Análise Política
O debate sobre zerar o déficit vai quente, mas os cenários financeiros
mais realistas já absorveram algum grau de frouxidão fiscal. Até porque
sempre haverá o Banco Central autônomo para, se necessário, apertar a
corda ou soltar menos que o previsto.
O fôlego na economia reforça a mão de cartas do governo nas negociações
para a ampliação da base parlamentar, numa moldura que já vinha
favorável por razões políticas propriamente ditas, em particular a
inteligente recusa do Congresso Nacional a ficar isolado contra o que se
chama, com algum grau de humor, de presidencialismo de coalizão com o
Judiciário.
Nunca se deve subestimar o instinto de sobrevivência dos políticos.
Essa “coesão no conflito” projeta um segundo semestre de votações com
tudo para ser tranquilas ao oficialismo, ainda que nos micromomentos
aconteçam turbulências e ruídos, um alarido que sempre acaba por se
dissipar na hora H. Até por o governo contar com sólido respaldo nos
mecanismos ditos formadores de opinião pública.
O que tem funcionado como amortecedor eficaz de potenciais crises.
Um exemplo são as Comissões Parlamentares de Inquérito. Que, de
instrumentos para a fiscalização do poder, transformaram-se em
ferramentas para acossar a oposição. Esta, aliás, vem aprendendo uma
lição preciosa. Denuncismo sem apoio da imprensa e do Judiciário é tiro
que pode, e costuma, sair pela culatra.
Especialmente quando a própria oposição está encalacrada numa agenda policial-criminal.
Uma incógnita sobre 2024 é se o PT conseguirá romper a barreira nas
cidades, pois, apesar de ter estado 14 anos no poder federal, nunca
conseguiu capilarizar essa força nos municípios.
Também porque as amplas alianças que precisa costurar em Brasília para sobreviver acabam alimentando adversários do partido na base da sociedade.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político