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quinta-feira, 7 de junho de 2018

Encurralados

A cada dia, descobrimos que não conhecemos a verdadeira extensão da nossa desgraça nacional


Foram dias intensos. Estradas tensas, postos sem combustíveis, mercadorias estocadas e até apodrecendo em carrocerias de caminhões, desabastecimento, oportunistas aumentando preços, prejuízos enormes, controvérsias, chantagens dos viciados por subsídios, (des)governo para variar…  O movimento dos caminhoneiros jogou muita coisa à mesa. Contou com a simpatia e o apoio de parte significativa da população. Essa identificação é natural, porque a gente brasileira trabalha de sol a sol para ganhar cada vez menos, sacolejando o dia todo como se trilhasse a buraqueira do solo lunar. E há ainda um ponto intrínseco que une o país de fora a fora: ninguém suporta mais tanta corrupção e a cara deslavada dos políticos que vivem no mundo da lua.

Temos uma sociedade digna condenada por um dos piores sistemas educacionais do planeta, arrasado pelo recente aviltamento da grade curricular e pela ideologização das salas de aula, com todas as consequências nefastas que isso acarreta. Como a incapacidade gritante de formar cidadãos que compreendam direitos e deveres, elaborem um pensamento estruturado, adquiram senso crítico mínimo e sentimento de nacionalidade.
Não surpreende a multidão de excluídos intelectuais que se tornou presa fácil para toda sorte de discursos surrados e assistencialismos cruéis. Uma massa de manobra sempre pronta a trocar direitos por esmolas retóricas e econômicas, e acreditar, quando vítimas da falta de tudo, que programas sociais que beiram a má-fé trazem solução para alguma coisa. Em suma, a mais perfeita tradução da ignorância ideológica ou dependente. Ou a soma delas.

Fico impressionada porque, a cada dia, descobrimos que não conhecemos a verdadeira extensão da nossa desgraça nacional. Sim, chegamos ao fim de uma linha que nunca termina, passa do ponto final e segue avançando sob o nevoeiro, como se fosse a estrada para o infinito. Como se o país viajasse num eterno trem fantasma.  O movimento dos caminhoneiros atingiu quase todos os setores da economia. Ainda não estão claras as consequências políticas e sociais desta paralisação de uma categoria invisível em tempos normais, mas capaz de virar qualquer país pelo avesso quando resolve encrespar. O episódio exige análise por diversos ângulos. Locaute? Paralisação espontânea? Manipulação de pelegos infiltrados? Perguntas de múltiplas repostas.

Ninguém sabe ao certo os prejuízos imediatos e a extensão do desabastecimento, bem como as consequências, no sistema econômico, da variação de preços das mercadorias. Muito provavelmente manterão valores residuais dos aumentos ocorridos no período, como já se observa nos segmentos de verduras e carnes, algo ao redor de 15%. Há quem garanta que a conta espetada nas costas do contribuinte  vai oscilar entre R$ 80 e R$ 90 bilhões.  Também é importante analisar o financiamento tresloucado de caminhões patrocinado pelo BNDES na era petista (algo como “Meu Caminhão, Minha Vida”, que despejou cerca de R$ 227 bilhões entre 2009 e 2012), por pressão das montadoras, inundou o mercado com novos caminhoneiros autônomos e ampliou a frota das transportadoras, implodindo a lei da oferta e da procura e jogando o valor do frete no chão.

A entrada de novos caminhões resultante dessa benesse oficial aumentou em 40% a frota nacional e nem mesmo diesel gratuito resolveria a questão pois, hoje, para cada mil caminhoneiros disponíveis, há apenas setecentos fretes no estoque. Por isso, a ociosidade impôs uma concorrência feroz e o sistema adernou mirando o colapso. Ou seja, hora de bater à porta da Viúva generosa. Vimos um governo humilhado, obrigado a ceder tudo. E mais uma desmoralização da Petrobras, que vinha experimentando processo de recuperação financeira, do valor de mercado e da imagem internacional pós-petrolão ─ um pecado cometido pelo executivo que recuperou a empresa, impediu ingerência política, mas terminou obrigado a cair fora.

