curto prazo. Já os políticos, mais ainda os que disputam com o
presidente o apoio do establishment, têm planos próprios e não vão dar
trégua.
Também por saberem que Bolsonaro mostrou em ocasiões anteriores
resiliência, capacidade de voltar à forma e ao tamanho originais depois
de uma crise.
E talvez ele nunca tenha precisado tanto disso quanto vai precisar agora.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político