Presidente da Câmara evidencia que o senso de ridículo não é mesmo o seu forte, não é? Se quer contestar ministro da Justiça, volte ao Brasil ao menos
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente
carioca da Câmara — nascido em Santiago, eu sei —, demonstra que, em
matéria de ridículo, ele pode percorrer extensões mais longas do que uma
simples viagem até o Oriente Médio. O valente lidera uma farra
turística de nove deputados a Israel, com parada na Itália no retorno a
Banânia. É o chamado “dolce far niente”, em que se especializam alguns
de nossos mais ilustres representantes.
Uma nota antes que continue. Ninguém
sabe o que a turma foi fazer por lá, às expensas da Câmara. Só em
hospedagem, o custo é de R$ 90 mil. O Poderoso requisitou um avião do
FAB. Custo a calcular. Mas vemos, como se sabe, aqui e ali, Maia posar
de Catão da República. Nos veículos do grupo globo e associados,
alcançou a estatura de pensador. Foram recebidos pelo primeiro-ministro,
Binyamin Netanyahu? Não. Trata-se de um homem ocupado. Alguma outra
autoridade relevante de Israel? O presidente do Parlamento, Yuli
Edelstein, e o ministro de Segurança Pública, Gilad Erdan,
encontraram-se com a turma: cada um lhes dispensou 20 minutos. Também
estavam muito ocupados. [é inconcebível que qualquer autoridade brasileira, incluindo o Rodrigo Maia que por acaso está segundo na linha de sucessão, aceite visitar e/ou receber autoridade israelense, tendo em conta o notório desprezo que as autoridades de Israel dedicam ao Brasil; um único exemplo: o primeiro-ministro hebreu fez uma tour pela América Latina e não visitou Brasília ou qualquer outra cidade localizado no Brasil.
O mínimo que se espera de qualquer autoridade brasileira - digna do nome - é que retribua na mesma moeda.] Ah, sim: os turistas visitaram também o Museu do
Holocausto e depois foram para Ramallah. Colocaram flores no túmulo de
Yasser Arafat e tiveram direito a mais 20 minutos com outras pessoas
ocupadas: o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud
Abbas; o primeiro-ministro palestino, Rami Hamdallah, e outros membros
do Conselho Legislativo da ANP. E vambora pra Itália dançar a tarantela
dos desocupados.
Bem, lá de longe, claro!, Maia não
poderia ficar sem mandar seu recado do dia a um veículo do grupo Globo.
Em entrevista ao Blog da Andréia Sadi — ela publica sempre antes o que
andam dizendo pelas bocas e becos de Brasília, muito especialmente o que
não vai acontecer —, o doutor faz uma cobrança dura ao ministro da
Justiça, Torquato Jardim, sobre o estado de desordem da segurança no
Rio. O doutor está inconformado porque Jardim denunciou o conluio entre
agentes da polícia, da Assembleia e, tudo indica, do Estado com o crime
organizado. Com a fragmentação do comando do tráfico, as milícias estão
tomando o seu lugar, o que leva à multiplicação de lideranças locais —
associadas, muitas vezes, a policiais.
Vamos lá. Se me perguntarem se aprovo o
modo como o ministro tratou a questão, a minha resposta seria esta: “Em
si, não!”. O que quer dizer esse “em si”? Tomada em sua pureza, fora do
contexto, é “não”. Mas o trabalho do jornalismo compreendia antigamente,
e compreende ainda em alguns casos, ir além da fofoca, não importa a
distância. A verdade é que o governo federal, em especial o destacamento
das Forças Armadas, bateu num paredão chamado “governo do Estado”. Em
vez de colaboração com as tropas federais, o que se viu foi o boicote de
um governo que vive em estado de desordem. Aquele equilíbrio precário
entre bandidagem e simulacro de segurança pública que vigorou no Rio de
Sérgio Cabral foi para o beleléu.
Lembram-se quando as UPPs eram consideradas, inclusive pela imprensa carioca, o último bombom da caixa? Pois é… Rodrigo Maia ignora o contexto e apenas
dá uma de uma carioca ofendido, como fez o ministro do Supremo, Roberto
Barroso, quando Gilmar Mendes lembrou a esculhambação das contas
públicas no Rio. Ademais, o presidente da Câmara evidencia que não
conhece a Constituição. Afirmou que, se é como diz Torquato, o governo
federal precisa intervir na segurança do Estado. Bem, já interfere. Mais
do que isso, ai é preciso simplesmente fazer intervenção no Estado.
Ocorre que isso praticamente paralisa o governo federal e o Congresso.
Vale dizer: o resto do Brasil pagaria o pato.
De toda sorte, Rodrigo Maia tenha a
opinião que quiser, já que, ultimamente, ele virou especialista até em
espinhela caída. Mas que o seja, ao menos, em solo brasileiro. E que,
aqui chegando, faça com que o grupo dos deputados ressarça os cofres
públicos por sua viagem inútil.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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