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domingo, 30 de julho de 2023

O histórico de abusos de corpos negros - O Globo

Dorrit Harazim

Igreja onde Emmett Till foi velado Scott Olson/Getty Images/AFP
 
Na terça-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a criação de um Monumento Nacional em memória do menino negro Emmett Till e de sua mãe, Mamie Till-Mobley. Na verdade, serão três os monumentos que evocarão o assassinato de Emmett, com requintes de selvageria, por supremacistas brancos nos idos de 1955. 
O primeiro será erguido na igreja de Chicago onde o garoto fora velado; o segundo, na ravina do Rio Tallahatchie, no Mississippi, onde encontraram seu corpo brutalizado; e um terceiro, certamente o mais significativo, na entrada do tribunal onde os matadores confessos, dois irmãos graúdos, foram rapidamente absolvidos por um júri branco.

À época, a mãe-coragem de Emmett obrigara o país a encarar o que restara do filho: uma massa disforme e desumanizada exposta em caixão aberto, sem retoques. Como já relatado neste espaço, a atrocidade serviu de catalisador para o Movimento pelos Direitos Civis que galvanizaria o país na década seguinte.

Passaram-se quase 70 anos. Desde então, 12 presidentes ocuparam a Casa Branca. Ainda assim, Biden achou necessário explicar ao país o motivo de um memorial nacional para os dois corpos negros.— Vivemos tempos em que se tenta banir livros, enterrar a História — disse o presidente. — Por isso queremos deixar bem claro e cristalino: embora a treva e o negacionismo possam esconder muita coisa, não conseguem apagar nada. Não devemos aprender somente aquilo que queremos saber. Devemos poder aprender o que é preciso saber.

Reparações históricas e desculpas oficiais costumam vir na rabeira da própria História. E com frequência nada reparam. Ainda assim, acabam compondo um retrato das feridas de cada nação. No caso atual, a iniciativa de Biden não deve ser descartada como mero artifício eleitoreiro visando ao pleito de 2024. Há também uma real preocupação com um surto de apagamento histórico em curso na América profunda e retrógrada. Quando governadores extremados como Ron DeSantis, da Flórida, ou Greg Abbott, do Texas, ordenam escolas e bibliotecas públicas a varrer das estantes clássicos da literatura negra e LGBTQIA+, um monumento nacional à coragem de Mamie Till chega em boa hora.[o que mais evidencia o caráter eleitoreiro da iniciativa do democrata cujo governo prima pela INcompetência e desacertos.]

Para a população negra dos Estados Unidos, existe uma ferida coletiva que nenhuma reparação ainda conseguiu cicatrizar. Ela tem nome extenso: Estudo Tuskegee de Sífilis Não Tratada no Homem Negro. Trata-se do mais longo experimento não terapêutico em seres humanos da História da medicina. Ele durou de 1932 até 1972 e teve como propósito estudar os efeitos da sífilis em corpos negros. 
Por meio de concorridos convites divulgados em igrejas e plantações de algodão, o Instituto de Saúde Pública da época selecionou 600 homens, todos filhos ou netos de escravizados. 
A grande maioria nunca tinha se consultado com médico. 
No grupo, 399 estavam contaminados pela doença, e 201 eram sadios. Aos contaminados foi informado apenas serem portadores de “sangue ruim”. Como o estudo visava à observação da doença até o “ponto final” — a autópsia —, os doentes foram ficando cegos, dementes e morreram sem conhecer a penicilina, que a partir dos anos 1940 se tornou o tratamento de referência para sifilíticos. 
A família dos que morriam recebia US$ 50 para cobrir o enterro. 
A pesquisa só foi interrompida em 1972, quando o jornalismo da Associated Press revelou a história, levando o governo americano a pagar US$ 10 milhões em acordo coletivo com os sobreviventes.

Oito deles, já quase nonagenários, estavam no Salão Leste da Casa Branca em maio de 1997 quando o então presidente Bill Clinton pediu desculpas públicas pelo horror cometido. Em discurso marcante, falou em nome do povo americano: — O que foi feito não pode ser desfeito. Mas podemos acabar com o silêncio, parar de desviar do assunto. Podemos olhá-los de frente para finalmente dizer que o que o governo dos Estados Unidos fez foi uma ignomínia, e eu peço desculpas.

Ainda assim, passado menos de um ano, nova barbárie experimental veio à luz, desta vez com cem meninos negros e hispânicos de Nova York arrebanhados por três instituições de renome científico. 
Todos eram irmãos caçulas de delinquentes juvenis e tinham idade entre 6 e 11 anos. 
O estudo pretendia demonstrar a correlação entre determinados marcadores biológicos e o comportamento violento em humanos. Para isso, aplicaram nas crianças injeções intravenosas de fenfluramina, substância posteriormente associada a danos à válvula mitral. Às mães que os levavam ao local do experimento foi oferecida uma recompensada de US$ 125 .

Tudo isso e muito mais faz parte do pesado histórico de abuso de corpos negros, até mesmo em nome da ciência. Não espanta, portanto, a rejeição quase atávica à obrigatoriedade de vacinação contra a Covid-19 manifestada pela população negra em tempos recentes. A retirada de circulação ou dificuldade de acesso a livros que narram essas vivências deveriam ser impensáveis em 2023. É sinal de uma sociedade adoecida pelo medo de livros.

Dorrit Harazim, colunista - O Globo


domingo, 9 de julho de 2023

IMC - Índice de Massa Corporal - Racista? - Ideias

Eli Vieira - Gazeta do Povo

Saúde

Associação Médica Americana critica o uso do IMC para indicar obesidade, citando “prejuízo histórico” e “racismo”

Críticas à dependência do índice de massa corporal (IMC) na saúde surgem na Associação Médica Americana, acendendo debates sobre obesidade, discriminação e novas métricas.| Foto: Eli Vieira com Midjourney

Resumo da reportagem

  • Entidade médica americana importante critica o uso do IMC para diagnóstico de obesidade, especialmente a mórbida, citando fatores que podem distorcer a interpretação.
  • Conselho técnico da entidade alega que o IMC já foi usado para fazer “exclusão racista”.
  • A mudança de atitude pode ser mais um fruto da influência do ativismo identitário dentro da ciência e da medicina.

