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terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Lula dobrou a aposta - Revista Oeste

Silvio Navarro

O petista indicou Flávio Dino para o STF poucos dias depois de assessores do ministro da Justiça terem sido flagrados com mulher de chefe do tráfico e de manifestações de rua contra a atuação do Supremo


Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública | Foto: Wallace Martins/Futura Press

O artigo 2º da Constituição Federal diz: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. 
 Nesta semana, o consórcio que administra o país, formado por alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo presidente Lula, deu mais um passo para rasgar o que foi escrito para ser lei. 
O atual ministro da Justiça, Flávio Dino, que largou a magistratura no passado justamente para virar político e tem mandato de senador, foi indicado para a Corte. 
Não há mais resquício de independência na Praça dos Três Poderes.
 
Para chegar ao Supremo, Dino precisa do aval da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e do Plenário do Senado. 
Nos dois casos, depende de maioria simples dos presentes em votações secretas. As sessões foram agendadas para o dia 13 de dezembro.Flávio Dino e Lula | Foto: Ricardo Stuckert/PR 
 
A escolha do comunista para a cadeira de Rosa Weber, aposentada desde setembro, foi decidida na última sexta-feira, 24, num jantar no Palácio da Alvorada, por três pessoas: Lula e os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. 
O recém-chegado ao tribunal Cristiano Zanin, ex-advogado do petista, estava presente. O encontro do trio, aliás, foi idêntico ao que precedeu a indicação de Zanin, em junho, além da seleção dos novos integrantes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
 
Desde a saída de Rosa Weber, Lula dava sinais de que não tinha nenhuma pressa em definir seu sucessor. O principal motivo é que não achava uma saída para agradar a militância de esquerda — ou seja, uma mulher deveria ocupar a vaga, preferencialmente negra.  
O anúncio de Dino, contudo, precisou ser acelerado porque uma onda surgiu para incomodar esse consórcio do poder. 
 
O primeiro fator foi a constatação de que houve uma mudança de cenário no Senado neste semestre, a única instituição com poder regulatório do STF, segundo a Constituição. 
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e consequentemente do Congresso Nacional, desistiu de barrar as pautas que desagradam tanto ao STF quanto ao PT — aprovação do marco temporal para terras indígenas, veto ao porte de drogas e fim de decisões monocráticas do tribunal. 
Esta última foi o verdadeiro gatilho para a agitação dos togados.
 
Depois da aprovação da emenda constitucional que barra as canetadas individuais dos ministros, o Supremo alvoroçou-se. 
Num discurso duro e regado a bile, o decano da Corte, Gilmar Mendes, chamou os senadores de “pigmeus morais”.

“Esta Casa não é composta por covardes, por medrosos e não admite intimidações”, disse Gilmar Mendes. “Os senadores estão travestidos de estadistas presuntivos e a encerraram melancolicamente como inequívocos pigmeus morais.”

Pela primeira vez, Rodrigo Pacheco não recuou e defendeu a Casa que preside do ataque disparado do outro lado da praça. Num grupo de WhatsApp com 20 senadores, por exemplo, foram compartilhadas mensagens como: “Até que enfim ele assumiu a presidência do Senado”.

Em entrevista logo em seguida ao jornal Folha de S.Paulo, Pacheco disse que o Legislativo deveria determinar um tempo de mandato fixo para os togados — provavelmente de oito anos, como o dos senadores. Argumentos não faltam: caso passe pelo crivo do Senado, Flávio Dino ficará no STF até 2043. 
Gilmar Mendes chegou em 2002 e pode seguir na Corte até 2030. 
Como os próprios ministros admitem que o STF tomou gosto pela política, nada mais justo do que limitar o período de mandato, como ocorre no Legislativo.

Paralelamente, no último fim de semana, outro fator entrou na equação. Uma multidão lotou a Avenida Paulista para defender o impeachment de Alexandre de Moraes, num prenúncio de superação do trauma do dia 8 de janeiro

Parte da artéria central da cidade de São Paulo foi coberta de camisas verde-amarelas, como não se via desde 7 de setembro de 2022, e discursos inflamados nos caminhões de som causaram calafrios em Brasília — o principal foi: “A próxima manifestação será maior e, depois, maior ainda”.

O terceiro fator nessa trama é uma mudança de tom em algumas instituições democráticas contra os abusos do Supremo.  
O estopim foi a morte de Cleriston Pereira da Cunha, esquecido por Alexandre de Moraes no presídio da Papuda por causa dos atos do dia 8 de janeiro. Ele tinha problemas graves de saúde.  
O Ministério Público, que solicitara sua libertação, protestou abertamente. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também passou a demonstrar descontentamento com os abusos da Corte — advogados seguem proibidos de efetuar a sustentação oral no plenário e estão sendo humilhados por Moraes em sessões pela internet. 
Também parte da imprensa tradicional, timidamente, está perdendo o medo de criticar os togados e de mostrar em editoriais as digitais autoritárias do PT.
 
O resultado dessa onda que se ergue contra o ativismo político do Judiciário foi o anúncio, na segunda-feira 27, do nome de Flávio Dino para o Supremo. Lula imediatamente tomou um avião para a Arábia Saudita e o Catar. O petista espera que, quando desembarcar para uma escala em Brasília, Dino já tenha conseguido o número mínimo de votos no Senado. “Ao apelar para interpretações heterodoxas da lei e da Constituição e atropelar o papel institucional do Ministério da Justiça, o senhor Dino deveria ter sido desconsiderado como candidato ao Supremo. No entanto, como o critério para a escolha não é jurídico, isso pouco importa.”

(Editorial do jornal O Estado de S. Paulo)
 

Aposta dobrada
Em Brasília, tanto a oposição quanto o PT ou qualquer político que não tenha lado nessa história afirmam que a opção por Dino foi um gesto particular de Lula para Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes
No mês passado, quando a fervura contra o STF começou a aumentar, Mendes disse em Paris: “Se hoje nós temos a eleição do presidente Lula, isso se deveu a uma decisão do Supremo Tribunal Federal”. Foi um recado, sem rodeios, para que o petista não se esqueça de como foi o percurso desde a prisão até o Palácio do Planalto.
 
(...)
É importante frisar que o PT tinha outro nome para a cadeira no Supremo: Jorge Messias, o “Bessias”, atual advogado-geral da União. 
Até hoje a revelação de que assessores de Dino receberam duas vezes a “Dama do Tráfico”, alcunha da mulher de um dos líderes do Comando Vermelho, é atribuída a um vazamento da bancada petista. O mal-estar foi tão grande que auxiliares do ministro fizeram postagens sobre traição nas redes sociais.



