Vai soar meio acaciano, mas em eleições é sempre bom esperar um pouco
para chegar a previsões definitivas. E um assunto a merecer certo
cuidado, certa delicadeza no trato, é a assim denominada terceira via.
Rótulo aliás ruim, pois parece caracterizar uma turma em luta pela
medalha de bronze. Não parece abordagem capaz de despertar grande
entusiasmo no eleitor. E não tem despertado.
Os mitólogos da terceira via construíram para si a ilusão de haver um
grande contingente simultaneamente anti-Lula e anti-Bolsonaro. Lá atrás
fizeram uma conta de padaria, mais ou menos assim: “Se Lula tem firmes
35% e Bolsonaro, 25%, há uns 40% que não querem nem um nem outro”. Era
obviamente um erro. Nesses 40% tinha gente disposta a não votar em
ninguém e também gente que, no limite, não recusaria escolher o ex ou o
atual presidente.
O mau resultado de Geraldo Alckmin em 2018 já deveria ter disparado o
alerta, e faz tempo, mas o pessoal continua teimoso em projetar os
próprios desejos para a realidade, mesmo depois de todas as pesquisas
constatarem uma rejeição simultânea de Bolsonaro e Lula em torno de bem
menos, uns 15%. Mas, se isso não é suficiente como ponto de chegada,
tampouco é ruim na partida. Lembrar Marina Silva em 2010 e Eduardo
Campos em 2014.
Lula e Bolsonaro levam vantagem no momento pois, além de capital
político próprio consolidado, propõem-se a disputar uma fatia de mercado
bem maior: cada um se apresenta como a salvação para livrar o Brasil da
ameaça de ser governado pelo outro. O que aproxima ambos de um market share
de metade dos potenciais votantes, suficiente para levar a taça. E na
caminhada vão pouco a pouco flexibilizando ou a formulação ou as
alianças, ou ambas.
Enquanto o dito centro continua aferrado ao nem-nem.
O desejo de retornar ao poder facilitou ao ex-presidente cativar o PT
para deglutir Alckmin na vice. Já a opinião pública petista, lulista e
progressista foi mesmerizada pelo “vocês não querem mais quatro anos de
Bolsonaro, querem?”. Entrementes, a intransigência programática do PT,
como era previsível, vai virando fumaça. Quem prestou atenção notou ter
subido no telhado a revogação, ou revisão radical, da reforma
trabalhista. Vai acontecer com outras pautas, como o teto de gastos e a autonomia do Banco Central.
Mas também pode continuar na ladainha do nem-nem e “contra os extremismos”. Como se sabe, um discurso de grande sucesso no povão. Só que não.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político