Um novo relatório do Conselho de Ciência e Saúde Pública da Associação Médica Americana (AMA), apresentado no mês passado na reunião anual da entidade, em Chicago, ofereceu críticas ao uso do Índice de Massa Corporal (IMC) para conclusões a respeito do sobrepeso e da obesidade.

Para o conselho da AMA, a interpretação do IMC, que é calculado com a massa em quilogramas dividida pela altura em metros elevada ao quadrado, pode ser afetada por fatores como “várias comorbidades, questões de estilo de vida, gênero, etnicidades, fatores de mortalidade medicamente importantes determinados pela herança familiar, duração de tempo que uma pessoa passa em certas categorias de IMC e a acumulação esperada de gordura que vem com o envelhecimento”. Especialmente a interpretação do que significa ter um IMC classificado como “mórbido”.

“Além disso”, acrescentou o relatório, “o uso do IMC é problemático quando é para diagnosticar e tratar indivíduos com transtornos de alimentação, porque não captura toda a gama” desses distúrbios. Entre os motivos citados para mudar as diretrizes estão “o prejuízo histórico [causado pelo] IMC” e “o uso do IMC para exclusão racista”.

Não é afirmado que o IMC é inútil, mas que ele pode ser complementado com medidas da gordura visceral (dos órgãos internos), índice de adiposidade corporal, composição do corpo, massa relativa de gordura, circunferência da cintura e fatores genéticos ou metabólicos.

O conselho reconhece que o IMC “é correlacionado significativamente com a quantidade de massa de gordura na população em geral”, mas afirma que o índice perde a capacidade de fazer previsões quando aplicado em indivíduos. Por essa razão, “o IMC não deve ser usado como critério único para negar reembolso em seguros de saúde”.

IMC racista?
As recomendações podem ter sofrido influência do ativismo identitário, cuja expressão entre ativistas contrários à “gordofobia” com frequência acusa os médicos e cientistas de exagerarem os riscos da obesidade. Este mês, o Journal of Ethics, revista de ética da AMA, publicou um artigo de Sabrina Strings, professora de “Estudos Negros” na Universidade da Califórnia em Santa Barbara. Ela afirma em seu resumo que “o IMC é uma continuação das normas supremacistas brancas de corporeidade” e que a medida é parte de uma “causa branca de saúde e beleza” que é “pseudocientífica” e “ajudou a forjar concepções opressivas da gordura como um indicador de má saúde e qualidade racial ‘baixa’”.

A Fundação Contra a Intolerância e o Racismo (FAIR), uma organização americana que faz oposição ao identitarismo e à sua abordagem dos problemas sociais, criticou o relatório da AMA. “A obesidade não é consertada pelos magos da DEI [sigla para programas de diversidade, equidade e inclusão, que introduzem identitarismo em empresas e na academia] na AMA que dizem que medidas de IMC são ‘racistas’”, rebateu a entidade, via Twitter. “Os pacientes querem médicos que os inspirem a prosperar para a melhor saúde, não que promovam ‘adoçantes’ artificiais como as novas falsas medidas que distorcem a verdade”.

Veja Também:

Sobrepeso e obesidade apresentam riscos à saúde
O conselho da AMA reconhece que o IMC referente a cada faixa etária é o “padrão ouro” para aferir obesidade em crianças.

Os efeitos da obesidade infantil foram evidenciados numa revisão de pesquisa publicada em 2003 por John Reilly, professor de ciência do exercício e saúde pública na Universidade de Strathclyde em Glasgow, Escócia, e sua equipe. Eles analisaram 65 trabalhos de alta qualidade. Avaliando cinco fatores de risco para o coração e o sistema circulatório, constatou-se que 58% das crianças obesas entre cinco e dez anos possuem pelo menos um desses fatores, como o colesterol alto. Um quarto dessas crianças obesas possuíam dois ou mais desses fatores. 
Em comparação com crianças não obesas, as obesas possuem 43 vezes mais chance de apresentar três fatores de risco cardiovascular.

A obesidade infantil também aumenta a probabilidade de problemas psicológicos e psiquiátricos, além de aumentar o risco de asma, diabetes de ambos os tipos, e tem impactos sociais, como renda mais baixa no futuro.

Excesso de peso e obesidade foram repetidamente ligados a uma inflamação crônica do corpo. Isso pode explicar em parte por que indivíduos com IMC alto são mais susceptíveis à Covid-19: o excesso de peso já sobrecarrega o sistema imunológico.

A prevalência de obesidade na idade adulta é alta: até 70% das crianças obesas e 85% dos adolescentes permanecem obesos ao amadurecer.  
Essas pessoas têm o dobro do risco de morrer nas três primeiras décadas da vida adulta quando comparadas àquelas com IMC de 19, dentro do intervalo considerado saudável. 
O excesso de peso é caracterizado por um IMC maior que 25, e a obesidade, a partir de 30 (obesidade mórbida, a partir de 40)
O IMC não é o único método para medir obesidade, entretanto. 
Existem outros métodos, como a razão entre a circunferência da cintura e do quadril, que são úteis especialmente para pessoas que pesam mais por outras razões, como os fisiculturistas.
 
Uma década após o estudo dos pesquisadores escoceses, os endocrinologistas americanos Rexford Ahima e Mitchell Lazar, da Universidade da Pensilvânia, publicaram uma atualização na revista Science. Eles confirmaram que a obesidade é um fator de risco para os problemas já citados, além de câncer, apneia do sono, doença hepática gordurosa, artrite e outros, levando a deficiências e maior mortalidade.  
Um IMC muito baixo, de 18,5 ou menos, também está ligado a doenças relacionadas à desnutrição.

