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sábado, 15 de agosto de 2020

Enfim uma boa notícia no Oriente Médio, mas tem quem reclame - Blog Mundialista

Tudo de bom: acordo entre Israel e Emirados Árabes Unidos abre uma fase promissora e “tira da pauta” a anexação de territórios palestinos 

“Mensagem de amor de Telavive”. Assim a prefeitura da cidade ilustrou a fachada de luzes nas cores de Israel e dos Emirados Árabes Unidos – os Emirados, para simplificar. Uma semana antes, a  iluminação em forma da bandeira do Líbano, em solidariedade aos mortos na grande explosão do porto de Beirute, provocou reações furiosas. Israelenses de direita consideraram um ato de traição, uma vez que o Líbano continua a não aceitar um tratado de paz com Israel, e libaneses muito mais extremistas reagiram: “Vamos iluminar Telavive com nossos mísseis”. 

O clima completamente diferente que cerca a aproximação oficial entre Israel e os Emirados é um dos raros momentos em que o Oriente Médio produz uma notícia boa. A aproximação é produto de um longo processo de acerto entre interesses comuns. Israel não precisou pagar com a devolução de territórios, como aconteceu com o Sinai reintegrado ao Egito, em 1979.

O retorno de Yasser Arafat e a  transferência de territórios à Autoridade Palestina, em 1994, também envolveu essa “troca de paz por terra”. Foi uma experiência infeliz, fracassada ou condenada na opinião de muitos israelenses, decepcionados com a militarização e os atentados terroristas provocados pelos novos “aliados”. A maioria dos palestinos também se decepcionou por não conseguir o Estado independente que deveria estar na continuidade dos acordos.

Romper o tabu e se acertar com Israel sem ter o interesse premente de uma troca territorial é um passo muito importante não apenas pelo resultado presente como também pelo que antecipa como futuro: a aceitação de Israel como um país “normal”, não uma  entidade odiada a ser varrida do mapa ou, na falta de capacidade para fazer isso, hostilizada e rejeitada.

Por que o entendimento foi recebido com tanta má vontade em vários setores? Primeiro, porque é uma conquista de dois governantes abominados, Donald Trump e Benjamin Netanyahu. O terceiro integrante do acordo, o príncipe Mohammed Bin Zayed,  herdeiro de Abu Dabi e líder do pequeno e rico colar de emirados que foram uma entidade comum às margens do Golfo Pérsico, tampouco é uma flor da democracia e das liberdades fundamentais – ninguém é nessa região do mundo.

Segundo, porque nada é capaz de satisfazer as expectativas dos palestinos e de seus simpatizantes. [as expectativas dos palestinos são simples de satisfazer: querem apenas não ser estrangeiros em sua própria terra, vítimas de invasões de 'agricultores' - colônias de israelenses na Cisjordânia - 'agricultores' que contam com um apoio de um poderoso exército.
o número de mortos na explosão em Beirute, é muitas vezes inferior ao de civis palestinos mortos pelas chamadas Forças de Defesa de Israel - que utilizam aviões de última geração e poderosos blindados, para se 'defender'  de civis palestinos desarmados e em sua própria terra - ou migalhas que lhe foram concedidas.
Israel tem direito a um território, mas, não pode exercer tal direito tomando terras do mais fraco.]

O primeiro-ministro de Israel estava a poucos dias de anunciar a anexação das faixas de território palestino que, na prática, já são anexadas pela presença de enclaves residenciais habitados por judeus.
Como bom negociador, Bibi mais do que insinuou que anexaria também todo o lado ocidental do vale do rio Jordão.

Uma cartada que saiu rapidamente da mesaSobre a anexação das áreas sob controle total de Israel, Bibi sustenta que não foi eliminada  

Em Mundialista - Blog de Vilma Gryzinski - VEJA - MATÉRIA COMPLETA

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Rodrigo Maia resolve ter piti com fala de ministro Torquato, mas bem de longe, lá da farra

Presidente da Câmara evidencia que o senso de ridículo não é mesmo o seu forte, não é? Se quer contestar ministro da Justiça, volte ao Brasil ao menos

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente carioca da Câmara nascido em Santiago, eu sei , demonstra que, em matéria de ridículo, ele pode percorrer extensões mais longas do que uma simples viagem até o Oriente Médio. O valente lidera uma farra turística de nove deputados a Israel, com parada na Itália no retorno a Banânia. É o chamado “dolce far niente”, em que se especializam alguns de nossos mais ilustres representantes.