Dino elegeu-se senador pelo Maranhão, mas não passou nem um dia no gabinete porque já havia sido nomeado para a pasta da Justiça e Segurança Pública. Em 11 meses, a segurança se deteriorou em todas as regiões: Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Norte foram palco de ataques de facções criminosas em série. A operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Rio e no Porto de Santos não conseguiu um único resultado até agora — pelo contrário, abriu uma crise com os funcionários da Receita Federal nas alfândegas.

No Maranhão, sua atuação como governador por oito anos tampouco pode ser usada como vitrine: o Estado tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. Há dois beneficiários do Bolsa Família para cada trabalhador com carteira assinada. A situação do sistema prisional é caótica.
(...)

Dino ainda transformou a Polícia Federal numa guarda política a serviço do regime
Não à toa, os agentes passaram o ano cumprindo operações relacionadas aos inquéritos de Moraes. 
Dino e o colega se aproximaram a tal ponto que o magistrado chegou a interromper o voto de André Mendonça, durante um julgamento do 8 de janeiro, para defendê-lo.  
Na ocasião, Mendonça questionou o fato de Dino ter assistido ao tumulto em Brasília “de camarote”, como ele mesmo disse ao Fantástico, da Rede Globo. E lembrou que ele já ocupou o Ministério da Justiça no passado.“Eu queria, o Brasil quer ver esses vídeos do Ministério da Justiça”, disse Mendonça. Ao que Moraes retrucou: “Vossa excelência vem no plenário do Supremo Tribunal Federal, que foi destruído, para dizer que houve uma conspiração do governo contra o próprio governo? Tenha dó.”

(...)

A ciranda se completa com Gilmar Mendes. Flávio Dino foi diretor da Escola de Direito de Brasília (EDB), do grupo empresarial de Mendes. 
Na época, o sócio do magistrado era Paulo Gustavo Gonet. No mesmo dia em que Dino foi indicado para o Supremo, Gonet foi escolhido para a Procuradoria-Geral da República. Pela primeira vez, o responsável pela acusação no tribunal seria “amigo de longa data” — como Gilmar fez questão de frisar nas redes sociais — do juiz da causa. O consórcio resolveu chutar o balde.

(2/2) Da mesma forma, quero felicitar Paulo Gonet, amigo de longa data, pela indicação para a PGR. Posso testemunhar o brilhantismo do indicado, que sempre atuou na defesa da democracia e da Constituição Federal.— Gilmar Mendes (@gilmarmendes) November 27, 2023

Clique aqui, MATÉRIA COMPLETA


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“Um país que respira”

 

Silvio Navarro, colunista - Revista Oeste


domingo, 5 de março de 2023

Ovos nossos de cada dia - Revista Oeste

Evaristo de Miranda

A avicultura nacional produz cerca de 1.800 ovos por segundo. Em 2007, cada brasileiro consumia 131 ovos por ano, hoje são 257 

Ovos de galinhas ou codornas são para os humanos o alimento mais completo da natureza | Foto: Vastram/Shutterstock

 Ovos de galinhas ou codornas são para os humanos o alimento mais completo da natureza | Foto: Vastram/Shutterstock

“Omne vivum ex ovo”

Expressão latina

Quem veio primeiro: a galinha ou o ovo? O ovo. Os primeiros ovos, com casca mineral, surgiram há 340 milhões de anos. E as primeiras galinhas, por volta de 58 mil anos. Os ovos amnióticos conferiram aos répteis uma vantagem decisiva sobre os anfíbios. 

Eles conquistaram a terra seca e dominaram o planeta por mais de 150 milhões de anos. Hoje, 99% das espécies animais se reproduzem a partir de ovos. Mamíferos, como humanos, cavalos, cangurus e leões, não põem ovos e são minoria no reino animal. Após milhões anos de evolução, os ovos de galinhas ou codornas são para os humanos o alimento mais completo da natureza, depois do leite materno.

O Brasil saiu de oitavo produtor mundial de ovos em 1980 para a quinta posição em 2020, após China, EUA, Índia e Indonésia. Com inovações, este segmento altamente tecnificado do agronegócio não para de crescer. Em 2022, o Brasil produziu cerca de 56 bilhões de ovos. Segundo a Associação Brasileira da Proteína Animal (ABPA), 99,7% da produção destina-se ao mercado interno. A pequena exportação de ovos in natura (65%), incluindo a inovadora iniciativa de ovos férteis, e industrializados (35%) tem nos Emirados Árabes, no Catar e no Japão os maiores destinos.

Brasil saiu de oitavo produtor mundial de ovos para a quinta 
posição em 2020 | Foto: Shutterstock
Nos últimos 15 anos, ovos especiais são produzidos com alta tecnologia como insumo para fabricar vacinas para humanos e animais. 
 Todo ano, de 60 a 70 milhões de ovos embrionados são fornecidos pelo agronegócio, entre setembro e abril, para produzir vacinas contra a gripe. Outros ovos para vacinas servem para imunizantes contra febre amarela, aftosa e até a covid.

O ovo é a proteína animal cujo consumo mais cresceu no Brasil nos últimos 15 anos, segundo o Instituto Ovos Brasil, entidade sem fins lucrativos criada com o objetivo de esclarecer a população sobre as propriedades nutricionais do ovo e de desfazer mitos sobre seu consumo.

Como ovo rima com povo, ele se transformou num alimento essencial na dieta média dos brasileiros. Em 2007, cada brasileiro consumia 131 ovos por ano, hoje são 257, bem acima da média mundial (185), sem mencionar a africana (44). A avicultura nacional produz cerca de 1.800 ovos por segundo! O Sudeste reúne as maiores granjas de postura comercial de ovos. Os principais Estados produtores são São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco e Mato Grosso.

O ovo se transformou em um alimento essencial na dieta média 
dos brasileiros | Foto: Shutterstock

São de 110 a 115 milhões de galinhas poedeiras. Aves selecionadas, com tratamento veterinário, zootécnico e nutricional adequado, criadas com métodos avançados e em instalações modernas. A produção industrial de rações para poedeiras é da ordem de 7 milhões de toneladas/ano. A alimentação pode representar até 70% do custo de produção em poedeiras. Com aumento recente no custo das rações, os produtores de ovos, com inovações, reduziram esse impacto nos preços finais ao consumidor.