Pode haver saúde no sobrepeso, mas é raro
Ahima e Lazar destacaram um aspecto intrigante: em um estudo com milhões de indivíduos, a obesidade leve não foi ligada a uma maior taxa de mortalidade, e até mesmo o sobrepeso foi vinculado a uma taxa de mortalidade menor. 
 Estes resultados causaram espanto na comunidade científica na época, contudo, existem questionamentos metodológicos sobre a forma como os IMCs foram agrupados, além de omissões de fatores como perda de peso e histórico médico.

Não é completamente inesperado que um IMC dentro da faixa do sobrepeso possa estar associado a um estado de saúde, uma vez que o IMC é um instrumento que considera apenas o peso, sem levar em conta a composição de gordura no corpo, se essa gordura é visceral (localizada entre os órgãos, principalmente na região abdominal) ou subcutânea (imediatamente abaixo da pele). 
O ponto crucial trazido por Ahima e Lazar é que cerca de 10% das pessoas classificadas com sobrepeso e tecnicamente obesas (mas com IMC abaixo de 40) parecem saudáveis porque se exercitam e têm boa tonicidade muscular, possuindo mais gordura subcutânea do que visceral. Ou seja, esses casos são exceções, e não um pretexto para autodiagnóstico ou inatividade física. 
E mesmo esses casos não estão isentos de riscos.
 
 Eli Vieira, colunista - Gazeta do Povo - Ideias
 
 

domingo, 3 de julho de 2022

Suprema Corte - Esse negro não serve - Gazeta do Povo

Flavio Quintela - VOZES


A esquerda americana jamais gostou de Clarence Thomas. Em outubro de 1991, quando de sua confirmação pelo Senado, Thomas recebeu 48 votos negativos, 46 deles vindo de senadores democratas, incluindo os votos de Joe Biden e Al Gore. Mas a votação apertada não foi, de forma alguma, a pior etapa de todo o processo que levou a sua aprovação.


 Clarence Thomas, juiz da Suprema Corte norte-americana, durante a sessão de fotos oficiais da corte em 2017.-  Foto: Shawn Thew/EFE/EPA

No dia 1.º de julho de 1990, George H. W. Bush indicou Clarence Thomas para substituir Thurgood Marshall, que havia anunciado sua aposentadoria. Marshall fora o primeiro juiz negro da Suprema Corte, mas havia uma diferença fundamental entre ele e seu sucessor: Marshall tinha um viés liberal, havendo votado a favor de temas como o direito ao aborto e a proibição da pena de morte. 
Sua intepretação da Constituição estava longe da interpretação originalista, aquela em que se busca entender a intenção dos autores da Carta Magna e aplicá-la de modo a preservar essa intenção. Marshall acreditava que a Constituição precisava ser constantemente revista e costumava se referir a ela como um “documento vivo”.

Para os democratas, negros que ousem defender o conservadorismo não passam de pessoas manipuladas com mentes fracas e cativas. É assim até hoje

Por que é importante conhecer um pouco mais sobre Thurgood Marshall? Por um simples motivo: para a esquerda americana, Marshall foi um negro bom, um negro que sempre se ateve aos princípios do Partido Democrata e votou de acordo com o esperado pelo partido
Para os democratas, negros que ousem defender o conservadorismo não passam de pessoas manipuladas com mentes fracas e cativas. 
É assim até hoje. Homens brilhantes e geniais como Thomas Sowell, Ben Carson e Walter E. Williams são desprezados pela esquerda porque ousaram ser conservadores de pele negra.

Não era de se espantar
, portanto, que toda a artilharia democrata fosse posta a serviço da difamação de Clarence Thomas logo após sua indicação. O presidente Bush tinha ido longe demais, tentando substituir um negro “do bem” por um “do mal”. Algo precisava ser feito. Acusações de assédio sexual foram fabricadas. Foi através de Anita Hill, advogada que havia trabalhado sob a chefia de Thomas no Departamento de Educação do governo americano, que o escândalo foi armado
Anita se enrolou para explicar por que tinha seguido Thomas em um segundo emprego sob sua chefia mesmo tendo sofrido o alegado assédio sexual no emprego anterior. 
A veemência da defesa de Thomas e a fraqueza das acusações de Anita não deixaram dúvidas de que o juiz estava sendo vítima de uma armação para evitar a sua confirmação. E, ainda que isso estivesse bem claro, o escrutínio a que Thomas e sua família foram expostos deixou uma sequela profunda no então jovem juiz.
Veja Também:   E a vida venceu
    Oremos
    O Termo do Século


Avancemos aos dias de hoje
. Dias depois da votação histórica em que Roe v. Wade foi anulada, a esquerda veio com tudo para cima da ala conservadora da Suprema Corte. A Clarence Thomas, como é de costume, foi reservado o extrato mais puro do ódio liberal. O ator Samuel L. Jackson o chamou de “Uncle Clarence”, uma referência direta à expressão “Uncle Tom”, cuja tradução contextualizada para o português seria “capitão do mato”
A prefeita de Chicago, Lori Lightfoot, escolheu um xingamento mais direto, gritando “Vá se f****, Clarence Thomas” durante um comício. Hillary Clinton, que foi veterana de Thomas na faculdade de Direito, fez um ataque mais elaborado e mais pessoal. “Desde que o conheci, ele sempre foi uma pessoa que guarda mágoas; ressentimento, mágoa, raiva”, disse Hillary durante uma entrevista a Gayle King, da CBS, e finalizou com “Mulheres vão morrer, Gayle, mulheres vão morrer”.

A Fox News, por outro lado, entrevistou alguém que participou ativamente da indicação de Clarence Thomas à Suprema Corte. Mark Paoletta, que trabalhou como conselheiro da Casa Branca no governo de George H. W. Bush, disse que “a esquerda está atrás de Clarence Thomas desde dezembro de 1980, na verdade, quando ele estava prestes a ingressar no governo Reagan. E eles o odeiam. (...) Eles tentaram destruí-lo. Eles tentaram marginalizá-lo. (...) E, 30 anos depois, ele não está apenas firme. Sua influência está no auge”.

