J. R. Guzzo
Golpes
de Estado exigem um líder, um plano coerente de ações concretas,
tanques na rua, a designação clara de quem faz o que, quando, como e
onde, o controle do abastecimento de combustíveis e uma porção de outras
questões práticas.
O golpe de Brasília seria o primeiro em que o líder
foge para o exterior antes de dar o golpe – quem já viu uma coisa
dessas?
Também não há precedentes de alguém que tenha querido tomar o
governo quebrando vidraças, cantando o Hino Nacional e atacando estátuas
de Rui Barbosa.
E a palhaçada da armação secreta para
comprometer o ministro do STF? Os golpistas iriam anular o resultado da
eleição, ou manter o ex-presidente na sua cadeira, mostrando uma fita
gravada?
Em suma: o golpe de Estado, tal como ele tem sido descrito até
agora, poderia levar a qualquer coisa, menos uma – o golpe de Estado.
É óbvio que quem violou a lei tem de ser responsabilizado pelo que fez, dentro do devido processo legal – aliás, há um mês não se fala em outra coisa, dentro do governo, que não seja processar, punir, prender, como se o Brasil estivesse ameaçado pela explosão de uma bomba de hidrogênio.
Tudo bem, mas o País está precisando, com urgência, de um governo que
comece a governar – que a Justiça cuide do “golpe”, mas a vida tem de
continuar. Não há governo no Brasil desde o segundo turno da eleição. O
que havia sumiu e o novo não assumiu; continua tendo, como objetivo
único, fazer oposição a um governo que não existe mais.
É um disparate.
Querem passar os próximos quatro anos, então, falando do “golpe”, da
“defesa da democracia” e de Jair Bolsonaro?
Não é viável. As realidades estão aí; não vão desaparecer com
choradeira, nem com ministros que não saem do noticiário policial.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo