Atenção para o dia 19: o Príncipe dos Empreiteiros, um dos responsáveis confessos por alguns bilhões de dólares em propinas, pixulecos, acarajés, presentes e quetais, aquém e além fronteiras, nunca assaz louvado em terras bolivarianas e africanas, livra-se enfim da prisão. Vai para casa cumprir pena domiciliar; restam-lhe, dizem, R$ 14 bilhões para garantir-lhe um mínimo de conforto. Dizem também que, apesar de não ter ficado pobre, sente-se injustiçado: por exemplo, não teria nada a ver com o sítio de Atibaia, aquele que não é de Lula, e que o presente que Lula jura que não recebeu foi-lhe dado por seu pai, Emílio Odebrecht. As relações de Marcelo com o pai, a mãe, o cunhado, a irmã parecem abaladas. Pior: embora não se considere responsável por boa parte da pixulecagem, seu nome e rosto é que ficaram marcados para a opinião pública, a ponto de se considerar perigosa qualquer indicação sobre sua viagem de retorno.
Há quem tema, dentro da Odebrecht, os próximos depoimentos de Marcelo. Ao que se comenta, ele tem sido muito critico das confissões dos 77 diretores da empresa, e insinua a possibilidade de corrigi-las. Conforme o tipo da correção, isso pode significar a anulação da delação premiada, com a cassação dos benefícios outorgados aos delatores. Mas é tudo muito estranho: o alto comando da empresa confessou os crimes. Se a empresa se responsabilizou pelos crimes todos, como poupar o Príncipe Herdeiro?
Togas em lutaCaso seja condenado em segunda instância, o ex-presidente Lula seria obrigatoriamente preso, mesmo que o processo não tenha ainda transitado em julgado? Uma decisão do STF autorizou a prisão do condenado em segunda instância, situação em que Lula se enquadraria se o apelo fosse rejeitado. Mas o ministro Gilmar Mendes disse que o Supremo autorizou a prisão, mas não a tornou obrigatória. [o que remete a competência para decidir se o condenado será enjaulado ou tornozelado, fica com o TRF-4 ou, no silêncio daquela Corte, com o juiz Sérgio Moro.]
O problema então é outro: Lula, que já lançou sua candidatura à Presidência, estaria ou não enquadrado na Lei da Ficha Limpa, mesmo sem aprisionado? Como a questão de Lula envolve posições políticas complexas, haverá boas discussões nos tribunais.