Sem a modernização das relações trabalhistas, o Brasil continuará sendo um dos países mais caros do mundo para se investir
O deputado Beto Albuquerque, vice-presidente do PSB, saiu-se com
esta preciosidade: as reformas propostas pelo governo Temer são
"devastadoras para partidos que querem ter candidatos a presidente em
2018". Repararam? Não é que as reformas sejam boas ou ruins para a
estabilidade e o desenvolvimento do país. Isso não interessa. Só
interessa saber se as reformas ajudam ou atrapalham o futuro candidato
presidencial do PSB. E como há muitos grupos de pressão contra a
reforma, o PSB, embora sendo parte do governo Temer, tendo ministério e
cargos, declarou-se contra as propostas de Temer. E não renunciou a
nenhum de seus postos no governo.
Não pode haver demonstração mais explícita de fisiologismo - essa
praga que trouxe a política brasileira ao ponto que está hoje. Impressiona mais ainda que políticos tão experientes não tenham
percebido que essa postura é de uma estupidez monumental. Ou, talvez,
tudo isso indique que estão desesperados.Dito de outro modo: manobras como essa do PSB não têm chance de prosperar.
Primeiro, porque o presidente Temer, que é do meio, sabe como lidar
com esse pessoal. Por exemplo: no começo do debate, o presidente
despachou ministros e economistas para convencer parlamentares sobre a
necessidade das reformas. Nestes dias, não mandou ninguém para
argumentar com o PSB. Simplesmente mandou dizer que o partido perderia
cargos e sinecuras. Foi o suficiente para que boa parte dos deputados socialistas -
socialistas! - voltassem para o lado das reformas. Fizeram contas:
manipular verbas e serviços do governo pode gerar mais votos do que se
manifestar contras as reformas.
Funcionou porque a alternativa do PSB, uma vez demitido do governo,
era cair na oposição tipo "Fora Temer", fora tudo, que sabidamente já
está ocupada. Ou seja, o PSB, aqui usado como exemplo, porque vários outros
partidos e políticos pensam da mesma forma, entendeu que poderia se
colocar da seguinte maneira: jogar para a torcida organizada e votar
contra as reformas, mas continuar no ministério e nos demais cargos,
oferecendo verbas, serviços e obras para sua clientela. Achava que podia
ganhar dos dois lados.
Perderam a noção.
Se as reformas trabalhista e previdenciária, nessa ordem, não forem
aprovadas, o governo Temer acabou. Sem a modernização das relações
trabalhistas, o Brasil continuará sendo um dos países mais caros do
mundo para quem quer investir e ganhar dinheiro honestamente. Logo, não
haverá retomada consistente. Sem a reforma da Previdência, o setor
público vai quebrar - sim, pensem no Rio de Janeiro. É verdade que o governo federal tem mais instrumentos que os
estaduais. Sem a economia propiciada pela reforma da Previdência, Temer
pode tentar, no desespero, um forte aumento de impostos. Para isso, a
turma da fisiologia estará pronta. Esse pessoal adora mandar a conta
para os contribuintes.
Mas as ruas impedirão esse aumento de impostos. O pessoal está farto desses políticos e desses impostos. Sem dinheiro extra, as contas públicas naufragam e afundam junto o
país. Isso quer dizer o seguinte: a dívida pública sobe de maneira
explosiva; o governo só consegue se financiar pagando juros de agiota;
logo, o BC tem que voltar a subir a taxa básica, aumentando os custos de
financiamento de pessoas e empresas; a economia desacelera por falta de
investimentos e consumo; não há geração de empregos; o governo arrecada
ainda menos impostos; a despesa continua aumentando porque não foram
votadas as reformas. Quebrado.
Mesmo que se consiga um aumento geral de impostos, não vai
adiantar. Pessoas e empresas não vão pagar, porque ficarão diante da
alternativa: pagar ao governo e quebrar ou não pagar e tentar
sobreviver. A economia também não pode andar nesse ambiente. Não, isto não é terrorismo. É apenas a descrição do que já
aconteceu em tantos países, inclusive o Brasil, que cometeram os mesmos
equívocos. Mesmo, portanto, que o PSB e outros conseguissem votar contra as
reformas e permanecer no governo, não adiantaria nada. A crise política e
econômica - na sequência da Lava Jato - levaria ao limite o desprezo da
população pelos políticos e pela política partidária. Seriam todos
eliminados, como ocorreu na Itália, por exemplo.
Na verdade, essa devastação pode ocorrer mesmo que o governo Temer
consiga votar as reformas. Os efeitos da Lava Jato permanecerão no
cenário. Daí o desespero dos velhos políticos. Faz sentido. Mas está claro que a única chance deles, ainda que remota, é votar
as reformas e colocar o país numa marcha de recuperação econômica e
social. Num ambiente mais calmo, com algum crescimento, algum emprego,
quem sabe o eleitor seja mais tolerante.
Tomara que não. E outra coisa. O nome em ascensão é João Dória, cuja principal
virtude é definir muito bem o seu lado: pelas reformas, pelas
privatizações, pela redução do Estado, contra Lula e o PT.
Fonte: Carlos Alberto Sardenberg, Jornalista.