Continue lendo - Leitura Livre

Simbolicamente, o ovo contém os quatro elementos cósmicos: terra (casca), água (clara), ar (fina membrana sob a casca) e fogo (gema)

Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste

Leia também “O azeite verde-amarelo”

(Artigo dedicado a Flávio Figueiredo de Andrade, o “Ovo”)


sábado, 3 de dezembro de 2022

Randolph Scott não merecia - Augusto Nunes

Revista Oeste

O pai do Randolfe dos chiliques quis homenagear o mocinho de faroeste 

Senador Randolfe Rodrigues | Foto: Alessandro Dantas/Flickr

Senador Randolfe Rodrigues | Foto: Alessandro Dantas/Flickr 

O senador Randolfe Rodrigues tem tanta intimidade com o futebol que, se alguém o levasse para ver um Fla-Flu no Maracanã, faria ao acompanhante a mesma pergunta que o marido da grã-fina ouvia nas crônicas de Nelson Rodrigues: “Quem é a bola?”. É compreensível que o representante do Amapá [só no título; o 'estridente' envergonha o estado que, desgraçadamente, o elegeu; o que aquele ser esganiçado representa sempre foi criar encrenca, com base em acusações infundadas, e sempre dar com a cara na m ...;  para envergonhar mais o estado que o prestigiou, resolveu representar agora o pior político que o Brasil já expeliu = o molusco eleito. ] tenha enxergado na Fifa um tribunal incumbido de enquadrar torcedores fascistas, sobretudo os que cometem atos antidemocráticos contra devotos da seita que tem num ladrão o seu único deus.

Fingindo-se inconformado com as agressões verbais sofridas no Catar por Gilberto Gil, Randolfe exigiu que a Fifa identificasse e punisse os autores do crime antes de encerrada a fase de grupos. [o 'estridente' chegou a cogitar fosse apresentada notícia crime ao STF - que ele conduziria como de hábito debaixo do suvaco - para que a  Fifa fosse intimada a identificar e punir os autores do episódio, sob pena de multa de  100.000/h, até cumprimento da suprema ordem.
Afinal, para aquele senador que considera que o Supremo pode tudo e mais alguma coisa, os limites territoriais - Qatar x Brasil -  não impedem que as decisões do STF alcancem qualquer parte do universo.] Alguém deve ter-lhe soprado que, com exceção de Alexandre de Moraes, os piores alunos de Direito aprendem que não existe crime sem lei anterior que o defina.  
 
O fato é que o senador enfim descobriu que cabe ao Legislativo, não ao Supremo Tribunal Federal, criar ou aposentar normas legais. E vai apresentar ao Congresso a figura jurídica do assédio ideológico
Se a invencionice for infiltrada no Código Penal, vai dar cadeia amolar ministros do Supremo numa rua de Nova Iorque ou artistas a caminho de um estádio. [no Brasil dos tempos atuais tudo é possível; alguém já imaginou que o senador Renan Calheiros se tornaria paladino na apresentação de projetos de punição de alguns crimes, especialmente os que possam facilitar a identificação e punição dos corruptos?]
 
Bastará invocar a Lei Randolfe, como foi corretamente batizado o besteirol. Ao concebê-la, o pai da ideia não pensava nos xingamentos que estragaram o feriadão dos superjuízes, nem nos insultos endereçados a Gil. 
Pensava na anônima brasileira que o interpelou sem rodeios num aeroporto. O sorriso confiante que enfeitou o início da curta troca de palavras denuncia o erro de avaliação: ele achou que seria cumprimentado pela participação num piquenique ecológico no Egito. Desconcertado com o tom inquisidor, sacou da garganta a réplica criada por Roberto Barroso e recitou-a cinco vezes: “Perdeu, mané!”.

Se a Lei Randolfe já estivesse em vigor, o viajante assediado faria o que faz desde que foi remetido ao Senado por eleitores do Amapá: pediria ajuda ao Supremo Tribunal Federal. 
Só neste ano, o único senador filiado à Rede Sustentabilidade encaminhou ao Pretório Excelso, em média, uma representação por semana. Em janeiro, o pedinte profissional solicitou a apuração de infrações administrativas praticadas por Augusto Aras, procurador-geral da República (janeiro). Nesta quinta-feira, reivindicou ao ministro Alexandre de Moraes a inclusão no inquérito das fake news da deputada federal Carla Zambelli e do pastor evangélico Silas Malafaia.

Entre o primeiro mês do ano e o começo do último, Randolfe pediu ao STF que investigasse a viagem do presidente Jair Bolsonaro à Rússia e verificasse se o governo Putin pretendia interferir no processo eleitoral brasileiro, que decretasse o impeachment do ministro da Educação, Milton Ribeiro, que castigasse Bolsonaro por ter-se reunido com embaixadores estrangeiros, que anulasse decisões tomadas pelo ministro da Justiça, Anderson Torres tudo somado, que deixasse claro que, embora a Constituição informe que os três Poderes são iguais e independentes entre si, o Judiciário é mais igual e, portanto, manda nos outros e no momento governa o Brasil.

Decididamente, nome não é destino. Quando o filho nasceu em Garanhuns, o sindicalista Januário Rodrigues resolveu homenagear o ator Randolph Scott, que estrelou dezenas de faroestes entre 1940 e 1960. O Randolph pernambucano virou Randolfe quando se tornou político no Amapá. 
Mas as semelhanças com o original americano nunca foram além do prenome. 
Para começo de conversa, Randolph Scott é sempre o mocinho da história. Randolfe Rodrigues só anda com bandidos.

O cowboy de Hollywood vivia travando combates solitários contra bandos de malfeitores ou hordas de navajos ou sioux.  

O assustadiço anti-herói de Macapá, na hora do perigo, esconde-se debaixo de togas. Randolph mandava chumbo. 
Randolfe manda representações ao STF e pedidos de socorro a pistoleiros amigos. 
As diferenças se tornam abissais quando se ouve e se contempla o homenageado e o que deveria ser uma homenagem.

Na tela, um homem com 1,90 metro e voz de tenor enuncia frases sensatas. No plenário do Senado, o xará miniaturizado prova de meia em meia hora que acessos de cólera não combinam com fala fina
Irônico, o destino castigou Randolfe com o timbre de castrato. 
Quando se irrita — e ele vive irritado —, o que se ouve não é o som da fúria. 
É o berreiro estridente que um chilique requer. E o que se vê não é o espetáculo da ira.  
É só um faniquito, tão assustador quanto o choro de bebê de colo.

 Leia também “Fora, Lula!”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

 


 

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Congresso e transição Petrobras, armas, até a Bíblia: o Estado se mete em tudo - Gazeta do Povo

Vozes - Alexandre Garcia

A Câmara dos Deputados, como se não tivesse mais nada com que se preocupar, como se não houvesse esse problema da eleição, da contagem de votos, das urnas antigas, aprovou um projeto de lei que proíbe fazer mudanças na Bíblia, no Novo e no Antigo Testamento.  
Esse é um assunto para cada religião, cada igreja tem a sua versão da Bíblia. 
Um dos deputados disse que isso não se mexe. 
Parecia que estava tratando do Corão, lá no Afeganistão.
 
Mas nós não somos uma teocracia. Esse não é um assunto de Estado, é um assunto das religiões. 
Se agora estão colocando a lei acima das religiões, daqui a pouco a lei vai querer alterar também o ritual das celebrações religiosas. Ainda bem que isso ainda vai para o Senado, e os senadores podem corrigir esse engano.
 
Isso é coisa de gente que acha que o Estado pode tudo. Querem outro exemplo? Na equipe de transição, o ex-governador do Maranhão Flavio Dino, que era do PCdoB e agora foi eleito senador pelo Partido Socialista Brasileiro, diz que o Estado pode, que tem o poder de revogar todos os portes e registros de arma. 
Todo mundo passaria a ter arma ilegalmente, assim como os bandidos têm – bandido, aliás, não vai ser afetado, porque não tem nem porte e nem registro. Mas em 2005 o Estado perguntou aos brasileiros em referendo, e 64% disseram “sim” às armas
É desejo da população ter um meio para defender sua vida e seu patrimônio.

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Flavio Dino disse mais: que o Estado tem poder também de revogar uma decisão da Anvisa, por exemplo, que é uma agência autônoma que dá licença para certos medicamentos. [alguém checou a escolaridade do comunista Flávio Dino?] 
Quer dizer que o Estado está entrando até na área médica – aliás, a autonomia deveria ser do médico, nem da Anvisa. É o Estado se metendo cada vez mais em tudo. E o que é o Estado? É uma burocracia que não está produzindo, não está plantando, não está empregando, mas está lá, botando regra. [no caso do Maranhão é o estado e os políticos que o governam, entre eles o tal Dino, que confere àquele estado o pior IDH do Brasil.]
 
Senador já adianta que governo vai interferir cada vez mais na Petrobras  
O senador Jean-Paul Prates, cotado para ser ou presidente da Petrobras ou ministro de Minas e Energia, disse que vão ter de mudar a política de dividendos da Petrobras. Ele está dizendo para o mercado que esse país não é do mercado. E mais, disse ele: a política de preços não é da Petrobras, é do governo. Já percebemos, não?  
Será que essa foi a vontade de 60 milhões de eleitores, tornar o sistema brasileiro estatizante?
Isso é um regime totalitário, quando o Estado é que manda; porque democracia é quando o povo manda, o povo é a origem do poder. Quando o Estado baixa decretos e decisões, alterando liberdades básicas, aí o sistema é outro, não pode ser chamado de democrático.[perguntar não ofende: e quando o Estado adota medidas que violam à democracia, a pretexto de combater atos antidemocráticos?] 
 
Presidente da Câmara vai ao Catar, como se estivesse tudo tranquilo no Brasil
Em plena efervescência desse assunto de urnas, o presidente da Câmara viajou para o Catar, para ver um jogo do Brasil, e volta logo depois. Contando ida e volta, são 25 horas de avião
Pelo jeito está com tempo de sobra, não há problemas na Câmara Federal, não há problemas dos seus representados. [para Arthur  Lira as coisas podem até melhorar. 
Exemplo: seu mandato de presidente da Câmara dos Deputados - condição que o torna o primeiro na linha sucessória, após o vice-presidente, vai até o inicio de FEVEREIRO/2023. 
Tem o quiproquó das urnas, que no limite pode adiar a posse do 'eleito'  e com Bolsonaro e Mourão sem mandato a partir de 1º jan 2023, adivinhem  quem assume interinamente a Presidência da República?]
São os representantes que não estão fazendo jus ao voto dos representados, isso é terrível para a democracia. 
Aliás, esqueci de comentar que a equipe de transição anda falando em criar mecanismos de Estado para defender o Estado. A desculpa é defender a democracia – a mesma desculpa de Stalin, de Hitler, de Mussolini, sempre “defender o Estado”
É a força do Estado se sobrepondo à democracia, à força que emana do cidadão. É bom ficarmos atentos a isso.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Bolsonaro recorre ao TSE. Mas não quero alimentar falsas esperançaS - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr - VOZES
 
"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Fracassomaníaco 

Enquanto no Catar a seleção francesa vai perdendo para a australiana, recebo uma mensagem de uma amiga. Ela informa que, como esperado, a campanha do presidente Jair Bolsonaro protocolou no TSE (Tribunal Socialista Eleitoral) uma representação pedindo uma investigação que, se levada adiante, em tese (e bota tese nisso!) poderia mudar o resultado da eleição. 
E o destino de um país por ora condenado à tragédia de um terceiro mandato presidencial de Lula.

Chamado de golpista desde que foi eleito, há quatro anos, o presidente Jair Bolsonaro continua jogando “dentro das quatro linhas”. -  Foto: Fotógrafo/Agência Brasil

Aí teve início uma conversa igualzinha àquela que deve estar até agora ecoando entre você e seus amigos e familiares nos lares, bares e redes sociais da vida. “E você por acaso acha que isso vai dar em alguma coisa?”, pergunto. Logo me arrependo do “por acaso”. Soou agressivo, como se a esperança insistente da amiga no "devido processo legal" fosse um sinal de loucura. Não é. A amiga é inteligente e sabe que a representação não vai prosperar. O Tribunal Soberbo Eleitoral jamais admitirá qualquer problema com o sistema de votação brasileiro.

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O diálogo ganha outros contornos quando, menos agressivo (espero), confesso não estar sabendo lidar com todos as promessas de reviravolta eleitoral que pontuaram o noticiário desde o começo de novembro. Por um lado, me incomoda a sensação de estar alimentando nos leitores uma esperança falsa de que as circunstâncias como um todo mudarão de um dia para o outro, graças a uma bala de prata, uma carta na manga, uma representação no TSE ou um gesto tresloucado. Por outro, quem sou eu para tirar a esperança das pessoas?! Ninguém.

