Criticar decisões tomadas por Gleisi Hoffmann não é nem certo nem errado. É apenas inútil.
Dia desses, “Piauí Herald”, sessão de
humor da revista “Piauí,” fez uma graça e publicou um texto segundo o
qual Gleisi havia anunciado que o partido decidira, por ordem de Lula,
lançar meu nome como candidato à Presidência da República. E se escreve
lá: “Rumores internos indicam que a decisão veio diretamente do
ex-presidente, que teria dito que nem Gleisi, Lindbergh, Haddad ou
qualquer outro quadro do partido lutaram tanto por sua liberdade quanto
Azevedo.”
Pois é… Eu como um petista só pode ser
mesmo matéria para piada. Mas, como sempre, todo humor tem um pé na
realidade, ainda que viva da distorção. E é justamente nisso que está a
graça. De certo modo, eu defendi com mais propriedade a liberdade de
Lula do que os petistas. E por uma simples razão: EU ME ATENHO À
CONSTITUIÇÃO. Eles preferem o proselitismo vulgar. Seus intelectuais,
por exemplo, preferem atacar a democracia sob o pretexto de defender o
seu líder. É de uma supina estupidez. Ademais, no mundo, vamos dizer,
das coisas graves e sérias, eu não me ocupo de defender Lula, Aécio,
José ou João. Defendo o devido processo legal. E os advogados, juízes e
membros do Ministério Público que se atêm à letra da lei sabem disso.
Voltemos a Gleisi.
A presidente do PT teve uma ideia
luminosa — ou tiveram por ela. Gravou um vídeo para a rede de televisão
Al Jazeera, emissora que pertence à tirania do Catar, em que denuncia a
suposta prisão política de Lula. A quantidade de asneiras que diz é
assombrosa. E de saída se destaque: não! Ela não pregou um levante do
mundo árabe contra o país, como anunciou o deputado Major Olímpio
(SD-SP) e algumas lorpas de extrema-direita que julgam ser preciso
piorar o que diz o PT para que as pessoas, então, se deem conta da
bobagem. Resultado: ao transformar asnice em “fake news”, acabam
colaborando com aquele que pretendem combater. Ah, sim: Olímpio
protocolou contra a senadora uma representação na Procuradoria Geral da
República. Mero oportunismo. Está querendo aparecer.
Nesse caso, Gleisi não cometeu crime
nenhum. Burrice, idiotia, estupidez, tolice, parvoíce… Nada disso,
felizmente, é tipo penal. A democracia existe também para os tontos. Não
fosse assim, haveria mais gente dentro do que fora da cadeia, o que,
além de uma impossibilidade física, seria uma impossibilidade política.
Porque isso fatalmente conduziria a uma Revolução dos Idiotas. E noto:
essa é a luta de classes que sobreviveu e está mais ativa do que nunca.
Adiante.
Começo notando que Gleisi se dirige “aos
árabes e aos palestinos”… Entendo. Ela ainda não aprendeu que todo
palestino é árabe. Se alguém lhe contar que nem todo israelense é judeu,
talvez tenha um surto cerebral. Lula, sem dúvida, manteve excelentes
relações com as tiranias árabes, sem exceção. Alguns desaires da
política externa petista se deram, ora vejam, foi com a democracia
israelense. O que leva a dita “presidenta” do partido a denunciar que
Lula é um preso político a países que, exceção feita à Tunísia, estão
com seus porões lotados de… presos políticos? Todos sabem que, a meu
juízo e ao de qualquer pessoa que faça uma análise técnica do caso do
tríplex de Guarujá, Lula foi condenado sem provas e preso de modo
arbitrário. Mas notem: isso é o que me diz a minha concepção liberal de
direito — e, pois, dada a democracia, legalista. Houvesse uma ditadura
no Brasil, eu certamente defenderia ações ilegais, mas nunca
terroristas.
Gleisi poderia tentar escapar afirmando
que está se dirigindo à população árabe, não aos governos árabes, e,
pois, aquela não pode ser tomada por estes. O argumento seria falso como
nota de R$ 3 porque está gravando o pronunciamento para um aparelho
internacional de uma tirania — a Al Jazeera —, em cuja conversa jamais
caí, e porque, então, nessa hipótese, os “povos árabes” aos quais ela em
tese se dirigiria não são livres nem mesmo para escolher as fontes de
informação, já que a imprensa vive sob censura, inclusive no Catar. As
redes sociais passam, igualmente, por severa vigilância. Mas a estupidez de Gleisi Hoffmann e do
PT, nestes tempos, vai muito além do que revela esse vídeo, embora ele
seja a expressão perfeita de todos os desenganos e autoenganos do
partido.
Blog do Reinaldo Azevedo