Fui um repórter dedicado majoritariamente a pautas de polícia, no início da minha carreira, na longínqua década de 1980. Os traficantes, do jeito que os conhecemos hoje, surgiram nessa época. Dominaram territórios, e nunca mais tivemos paz. Acompanhei muitas operações policiais em favelas do Rio de Janeiro. Morro do Borel, da Pedreira, Rocinha, Dona Marta, favela do Rato Molhado... A imprensa ainda não usava coletes à prova de tiro, capacetes, não havia carro de reportagem blindado. E ainda seguíamos, repórter, cinegrafista e operador de VT, atados entre nós por cabos, o do microfone, o da câmera... Os policiais avançavam. Estampidos, estilhaços, pólvora, o deslocamento de ar concentrado, breve e intenso. Sob tiros, os policiais avançavam.
Nunca confundi bandidos com mocinhos. Nunca achei que um fosse outro. Bandidos não são “vítimas da sociedade”. E, infelizmente, muitos não têm escapatória, para eles não há esperança de regeneração, de recuperação. É porque há um ponto em que não dá mesmo para voltar, em que o mal se instala, gruda na pele, invade, toma os órgãos, principalmente os vitais. Espírito fraco, índole ruim, o olhar de quem olha e não vê, de quem não tem emoção, só frieza, cinismo, maldade... É de desprezo que se alimentam os traficantes, desprezo pelos outros e até por eles próprios. A vida no impulso de um gatilho.
Em junho do ano passado, o STF resolveu também proibir as operações policiais nas comunidades do Rio durante o combate à Covid, numa “política de segurança pública”, além de tudo, sem amparo na lei. [para os supremos ministros do STM, eles são a lei.] a lei é O tráfico agradeceu, ganhou ainda mais força. Tirar a polícia das favelas é um absurdo. O combate à criminalidade deve se dar em várias frentes, no trabalho de inteligência, no policiamento ostensivo, nas operações policiais... Não dá para aceitar que nas favelas prevaleçam as leis dos traficantes.
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A operação no Jacarezinho na semana passada teve autorização judicial. As investigações e o planejamento da ação demoraram quase um ano. Se houve excessos, se houve erros, que isso seja apurado. O que não dá é para demonizar a polícia. O que não podemos é chamar de vítimas aqueles que sufocam trabalhadores, aqueles que reinam pelo terror. Não são “justiceiros sociais”, são opressores cruéis. Massacram as pessoas de bem, agridem, humilham, praticam extorsão, invadem casas, aliciam menores.
Luis Ernesto Lacombe, colunista - VOZES - Gazeta do Povo