Além disso, confesso agora, no exato momento em que a França empata o jogo, que parte de mim quer que eu esteja errado. Muito errado. Ridiculamente errado. Parte de mim quer que você, leitor, possa zombar deste texto desesperançado num futuro bem próximo, dizendo algo como: "perdeu, seu fracassomaníaco mané". Mas claro que você seria incapaz de uma indelicadeza dessas.

Fiapos de esperança
Penso no desespero que leva pessoas a se apegarem a qualquer fiapo de esperança diante dos quartéis, nas estradas e nas redes sociais. 
É admirável e ao mesmo tempo preocupante. 
Muita gente se manifesta apenas porque quer que sua ideia de mundo prevaleça. 
Mas entre os manifestantes também há muitos (entre os quais me incluo) cujo desespero tem outra tradução: medo de que o Brasil se transforma numa Argentina, numa Nicarágua ou numa Venezuela.

É um medo legítimo de quem teme ser incapaz de legar às gerações futuras a riqueza atual. E aqui não me refiro somente à riqueza financeira. Penso também na tradição e nos valores morais que correm, sim, risco num governo petista em conluio com o Judiciário. E sem data para terminar. De volta às dúvidas, porém. 
Como reconhecer e amenizar esse medo que assola milhões de brasileiros sem alimentar esperanças falsas e teorias da conspiração? Como ajudar as pessoas a não caírem num desespero que pode facilmente se transformar numa revolta crônica – inclusive uma revolta contra Deus?

Não tenho pretensão alguma de resolver este dilema com um único texto. Até porque eu mesmo não raro me pego alimentando esperanças ridículas pelas quais ainda sou obrigado a ouvir colegas me chamando de “golpista”. Seria mesmo mais fácil e sobretudo mais prazeroso acordar e descobrir que a bala de prata atingiu o alvo ou que a carta na manga era a mais alta do baralho ou que Alexandre de Moraes caiu do cavalo.

Mas talvez Deus, em sua infinita sabedoria, esteja dando ao povo brasileiro aquilo de que precisamos, e não o que queremos. Talvez de nós, neste momento conturbado da nossa história, Deus esteja exigindo o sacrifício da luta incansável e cotidiana pelos próprios quatro anos ou enquanto durar aquilo que já considero uma regime ditatorial socialista de facto.
[estamos diante de uma tarefa complicada, dificil. Já é pretensão excessiva a nossa modesta intenção de opinar sobre um texto do competente Polzonoff; situação agravada pela quase certeza de que o resultado do nosso esforço opinativo pode desagradar o ministro Moraes(cá entre nós  ... esta opinião está sendo digitada de um notebook, debaixo de uma árvore, em ÁREA MILITAR - terreno contíguo ao QG Ex, localizado no SMU - DF, única área onde estamos a salvo - nós e milhares de brasilienses - do supremo arbítrio do ministro Moraes.)
Vamos então à missão. Seja qual for a decisão do TSE - monocrática ou colegiada - dela cabe recurso ao STF.
 
O presidente da Corte eleitoral já cuidou de que os efeitos do seu despacho, exarado ontem na petição do PL, sejam imediatos =  após o transcurso dos 1.440 minutos, não sendo apresentadas os dados das urnas utilizadas no primeiro turno, a inicial estará indeferida, de forma automática e monocrática. 
Assim, caso o PL tenha optado pelo não fornecimento de dados, só resta enviar uma mensagem para um seu preposto em frente ao STF e este já ingresse com um recurso contra a decisão do TSE.. 
Nosso limitado saber jurídico nos  leva ao pensamento de ser tal recurso fundamentado  no cabimento de se contestar uma decisão sobre o pedido apresentado pela legenda e com fulcro em um dispositivo constitucional - artigo 14, § 10 - ser adotada de forma monocrática, sem olvidar o fato de exigir algo desnecessário, além de atendimento impossível em 24 horas.

Outra alternativa do Partido Liberal é juntar à petição de ontem declaração de que o rol das urnas, apresentado na inicial,  atende ao supremo decreto do ministro Moraes, visto que tais urnas foram utilizadas nos dois turnos. 
Ocorrendo indeferimento, resta recorrer ao STF.

Se a Suprema Corte negar seguimento ao recurso ou indeferi-lo, de imediato, estaremos constatando que no Brasil, a instância máxima do Poder Judiciário, nega, sem exame acurado, sem julgamento colegiado, uma solicitação realizada por parte competente e apoiado em artigo da Constituição Federal, só resta constatar  que no Brasil não vivemos em um 'estado democrático de direito' .
O 'estado democrático de direito',  é em nossa opinião leiga, quem sustenta todo o arcabouço legal que chamamos de LEIS.
Quando elas perdem a sustentação, passamos a um condição de anomia, onde tudo é possível.

É a nossa modesta opinião. É o que temos a dizer e também o máximo que sabemos.]
 
(Até o fim deste texto não só a seleção da França virou o jogo para cima da Austrália como também Alexandre de Moraes respondeu cinicamente à representação da campanha de Bolsonaro, argumentando que as urnas usadas no primeiro e segundo turnos foram as mesmas e dando 24 horas para a coligação apresentar a auditoria do primeiro turno. 
Do contrário, a representação será simplesmente ignorada. Isso se Alexandre de Moraes não decidir que o pedido de investigação é um ataque antidemocrático às instituições, claro).

Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

A guerra do gás entre Rússia e o Ocidente

A Rússia proporciona cerca de 40% das importações de gás da Europa. Com a falta do gás russo, a União Europeia buscou novos fornecedores em países como Catar, Noruega e Argélia

 Desde o início da guerra na Ucrânia, o gás se tornou uma arma econômica exibida em várias ocasiões entre a Rússia e a Europa. Reveja abaixo a linha do tempo dessa queda de braço:

Abandono do Nord Stream 2
Em 22 de fevereiro de 2022, o chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou a suspensão do gasoduto Nord Stream 2, que ligava Rússia e Alemanha, como represália pelo reconhecimento oficial de Moscou dos territórios separatistas do leste da Ucrânia.

No centro de uma batalha geopolítica e econômica, esse projeto faraônico colocou a Alemanha (que importa metade de seu gás da Rússia) contra os Estados Unidos e parte dos países europeus.

Foi também uma fonte de tensão entre Rússia e Ucrânia, levando este último a temer a perda dos lucros que obtém com o trânsito de gás russo pelo seu território.

Disparada do preço do gás
A Rússia proporciona cerca de 40% das importações de gás da Europa.

A invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, provocou a disparada do preço do gás natural e do petróleo, devido ao medo de cortes de fornecimento.

Em 2 de março, a União Europeia (UE) "desligou" sete bancos russos do sistema financeiro internacional SWIFT, que agiliza os pagamentos internacionais. Mas manteve dois grupos financeiros vinculados ao setor dos hidrocarbonetos, devido à grande dependência do gás russo por parte de países como Alemanha, Itália, Áustria e Hungria. 

Embargo do gás pelos Estados Unidos
Em 8 de março, o presidente americano, Joe Biden, proibiu as importações de hidrocarbonetos russos.Quase ao mesmo tempo, o Reino Unido anunciou o fim das importações de energia russa para 2022, enquanto a UE estabeleceu o objetivo de reduzir suas compras em dois terços este ano.

Resposta russa
Em 23 de março, o presidente russo, Vladimir Putin, decidiu proibir os europeus de pagarem o gás russo em dólar, ou em euro, em resposta ao congelamento de cerca de US$ 300 bilhões das reservas de moeda estrangeira da Rússia.

Também anunciou que os países "hostis" que consomem gás russo teriam de abrir contas bancárias em entidades russas para pagar suas contas em rublos, caso contrário seu fornecimento poderia ser cortado.

A Comissão Europeia - órgão executivo da UE - considera essa opção uma violação das sanções internacionais contra Moscou, por isso buscou alternativas com os Estados Unidos.Washington prometeu enviar à Europa mais 15 bilhões de metros cúbicos de gás natural liquefeito (GNL) este ano.

Corte do gás russo
Em 27 de abril, a gigante russa Gazprom suspendeu todos os seus envios para Bulgária e Polônia, dois países com grande dependência do gás russo, já que não lhe pagaram em rublos.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, denunciou uma "chantagem do gás" e explicou que ambos os países (membros da UE e da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan) receberão o gás "por meio de seus vizinhos da União Europeia".

Em 21 de maio, a Rússia cortou o gás de sua vizinha Finlândia, que também se recusou a pagar em rublos. O país provocou a ira de Moscou com seu pedido de adesão à Otan. Depois, chegou a vez de Holanda e Dinamarca.

UE não quer embargo
Em 30 de maio, os líderes dos 27 países da UE concordaram em reduzir em cerca de 90% suas importações de petróleo russo para o final do ano, mas não quiseram impor um embargo ao gás de Moscou.

Europa pressionada
Em meados de junho, citando um problema técnico, a Gazprom reduziu em 60% seus envios de gás, principalmente para a Alemanha através do Nord Stream 1. Com isso, os preços voltaram a subir.

Em 23 de junho, a Alemanha ativou o "nível de alerta" do abastecimento de gás, o que aproxima a possibilidade de racionamento no país.

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segunda-feira, 7 de março de 2022

Potássio para dar e vender - Revista Oeste

Artur Piva

Embora as reservas brasileiras sejam capazes de suprir o país por mais de 200 anos, o mineral ainda é importado

Não são apenas os ataques a usinas nucleares e alvos civis ou os milhões de refugiados que deixam a Ucrânia rumo a outras paragens da Europa o que preocupa o Brasil na guerra que acontece do lado de lá do Atlântico. O potássio, um mineral de cor marrom que, depois de processado, é transformado em pequenas porções que lembram ração de cachorro, é indispensável para a produção de fertilizantes usados nas lavouras brasileiras. E boa parte desse potássio é importada da Rússia


 Cloreto de potássio é um fertilizante mineral vermelho -  Foto: Andrei Dubadzel/Shutterstock
 
Apesar dessa dependência do mercado externo, o Brasil tem uma das maiores reservas de potássio do mundo. O mapa dessa mina é conhecido há mais de uma década. Localizada no Amazonas, a quantidade de minério depositada ali pode suprir a demanda nacional por mais de 200 anos.

Reinhold Stephanes, que comandou o Ministério da Agricultura no governo Lula entre 2007 e 2010, afirmou que o grupo canadense Falcon já havia comprado uma grande área na região quando ele estava à frente da pasta. “Eles me disseram que havia ali a perspectiva de existir a terceira maior reserva de potássio do mundo”, contou Stephanes.

A área faz parte de uma jazida que pode se estender até o Pará. Ao todo, estimam-se mais de 3 bilhões de toneladas de minério. Boa parte dele está localizada em Autazes (AM), município a pouco mais de 100 quilômetros de Manaus, encostado nos rios Madeira e Amazonas. A quantidade existente ali é estimada em quase 800 milhões de toneladas de silvinita (sais de potássio), segundo estudos realizados pela Potássio do Brasil Ltda., empresa que pretende explorar a área. 

O potássio na agricultura
Em 2020, as plantações brasileiras consumiram pouco mais de 10 milhões de toneladas de fertilizante à base de potássio. Cerca de 95% disso não foi produzido aqui, segundo os dados do Ministério de Minas e Energia. O problema é que todo o potencial encontrado no Norte do país ainda está longe de ser aproveitado.

O setor privado deseja começar a produzir esses fertilizantes no país desde 2010, quando a Potássio do Brasil anunciou a descoberta “de potássio no projeto de pesquisa na Bacia do Rio Amazonas”. Mas a burocracia brasileira emperra a operação há mais de uma década. Embora não esteja dentro de reservas indígenas, o fato de estar poucos quilômetros distante de algumas delas impede o início da mineração. [Ministério Público Federal, por favor, se não querem ajudar, pelo menos não atrapalhem.  
Esse negócio de reservas indígenas pode até ter prioridade, desde que não comprometa a segurança nacional, no caso também a segurança alimentar de milhões de brasileiros.
Se trata de assunto urgente e tem que ser tratado com URGÊNCIA E PRIORIDADE TOTAL. 
Igual quando alguém está infartando e chega no hospital - primeiro se socorre e depois se discute quem paga a conta.
O indígena é igual a qualquer outro brasileiro, nem mais nem menos. Se as reservas estivessem na propriedade de algum brasileiro, não índio, vocês desapropriariam,fazendo o que fosse preciso. Qual a razão de com o índio ser diferente?]

Sob o argumento dessa “proximidade”, o Ministério Público Federal pediu, em 2016, a suspensão das licenças que a Potássio do Brasil já tinha para fazer pesquisas no local e iniciar as obras do complexo de processamento. Elas haviam sido concedidas pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, órgão estadual. A Justiça atendeu os procuradores, e tudo ficou parado.