Clarence Thomas é hoje o juiz mais velho e experiente do quinteto conservador da Suprema Corte. Suas opiniões e votos nunca tiveram tanto peso como têm hoje

A opinião de Paoletta tem total lastro na realidade. Quando entrou para a Suprema Corte, Thomas tinha pouco respaldo dos seus colegas de tribunal nas votações. O único que o acompanhava com mais frequência era Antonin Scalia, também conservador e também originalista. Mas o colegiado seguia uma linha mais à centro-esquerda no geral. Foi somente com a indicação de Samuel Alito ao mais alto tribunal do país, em 2006, que um equilíbrio de forças ideológicas finalmente foi atingido. Ou seja, mais de 15 anos se passaram até que Clarence Thomas encontrasse condições de ter seus votos apoiados e acompanhados pela maioria dos juízes. Mais uma década inteira se passaria até que Donald Trump nomeasse Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e, finalmente, Amy Coney Barrett, em 2020.

Tendo completado 74 anos no último dia 23 de junho, Thomas é hoje o juiz mais velho e experiente do quinteto conservador. Suas opiniões e votos nunca tiveram tanto peso como têm hoje. Conta a lenda que Thomas teria dito, logo após sua atribulada confirmação pelo Senado, que daria aos liberais um mínimo de 43 anos de serviço no tribunal, para vingar toda a vileza a ele dirigida em seu 43.º ano de vida. 
A história pode não passar de mera anedota, mas o resultado real é incontestável. Clarence Thomas é profundamente odiado pela esquerda americana, e isso é sempre um bom sinal. [No Brasil, cada dia se consolida o mesmo entendimento:a melhor recomendação da honestidade, integridade de um homem é ser odiado pela esquerda.] Se ele continuar o fantástico trabalho que tem feito por mais 13 anos, os Estados Unidos terão motivos de sobra para comemorar.
 
Saiba mais, clicando aqui

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos

Flávio Quintela, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 7 de maio de 2022

A ofensiva pró-aborto de Biden e o aviso do arcebispo Gomez - Gazeta do Povo

Vaticano, CNBB e Igreja Católica em geral.

Aborto nos EUA

Sabem quem anda caladinho nesses últimos dias? Os católicos pró-Biden. Não aqueles cafeteria Catholics que já não estão nem aí para a doutrina da Igreja, mas aqueles que ainda dão importância para os assuntos que importam, e que, mais por aversão (justificada ou não) a Trump que por qualquer outro motivo, tentaram convencer meio mundo de que o democrata não era um perigo, lá em 2020. Afinal, bastou vazar um rascunho de opinião majoritária da Suprema Corte datado de fevereiro, indicando que havia maioria para reverter as duas decisões que impedem os estados americanos de proibir o aborto ao menos no começo da gestação, que o presidente mostrou todos os dentes em uma nota oficial da Casa Branca.


  O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Joe Biden, apesar de católico, prometeu empenho na legalização do aborto nos EUA caso a Suprema Corte derrube decisões judiciais de 1973 e 1992.| Foto: Ting Shen/EFE/EPA/Pool


Vejam lá que Biden faz uma defesa enfática de Roe v. Wade, como ficou conhecida a decisão de 1973 que liberou o aborto; que já está preparando uma resposta ao que chama de “ataque continuado ao aborto e aos direitos reprodutivos”; e, finalmente, que ele pretende fazer do aborto o tema central das eleições de novembro, as chamadas midterms, em que estarão em jogo todas as cadeiras da Câmara, um terço do Senado e a maioria dos governos e Legislativos estaduais. Para quem está governando o país em meio à maior inflação dos últimos 40 anos, mudar o foco é bastante conveniente, mas ele vai além: está ativamente pedindo voto para candidatos defensores da legalização do aborto.

O que isso quer dizer?
Que o arcebispo de Los Angeles, José Gomez, acertou a mão completamente na nota oficial da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, publicada no dia da posse de Biden. Os bispos prometiam rezar pelo novo presidente, mas deixaram muito claro que estavam bastante preocupados com o fato de Biden ter se comprometido com o lado pró-aborto durante a campanha, e reafirmaram que a defesa da vida é questão fundamental, embora não seja a única. “Como ensina o papa Francisco, não podemos permanecer calados enquanto quase 1 milhão de vidas são descartadas em nosso país anualmente por meio do aborto”, diz a nota. Na ocasião, o cardeal-arcebispo de Chicago, Blase Cupich, não gostou e criticou abertamente o texto, que chamou de “impensado”; um figurão Vaticano não identificado, ouvido pela revista jesuíta America, chamou o texto de “infeliz”.

Bom, estamos vendo aí o que é realmente infeliz: não o aviso certeiro de Gomez, mas a reação enfática de Biden à possibilidade de a Suprema Corte reverter um erro de 50 anos. E sobre essa reação, bem, até agora só temos silêncio. Não que o cardeal Cupich e outros sejam a favor de Roe; o arcebispo de Chicago, na mais recente edição local da Marcha Pela Vida, se mostrou animado com a possibilidade de o Judiciário derrubar a decisão de 1973. O problema foi esse esforço enorme em preservar Biden das críticas quando ele nem de longe merecia essa blindagem.

Veja Também:
Opinião da Gazeta: A Suprema Corte perto de fazer história em defesa da vida

Convicções da Gazeta: Defesa da vida desde a concepção

“Ah, mas ele é católico.” “Ah, mas ele vai à missa todo domingo.” “Ah, mas ele botou uma foto do papa no escritório.” “Ah, mas ele citou Santo Agostinho na posse.” “Ah, mas ele está sempre carregando um terço.” “Ah, mas ele nomeou católicos para o ministério.” 
Se eu ganhasse um dólar para cada vez que li ou ouvi isso lá em 2020 e 2021, podia levar a família à Disney amanhã. Daria para montar uma cartela e jogar o “bingo do católico passador de pano pro Biden”.  
Pois bem, está aí o presidente deixando claro que vai trabalhar ativamente para reimplantar o direito ao aborto nos EUA caso a Suprema Corte faça a coisa certa.  
Está apenas cumprindo o que prometera ainda durante os debates das primárias, quando foi emparedado por algumas pré-candidatas. Convenhamos: ao menos neste ponto, só se iludiu quem quis mesmo ser iludido.
 