O governo escolheu os caminhos costumeiros, o remédio amargo que apenas irrita o sistema digestivo de quem é obrigado a engolir à força, ignorando a panaceia eficaz que exige longo prazo: crescimento econômico.  Mas, para sistemas políticos vadios como o nosso, crescimento econômico é um veneno, pois requer credibilidade e medidas inadiáveis como reforma da Previdência, privatizações, ajuste das contas públicas, Estado menor e ausência de ingerência política. Também sofremos do mal crônico de andar à deriva do bom senso e ainda desviar para rotas perigosas, como buscaram os oportunistas de sempre. Loucos para surfar no sucesso popular da paralisação dos caminhoneiros, tentaram engatar algumas carretas fora de padrão (“Fora Temer”, “Lula Livre” e intervenção militar) nos cavalos mecânicos estacionados nas rodovias. Deram com os burros n’água.

Michel Temer, ambientado no século 19, é um moribundo político sofrendo sua taxidermia em vida. Derrubado a poucos meses do fim do mandato, daria lugar a Rodrigo Maia, com possível suíte de Eunício Oliveira e solos de Cármen Lúcia fora da partitura. Uma piada de mau gosto!  Temer tem poucas alternativas antes de ficar empalhado. Quem sabe, retirar todos os impostos dos discos de Sula Miranda, a eterna rainha dos caminhoneiros? Ela anda meio sumida, mas, nesse jogo de tentativas e erros certos do seu governo…  O desespero para libertar Lula a qualquer custo só comprova que ele desmilinguiu-se na própria amoralidade, a ponto de arquitetar o estratagema derradeiro de um indulto presidencial indecente, que poderá vir de gente como Ciro Gomes, caso eleito. Afinal, seus incontáveis recursos jurídicos já foram solenemente ignorados pelas quatro instâncias do Judiciário e até pela ONU! Ou seja, “O Cara” chegou ao ponto de carecer de um expediente vexatório, uma espécie de reconstituição de hímen.

E o bando sem noção que bateu à porta dos quartéis em busca de paternidade para enfrentar a vida, clamando por intervenção militar, ouviu do general comandante do Exército o bom conselho de procurar respostas no artigo 142 da Constituição. É o que dá sair por aí, zanzando pelas ruas, ridículos naqueles trajes camuflados, como se estivessem de prontidão para alguma guerra de travesseiros da Sessão da Tarde.  Algum subalterno poderia ter mandado a turma acampar na frente do Camp Swampy e pedir ajuda ao Recruta Zero, Sargento Tainha e seu totó Otto, Tenente Escovinha e General Dureza. Pelo menos, teriam a máxima do recruta para refletir: “Nunca deixe para amanhã o que você pode fazer depois de amanhã”. Um chiste bem mais inteligente do que a ideia de jerico de jogar o país, fardado, num isolamento internacional destinado à escória.

O horizonte seguirá carregado. Os caminhoneiros autônomos deverão continuar com os velhos problemas, ante a ociosidade que roda ali pelos 30% no setor. E diversos segmentos produtivos de grande porte pressionam o governo para acionar os líderes do movimento, em busca da reparação financeira pelos prejuízos que tiveram durante a paralisação.  Tempos cansativos estes, que esgotam nossa paciência cidadã. Nem a Copa do Mundo batendo à porta parece interessar. Eu mesma fiquei arrasada quando vi os jogadores vestidos naqueles ternos, digamos, difíceis! A ressaca pós-Lula de Ricardo Almeida fez Neymar viralizar em zombaria nas redes sociais. Tadinho, foi comparado até ao tradicional espalhafato do saudoso Clodovil, gente!

Não me causam estranheza as palavras recentes do jornalista Clóvis Rossi, que parecem traduzir tudo isso que nos afeta: “Desisto. Jamais chegaremos à civilização, pelo menos no que me resta da vida”.
“Assim é (se lhe parece)”. Pirandello vive!

 Emma Thomas