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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Difícil compreender (por Maria Helena RR de Sousa) - VEJA

Confesso não conseguir compreender o motivo, ou os motivos, que levaram os militares a jogar fora o respeito que conquistaram do país ao longo dos anos que se sucederam à ditadura de 64. Trabalharam muito por isso e foram vitoriosos. Da triste imagem que deixaram dos vinte anos que dominaram o Brasil, os fardados passaram a ter o respeito e a admiração da sociedade, pelo modo como se portaram até 2018.
Dali em diante, tudo desandou na área das três Armas…
Não sei qual foi a mágica empregada pelo ex-militar Jair Messias Bolsonaro, que saiu do Exército expulso como tenente levando consigo a patente de capitão, como era praxe naqueles tempos. Julgado pelo ex-presidente General Ernesto Geisel como um mau militar, o neo capitão conseguiu, após 20 e tantos anos como deputado obscuro que foi, o apoio e os votos dos militares que o levaram para o Palácio do Planalto. [o presidente Bolsonaro foi eleito em 2018, com mais de 57.000.000 de votos e foi julgado sim, mas não pelo general Ernesto Geisel (que merece honra e respeito, mas, errou ao avaliar o capitão - o erro, ainda que eventual, também alcança os grandes estadistas)e sim pelo Superior Tribunal Militar, sendo absolvido.]

O fato é que sem tanques ou tiros, os milicos voltaram a comandar o Brasil. Hoje ocupam não sei quantos cargos na administração federal.
Passaram a comandar, prestem bem atenção, o Ministério da Saúde, sem passar nem meio dia numa faculdade de medicina. E mais, editam protocolos sobre o uso de uma droga recusada pelo resto do mundo como inútil para o Covid-19 e muito perigosa para a saúde de seus usuários. Até o inacreditável Donald Trump, que sem ninguém lhe perguntar foi logo avisando que tomava cloroquina diariamente, já voltou atrás e declarou que parou de tomar essa droga ao constatar seus terríveis e danosos efeitos colaterais.

Dizem, não sei se as más ou boas línguas, que os milicos se animaram com o fato de um ex-fardado ascender ao posto máximo da Nação, o que poderia levá-los a postos de comando que lhes daria um bom salário para complementar o soldo minguado que estavam recebendo nos últimos anos. Não quero acreditar nisso, mas como dizem na Italia, se non é vero, è bene trovato… Quero crer que a maioria dos militares esteja arrependida. Não posso acreditar que não os incomode esse Bolsonaro a espalhar pelo Brasil que tem as Forças Armadas a seu lado. Quem acredita nisso? Além dos três zeros que compõem a infame Bolsonaro & Filhos, creio que muito pouca gente. De qualquer modo, logo saberemos: vêm aí as eleições e se o coronavírus deixar, estaremos aqui para votar e então saberemos.
Alea jacta est…

 Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005.