Marcio Antonio Campos, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

sexta-feira, 25 de março de 2022

Juiz de porta de avião - Revista Oeste

Luiz Inácio Lula da Silva e Rosemary Noronha | Foto: Montagem/ Revista Oeste
Luiz Inácio Lula da Silva e Rosemary Noronha - Foto: Montagem/ Revista 

Fazer o que faz o homem encarregado de lidar com suas redes sociais, liquidou a questão Bolsonaro no primeiro encontro com jornalistas excitados com o prosseguimento do duelo entre o chefe do Executivo e o artilheiro do Timão da Toga.  
Como a usina de insolências não pode parar, Moraes resolveu atacar com mais cobranças. 
Quer saber de onde saiu o dinheiro que pagou as despesas de Carlos. Do bolso do viajante? 
Ou de algum cartão corporativo usado indevidamente? 
O ministro também desconfia que a conta pode ter sido espetada no misterioso Gabinete do Ódio, assombração ainda homiziada em lugar incerto e não sabido, mas provida de munição digital suficiente para desequilibrar eleições e instalar no Brasil uma ditadura fascista.

Bolsonaro informou que o filho não foi socorrido por um único e escasso centavo. Mas Moraes é duro na queda: segue à caça de interrogações tão importantes quanto as dúvidas que me assaltam quando tento lembrar a escalação completa do Clube Atlético Taquaritinga, o “Leão da Araraquarense”, naquele jogo contra o Radium de Mococa disputado no verão de 1958. Já desisti de brigar com a memória. Bem mais teimoso é o parteiro do inquérito que há mais de três anos combate fabricantes de fake news, atos antidemocráticos, atentados a instituições e falatórios que deixam mal no retrato o Pretório Excelso.

Se acordar com o pavio alguns milímetros mais curto, o ministro pode expedir um mandado de prisão em flagrante perpétuo e trancafiar numa cela o piloto do avião que levou Carlos à Rússia. 
Se perder o sono, talvez seja assaltado pela ideia de indiciar no inquérito do fim do mundo a comissária de bordo que serviu cafezinho ao investigado. 
Por isso, e antes que aumente o calibre do surto de prepotência, convém desviar as atenções do impetuoso superjuiz para as comitivas que abrigaram Rosemary Noronha, a Rose, alojada de 2004 a 2012 na chefia do escritório da Presidência da República em São Paulo.

Durante sete anos, a mulher de temperamento esquentado desfrutou dos grandes e pequenos prazeres ao alcance de uma Segunda Dama

Não foi esse cargo que fez da ex-secretária de José Dirceu e ex-assessora de Lula uma assídua freguesa do Aerolula. Ela chegou lá por ocupar o posto de Segunda Dama.

As medidas preventivas adotadas pelo casal procuravam apenas evitar acessos de fúria da Primeira. Rose só viajava quando Marisa Letícia ficava em casa. Como seu nome era excluído da lista de passageiros publicada no Diário Oficial, a clandestina dispensada de esconder-se virou a penetra com mais horas de voo do planeta. Os parceiros de comitiva conheciam os reais motivos da presença a bordo daquela mulher cujas ancas desafiavam poltronas acanhadas e com uma franja na testa que dilatava as maçãs do rosto. A missão de Rose era garantir que Lula acordasse com a expressão satisfeita de quem passara boa parte da noite sobrevoando nuvens extraordinariamente azuis.

A bordo, o expediente de Rose começava quando anoitecia: risonha, avançava pelo corredor em direção aos aposentos presidenciais — para regressar ao fundo da aeronave depois do café da manhã. Em terra, seguia a programação oficial em silêncio, com o olhar distraído de quem se dispensa de saber se está no litoral do Caribe ou num deserto africano. Terminado o jantar, os dois partiam rumo às suítes contíguas do hotel cinco-estrelas. 

A porta entre as duas alcovas permanecia entreaberta. Foi assim nos mais de 30 países que Rose conheceu em mais de 20 viagens no Aerolula. Entre uma e outra, os encontros ficavam mais complicados. De todo modo, a frequência bastou para conferir ao escritório da Presidência, onde uma ampliadíssima foto de Lula fantasiado de atacante no momento do pênalti enfeitava um bom pedaço de parede, a fama de maior garçonnière da capital paulista.

(...)

E então o que parecia um romance extraconjugal virou caso de polícia.

A vida mansa acabou em 23 de novembro de 2012, quando a Operação Porto Seguro, desencadeada pela Polícia Federal, alcançou a Segunda Dama e seus protegidos, batizados pela imprensa de “Bebês de Rosemary”.  Assustado com a ampliação do acervo de maracutaias, Lula fez o que sempre faz quando precisa costurar algum álibi menos cretino: perdeu a voz e sumiu, agarrado à esperança de sobreviver sem fraturas ao primeiro escândalo que não poderia terceirizar. Não havia bodes expiatórios a convocar. Nem respostas aceitáveis para perguntas especialmente constrangedoras. Passou a primeira semana enfurnado no Instituto Lula. Passou as duas seguintes longe do Brasil, driblando repórteres com escapadas pela porta dos fundos ou pela cozinha do restaurante.

(......)

Cansados das tentativas de prender o gângster Al Capone pelos medonhos crimes que praticara, policiais de Chicago conseguiram condená-lo a uma interminável temporada na cadeia por ter lesado o Fisco.  
Como Rose e seus parceiros escaparam do castigo reservado a torturadores do Código Penal, a última esperança do Brasil que pensa e presta é, quem diria?, a cabeça tumultuada de Alexandre de Moraes. A perseguição movida contra Carlos Bolsonaro informa que, aos olhos do ministro, juntar-se a comitivas presidenciais pode ser considerado ato criminoso. 
Por que o ministro não reexamina o papel desempenhado por Rosemary Noronha depois de embarcar no Aerolula? 
É o que já teria feito se Rose, decepcionada com o sumiço de Lula, declarasse que vai votar em Jair Bolsonaro.

