Análise Política
Toda política econômica é um exercício de economia política. Todo
governo olha, antes de tudo, para a manutenção e ampliação do próprio
poder. Assim, quando governos movimentam as peças econômicas, a bússola
aponta para um norte político. É assim que a prudência orienta a análise
e a leitura do cenário.
Feita a introdução, deve-se recordar que o PT é contra a existência de
um teto de gastos públicos e na campanha presidencial prometeu acabar
com ele. [apesar de óbvio, lembramos que teto de gastos é, no popular, limites para gastar = dinheiro contado e dinheiro contado, mesmo o público, é mais dificil de ser roubado.] E não precisou assumir qualquer compromisso em contrário para
atrair os votos do antibolsonarismo liberal em assuntos de política
econômica.
A hipótese benigna, para o mercado, é que o PT e Luiz Inácio Lula da
Silva mudaram de ideia. Não seria a primeira vez. Mas, como dito na
abertura deste texto, é sempre mais esperto olhar para a política.
Está explícito que, com a apresentação do novo teto de gastos (agora
chamado de “arcabouço fiscal”, um rótulo que, convenientemente, pode ao
mesmo tempo significar tudo e nada), o governo opera para pressionar o
Banco Central a reduzir o juro básico. Mas talvez esse não seja o
objetivo principal.
A administração petista precisa, sim, forçar o BC autônomo a afrouxar a
política monetária, que mantida nos níveis atuais vai produzir
desemprego. [Não somos especialistas em economia tão capacitados quanto o Lula e seu poste Haddad, mas apontamos um DETALHE IMPORTANTE: se o BC afrouxar a política monetária pode, até em um primeiro momento, manter o nível de emprego, mas a INFLAÇÃO DISPARA, o DESEMPREGO VOLTA A AUMENTAR, a economia cai e teremos a MISÉRIA que é INFLAÇÃO + DESEMPREGO + RECESSÃO = ESTAGFLAÇÃO PIORADA - que só ocorre em governos de esquerda.] E Lula, ao contrário do primeiro mandato, não parece ter
muita gordura política para queimar. As pesquisas mostram. Então é
necessário desenhar alguma disciplina fiscal.
O teto de gastos vigente, ao desvincular despesa possível e receita,
eliminou qualquer motivação do mundo político para aumentar impostos.
Pois, mesmo se a arrecadação explodisse, o limite do gasto seria o
anterior mais a inflação. O novo “arcabouço” informa que, quanto mais o
governo arrecadar, mais poderá gastar.
Se o Planalto operar bem a articulação com deputados, senadores,
governadores e prefeitos, e se todos puderem em alguma medida participar
da engorda dos cofres, tem boa chance de montar uma grande coalizão
para arrecadar, essencial para alcançar, sem cortar gastos, algum
resultado fiscal digerível pelo mercado.
A peça apresentada esta semana promete isso, e mais.
Lula terá algum recurso para turbinar o investimento público. O mercado e
o BC receberão o presente de um renovado limite de gastos, pois haverá
um teto e um piso de crescimento da despesa. E o governo, especialmente
sua articulação política, não precisará todo final de ano pedir
autorização para contornar a lei.
Ainda resta uma incógnita. A função operada pelo governo informa que
aumentar o investimento público, casado com um amolecimento do coração
do BC, inverterá a tendência de desaceleração econômica. Outra hipótese é
que o aumento da carga tributária (ou a ameaça de) simplesmente
apertará o freio na atividade, pois os empresários entrarão em modo
defensivo.
Façam suas apostas. [Em nossa modesta opinião, o aumento de custo, decorrente da elevação sem piedade da carga tributária, levará os empresários, como bem aponta o articulista em uma das hipóteses, a frear sem dó toda atividade econômica = modo defensivo = esperar a implosão do governo, visto não ter o menor sentido investir para bancar gastos sem controle e sem retorno (tendo muito dinheiro para gastar e sem saber como gastar - a maioria dos integrantes do atual governo é formada por SUMIDADES EM NADA) vão fazer o que a grande parte sabe fazer: roubar os cofres públicos.]
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político