O “Projeto Potássio da Amazônia”, nome dado à empreitada, inclui instalar uma fábrica, uma linha de transmissão de energia e um porto para escoar a produção. A estrutura aproveitará as barcaças que navegam pelo Rio Madeira carregadas com a produção agrícola do Centro-Oeste rumo à foz no Oceano Atlântico. No retorno, em vez de voltar vazias, seriam utilizadas para levar o insumo aos produtores.

A operação ainda traria ganhos ao meio ambiente, uma vez que muito menos cargas viriam do extremo norte do planeta. Atualmente, a maior parte do potássio aplicado nas lavouras brasileiras vem dessa faixa do globo. O Brasil importa o produto principalmente do Canadá, de Belarus e da Rússia. 

A invasão da Ucrânia
Nos últimos anos, essa dependência deixou o Brasil refém das mudanças de preço do dólar. Agora, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o problema se tornou ainda mais sensível. Tereza Cristina, ministra da Agricultura, trabalha para evitar que a guerra vire uma tragédia também para a agropecuária. O setor, vital para a economia brasileira, somou o Valor Bruto da Produção (VBP) de R$ 1 trilhão e faturou mais de US$ 100 bilhões com exportações em 2021.

Russos e bielorrussos passam por sanções econômicas em razão do conflito. A retirada deles do mercado impede os envios do minério para o Brasil. A ministra busca suprir a necessidade nacional com outros parceiros. Além do Canadá, entram na lista de possíveis fornecedores o Chile, Israel, alguns países árabes, como a Arábia Saudita e o Catar, além do Irã.

“O Brasil tomou um caminho equivocado de importar, e não produzir fertilizantes”

Tereza Cristina se reunirá com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para buscar alternativas. A estratégia é mostrar ao órgão da ONU que fertilizantes e alimentos têm a mesma importância: sem adubo, não há comida. Portanto, os dois itens devem ser tratados da mesma forma: com uma política de zero sanções.

Ainda que funcione, ela avisa que o mercado deve passar por ajustes. “Os preços ficarão mais altos”, alertou, numa entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan. “Essa é uma dificuldade, mas o produtor sabe que, nesse primeiro momento, teremos o aumento do preço desses insumos importantes para agricultura.” 
 
Menos produção e mais dependência
Segundo a ministra, “o Brasil tomou um caminho equivocado de importar, e não produzir fertilizantes”. “Nós ficamos cada vez mais dependentes”, lamentou. Tereza Cristina comentou os casos de Estados Unidos e China, outros grandes players do agronegócio mundial, que optaram pelo caminho oposto e hoje produzem 80% da necessidade local de fertilizantes. 

A “mina em Autazes”, de acordo com a ministra, é uma solução de longo prazo. “É tão grande que temos nela o suficiente para abastecer o país por 200 anos”, disse, lembrando do entrave burocrático que impede a exploração. Caso tudo corra bem, a jazida pode começar a suprir um quarto da necessidade nacional até 2025. Ou cinco vezes mais que a produção atual brasileira, que hoje está praticamente toda concentrada no complexo Taquari-Vassouras, em Sergipe.

Antônio Cabrera, ministro da agricultura do governo Collor, resume o problema em três palavras: falta de liberdade. “Todo potencial que existe aqui não pode ser utilizado em razão da nossa burocracia, da nossa capacidade de não aproveitar os recursos naturais”, disse. Segundo Cabrera, falta aos governantes brasileiros uma percepção básica: “Mais liberdade significa menos pobreza e mais alimentos”.

Leia também “Pulverizando mitos”
 

Artur Piva, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Invasão da Ucrânia pode dar início a nova ordem entre Ocidente e Oriente - Folha de S.Paulo

Está na cabeça de todo o mundo. Como Vladimir Putin simplesmente ignora telefonemas e visitas de representantes das nações mais ricas da União Europeia e dos Estados Unidos e faz uma invasão por terra, mar e ar na Ucrânia, nitidamente premeditada pelo enorme nível de coordenação?

Por semanas, ele deixou claro que não quer entregá-la bovinamente à Otan, abrindo flanco para a instalação de mísseis na cola da fronteira russa. Mas também está claro que sua ação tem um simbolismo maior, pelo nível de desprezo que demonstra em relação a outros chefes de Estado.

Há indícios de que o Ocidente fraqueja, e como não há vácuo de poder, o Oriente avança pelas brechas. Putin dá sinais de que se preparou para este momento mais tenso, inclusive prevendo quais seriam os limites das sanções econômicas sobre a Rússia, o principal instrumento de reação. Suas aparentes calma e segurança viriam do fato de que boa parte das peças de seu jogo de xadrez bélico estão bem posicionadas em outro tabuleiro, os mercados de commodities.

Mesmo comandando uma economia com brilho menor, o governo russo fez apostas em produtos-chave, e a globalização tratou de criar interdependências miúdas, tão difíceis de desatar como nó de correntinha fina. Alguns exemplos. A Rússia tem grandes reservas de carvão e petróleo e é o maior produtor de gás do mundo. Muito se repetiu que quase 40% do gás consumido na Europa é russo. Agora vai ficando claro que não há fornecedores alternativos à altura da demanda europeia.

Na terça-feira (22), circulou nas agências internacionais a declaração de um executivo da indústria no Catar avisando que não há no mercado volume suficiente de GNL, gás natural liquefeito, para cobrir o eventual cancelamento de contratos de europeus com os russos.Muitos colocam dinheiro na mesa para apostar que a retaliação alemã, de suspender a licença do gasoduto Nord Stream 2, que levará gás russo ao país, não dura até o fim do outono.

A Rússia também é um importante produtor de cevada, aveia, centeio e principalmente de trigo, item básico de alimentação. Nos últimos anos, se tornou o maior exportador de trigo do mundo, e controla 20% do abastecimento global. Enquanto os analistas falam da perda de prestígio de Putin, os preços dos principais produtos russos ganham valor. O preço do barril de petróleo já passa de US$ 100 e o trigo acumula alta de 17% em uma semana.

Colocando um pouco de Brasil na discussão é preciso lembrar que Rússia é um fabricante tão expressivo de adubos e fertilizantes que nada mesmo de 62% das importações brasileiras daquele país estão concentradas nesses produtos. Outra fatia importante desses itens vem de Belarus, um aliado na guerra da Ucrânia. Como ficar sem?

