Na cidade remodelada, com saúde, transporte e habitação insuficientes, emergiu uma nova liderança. O problema do prefeito é a paixão pela própria imagem no espelho
Aconteceu na
primavera de oito anos atrás. O Rio acabara de passar à fase final da
disputa para sediar a Olimpíada de 2016 com Chicago (EUA), Tóquio
(Japão) e Madri (Espanha). A delegação do Brasil foi comemorar
num restaurante aos pés da Acrópole de Atenas — obra simbólica da
modernidade da Grécia do século V, antes de Cristo, erguida por
Péricles, um democrata reformador, sob influência da mulher Aspásia de
Mileto, e com ajuda do escultor Fídias, cuja empreitada foi marcada por
acusações de desvio de verbas.
À mesa sentaram-se burocratas olímpicos, ministros do governo Lula, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Cesar Maia, ladeado pelo então secretário estadual de Esportes Eduardo Paes. “Era um fim de tarde maravilhoso”, recorda uma testemunha. A vitória do Rio na seleção para a final cicatrizava feridas políticas. Maia e Paes, por exemplo, degustavam cervejas gregas como se não houvesse um passivo sobre a mesa: num flerte com a soberba, o prefeito vitorioso em três eleições vetara o secretário de Esportes na disputa sucessória.
Maia liderava o DEM e costurara um acordo com o PMDB excluindo Paes. O prefeito, à época com 63 anos, apostava na eleição de quatro meses à frente como trampolim para a disputa presidencial dois anos depois. Esse acordo durou até às vésperas da viagem a Atenas. Foi quando o PMDB de Cabral trocou o DEM de Maia pela aliança com o PT de Lula. O candidato passou a ser Alessandro Molon (hoje na Rede).
Cervejas gregas não são boas, concordaram Maia e Paes, que logo passaram ao inevitável — mágoas e eleições. Maia falou sobre lealdades na política. Mencionou a “entrega” da cabeça de Paes pelo PMDB. Ele conteve uma reação da mulher, Cristine, e lembrou a Maia que podia esperar, tinha apenas 39 anos. De madrugada, no hotel em Atenas, Maia foi surpreendido por notícias sobre o rompimento do acordo PMDB-PT, seguido pelo anúncio da candidatura de Paes. Lula avalizava, optando por rifar “esse Molon” — como habitualmente se referia ao seu candidato no Rio.
Oito anos depois, Maia é vereador e Paes é prefeito, em segundo mandato, de uma cidade olímpica orgulhosa por ter limpado a poeira do cartão-postal. Por trás do legado, visível numa metrópole esteticamente remodelada para os Jogos, mas ainda deficiente em transportes, saúde e habitação, consolidou-se no Estado do Rio uma nova liderança política.
Paes deverá ser o mais influente eleitor no embate municipal, em outubro, a bordo de duas candidaturas — a do PMDB é mais visível—, e de uma virtual aliança com o PSDB, na qual se ajeita o DEM, com tempo de propaganda superior à soma dos adversários. O prefeito anuncia que planeja disputar o governo estadual em 2018. É, hoje, o pré-candidato com maior viabilidade. E é, também, o mais volátil. Frequentemente se deixa atropelar pela presunção e intolerância à crítica. Num exemplo recentemente, sugeriu a moradores/eleitores insatisfeitos que se mudassem do Rio e definiu a cidade vizinha de Maricá como “uma merda de lugar”.
Do antecessor Maia, herdou a paixão pela própria imagem no espelho. Por isso, o maior rival político de Paes continua sendo ele mesmo.
À mesa sentaram-se burocratas olímpicos, ministros do governo Lula, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Cesar Maia, ladeado pelo então secretário estadual de Esportes Eduardo Paes. “Era um fim de tarde maravilhoso”, recorda uma testemunha. A vitória do Rio na seleção para a final cicatrizava feridas políticas. Maia e Paes, por exemplo, degustavam cervejas gregas como se não houvesse um passivo sobre a mesa: num flerte com a soberba, o prefeito vitorioso em três eleições vetara o secretário de Esportes na disputa sucessória.
Maia liderava o DEM e costurara um acordo com o PMDB excluindo Paes. O prefeito, à época com 63 anos, apostava na eleição de quatro meses à frente como trampolim para a disputa presidencial dois anos depois. Esse acordo durou até às vésperas da viagem a Atenas. Foi quando o PMDB de Cabral trocou o DEM de Maia pela aliança com o PT de Lula. O candidato passou a ser Alessandro Molon (hoje na Rede).
Cervejas gregas não são boas, concordaram Maia e Paes, que logo passaram ao inevitável — mágoas e eleições. Maia falou sobre lealdades na política. Mencionou a “entrega” da cabeça de Paes pelo PMDB. Ele conteve uma reação da mulher, Cristine, e lembrou a Maia que podia esperar, tinha apenas 39 anos. De madrugada, no hotel em Atenas, Maia foi surpreendido por notícias sobre o rompimento do acordo PMDB-PT, seguido pelo anúncio da candidatura de Paes. Lula avalizava, optando por rifar “esse Molon” — como habitualmente se referia ao seu candidato no Rio.
Oito anos depois, Maia é vereador e Paes é prefeito, em segundo mandato, de uma cidade olímpica orgulhosa por ter limpado a poeira do cartão-postal. Por trás do legado, visível numa metrópole esteticamente remodelada para os Jogos, mas ainda deficiente em transportes, saúde e habitação, consolidou-se no Estado do Rio uma nova liderança política.
Paes deverá ser o mais influente eleitor no embate municipal, em outubro, a bordo de duas candidaturas — a do PMDB é mais visível—, e de uma virtual aliança com o PSDB, na qual se ajeita o DEM, com tempo de propaganda superior à soma dos adversários. O prefeito anuncia que planeja disputar o governo estadual em 2018. É, hoje, o pré-candidato com maior viabilidade. E é, também, o mais volátil. Frequentemente se deixa atropelar pela presunção e intolerância à crítica. Num exemplo recentemente, sugeriu a moradores/eleitores insatisfeitos que se mudassem do Rio e definiu a cidade vizinha de Maricá como “uma merda de lugar”.
Do antecessor Maia, herdou a paixão pela própria imagem no espelho. Por isso, o maior rival político de Paes continua sendo ele mesmo.