Leia também “O prepotente, o dissimulado e o ególatra”

MATÉRIA COMPLETA - Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste -


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

De saída do TSE, Barroso participa de evento nos EUA sobre como se livrar de um presidente

Revista Oeste

Esta semana, o ministro Edson Fachin assumirá a presidência da Corte Eleitoral

Neste sábado, 19, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso participa de evento promovido por uma organização estudantil da Faculdade de Direito da Universidade do Texas voltada ao estudo de legislação internacional.
O ministro do STF Luís Roberto Barroso | Foto: Carlos Moura/SCO/STF
O ministro do STF Luís Roberto Barroso  Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Chamado Ditching a President (algo como “Livrando-se de um presidente”, em tradução livre), o seminário terá como tema o arranjo constitucional do Poder Executivo na América Latina, segundo informa a Veja.

Além do discurso de abertura de Barroso, também falarão no evento do Texas International Law Journal professores e pesquisadores de universidades de Nova Iorque, Chicago, Califórnia e Texas.

Despedida do TSE
Nesta semana, Barroso fez seu discurso de despedida à frente da presidência do Tribunal Superior Eleitoral. O ministro voltou a criticar a proposta de voto auditável, derrotada na Câmara dos Deputados, e disse que a “democracia e as instituições brasileiras passaram por ameaças” tais como “o desfile de tanques de guerra na Praça dos Três Poderes, com claros propósitos intimidatórios, e a ordem para que caças da Força Aérea Brasileira sobrevoassem a mesma praça, com a finalidade de quebrar as vidraças do STF, em ameaça a seus integrantes.”

Na próxima terça-feira, 22, os ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes serão empossados, respectivamente, presidente e vice-presidente da Corte Eleitoral.

Na Edição 100 da Revista Oeste, artigo de Augusto Nunes mostra que os ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso comandam no STF “o mais feroz” partido de oposição a Jair Bolsonaro.

Leia um trecho:

“De volta aos barulhos de setembro, Barroso espancou impiedosamente a verdade. As afrontas à democracia, garantiu, incluíram “o desfile de tanques de guerra na Praça dos Três Poderes, com claros propósitos intimidatórios, e a ordem para que caças da Força Aérea Brasileira sobrevoassem a mesma praça, com a finalidade de quebrar as vidraças do STF, em ameaça a seus integrantes.” Se nenhuma vidraça foi sequer arranhada, se ninguém viu caças voando a poucos metros do solo, se nem mesmo o PT ousou encampar o besteirol, em que se baseava o orador para formular uma acusação de tal magnitude? Na história que lhe contara Raul Jungmann, ex-deputado federal e ex-ministro da Defesa. Jungmann tem tanto acesso a informações de tal calibre quanto o caçula dos porteiros do Palácio do Planalto. Mas os limites estabelecidos por lei são invisíveis aos olhos do trio que juntou um dissimulado, um prepotente e um ególatra.”

“O prepotente, o dissimulado e o ególatra”, artigo de Augusto Nunes publicado na Edição 100 da Revista Oeste

 Revista Oeste


sábado, 15 de janeiro de 2022

Licença para matar - Revista Oeste

Gabriel de Arruda Castro

Um dos pontos de inflexão na taxa de homicídios nos Estados Unidos parece ter acontecido logo depois da morte de George Floyd durante uma abordagem policial desastrada 

 
Ilustração: Revista Oeste/Shutterstock

Eram 23h54 de um sábado, 4 de setembro de 2021, e o jovem João Pedro Elisei Marchezani, de 23 anos, estava no banco de trás de um Hyundai Sonata, ao lado da namorada. Ambos pegavam carona com um casal de amigos. De repente, João Pedro foi surpreendido por um homem que desceu de uma motocicleta e atirou em sua direção oito vezes. Um disparo atingiu a cabeça do rapaz. Seria mais uma vítima do crime no Brasil, não fosse por um detalhe: o brasileiro João Pedro estava em Chicago, a mais de 8 mil quilômetros de distância da terra natal.

João Pedro sobreviveu e agora tenta superar as graves sequelas do crime. Quatro meses depois, a polícia ainda não conseguiu prender o responsável pela tentativa de assassinato — nem entender completamente a motivação do ataque. A suspeita é que o autor dos disparos seja membro de uma gangue.

O episódio está longe de ser uma exceção
Estatisticamente, os moradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Cuiabá, Campo Grande e Belém estão mais seguros do que os de Chicago, Filadélfia, Atlanta, Washington e Detroit. Pelo menos quando o critério é a taxa de homicídios, algumas das maiores cidades dos Estados Unidos têm hoje uma situação muito pior do que as de muitas metrópoles brasileiras.

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Embora diversas cidades americanas já viessem sendo afetadas por um crescimento da violência, de 2020 para cá houve um aumento agudo e generalizado. Foi o maior salto no índice de homicídios em quase 60 anos, segundo o FBI. Um crescimento de 29%, na comparação com 2019. Ao que tudo indica, 2021 foi ainda pior. Nos últimos três anos, o aumento foi de 28% em Chicago, 52% em Nova Iorque, 52% em Los Angeles, 58% na Filadélfia, 64% em Atlanta e 71% em Houston. Em Mineápolis, o total de pessoas assassinadas dobrou em apenas dois anos.

Em comum, as cidades da lista têm um governo comandado por membros do Partido Democrata, que recentemente adotou uma agenda hostil à polícia e abandonou métodos que, nas décadas anteriores, se haviam demonstrado eficazes no combate ao crime. Nos Estados Unidos, as polícias são comandadas pelo governo local (cidade e condado), ao contrário do Brasil, onde o governo estadual é o responsável. Com isso, mesmo em Estados mais conservadores, as grandes cidades por vezes adotam políticas chamadas de progressistas no campo da segurança pública. A “tolerância zero”, por exemplo, ficou no passado — superada por abordagens que priorizam a “justiça social” e o combate ao “racismo estrutural”.

