Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto, uma foto de um gol
Em vez de reza, uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém
É o que me
vem à mente quando penso nos desastrosos resultados da política
capturada, como num sorvedouro, pelo topo do poder judiciário com
bênçãos do Senado da República e da velha mídia. O que sobra para vermos
e lermos são restos do banquete do leão: restos mesmo e ossos.
De onde terá
vindo a ideia de que a abominável censura foi instalada anteontem?
Depois dos cães farejadores do espaço digital? Dos cancelamentos de
canais e páginas? Das desmonetizações? Das verdades apagadas por ordem
judicial? Da sujeição e vassalagem das plataformas? Das restrições aos
compartilhamentos?
Da especulação normativa sobre o que podem ou não
concluir os cidadãos [o recém criado delito, hediondo, de CONCLUSÃO ERRADA.] ao serem informados sobre um elenco de verdades
judicialmente reconhecidas como tais?
Ou seja, sobre os perigos da
operação das mentes ... livres?
Por outro
lado, de onde terá vindo a ideia de que a Constituição, esse corpo que
está lá, estendido no chão, só anteontem foi atingida em sua essência?
Depois de sucessivas interpretações antagônicas do texto constitucional?
Depois das “maiorias de circunstância” (nas palavras de Joaquim
Barbosa) expressarem mais desejo do que convicção?
Depois de todas as
invasões às competências do Poder Legislativo e do Poder Executivo?
Depois de serem tais invasões fundadas em brechas interpretativas
abertas a marteladas na Carta de 1988 e maculadas pela estratégia de
tomar conta do pedaço para remover obstáculos ao querer da corte? Depois
de se verem os ministros como “editores de um país” e “poder moderador
da República”?
Depois de “tirania do judiciário” se tornar locução
corrente no vocabulário nacional?
Para fins político-eleitorais, a biografia de Lula foi refeita ou higienizada dentro do TSE.
[inserção do vídeo realizada pelo Blog Prontidão Total.]
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.