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Aliás, quando lhe convém, Bolsonaro dá crédito à imprensa
profissional. “Quem é o responsável pela morte do capitão Adriano? PM da
Bahia, do PT”, disse o presidente num evento público no sábado 15. No
mesmo dia, o Palácio do Planalto soltou a seguinte nota: “A atuação da
PM-BA, sob a tutela do governador do estado, não procurou preservar a
vida de um foragido, e sim sua provável execução sumária, como apontam
peritos consultados pela revista VEJA. É um caso semelhante à queima de
arquivo do ex-prefeito Celso Daniel, onde o seu partido, o PT, nunca se
preocupou em elucidá-lo”. A nota oficial provocou reação imediata. Vinte
governadores criticaram a manifestação do presidente, que teria se
“antecipado a investigações policiais para atribuir graves fatos à
conduta das polícias e seus governadores”. Entre os signatários estavam
Rui Costa, da Bahia, e Witzel, que são pré-candidatos à próxima sucessão
presidencial.
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Morto aos 43 anos, Adriano valorizava a lealdade e a palavra empenhada. No seu entorno, enquanto sobram críticas e acusações a Witzel, impera o silêncio sobre a família Bolsonaro. Na última terça-feira, o presidente declarou: “Poderia interessar a alguém a queima de arquivo. O que ele teria para falar? Contra mim, não teria nada. Se fosse contra mim, tenho certeza de que os cuidados seriam outros, para preservá-lo vivo”. O fato é que Adriano da Nóbrega, que já se sentia no meio de uma disputa política quando estava vivo, virou definitivamente motivo de um cabo de guerra depois de morto. “Talvez seja um problema tão grave que ele deve acordar, almoçar, jantar e pensar nisso 24 horas por dia”, disse o governador Rui Costa, comentando as manifestações diárias do presidente sobre o caso. “É como se ele tivesse receio de que alguma coisa fosse descoberta.” A provocação do petista pega carona numa preocupação externada pelo próprio Bolsonaro.
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Seus parentes contam outra história: “Ele foi torturado dentro da
própria casa. Por isso contou para onde tinha levado o Adriano”. Na
semana passada, repórteres de VEJA foram detidos pela polícia baiana
quando tentavam entrevistar Leandro no município de Pojuca. “Como vocês
acharam esse endereço?”, perguntou um dos agentes. Outro personagem
fundamental para a compreensão do enredo é o motorista José Alves de
Macedo Neto, o Zezinho. Depois da frustrada batida policial para prender
Adriano da Nóbrega na Costa do Sauípe, Leandro indicou Zezinho para
levar a mulher e a filha mais nova do ex-capitão da Bahia para o Rio de
Janeiro. No trajeto, eles foram parados pela Polícia Rodoviária Federal.
Os policiais perguntaram a Zezinho quem o indicara para prestar o
serviço a Júlia Lotufo. Ele respondeu que tinha sido Leandro e, assim,
deu aos policiais a pista definitiva para a descoberta do esconderijo de
Adriano da Nóbrega.MATÉRIA COMPLETA, leia em VEJA
Publicado em VEJA, edição nº 2675 de 26 de fevereiro de 2020