A pressão da esquerda prejudicou a polícia
Um dos pontos de inflexão na taxa de homicídios nos Estados Unidos parece ter acontecido logo após um episódio trágico. Em 2020, depois da morte de George Floyd durante uma abordagem policial desastrada na cidade americana de Mineápolis, formou-se uma onda de protestos no país comandados por organizações como o Black Lives Matter, um grupo radical de esquerda. Dentre as pautas, estava a redução do orçamento das polícias e a adoção de novas regras para evitar o que, na visão deles, era uma política discriminatória contra os negros. Na maior parte das cidades, eles foram bem-sucedidos em suas reivindicações. Pressionadas, prefeituras e assembleias locais cederam: reduziram os fundos para a polícia (para aplicá-lo em “serviços sociais”) e aprovaram normas que incluem treinamentos sobre minorias étnicas e reduzem o poder do policial de abordar pessoas suspeitas sem um mandado. Em algumas cidades, como Denver, a polícia passou a ser impedida de atuar em escolas públicas.

A primeira da lista a cortar significativamente o orçamento da polícia foi Mineápolis. Também foi a primeira a recuar. Meses depois de eliminar US$ 8 milhões do valor previsto para a polícia local, o Conselho Municipal (equivalente à Câmara de Vereadores) decidiu enviar US$ 6,4 milhões para financiar a corporação. Em Nova Iorque, algo parecido aconteceu. Ainda assim, o recuo foi apenas parcial. As políticas progressistas continuam em vigor. E os resultados são evidentes.

Na avaliação de George Felipe Dantas, consultor em segurança e doutor pela Universidade George Washington, na capital americana, a pandemia se juntou a outros fatores para trazer uma “tempestade perfeita”. Mas as políticas públicas são uma parte importante da equação. “Sem nenhuma ideologia influenciando minha fala, os republicanos são conhecidos pelo endurecimento em questões de lei e ordem, e os democratas, muito sensíveis a esses grupos minoritários que têm uma voz desproporcional na política americana”, diz Dantas.

Quem é pego na Califórnia levando até US$ 950 em produtos precisa assinar um termo de responsabilização, mas não vai para a cadeia

Coincidência ou não, uma das poucas cidades a ter um bom resultado em 2021 é comandada por um republicano. Administrada por Francis Suarez, que resistiu à pressão de movimentos à esquerda, Miami contabilizou uma redução de 15% no número de homicídios, em comparação com 2021, apesar de ter registrado alta no ano anterior. Para Dantas, entretanto, a variação nos números pede cautela, já que é muito recente. “A gente precisa ver, no longo prazo, se esse não é um fenômeno sazonal ou algo temporário”, afirmou.

Combinação de fatores
Michael Parker, consultor de segurança e ex-comandante na Polícia de Los Angeles, explicou a Oeste que o salto na criminalidade desde 2020 se deve a uma conjunção de fatores. Com a pandemia, muitas cidades passaram a prender menos criminosos. Usando a justificativa de que as prisões não podiam abrigar mais presos devido aos protocolos sanitários, o equivalente local do Ministério Público passou a adotar posturas mais lenientes e parou de encarcerar alguns tipos de criminosos. Além disso, sob o mesmo pretexto, algumas das grandes cidades libertaram presos considerados de menor periculosidade antes do cumprimento da pena. Em Nova Iorque, 1.500 detentos (um em cada quatro) ganharam as ruas.

O aumento na criminalidade também tem causas mais profundas. Um número cada vez maior de pessoas (ao menos nas regiões ditas “progressistas”) parece acreditar que não prender criminosos é melhor do que alimentar um sistema que eles veem como discriminatório contra negros. Um exemplo é o que aconteceu na Califórnia. Em 2014, a população local aprovou, em referendo, uma regra que tornou muito mais brandas as penas para furto. Quem é pego levando até US$ 950 em produtos é conduzido à delegacia e precisa assinar um termo de responsabilização, mas não vai para a cadeia — independentemente de quantas vezes cometer o mesmo crime. “Alguns grupos de 20 ou 30 pessoas que vão juntos a uma loja, todo mundo furta o que consegue e vai embora, porque eles sabem que, se o valor ficar abaixo de US$ 950, é apenas uma contravenção”, diz Parker.

As restrições crescentes desmotivaram os próprios policiais, e um número cada vez maior deles tem decidido deixar a função para atuar na iniciativa privada. Para piorar, a obrigatoriedade da vacina aumentou a crise. Em Chicago, até que um juiz suspendesse a regra, cerca de um terço dos policiais havia se recusado a cumprir a exigência. Outros simplesmente se demitiram.

Tolerância zero
Lá se vão 28 anos desde que a prefeitura de Nova Iorque, então sob o comando do republicano Rudolph Giuliani, implementou um bem-sucedido programa de combate ao crime, que se tornou exemplo internacional. Baseado no princípio da “tolerância zero”, o modelo se baseava em um preceito simples: a tolerância com pequenos crimes aumenta a ocorrência de crimes graves. A partir de 1994, a taxa de homicídios da cidade caiu 80% em uma década.

Mas, conforme a militância mais radical à esquerda ganhava espaço, alguns dos pressupostos básicos foram contestados — e até mesmo derrubados por decisões judiciais. A política de stop and frisk (revistar pessoas que os policiais acreditavam estar em atitude suspeita) foi seriamente limitada. Agora, é preciso ter um indício palpável de que aquela pessoa está infringindo a lei. A pregação contra o “encarceramento em massa” também se tornou mais popular, e o rigor no combate a crimes considerados menores (como a pichação e o porte de drogas) também se desfez. “Os criminosos, os membros de gangues acham que tudo isso é uma grande piada”, diz Michael Parker. “Eles interpretam isso como uma autorização para cometer quantos crimes quiserem.” Talvez soe familiar ao leitor brasileiro.

