Gazeta do Povo - Alexandre Garcia
Foto - EFE
O
presidente quase ficou sem 17 ministérios e 17 ministros quase ficaram
sem pasta.
E não conseguiu tirar o COAF do Banco Central nem extinguir a
FUNASA, nem dar o Cadastro Ambiental Rural e a Agência de Águas para a
Marina Silva, nem a demarcação de terras indígenas para a Sônia
Guajajara.
E ainda pagou caro pela aprovação por um triz da nova
estrutura de governo: o recorde de 1,7 bilhões em emendas liberadas no
dia da votação. Se Lula ficou surpreso com esse resultado é porque anda
afastado demais do país, voando demais. Na intimidade, se sabe que culpa
seus articuladores no Congresso, embora todos saibamos que Artur Lira
teve boas razões para prevenir o governo de que o problema está mais
acima.
Talvez seja difícil para o presidente entender
que ele foi eleito pela metade dos eleitores. A outra metade é
oposição. Na melhor das hipóteses para ele, o país está dividido; ele
não teve uma vitória esmagadora, como para ele parece.
Além disso, a
eleição que renovou a Câmara mostrou que cerca de dois terços dos
deputados vêm de partidos e votos de centro-direita; a renovação de um
terço do Senado aumentou a bancada conservadora para mais de 60%.
Resta
ao governo apelar ao fisiologismo; liberou emendas e agora fala em dar
mais ministérios a partidos que ainda não receberam.
Motivos para
refazer o ministério é que não faltam.
Culpar
articulação no Congresso é só ficar com uma parte do diagnóstico.
Ministros inexperientes não têm noção de como se relacionar com
deputados e senadores e, pelo jeito, cinco meses não foram suficientes
para sentir que cada um tem que servir ao seu público, ao povo e ao
mesmo tempo dar atenção aos integrantes do Poder Legislativo.
Governo
não é apenas o Executivo e, como se sabe, o falado semipresidencialismo
já é uma prática há mais de quatro anos.
Mesmo os experientes
ex-governadores, hoje no ministério, estão gerando desgastes no governo,
como o ministro da Justiça, Flávio Dino, e agora o ministro da Casa
Civil, Rui Costa, que, sem ser provocado, fez um discurso preconceituoso
ofendendo Brasília, os brasilienses e levantando até os petistas da
bancada do DF contra o ministro coordenador do governo. Nunca se havia
ouvido antes um governador chamar ministro de “um idiota completo”, como
disse ao Correio Braziliense Ibaneis Rocha (MDB) referindo-se a Rui
Costa.
Talvez seja difícil para o presidente entender que ele foi eleito pela metade dos eleitores. A outra metade é oposição
Não
foi apenas a escolha do ministério inchado, mas também o espírito de
revanche e desmanche.
O teto de gastos, a privatizada Eletrobras, o
marco do saneamento e a autonomia do Banco Central estão entre as
tentativas de retroceder décadas e afastam também os notáveis que
assinaram a Carta pela Democracia que apoiou Lula.
E já aparecem
editoriais e artigos com forte crítica ao governo, em órgãos que
apoiaram a candidatura Lula. O programa econômico é claudicante; essa
última novela de carro popular com corte de impostos, depois com bônus, e
agora “repaginado” para caminhões e ônibus que já têm combustível
subsidiado, mostra como a área econômica está insegura, indecisa e é
incipiente no ramo.
A terceira década do milênio já
não é como a primeira - essa é outra falha na percepção do chefe do
Executivo. Aí, voa para fora do país - até quer um avião maior -,
afastando-se das dificuldades internas.
Viagens que causam mais críticas
que elogios, nessa política externa de incensar o ditador Maduro em
Brasília, sendo anfitrião de outros presidentes. Dia 22 será a 11ª
viagem internacional - uma por quinzena.
O próximo destino pode ser
Paris para tratar de clima. Depois vai ao Vaticano.
Na verdade, para
tratar de clima, deveria voar para o Sol, que é responsável pelo clima
da terra. Mas, cautela: Ícaro iludiu-se sem saber que as asas estavam
derretendo.
Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES