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quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Ministério da Igualdade Racial, de Anielle Franco, gastou metade das verbas de 2023 com viagens - O Estado de S. Paulo

A conta diz respeito a verbas discricionárias, de uso livre, e não inclui emendas parlamentares executadas pela pasta e nem gastos com servidores. Os dados foram levantados pelo Estadão usando o sistema Siga Brasil, do Senado Federal.

 Gastos do Ministério da Igualdade Racial com passagens e diárias

Em resposta à reportagem, o Ministério disse apenas que mais investimentos em políticas públicas estão “programados”, embora ainda não tenham sido concretizados.

Anielle Franco criou polêmica ao usar um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir de Brasília a São Paulo (SP) neste domingo (24), onde assistiu à final da Copa do Brasil no Estádio do Morumbi. Na ocasião, Anielle também assinou um “protocolo de intenções” de combate ao racismo nos Esportes – o ato público foi feito em parceria com os colegas André Fufuca (Esportes) e Sílvio Almeida (Direitos Humanos). Este último usou um voo comercial para ir à capital paulista. Já Fufuca usou o voo da FAB, como Anielle.

Nesta terça-feira (26), o episódio da viagem a São Paulo resultou na demissão de uma das assessoras que estavam com Anielle Franco no Morumbi. Chefe da Assessoria Especial da pasta, Marcelle Decothé fez postagens com ofensas de cunho racial em seu perfil no Instagram. “Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade… Pior tudo de pauliste”, escreveu ela.

Desde que foi nomeada para o cargo, Decothé fez 19 viagens a serviço, segundo o Portal da Transparência, ou um deslocamento a cada 12 dias, em média. Três delas para o exterior: Colômbia, Estados Unidos, Portugal e Espanha.

Enquanto esteve no cargo, a assessora, que era considerada uma das mais próximas de Anielle Franco, gastou R$ 130,5 mil com diárias e passagens das viagens, de acordo com o Portal da Transparência.

(...) 
 
A viagem mais cara de Anielle foi para Nova York e Washington, nos EUA, de 28 de maio a 01 de junho. Segundo o portal da Transparência, a viagem custou ao todo R$ 63,6 mil
Um único trecho de São Paulo a Nova York saiu por R$ 23,8 mil. 
O evento foi a reunião do Fórum Permanente sobre Afrodescentes da ONU, segundo justificativa do ministério, e a viagem foi classificada como “urgente” – ainda que a programação do evento estivesse disponível no site da ONU desde o dia 19 de abril.

Ao justificar a urgência, a pasta escreveu que “não foi possível atender o prazo para solicitação da viagem, visto que a deliberação da agenda da sra. ministra estavam (sic) em tratativas para um aproveitamento melhor da viagem para um aproveitamento melhor da viagem para articulações das demais agendas a ocorrer na mesma missão”.

O que diz o Ministério da Igualdade Racial

Procurado pelo Estadão, o Ministério da Igualdade Racial (MIR) disse que “há um descompasso” entre os gastos planejados em políticas públicas e aqueles com viagens. A pasta diz ter R$ 35 milhões “programados” para suas ações, a serem executados em breve

“Na presente data, 100% da Ação Orçamentária destinada para a implementação das políticas do MIR estão programadas, representando o valor de R$35.347.175,04″, diz a nota. 

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Política - O Estado de S. Paulo

 

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Viagem de Moraes à Itália revela outro problema além de incidente no aeroporto de Roma - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Ministro participou de evento patrocinado por grupo condenado pela Justiça; e se o caso bater no STF?

Houve um incidente no aeroporto de Roma e até agora não está claro o que realmente aconteceu. Pelo que deu para entender, a Polícia Federal e a mídia dizem que o ministro Alexandre de Moraes, a mulher e o filho foram insultados, e até agredidos, por um casal de brasileiros – um senhor de 70 anos e sua esposa.  
O acusado nega tudo; há alegações, inclusive, de que a agredida foi a sua mulher e que o agressor foi o filho do ministro. Os “especialistas” dizem que pode ter ocorrido um “ataque ao estado de direito”. 
Lula disse que os acusados são “animais selvagens” e precisam ser “extirpados”. Seu ministro da Justiça, também antes da apuração começar, já assinou a sentença de condenação dos suspeitos
Moraes, ele próprio, até agora não disse nada.
 
O ministro, pelo seu comportamento público, não é um homem do silêncio, da moderação e da harmonia. Em seu inquérito perpétuo (quatro anos, já), para investigar “fake news” e “atos antidemocráticos, mandou prender, multar, censurar, bloquear contas, quebrar sigilos legais, indiciar – e disse, tempos atrás, que “ainda falta muita gente pra prender, muita gente pra multar”.  
Se sofreu um atentado como o que foi descrito, contra a sua própria pessoa física, o normal é que estivesse tratando o episódio como um crime de lesa-pátria
Mas até agora não houve nenhum terremoto – e, mais que tudo, não apareceram as imagens das câmeras instaladas no aeroporto de Roma.
O que se sabe, no mundo das realidades, é a existência de outro tipo de problema. Segundo noticiou o jornalista Eduardo Oinegue, na Band, o ministro Moraes foi à Itália para participar de um evento em Siena. 
Mas não era ninguém de Siena, nem da Itália, quem promovia o evento. Era uma faculdade particular de Direito de Goiânia – uma UniAlfa, que já havia montado a primeira fase do evento em Valladolid, na Espanha. Dos 31 palestrantes da lista que foi divulgada, 20 eram do Brasil mesmo, e 11 deles da própria UniAlfa.
É uma história ruim, mas a parte menos edificante é a própria UniAlfa. Ela pertence a um grupo empresarial de Goiás que se dedica à múltiplas atividades – vende refrigerantes, aluga carros, lida com imóveis e, entre várias outras coisas, tem um laboratório farmacêutico, a Vitamedic. 
É aí que está a dificuldade.  
Essa Vitamedic fabrica ivermectina, uma das drogas que o ex-presidente Jair Bolsonaro recomendava contra a covid – e que foi amaldiçoada para todo o sempre pela imprensa, os defensores da democracia e a CPI do “genocídio”
 Poucos dias antes dos colóquios de Siena, a Vitamedic foi condenada pela justiça do Rio Grande do Sul a pagar uma multa de R$ 55 milhões, por “danos coletivos à saúde”; a empresa, que faturou R$ 500 milhões com a venda de ivermectina durante a pandemia, deu apoio ao “kit covid”, um delito de “fake news” que o STF considera absolutamente hediondo.
 
Está certo um ministro do STF aceitar convites como o que recebeu do grupo que controla a UniAlfa? 
Ele, a mulher e o filho? 
E se a condenação da justiça gaúcha acabar batendo um dia no Supremo? 
O presidente da empresa, José Alves, já teve coisas a tratar ali – durante a CPI, na qual teve de depor, obteve um mandado de segurança contra a quebra do seu sigilo bancário e telefônico
O STF atravessa o pior momento de toda sua história. 
Não precisa, positivamente, de histórias como essa.
 
J. R. Guzzo,  colunista - O Estado de S. Paulo 
 

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Em Cuba, o horror do regime comunista. Todos os presos políticos são torturados - Marinellys Tremamunno

Ideias - Gazeta do Povo

Manifestantes pedindo “liberdade” são interceptadas pelas forças de segurança e brigadas de apoiadores da ditadura, originando confrontos violentos e detenções, em 2021 - Foto: EFE/Ernesto Mastrascusa

“Gabriela foi torturada por protestar e com a idade de 17 anos; quando a levaram para a prisão, os guardas a violentaram. E o que acontece com as mulheres adultas? María Cristina e Angélica foram presas e espancadas até desmaiar. María Cristina foi transferida para um lugar chamado ‘Prisão da AIDS’. Ambas estão mantidas lá até hoje."

As histórias de terror de Gabriela, María Cristina e Angélica são apenas três dos 181 casos abordados no Primeiro Estudo sobre Tortura em Cuba, criado pela organização sem fins lucrativos Prisoners Defenders (Defensores de Prisioneiros), com sede na Espanha. Um verdadeiro manual de horrores que em suas 271 páginas (leia aqui) descreve em detalhes o que sofrem as vítimas do regime cubano.

O relatório, intitulado “Tortura em Cuba”, foi apresentado em 30 de maio, em uma coletiva de imprensa online liderada pelo ativista de direitos humanos Javier Larrondo, presidente da Prisoners Defenders. Além disso, participaram a Vice-Presidente do Parlamento Europeu, Dita Charanzová; Javier Nart, membro do Parlamento Europeu e vice-presidente da Dcam (Delegação para as Relações com os Países da América Central); e Juan Salafranca, secretário-geral adjunto do Grupo PPE, entre outros.

Javier Larrondo explicou que os 181 casos foram escolhidos, como amostra, entre os 1.277 presos políticos registrados na ilha nos últimos 12 meses, de abril de 2022 a março de 2023. “E confirmamos que todos os presos políticos, todos, foram torturados, e 80% deles sofreram mais de 5 tipos de tortura”, afirmou.

O presidente da Prisoners Defenders assegurou que o estudo demonstra que “em Cuba, toda pessoa detida por expressar uma opinião contrária ao sistema vigente foi torturada. Eles os torturam impiedosamente e implacavelmente, com o único limite de evitar que haja muitas evidências ou evitar a morte do prisioneiro. Enquanto é possível, porque isso também aconteceu”.

Além disso, dos 181 casos documentados, quatro vítimas eram menores de idade quando foram detidas e 22 tinham menos de 21 anos: “Jonathan Torres Farrat, preso aos dezessete anos, sofreu quinze tipos de tortura; Gabriela Zequeira Hernández, dezessete anos, quatorze tipos de tortura; Brandon David Becerra Curbelo, dezessete anos, oito tipos de tortura; Cristian Enrique Salgado Vivar, dezessete anos, oito tipos de tortura”.

E não só isso, o relatório conseguiu documentar pelo menos 15 padrões de tortura:
por meio de depoimentos feitos em um formulário com 38 campos de resposta, o que permitiu compor um banco de dados em Excel. “As formas mais comuns de tortura, incluindo maus-tratos e tratamento desumano infligidos a menores, neste estudo foram: humilhação, abuso verbal e degradação, isolamento punitivo, agressão física, confinamento solitário, isolamento, privação de sono, privação de líquidos e alimentos, e negação de atendimento médico”, listou. “E mesmo que não matem os torturados, fazem com que muitos desses jovens queiram parar de viver. Já são vários os que tentaram o suicídio”, acrescentou, dirigindo um apelo à União Europeia para que atue em defesa da “verdade”.

“Cuba tortura ferozmente cada um de seus presos políticos – continuou Larrondo –, passei semanas lendo os depoimentos de mais de 250 entrevistados e não pude deixar de chorar, mas na maioria das vezes meu coração estava cheio de raiva pela dor que é infligida a numerosas famílias cubanas enquanto aqui na Europa desviamos o olhar e ignoramos esta realidade”. Não surpreendentemente, a notícia do relatório da tortura cubana foi ignorada pela mídia italiana, enquanto foi publicada pela maioria da mídia hispano-americana.

A ocasião foi propícia para recordar a recente visita do Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros a Havana: "Julgue se isso é compatível com o serviço externo da União Europeia, com a visita de Josep Borrel para elogiar e subsidiar empresas cubanas”, disse Larrondo, denunciando o fato de o funcionário europeu ter evitado encontros com os dissidentes vencedores do prémio Sakharov, com os familiares das vítimas e com qualquer membro da sociedade civil cubana. “Entendo os deveres da diplomacia, mas há algo que precisa ser defendido: a verdade. Se tentarmos silenciar a dor dos outros, isso não é a Europa… E a verdade é que membros do governo cubano estão cometendo incansavelmente crimes contra a humanidade. Senhores: Videla, Pinochet, Somoza, hoje se chamam Castro, Díaz Canel, Maduro, Ortega e Arce. São os mesmos monstros, com um chapéu diferente mas tão podres (ou até mais) quanto os anteriores”, reiterou.

A chamada revolução cubana “começou com o fuzilamento de milhares de pessoas e ainda hoje, sessenta e quatro anos depois, aprisiona e tortura milhares de pessoas. Tanto que hoje a principal causa da emigração não é apenas a miséria, mas também a repressão. Assim, no ano passado, cerca de 400 mil pessoas fugiram do país”.

Ao mesmo tempo, a vice-presidente do Parlamento Europeu, Dita Charanzová, informou que nos últimos dias recebeu em audiência um grupo de especialistas das Nações Unidas e da Fundação para os Direitos Humanos em Cuba, para abordar a situação dos direitos humanos e das liberdades na ilha. “Todos concordaram com a gravidade da situação e destacaram o agravamento da crise migratória, a escassez de alimentos e remédios e as violações dos direitos humanos."

Charanzová lembrou os laços de Cuba com Vladimir Putin e também insistiu na importância de a União Européia não manter laços econômicos com ditaduras e países que sistematicamente violam os direitos humanos. Ao contrário do que fizeram as regiões italianas da Lombardia, Piemonte e Calábria, que se valeram da presença de médicos cubanos em troca de contratos milionários que ainda hoje financiam os cofres do regime castrista. Só na Calábria, como já escrito aqui, Occhiuto assinou um contrato que garante 2,3 milhões de euros anuais à estatal “Comercializadora de Serviços Médicos Cubanos, S.A.”, apesar das sanções dos Estados Unidos.

Marinellys Tremamunno é uma jornalista profissional ítalo-venezuelana, natural de Caracas. É bacharel em Comunicação Social pela Universidade Central da Venezuela (2002) e mestre em Jornalismo Digital pela Universidade Internacional de Valência (Espanha, 2011). Hoje mora em Roma, trabalha para Nuova Bussola Quotidiana e é correspondente de vários meios de comunicação internacionais.


© 2023 La Nuova Bussola Quotidiana. Publicado com permissão. Original em italiano.

 Transcrito de Ideias - Gazeta do Povo - pelo Blog Prontidão Total

 


 

quarta-feira, 26 de abril de 2023

8 de janeiro - Ainda há muito a explicar sobre presença de Gonçalves Dias no Planalto

Vozes - Alexandre Garcia

O general Gonçalves Dias foi o primeiro ministro do novo governo Lula a cair. -  Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República.

É muito importante a informação que deu Marcelo Godoy, do jornal O Estado de S.Paulo: a primeira-dama Janja, com o poder que lhe dá Lula, já teria afastado do Palácio do Planalto o Luiz Dulci, que já foi ministro; o Aloizio Mercadante, que já foi ministro; o Paulo Okamoto, que foi um importante tesoureiro do Lula e do Instituto Lula [em passado ainda recente Okamoto foi o pagador oficial das contas de Lula com o dinheiro sujo.] a presidente do PT, Gleisi Hoffmann – eu anotei os nomes aqui, é tanta gente... e, agora, o general Gonçalves Dias: foi Janja quem disse ao marido que não havia como continuar com o general depois do que aconteceu.

Sobre o Gonçalves Dias, eu queria contar para vocês, como testemunha de quem cobriu o Palácio do Planalto por muitos anos, que, assim como meus companheiros – também veteranos de cobertura do Planalto –, achamos estranho que o general-chefe do Gabinete de Segurança Institucional estivesse em Brasília, no Palácio do Planalto, enquanto o presidente da República estava em Araraquara (SP). Porque são inseparáveis, ao longo da história da Presidência da República, o chefe do Gabinete Militar (que depois passou a se chamar Gabinete de Segurança Institucional) e o presidente da República. 

Porque esse chefe de segurança é o chefe da segurança presidencial; ele está sempre ao lado do presidente para tomar essas decisões relativas à segurança do chefe de Estado. Então, temos aqui mais um elemento estranho em relação às imagens do Palácio do Planalto. Lula longe do general, ou não. São muitas perguntas que precisam ser esclarecidas numa CPI, não resta dúvida.

Presidente da Câmara garante CPI do MST
E, falando em CPI, garante o presidente da Câmara que vai sair a CPI sobre o MST, que recrudesceu as invasões. 
Depois que começou o governo Lula já são 40 invasões, principalmente em estados onde o governo é parceiro do MST. Naqueles em que o governador já prometeu que não vai aceitar de modo algum uma invasão, em que prometeu reagir com a Secretaria de Segurança, aí não tem acontecido.
 
É bom lembrar que invasão de propriedade alheia, seja do Estado ou privada, contraria cláusula pétrea da Constituição. 
Está consagrado, no artigo 5.º, o direito de propriedade, junto com o direito à vida.  
Agora, isso pode ser esclarecido numa CPI que vai investigar, por exemplo, de onde vêm os recursos do MST.
 
Brasileiros e portugueses unidos no repúdio a Lula em Lisboa
Eu acompanhei na frente do Parlamento português a recepção a Lula. De um lado, os petistas aplaudindo; do outro lado, partidários do Chega e muitos brasileiros vaiando e pedindo prisão para Lula, portando cartazes. Lá dentro, os parlamentares do Chega, que é a terceira força do Legislativo, também levantando cartazes, tentando impedir que Lula falasse, mas não conseguiram.  
O presidente da Assembleia da República pediu desculpas a Lula e os aplausos do plenário acabaram silenciando esses parlamentares. [mesmo assim, o maligno não conseguiu expelir, pela boca, o monte de baboseiras e mentiras que pretendia e foi vaiado nas ruas, chamado de ladrão e temos certeza que ele vai evitar ir para o exterior  - vai curtir o que lhe resta de mandato sendo vaiado no Brasil.] O líder deles, o deputado André Ventura, depois saiu e ironizou as palavras de Lula. 
Porque o presidente brasileiro, ao sair, disse que aqueles que o criticaram, que tentaram impedi-lo de falar, não iam dormir bem à noite. Ventura respondeu que aqueles que têm consciência tranquila vão dormir bem, assim como dormem bem também aqueles que não têm consciência. Enfim, Lula agora já saiu de Portugal, rumo à Espanha.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

O azeite verde-amarelo - Evaristo de Miranda

Evaristo de Miranda

Azeites nacionais começam a ganhar prêmios internacionais por qualidade. O Rio Grande do Sul é o maior produtor, com 75% da produção nacional, à frente de Minas e SP 

 Azeite, um alimento antigo, clássico da culinária contemporânea, regular na dieta mediterrânea | Foto: Shutterstock

Azeite, um alimento antigo, clássico da culinária contemporânea, regular na dieta mediterrânea - Foto: Shutterstock  

O azeite, apreciado por suas qualidades na dieta mediterrânica, é consumido cada vez mais. São mais de 3,3 milhões de toneladas anuais, produzidas em 64 países. 
 Na Espanha, maior produtor mundial, os subsídios governamentais ao olivicultor alcançam um terço do valor da produção! 
Os gregos são os maiores consumidores: cerca de 23 quilos de azeite por habitante/ano.  
O Brasil é o segundo consumidor e importador mundial: cerca de 90.000 toneladas de azeite e 120.000 toneladas de azeitonas de mesa. Só perde para os Estados Unidos, responsáveis por 36% das importações mundiais. 
 
Com a pesquisa e o empreendedorismo dos agricultores, cada vez mais, o Brasil planta oliveiras e produz azeites de excelente qualidade.          Os países produtores na América do Sul são Chile, Argentina, Uruguai, Peru e agora também o Brasil. 
Aqui a olivicultura tem uma longa história, desde os anos de 1940. 
A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) foi pioneira nas pesquisas e desenvolveu as primeiras e únicas oito cultivares de oliveiras brasileiras, registradas no Ministério da Agricultura.

Em regiões montanhosas, como na Serra da Mantiqueira, ou no Sul, os produtores encontram as 300 horas abaixo de 12º necessárias para induzir a floração e a produção de azeitonas. Em 9 de fevereiro ocorreu a XI Abertura da Colheita da Oliva, no município gaúcho de Encruzilhada do Sul. No Rio Grande do Sul, a área cultivada já é de cerca de 6 mil hectares. São 321 produtores, e Encruzilhada do Sul possui mais de mil hectares, a maior área plantada com oliveiras no Brasil, onde a área total aproxima 10.000 hectares.

Oliveira centenária cultivada por monges do Mosteiro de Mar Elias, 
em Jerusalém, Israel | Foto: John Theodor/Shutterstock

A oliveira, a árvore eterna, é muito persistente. Sua capacidade de regenerar-se com vigor, mesmo se podada, cortada ou queimada, rebrota até a partir das raízes, é uma representação da perseverança. Com sua folhagem perene, ela resiste ao inverno sem queda de folhas e se destaca em meio à vegetação. Elogiada por Ulisses na Odisseia, de Homero (Canto VII), a perenidade da folhagem, as tonalidades dos frutos, o prateado das folhas e o ouro líquido do azeite conferem riqueza simbólica à oliveira: paz (pomba bíblica com ramo de oliveira), fecundidade, purificação, iluminação, força, vitória e recompensa. Uma coroa de oliveira selvagem, kotinos, cujos ramos eram cortados com uma tesoura dourada, era o prêmio do vencedor nos antigos Jogos Olímpicos e dos soldados triunfantes em Roma. Dois ramos de oliveira envolvem o globo terrestre no emblema das Nações Unidas! Não é pouco. 

Oliveira milenar, na Ilha de Creta, Grécia |
 Foto: Cortesia Liana John

A altura das oliveiras é da ordem de 5 metros e chega a 20 metros, sem podas. Pode viver mais de um século. Em Creta há árvores milenares e, talvez, uma das mais antigas, com cerca de 3.000 anos, no vilarejo de Pano Vouves. Milenar é a oliveira ao lado da Sé Velha, em Coimbra, uma das mais antigas igrejas de Portugal (1162). Todas vegetam e produzem azeitonas.

Oliveira milenar, ao lado da Igreja da Sé Velha, em 
Coimbra, Portugal | Foto: Reprodução

A azeitona é uma drupa, como o pêssego e a manga. Tem baixo teor de açúcar (2,6% a 6%) e contém um princípio amargo, a oleuropeína. Seus frutos não são diretamente comestíveis. As azeitonas de mesa, de intenso sabor, passam por um longo tratamento pós-colheita: a “queima” da oleuropeína com soda cáustica (hidróxido de sódio), a lavagem, a salmoura com sal, ácidos e bactérias láticas para fermentar por 90 a 120 dias, a última lavagem e o envase. Quando o destino das azeitonas é a produção de azeite, elas são esmagadas imediatamente após a colheita.

O azeite é rico em polifenóis, poderosos antioxidantes, eficazes contra o envelhecimento. Seu consumo traz benefícios atestados à saúde: redução de doenças cardiovasculares, da incidência do mal de Alzheimer e do envelhecimento cutâneo

“Azeite de oliva” é um pleonasmo. O azeite é sempre de oliva. O resto são óleos: de soja, algodão, milho etc. Há duas raízes nas palavras: óleo, oliva, oliveira, azeitona e azeite. Óleo, do cretense elaiwa, deriva do semítico ulu. Tornou-se oleum em latim e oli nas línguas romanas, como olio em italiano. Azeitona, zait em hebraico, também de origem semítica, tornou-se zaitum em árabe e azeitona em português. Os mouros designavam o sumo da azeitona az zait ou azeite, em português e espanhol. Oliveira, Olivier, Oliveros, Olivença e Oliva são nomes e sobrenomes nos países latinos. Eles nomeiam municípios em Minas Gerais (Oliveira), Alagoas (Olivença) e Bahia (Oliveira dos Brejinhos).

Oliveira sagrada de Atena, ao lado do Templo Erecteion, 
perto do Parthenon, na Colina da Acrópole, em Atenas, Grécia - 
Foto: Kirk Fisher/Shutterstock

Para a mitologia grega, a oliveira surgiu de uma disputa entre Atena (Minerva), a deusa da sabedoria, e Poseidon (Netuno), o deus do mar e dos rios, sobre qual a melhor proteção para uma nova cidade e seus habitantes. Para resolver essa disputa, Zeus (Júpiter) propôs a cada um oferecer o seu dom protetor. Os humanos decidiriam. Poseidon brandiu seu tridente, tocou uma rocha e surgiu um magnífico cavalo. Ele carregaria cavaleiros com suas armas, puxaria carros, arados e seria decisivo nas batalhas. Atena tocou a terra com sua lança e surgiu uma árvore florida, a oliveira. Ela forneceria alimento, unguento para ferimentos, óleo para lâmpadas e cozinha. Sempre verde, essa árvore seria eterna. Ela foi aclamada como o dom de maior utilidade. Atena obteve com ela a proteção e deu seu nome à cidade: Atenas. Os rebrotes de oliveira no entorno da Acrópole seriam descendentes da oliveira de Atena. Dizem. Nas mais belas fontes da Europa, em meio a jatos d´água, entre cavalos, ainda Poseidon ergue seu tridente. 

(...)

Desde o século 9 a.C., o azeite servia como combustível para iluminação artificial. Oleiros fenícios inventaram e difundiram a lâmpada a óleo. Os romanos o utilizaram para fins medicinais, em pomadas aplicadas em ferimentos e sobre a pele como protetor solar. Eles aperfeiçoaram o cultivo das oliveiras e foram os primeiros a classificar o azeite em função dos diferentes tipos de prensagem. O azeite era relativamente caro e consumido pelos mais ricos. Os pobres usavam banha e toucinho.

Na Idade Média ampliaram-se irrigação, enxertia e poda para melhorar a qualidade e aumentar a produtividade. Além de autores cristãos, médicos e agrônomos árabes, como Ibn Butlan (Bagdá) e Ibn Alwan (Sevilha), atestam o uso dessas técnicas nos séculos 11 e 12. No século 16, houve nova expansão, com a invenção da prensa hidráulica. No século 20 cresceu o consumo do azeite em função da gastronomia e dos benefícios para a saúde.

O azeite é rico em polifenóis, poderosos antioxidantes, eficazes contra o envelhecimento. Seu consumo traz benefícios atestados à saúde: redução de doenças cardiovasculares, da incidência do mal de Alzheimer e do envelhecimento cutâneo. Ele também é rico ácido oleico (ômega 9), matéria-prima de todas as membranas celulares. Além de reforçar as células humanas, facilita a “comunicação” entre elas e o bom funcionamento do organismo.

(.....)

Em 2022, a safra brasileira foi da ordem 445 mil litros de azeite. Produzir azeitonas exige investimento alto. Os olivais levam cinco anos para produzir. Cerca de um terço dos olivais brasileiros está em produção. Mais um terço produzirá nos próximos anos. Os plantios seguem em expansão. O Rio Grande do Sul é o maior produtor com 75% da produção nacional, à frente de Minas Gerais e São Paulo. Na Serra da Mantiqueira, uma associação de olivicultores reúne mais de 100 produtores num total de 2.000 hectares.

Os plantios de oliveiras são homogêneos. Os produtores plantam duas a três variedades, sem misturá-las no campo. A maioria dos azeites brasileiros são varietais, frutos de um tipo de oliveira. Entre as principais variedades estão Arbequina, Koroneiki, Picual, Arbosana e Frantoio. Sem interferência estatal, surge aos poucos um mercado de azeites extravirgens, diferenciados dos oferecidos pela grande indústria. E apreciado por gastrônomos, chefs e consumidores. Os equipamentos importados dos lagares são modernos e eficientes, inclusive do ponto de vista ambiental. Os subprodutos do esmagamento das oliveiras e da extração do azeite são reciclados.

Colheita com derriçadeira, em Creta, análoga à que se faz com o 
café no Brasil | Foto: Cortesia Liana John

Azeites nacionais começam a ganhar prêmios internacionais por qualidade. O Sabiá da Mantiqueira, azeite extravirgem premium, produzido na Fazenda do Campo Alto, em Santo Antônio do Pinhal (SP), foi classificado entre os dez melhores do concurso Evooleum de 2022 e incluído no Evooleum World’s Top 100 Extra Virgin Olive Oils. O produtor acumula 57 prêmios nacionais e internacionais. Depois do café, “ouro verde” dos séculos 19 e 20, haverá o milagre do “ouro líquido”? O futuro parece fluido e luminoso para o azeite nacional e, n’en déplaise, com muitos tons de verde-amarelo.

O azeite Sabiá é produzido no Brasil e foi eleito um dos dez melhores azeites do mundo | Foto: Divulgação/Azeite Sabiá

Sobre a sacralidade da oliveira, um relato pessoal. Num verão dos anos 1970, um agricultor no sul da França andava preocupado com uma víbora. Ela já havia matado um de seus cachorros. Eu era estagiário de agronomia na sua fazenda. Ele me avisou do perigo. Um dia, em plena colheita de feno, a víbora surgiu. Ele tentou matá-la. Grande e ágil, ela escapou entre palhas e capins. Logo, eu a vi parada sob uma velha oliveira, junto ao tronco. Quando preparei um golpe, o agricultor gritou: — Pare! Eu me detive. Temi mal maior. — Ela está sob a proteção da oliveira. Ele explicou: só essas árvores sagradas assistiram a Jesus em sua agonia no Jardim das Oliveiras, o Getsêmani. Em hebraico Gat Smanim significa lagar dos azeites. Recuamos em silêncio.


Leia também “Cuidado com a gripe, aviária”

 Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste -

MATÉRIA COMPLETA, LIVRE

 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

“Pessoas que mijam de pé” - Gazeta do Povo

Vozes - Luiz Felipe Pondé

Gênero

Ativistas trans durante protesto na Espanha. - Foto: EFE / Daniel González

A bruxa está solta. Talvez devesse dizer "bruxe", para não ferir suscetibilidades progressistas. A verdade é que os debates de gênero estão atingindo níveis cada vez mais altos na escala do surto.  
Mesmo entres os progressistas, o pau (!!) come
Ou comem-se entre si como feras que se entre devoram dizendo que tudo é um benigno debate democrático.