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 Gabriel de Arruda Castro, colunista - Revista Oeste

 

domingo, 19 de dezembro de 2021

Uma santa vitória dos evangélicos - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Evangélicos travaram trama da jogatina na Câmara

Bancada evangélica travou trama que pretendia legalizar os jogos de azar e reabrir cassinos, chamando-os de resorts 

Evangélicos travaram trama da jogatina na Câmara

O filé mignon e o pote de veneno dessa iniciativa estão na abertura dos cassinos. Por trás de uma panaceia arrecadatória e turística, há muito mais

Os bons costumes nacionais devem a boa parte da bancada evangélica da Câmara um grande serviço. Ela travou a trama que pretendia legalizar o jogo em Pindorama. À primeira vista, o que havia era apenas um truque do presidente da Câmara, Arthur Lira, levando ao plenário no escurinho de Brasília um velho projeto, que legaliza os jogos de azar e permite a reabertura de cassinos, chamando-os de resorts. O filé mignon e o pote de veneno dessa inciativa estão na abertura dos cassinos. Por trás de uma panaceia arrecadatória e turística, há muito mais.

Aos fatos:
Em maio de 2018, entrando pela cozinha do Copacabana Palace, o candidato a presidente Jair Bolsonaro e o economista Paulo Guedes se encontraram com o bilionário americano Sheldon Adelson. Ele veio ao Brasil com dois objetivos: obter a promessa da instalação da embaixada brasileira em Jerusalém e tratar da abertura de cassinos em cidades turísticas. Adelson, grande financiador do partido Republicano nos Estados Unidos, tinha cassinos em Las Vegas, Singapura e Macau.

O jabuti andou. Em dezembro daquele ano, o então prefeito do Rio, Marcelo Crivella, defendeu a criação de um complexo hoteleiro com cassino no Porto Maravilha. Meses depois, já na presidência da República, Bolsonaro informou: “Não quero adiantar aqui. Brevemente, estará sendo apresentado aos senhores um projeto que, com todo o respeito ao Paulo Guedes, a previsão é de termos dinheiro em caixa maior do que a reforma previdenciária em dez anos”.

Nas contas dos amigos do jabuti, os cassinos poderiam render à Viúva até R$ 18 bilhões em arrecadação. Bolsonaro teria discutido o assunto num de seus encontros com o presidente americano Donald Trump, dono de cassinos na sua terra. Em novembro de 2019, o ministro Paulo Guedes veio para a vitrine e louvou os cassinos de Las Vegas: “Imagina ter o mesmo na região da Amazônia? Mistério, turismo, entretenimento e um centro mundial de energia sustentável”. Outros príncipes do bolsonarismo circularam pelo circuito mundial da jogatina e pelo escritório de Adelson.

Na famosa reunião do ministério de abril de 2020, o tema dos resorts reapareceu com sua roupagem de vestal do turismo. Foi rebatido pela terrivelmente evangélica ministra Damares Alves: “Pacto com o diabo.” Damares vocalizava uma posição arraigada no meio evangélico que não bebe, não fuma e não joga. O assunto poderia ter morrido, mas Paulo Guedes retomou-o: “Tem problema nenhum. São bilionários, são milionários. Executivos do mundo inteiro. (...) O turismo saiu de cinco milhões em Singapura para 30 milhões por ano. O Brasil recebe seis. (...) O sonho do presidente de transformar o Rio de Janeiro em Cancún lá, Angra dos Reis em Cancún . (...) É um centro de negócios. É só maior de idade. O cara entra, deixa grana lá que ele ganhou anteontem, ele deixa aquilo lá, bebe, sai feliz da vida. Aquilo ali não atrapalha ninguém. Deixa cada um se foder. Ô Damares. Damares. Damares. Deixa cada um ... Damares. Damares. O presidente fala em liberdade. Deixa cada um se foder do jeito que quiser. Principalmente se o cara é maior, vacinado e bilionário. Deixa o cara se foder, pô! Não tem ... Lá não entra nenhum, lá não entra nenhum brasileirinho.”

Ninguém seria capaz de imaginar que esse seria o nível do debate de um doutor pela universidade de Chicago, mas vá lá. A discussão de abril se tornou pública e o projeto continuou sua caminhada pelo escurinho de Brasília. Se uma parte da bancada evangélica tivesse ficado quieta, Arthur Lira teria colocado na pauta a legalização dos cassinos. Com a reação, ele aprovou a urgência, mas se comprometeu a só colocar o mérito do projeto em votação a partir de fevereiro. Até lá, como diz o croupier da roleta: façam seus jogos, senhores.

Sheldon Adelson terá que esperar. Ele morreu em janeiro passado, aos 87 anos, deixando algo como US$ 30 bilhões.

Madame Natasha saúda o neologismo
Madame Natasha adorou ouvir que delegados da Polícia Federal criticaram o espetáculo da ação praticada contra os irmãos Ciro e Cid Gomes na terça-feira, classificando-a de “lavajatismo”.

A expressão Lava-Jato, que designava ações contra a corrupção de políticos e empresários, gerou um neologismo que designa teatralidades intimidatórias, destinadas a condenar suas vítimas pela construção de espetáculos.

Natasha encantou-se com o neologismo, que a remeteu ao grande momento literário de Dean Acheson, o secretário de Estado americano (1949-1953) que ela adorava na sua juventude. Imponente, chique e mordaz, Acheson comeu o pão que Asmodeu amassou nas mãos do senador Joseph McCarthy, que comandou uma caça às bruxas na administração americana. Bebum e mentiroso, ele acabou censurado pelos colegas. Morreu em 1957, levado pela cirrose e pela amargura.

Anos depois, ao escrever suas magníficas memórias, Acheson deu-lhe poucas e memoráveis palavras. Disse que, como o juiz Lynch (pai do verbo linchar) e do capitão Boycott (pai do verbo boicotar), o senador “enriqueceu a língua inglesa” gerando a palavra macartismo.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

O agro brasileiro ‘causa inveja em qualquer país’, diz presidente da Aprosoja - Revista Oeste

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Fábio Matos, colunista - Revista Oeste