Uma nota antes que continue. Ninguém sabe o que a turma foi fazer por lá, às expensas da Câmara. Só em hospedagem, o custo é de R$ 90 mil. O Poderoso requisitou um avião do FAB. Custo a calcular. Mas vemos, como se sabe, aqui e ali, Maia posar de Catão da República. Nos veículos do grupo globo e associados, alcançou a estatura de pensador. Foram recebidos pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu? Não. Trata-se de um homem ocupado. Alguma outra autoridade relevante de Israel? O presidente do Parlamento, Yuli Edelstein, e o ministro de Segurança Pública, Gilad Erdan, encontraram-se com a turma: cada um lhes dispensou 20 minutos. Também estavam muito ocupados. [é inconcebível que qualquer autoridade brasileira, incluindo o Rodrigo Maia que por acaso está segundo na linha de sucessão, aceite visitar e/ou receber autoridade israelense, tendo em conta o notório desprezo que as autoridades de Israel dedicam ao Brasil; um único exemplo: o primeiro-ministro hebreu fez uma tour pela América Latina e não visitou Brasília ou qualquer outra cidade localizado no Brasil. 
O mínimo que se espera de qualquer autoridade brasileira - digna do nome - é que retribua na mesma moeda.]  Ah, sim: os turistas visitaram também o Museu do Holocausto e depois foram para Ramallah. Colocaram flores no túmulo de Yasser Arafat e tiveram direito a mais 20 minutos com outras pessoas ocupadas: o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas; o primeiro-ministro palestino, Rami Hamdallah, e outros membros do Conselho Legislativo da ANP. E vambora pra Itália dançar a tarantela dos desocupados.


Bem, lá de longe, claro!, Maia não poderia ficar sem mandar seu recado do dia a um veículo do grupo Globo. Em entrevista ao Blog da Andréia Sadi —  ela publica sempre antes o que andam dizendo pelas bocas e becos de Brasília, muito especialmente o que não vai acontecer —, o doutor faz uma cobrança dura ao ministro da Justiça, Torquato Jardim, sobre o estado de desordem da segurança no Rio. O doutor está inconformado porque Jardim denunciou o conluio entre agentes da polícia, da Assembleia e, tudo indica, do Estado com o crime organizado. Com a fragmentação do comando do tráfico, as milícias estão tomando o seu lugar, o que leva à multiplicação de lideranças locais — associadas, muitas vezes, a policiais.


Vamos lá. Se me perguntarem se aprovo o modo como o ministro tratou a questão, a minha resposta seria esta: “Em si, não!”. O que quer dizer esse “em si”? Tomada em sua pureza, fora do contexto, é “não”. Mas o trabalho do jornalismo compreendia antigamente, e compreende ainda em alguns casos, ir além da fofoca, não importa a distância. A verdade é que o governo federal, em especial o destacamento das Forças Armadas, bateu num paredão chamado “governo do Estado”. Em vez de colaboração com as tropas federais, o que se viu foi o boicote de um governo que vive em estado de desordem. Aquele equilíbrio precário entre bandidagem e simulacro de segurança pública que vigorou no Rio de Sérgio Cabral foi para o beleléu.


Lembram-se quando as UPPs eram consideradas, inclusive pela imprensa carioca, o último bombom da caixa? Pois é…  Rodrigo Maia ignora o contexto e apenas dá uma de uma carioca ofendido, como fez o ministro do Supremo, Roberto Barroso, quando Gilmar Mendes lembrou a esculhambação das contas públicas no Rio. Ademais, o presidente da Câmara evidencia que não conhece a Constituição. Afirmou que, se é como diz Torquato, o governo federal precisa intervir na segurança do Estado. Bem, já interfere. Mais do que isso, ai é preciso simplesmente fazer intervenção no Estado. Ocorre que isso praticamente paralisa o governo federal e o Congresso. Vale dizer: o resto do Brasil pagaria o pato.


De toda sorte, Rodrigo Maia tenha a opinião que quiser, já que, ultimamente, ele virou especialista até em espinhela caída. Mas que o seja, ao menos, em solo brasileiro. E que, aqui chegando, faça com que o grupo dos deputados ressarça os cofres públicos por sua viagem inútil.