Há muito que parte das humanidades, principalmente as de matriz americana, não serve para nada além de criar nichos temáticos que dominam os departamentos nas universidades e perseguem quem ousar ser um herege ou ousar dizer, por exemplo, a palavra "mulher" num ensaio.

Especialistas dirão que a expressão "pessoas que mijam de pé" permanece presa à matriz fascista da biologia. Mas, suspeito eu, a expressão "pessoas que menstruam" tampouco se libertou da mesma matriz maldita. Grande parte dos ensaios de humanidades hoje morre na segunda linha quando apresentam alguns desses sintomas, tipo "ilu isso", "ile aquilo" – você não sabe o que isso significa? Melhor para você. Não perca tempo.

O surto acadêmico ganha força porque tomou um espaço gigantesco entre essa categoria de inúteis chamados de "subcelebridades" – que vivem de engajar gente das redes para falar de nada ou mesmo de celebridades, a moçada do mundo artístico que nunca se destacou como gente que entende a realidade para além de seus fãs, suas letras musicais ou peças teatrais. Opinião é a coisa mais fácil de se dar, mesmo sobre nada.

Seguindo o espírito democrático de uma linguagem inclusiva, proponho que, para além de banir a palavra machista "mulher", que trai sua dependência semântica com esse território fascista chamado biologia, passemos a usar a expressão "pessoas que mijam de pé" no lugar do termo patriarcal "homem". Assim, incluímos homens biologicamente homens e mulheres trans que porventura mijem de pé.

Especialistas dirão que a expressão "pessoas que mijam de pé" permanece presa à matriz fascista da biologia. Mas, suspeito eu, a expressão "pessoas que menstruam" tampouco se libertou da mesma matriz maldita. Se avançarmos na investigação dessa herança semântica maldita da influência da matriz biológica reacionária, podemos tropeçar em outros exemplos.

Que tal "pessoas com útero" no lugar de mulher? Ou "pessoas com próstata" no lugar de homem? A diferença é que há um claro aspecto de visibilidade nas expressões "pessoas que menstruam" e "pessoas que mijam de pé" – tanto sangue quanto xixi pingam, aliás, como dizia Nelson Rodrigues (1912-1980) com relação ao desejo: "O desejo pinga".

Útero e próstata são órgãos visíveis apenas com o auxílio de procedimentos de medicina de imagem, o que poderia levar a dúvidas céticas quanto à autodeclaração dos indivíduos em questão. Será que você é mesmo portador de um útero ou de uma próstata?   
Melhor permanecer no âmbito do que pinga. 
Aliás, continuando na esfera de Nelson, dizer que o desejo pinga significa dizer que o desejo não seria uma entidade metafísica, mas sim, líquida e submetida à gravidade, como o sangue menstrual e o xixi.

Enfim, surtos são entidades infinitas nas suas manifestações linguísticas. Não precisa ter formação em Lacan (1901-1981), psicanalista francês que adorava truques de linguagem, assim como o filósofo Heidegger (1889-1976), que também inventava dialetos alemães inexistentes, para perceber que esses excessos identitários são tentativas de criar novos significantes – olhe no Google – para que crianças passem a nascer "faladas" por esses significantes.

Assim sendo, quando você nascer, seus paisou algo similar – já "falarão de você" como "pequena pessoa que menstruará" ou "pequena pessoa que mijará de pé"
Claro que ainda permanecerá a maldição fálica freudiana de que as pessoas que mijam de pé o fazem desde crianças, enquanto que as pessoas que menstruam só o fazem quando entram na puberdade.

Mas esse detalhe temporal, biológico, diferencial e patriarcal, seguramente gerará muito espaço para mestrados, doutorados, bolsas, seminários, concursos com cotas, enfim, todo um novo nicho em que o surto semântico contemporâneo com relação à velha tara humana com o sexo seguirá seu curso histérico.

Nesse terreno, as escolas são as câmaras de tortura das crianças, e os pais, os idiotas que aplaudem.

Luiz Felipe Pondé, colunista - Gazeta do Povo - VOZES