Há outra questão. Apesar de os principais países terem condenado a ofensiva na Ucrânia, a China segue sem condenar Putin, com representantes do alto escalão emitindo manifestações dúbias. Representantes da diplomacia chinesa já fizeram ponderações sobre a relação da Rússia com a Ucrânia e as repúblicas separatistas.

Não tem segredo aí. Se a China condenar a Rússia vai complicar suas exigências em relação a Taiwan. Na quarta-feira (23), o ministro das Relações Exteriores chinês chegou a declarar que Taiwan não é Ucrânia porque sempre foi parte inalienável da China.Faz um tempo que os dois países caminham juntos na economia. O principal parceiro comercial da Rússia --de longe-- é a China, e vice-versa. Minério e um volume gigante de petróleo vão para a China, que vende para a Rússia muito maquinário e eletroeletrônicos.

Entre os dois países estão em construção redes de gasodutos que prometem mudar o equilíbrio da oferta do produto no mercado global.No início de fevereiro, quando a crise da Ucrânia já estava em curso, a parceria escalou. Putin foi a Pequim para participar da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno.

Num claro recado ao Ocidente, especialmente aos Estados Unidos, ele e o presidente chinês Xi Jinping anunciaram um acordo "sem limites" nas áreas econômica e política. Essa aproximação consolida a organização de um poderoso bloco na banda oriental do mundo, liderado pela China, que vai escanteando as potências ocidentais.

No meio da pandemia, em novembro de 2020, enquanto o então presidente Donald Trump travava a guerra comercial contra a China, o gigante asiático e 14 países do Pacífico fecharam o maior acordo comercial do mundo. Chamado de Parceria Econômica Regional Abrangente, o bloco reúne 2,2 bilhões de consumidores e um terço do PIB global.

Ao mesmo tempo, a China mantém a construção da Nova Rota da Seda, megaobra de infraestrutura que liga Oriente Médio, Ásia, África e Europa, atravessando áreas que eram de influência da ex-União Soviética.

Todos esses movimentos, colocaram os dois países, que já foram os maiores impérios ao leste, de costas para o Oeste. Putin, em sua invasão da Ucrânia, fez um movimento mais ousado e novo, confrontou o Ocidente --aqui, entendido como o grupo desenvolvido dessa parte do mundo, Europa e Estados Unidos.

Sim, tudo indica que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pode ter razão. Há sinais de que Putin trabalha para reconstruir a antiga União Soviética. E a lacônica China quer o quê? 

Alexa Salomão - Folha de S. Paulo  

 

domingo, 21 de novembro de 2021

Visita de Bolsonaro ao Golfo Pérsico foi exitosa e produtiva - Gazeta do Povo

Alexandre Garcia
 
O presidente Jair Bolsonaro está de volta ao Brasil depois de uma exitosa e produtiva visita a países árabes do Golfo Pérsico riquíssimos em petrodólares. A viagem começou pelos Emirados Árabes, em Dubai, na Expo 2020, e foi um sucesso. Fez amizade com os príncipes, almoçou com empresários e teve o Dia do Brasil, no dia 15 de novembro. Também foram fechados negócios, com a venda de aviões e material bélico brasileiros.
 
Bolsonaro visita o evento Dubai Air Show: comitiva presidencial fechou acordos e apresentou produtos brasileiros aos países árabes
Bolsonaro visita o evento Dubai Air Show: comitiva presidencial fechou acordos e apresentou produtos brasileiros aos países árabes| Foto: Alan Santos/PR

Os árabes compraram também alimentos, principalmente frango, além de café e mate. Também houve intenções de investimentos em infraestrutura e em papéis do agro. Dali ele foi para o Bahrein, onde inaugurou uma embaixada brasileira, liderou uma motociata e foi muito bem recepcionado. Os chefes de Estado estavam de braços abertos para os brasileiros. Saudação na rua do povo e crianças com a bandeirinha brasileira, foi uma festa.

O que vem sendo feito na Amazônia e quase ninguém fala

E no Catar, onde vai ter Copa do Mundo no ano que vem, Bolsonaro se encontrou com o presidente da Fifa, Gianni Infantino. Ele ganhou uma bola e uma camisa da Fifa com o seu nome. Como retribuição, Bolsonaro o presenteou com uma camisa canarinho. Eles visitaram juntos um estádio maravilhoso, que já está pronto um ano antes da competição. Chegaram a bater bola no gramado.

Filiação a novo partido
Agora que Bolsonaro está de volta todos estão esperando para saber como vai ficar a filiação partidária do presidente. Ele viajou ao Oriente Médio sob o anúncio de que assinaria a ficha no próximo dia 22 para entrar no Partido Liberal (PL).

Mas lá pelas tantas, Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, o manda-chuva do PL, se desentenderam principalmente por causa do apoio do partido a Rodrigo Garcia, candidato de João Doria ao governo de São Paulo. Mas todos sabem que o candidato de Bolsonaro é o ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas. E tem mais divergências em Alagoas, no Piauí, no Amazonas…

Mas agora as lideranças do PL se reuniram e anunciaram que estão dando carta branca para Valdemar Costa Neto negociar o que quiser com o presidente Bolsonaro para não perdê-lo. Afinal, ele é o candidato que puxa voto. Só lembrar que na eleição passada elegeu os governadores do Rio de Janeiro e o de São Paulo, só pra citar alguns.

A tradução dessa carta branca é aceitar qualquer condição de Bolsonaro para entrar no partido. Afinal, o partido precisa do presidente da República mais do que Bolsonaro precisa do PL. Ele tem ainda a opção do Partido Progressista (PP), em que esteve por 11 anos e que é uma legenda que tem muitos prefeitos e deputados pelo país.

O PL tem a terceira bancada da Câmara em tamanho, com 43 deputados, que têm uma fidelidade de 88% nas votações. Um deles, talvez o mais fiel, é o Marco Feliciano (SP). E no Senado, o partido tem quatro senadores com uma fidelidade de 84% nas votações. Um dos mais conhecidos é Jorginho Mello, de Santa Catarina. E o partido ainda tem 347 prefeitos.

Partido é tudo igual
Um amigo me questionou por que tanta celeuma com o PL, já que ele não é tão diferente dos outros partidos, e eu concordei. Pode ser que todos sejam mais ou menos iguais, tem lá o chefão e os seus problemas de um modo geral. Não há muita diferença, infelizmente, partidos no Brasil são agremiações, não são conjuntos de doutrinas políticas. São interesses momentâneos, às vezes fisiológicos, e união de gente que tem o mesmo interesse.
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES