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quarta-feira, 27 de julho de 2022

Em visita ao CFM, Bolsonaro é aplaudido depois de ironizar membros da CPI da Covid

Cristyan Costa

Presidente ouviu demandas da classe médica

 Durante uma visita ao Conselho Federal de Medicina (CFM) na manhã desta quarta-feira, 27, o presidente Jair Bolsonaro foi aplaudido por médicos, depois de o chefe do Executivo ironizar integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 (CPI da Covid), que deu dores de cabeça para o governo.
Médicos aplaudem Bolsonaro, durante visita do presidente a evento no CFM | Foto: Reprodução
Médicos aplaudem Bolsonaro, durante visita do presidente a evento no CFM | Foto: Reprodução

“Eu podia ter acabado com a CPI rapidamente, senador Marcos Rogério”, disse Bolsonaro. “Uma emenda do honestíssimo Omar Aziz e do Renildo  Calheiros, irmão do honestíssimo Renan Calheiros, cujo relator era o especialista em medicina intergalática, o Randolfe ‘fala fino’ Rodrigues, permitindo que prefeitos e governadores comprassem vacina em qualquer lugar do mundo.”

Visita de Bolsonaro não se ateve a críticas à CPI da Covid
No evento, Bolsonaro fez um discurso para médicos e exaltou ações do governo federal durante a pandemia de coronavírus. O presidente aproveitou para exaltar remédios, como a cloroquina. Em entrevista à Revista Oeste, pacientes disseram que se curaram do novo coronavírus usando o medicamento.

Entre as pautas abordadas, “estão pontos considerados fundamentais para a melhoria das condições do atendimento da população do país, em especial da parcela que depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS)”, informou o CFM, em nota.

“Para a superação desse objetivo, o CFM defende pontos como a valorização do trabalho médico por meio de políticas públicas específicas, o reforço da infraestrutura de atendimento em hospitais e postos de saúde; e o aumento da participação do Estado nos investimentos em saúde”, comunicou o órgão. “Além disso, o CFM considera necessário qualificar o processo de formação de futuros médicos.”

Leia também: “Conclusões da CPI da Covid”, artigo de Augusto Nunes publicado na Edição 84 da Revista Oeste

 Revista Oeste

 


A sinceridade de Bolsonaro - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que Jair Bolsonaro “acreditava sinceramente” que a cloroquina era um remédio eficaz contra a Covid-19. A esta altura, a pandemia já matou mais de 677 mil pessoas no Brasil. A doutora disse isso para respaldar o pedido de arquivamento das conclusões da CPI da Covid. É direito da Procuradoria-Geral da República acreditar sinceramente no seu pedido de arquivamento. Caberá ao STF decidir o que fazer com as denúncias.

Hoje, estima-se que de cada cem pessoas, 27 não acreditam que os astronautas americanos foram à Lua. Nesse grupo, 21 têm o ensino médio completo. Vinte em cada cem acham que a Terra é plana.

O relatório da CPI que a doutora prefere arquivar informa que no dia 24 de março de 2020 Bolsonaro anunciou, em rede nacional, que “o vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará”. Como? Talvez com a cloroquina. Voltou ao assunto no dia 24 de outubro: “No Brasil, tomando a cloroquina no início dos sintomas, 100% de cura”. Na véspera haviam morrido 566 pessoas, e o total de mortos estava em 156.528. [necessário lembrar que na ocasião do anúncio em rede nacional, no qual o presidente incluiu o advérbio talvez, não existia nada que fosse comprovadamente eficaz contra a pandemia; primeira dose de vacina aplicada ocorreu no reino unido no inicio de DEZEMBRO/2020, mesmo assim, nada garantia sua eficácia.
Em um quadro de incertezas, o direito de cada um acreditar, e defender, que acredita é aumentado. Ainda que milhões de brasileiro não tenham acreditado no presidente, não tiveram disponibilidade de um trtamento alternativo ao defendido pelo presidente.
Ainda hoje, as vacinas contra a covid-19 não são eficazes em evitar as contaminações pela covid-19 - felizmente, possuem elevada eficácia em reduzir a gravidade dos sintomas e a consequente mortalidade.]

Bolsonaro tem uma queda por substâncias e iniciativas mágicas. Acredita nos efeitos econômicos milagrosos do nióbio e do grafeno. Chegou a anunciar que visitaria uma empresa de militares americanos que pesquisa a transmissão de energia elétrica sem fios. Seria um milagre para a Amazônia. Felizmente, não foi à empresa.

Acreditar que a Terra é plana, que o homem não foi à Lua e que a cloroquina controla a Covid-19 é um direito de cada um. Cardeais e Papas acreditavam em coisas desse tipo. Em 1600, a Inquisição romana queimou Giordano Bruno por defender as ideias de Copérnico, para quem a Terra girava em torno do Sol. (A estátua de Bruno, no Campo das Flores, em Roma, informa: “Aqui ardeu a fogueira”.)

Em 2020, Bolsonaro demitiu dois ministros da Saúde porque não acreditavam nas virtudes da cloroquina. Bruno metia-se com ocultismos. Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich nunca se meteram com mágicas e não foram queimados.  [Teich até hoje não sabe as razões pelas quais aceitou o convite para ser ministro; já o Mandetta, a exemplo de Moro, tentou usar o cargo para conspirar contra Bolsonaro e formar cacife para disputar a Presidência da República. Ao que se sabe disputa com frequências partidas de sinuca]. Um terraplanista convicto pode ter acreditado sinceramente que a cloroquina controlaria a Covid-19. A diferença entre ele e Bolsonaro está na persistência da convicção do capitão e, sobretudo, no fato de ter se baseado nessa crença sincera para demitir dois ministros, irradiando a superstição enquanto pessoas morriam. Registre-se que ninguém morreu porque o vizinho achava que a Terra girava em torno do Sol e, desde o fim da Inquisição, ninguém foi queimado por isso.

Existem dois tipos de ignorância. A plena e aquela que, mesmo podendo ser sincera, é instrumentalizada. Os cardeais que mandaram Giordano Bruno para a fogueira podiam acreditar que a Terra era fixa, mas estavam interessados também em preservar seu poder. Quando a Inquisição chegava à Bahia, seus defensores queriam também tomar as propriedades dos judeus. No século XX, essa mesma instrumentalização alimentou o antissemitismo europeu.

Enquanto esteve na moda, a cloroquina pouco teve a ver com a sinceridade da convicção. A partir das evidências científicas de sua inutilidade, foi um instrumento político (e comercial em alguns hospitais e planos de saúde).

Folha de S. Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari, colunista


domingo, 13 de março de 2022

Promessa do gás - Elio Gaspari

 Folha de S.Paulo - O Globo 

Coalizão Brasil Clima, que reúne empresas, bancos e associações de agricultores, dissociou-se dos agrotrogloditas e do garimpo ilegal

Para o bem de todos e [IN]felicidade geral da nação, a Coalizão Brasil Clima, que reúne empresas, bancos e associações de agricultores, dissociou-se dos agrotrogloditas e do garimpo ilegal que tentam passar a boiada da mineração em terras indígenas por conta da guerra na Ucrânia.
Na parolagem, o caso é simples: o Brasil precisa de fertilizantes, eles vêm de lá e da Rússia. Cortada a linha de comércio, seria necessário minerar o potássio que está em terras indígenas da Amazônia.

[O que é a coalizão Brasil Clima? 

que poder efetivo, possui? 

O que a faz defender omissões que só prejudicam o Brasil - tanto na alimentação dos brasileiros quanto nas exportações? O que motiva ser contra o garimpo legal?  na prática equivale a ser favorável ao garimpo ilegal, ao contrabando. Não sendo permitido o garimpo legal, o garimpo ilegal aparece, toma de conta, predomina,  e com ele o contrabando, a criminalidade.

O correto, o justo, o legal, é que os indígenas tenham os mesmos DIREITOS e DEVERES dos demais brasileiros. Torná-los latifundiários de imensas reservas,  que não conseguem explorar,  só traz prejuízos para os demais brasileiros.

Tem estados do Norte que usam energia elétrica gerada com diesel - quanto poderiam usar a gerada em hidrelétricas, mais limpa e barata - apenas devido os índios não permitirem que as linhas de transmissão atravessem trechos das suas terras. = prejuízos para milhões de brasileiros. ] 

 
(.....)


 Confira aqui a explosão nos preços dos fertilizantes  - Matéria da Folha de S. Paulo

Promessa do gás
O ministro Paulo Guedes tem toda razão quando diz que a economia brasileira sofre o impacto de uma guerra depois de ter sido atingida pelo meteoro da pandemia.
 
Recordar é viver
Uma vinheta ilustrativa da pitoresca frieza a que recorrem os diplomatas profissionais:

No dia 21 de agosto de 1968, o embaixador brasileiro João Augusto de Araújo Castro estava na presidência do Conselho de Segurança da ONU e telefonou para seu colega soviético Yakob Malyk, convocando-o para uma reunião extraordinária.

Qual é a agenda? Perguntou Malik.

Na noite anterior as tropas soviéticas haviam invadido a Tchecoslováquia.

Folha de S.Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari, colunista - MATÉRIA COMPLETA

 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Rede vai ao STF para afastar do cargo secretário do Ministério da Saúde que condenou vacina e aprovou cloroquina - Lauro Jardim

O Globo

A Rede entra ainda hoje no STF com uma ação para tentar suspender a nota técnica do Ministério da Saúde que continha duas fake news. Nela, se afirmava que não existem comprovações científicas de eficácia e segurança das vacinas contra a Covid-19 e  bancava que havia esses predicados na cloroquina quando usada contra o coronavírus. [mais uma vez um partideco SEM votos, SEM representatividade que honre o adjetivo, SEM noção, SEM programa de Governo, tenta que o STF exerça atribuições de demitir ou nomear titulares de cargos de confiança do Poder Executivo.
O que revolta em tudo isso é que muitos cidadãos brasileiros, contribuintes, entenderem que  tais partidecos não sejam eliminados pela "cláusula de barreira" e continuem sustentados pelos contribuintes para que exerçam a única coisa que tentam fazer e mesmo assim, por absoluta incapacidade, fracassam = atrapalhar o governo Bolsonaro. 
Vale ressaltar que, ontem, talvez por um ato falho, a ilustre substituta do colunista Lauro Jardim/O Globo,  publicou matéria com uma chamada que deixava a impressão que o Brasil era a Coreia do Norte e a futura presidente do STF, na realidade seria empossada para substituir Kim Jong-Un ministra Weber. Felizmente, foi apenas um exagero.]
O documento, publicado na sexta-feira, foi assinado pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da pasta, Helio Angotti, um conhecido negacionista e olavista nomeado ainda na gestão de Eduardo Pazuello. [onde estão as fake news? 
a NOTA TÉCNICA contestada apresenta as razões para a tomada de uma decisão técnica. 
FAKE NEWS = notícia falsa e o conteúdo da NOTA TÉCNICA não é falso, não é mentiroso. 
Talvez, apenas talvez, a fundamentação da decisão possa ser contestada por erro técnico, o que não torna mentira o conteúdo da NOTA TÉCNICA
A pretensão do partideco e dos seus iguais,  que padecem dos mesmos SEM,  é governar via STF? 
Extirpar da Constituição Federal os trechos que cuidam da competência do Poder Executivo?] 

Mais: a petição vai requerer também o afastamento de Angotti. A Rede vai tomar como base para a ação uma decisão do próprio STF tomada em  maio de 2020, portanto nos primeiros meses da pandemia. Na ocasião, o Supremo decidiu que agentes públicos podem ser punidos cível e administrativamente se adotarem medidas que firam critérios científicos de autoridades reconhecidas, como a OMS, por exemplo. Em março de 2021, a OMS divulgou um comunicado alertando que o uso da cloroquina não dá resultado no tratamento contra a Covid e pode causar efeitos colaterais. [um comunicado da OMS, campeã em 'chutes' sobre a covid-19, tem força de lei?]

Lauro Jardim, colunista - O Globo


domingo, 12 de dezembro de 2021

A briga inútil do capitão com o almirante da Anvisa - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Agência tem razões para se orgulhar de sua conduta durante a pandemia. Barra Torres preservou a credibilidade da instituição, e evitou bate-bocas e provocações

Bolsonaro pintou-se para uma nova guerra: “Estamos trabalhando agora com a Anvisa, que quer fechar o espaço aéreo. De novo, porra? De novo vai começar esse negócio?”

A Anvisa nunca sugeriu que se fechasse o espaço aéreo mas, diante do surgimento de uma nova variante do vírus, o presidente anteviu uma nova batalha. Ele não gosta da vacinação, preferia cloroquina e prefere viver no mundo da negação, supondo que com isso defende a economia. Há um ano, Bolsonaro dizia que a vacina CoronaVac não seria comprada. Comprou-a. Condenava o isolamento social e teve que aceitá-lo.

De fato, pode ser que comece tudo de novo, porque o governador João Doria anunciou que instituirá o passaporte de imunização em São Paulo. Ele comprou a vacina chinesa e em janeiro começou a aplicá-la. [o 'joãozinho', segundo Bolsonaro o 'calcinha apertada' faz qualquer coisa para chamar atenção e o método mais eficiente para ter êxito é ser contra Bolsonaro.]

Arrumou um ministro da Saúde capaz de dizer que prefere perder a vida à liberdade, como se esse dilema estivesse na mesa. Depois de ter fritado dois ministros que tomaram o partido da ciência e de ter amparado um general desastroso, o capitão sente-se confortável com o médico Marcelo Queiroga. É seu estilo, mas não precisava chamar a Agência de Vigilância Sanitária para a briga. Primeiro, porque a Anvisa é um órgão independente. Além disso, porque está atirando em um quadro de sua tropa, o médico e almirante Antonio Barra Torres, cujo pecado seria ter traçado uma linha no chão, além da qual não pisaria.
O Brasil está chegando perto da marca de 300 milhões de doses aplicadas, com cerca de 65% da população imunizada. Apesar disso, Bolsonaro prefere procurar uma nova briga.

Barra Torres pode ser visto como um exemplo do oficial que atendeu ao chamado do capitão. Militar e cavaleiro da Ordem de Malta, foi colocado na direção da Anvisa e em março de 2020, quando os mortos pela Covid eram cinco, acompanhou Bolsonaro numa manifestação que desafiava a pandemia e o Supremo Tribunal Federal. Ele não se entendia com o ministro Luiz Henrique Mandetta e tinha tudo para virar um daqueles aloprados que o general Pazuello levaria logo depois para o Ministério da Saúde.

Recusou-se a patrocinar as virtudes da cloroquina e disse coisas desagradáveis, tais como: “Estamos trabalhando no mundo real, que é o mundo científico”, ou “Vamos deixar de bobagem e vamos vacinar”.

Quando foi pressionado, o almirante deu um recado críptico: “Meu limite está muito longe ainda. Tenho 32 anos de treinamento militar”. Como tem mandato e dirige uma agência independente, não cabia na frigideira em que foi jogado o general Santos Cruz. O almirante preservou a credibilidade da Anvisa, evitou bate-bocas e provocações. Não se colocou como um ativo contraponto à disseminação de superstições.

(...)

Destruição criadora
A financeira digital Nubank tornou-se o banco privado mais valioso da América Latina, superando as grandes casas brasileiras. Seu valor de mercado chegou a US$ 47,6 bilhões. Conseguiu isso em apenas oito anos de operações.
Oito anos parecem ser um tempo mágico para a destruição criadora do capitalismo no mercado financeiro de Pindorama. Fundado em 1943, o Bradesco tornou-se o maior banco privado do país em 1951. Como?

Amador Aguiar, seu patriarca, percebeu que os grão-senhores da banca não gostavam de gente com poucos sobrenomes e sapatos sujos. Diante disso, decidiu que as mesas dos gerentes ficariam na entrada das agências e os funcionários deveriam ajudar os clientes a preencher cheques. Em algumas cidades do Paraná, as agências do Bradesco chegavam antes da luz elétrica.

O Nubank e seus similares fazem coisa parecida no mundo digital de hoje, correndo atrás de uma fatia de consumidores deixada de lado pela grande banca. Facilitam os contatos com a clientela e abrem mão de taxas lucrativas, porém antipáticas.

Destruição destruidora
A gigantesca United Health, dona da operadora brasileira Amil, livrou-se de sua carteira de planos de saúde individuais, com 370 mil clientes. Pagou R$ 3 bilhões a uma financeira para que ela ficasse com os contratos e suas obrigações.
Para a empresa, foi um bom negócio, porque a operação dava prejuízo. Só o tempo dirá o que acontecerá com os clientes.

Na melhor das hipóteses, fica tudo igual.
Na pior, os clientes vendidos, quando desatendidos, deverão recorrer à Justiça.

No século XIX, a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro pôs um anúncio nos jornais pedindo aos donos de pessoas escravizadas que parassem de depositar negros doentes em seus cemitérios.

A Covid de Trump
Mark Meadows, chefe de gabinete de Donald Trump, revelou que o presidente-machão que desafiava o coronavírus foi ao debate com Joe Biden em outubro do ano passado tendo testado positivo para a Covid. Dias depois, levaram-no para o hospital com a taxa de oxigenação do sangue em 86%, indicando perigo para um homem de sua idade.

Melhorou a marca do tempo que se passa para que se conheça o estado de saúde de um presidente americano. 
A patranha segundo a qual estava tudo bem levou pouco mais de um ano para prevalecer.
Em 1963, depois de levar um tiro na cabeça, o presidente John Kennedy chegou morto ao hospital, mas esse detalhe levou tempo para ser aceito.

Em 1981, o presidente Ronald Reagan tomou um tiro no peito e sua turma espalhou que ele entrou no hospital fazendo piadas. Era mentira. Com um pulmão perfurado, tiraram-no do bico do urubu.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Clube Militar - A democracia e o “jeitinho brasileiro” - DefesaNet

Clube Militar
Palavra do Presidente

A democracia e o “jeitinho brasileiro”

Publicado na Revista do Clube Militar




Desde a chamada redemocratização do Brasil, com a saída dos militares do poder em 1985, ouve-se falar que finalmente vivemos em um País Democrático. Será?
 
Em uma definição bem simples, obtida no dicionário do Google, democracia é o governo em que o povo exerce a soberania.
 
Assim, os governantes escolhidos pelo povo deveriam cumprir seus mandatos para atender a vontade legal dos seus eleitores. A consequência natural da afirmativa anterior é de que as decisões atendam a maioria da população.
 
É isso que acontece hoje no Brasil?

Com a massificação do inventado “politicamente correto”, setores minoritários passaram a distorcer preceitos éticos e morais da maioria, criando uma narrativa de que são criminalizados, menosprezados e desrespeitados. Com isso, vem invertendo valores consagrados na sociedade para impor suas vontades ao grosso da população.
 
Assim, com discursos de vítimas, conseguem convencer os governantes de todos os poderes a impor suas pautas mesmo que contrárias à maioria que os elegeu.  Desta forma, os políticos que se vangloriam em dizer que são "politicamente corretos”, chegam a afirmar que “não estão ali para fazer o que a população deseja”. Isso dito por um ex-presidente da Câmara, a quem caberia definir pautas de votação. Dessa forma, pautas importantes para o desenvolvimento nacional ficam sendo esquecidas ou se arrastam nas diversas comissões formadas por parlamentares “escolhidos a dedo”, por partidos políticos cuja principal meta é não deixar o país crescer e com isso minar os avanços pretendidos pelos verdadeiros patriotas que, mesmo depois de eleitos, continuam defendendo o verde e amarelo.

Igualmente na contramão do que seja governar em uma Democracia, os nossos Senadores ignoram o clamor das ruas e não utilizam o poder que lhes foi conferido para criminalizar decisões ilegais tomadas por membros da Suprema Corte. Na figura que circula nas mídias sociais, que simboliza o infinito da impunidade, denúncias existentes entre alguns membros desses dois poderes (STF e Senado) são convenientemente engavetadas, prescrevem ou têm sua investigação proibida.

Desse modo, a democracia a “la Brasil” vai cerceando a vontade da maioria da população de extirpar da política e do judiciário, por meios legais, o que há de mais podre em nossa República, aparelhada há pelo menos três décadas e que institucionalizou a corrupção. Assim temos uma CPI, comparada a um grande circo midiático, que se esquiva de apurar os enormes desvios de recursos de aliados políticos para infernizar o governo de Militar um presidente porque não gosta de máscara ou porque se tratou da COVID com ivermectina e hidroxicloroquina. Alguns senadores, apoiados por uma mídia a beira da falência e pelos amigos do Judiciário, querem decidir o que os médicos podem ou não receitar a seus pacientes, impondo um patrulhamento nunca visto a esses profissionais.

O jeito brasileiro (dos vermelhos minoritários) está conseguindo, inclusive, fazer ressurgir das profundezas do cárcere o ex-presidente mais condenado por corrupção de nossa história, pipocando seus processos de vara em vara e anulando qualquer prova das condenações anteriores, até que um “Juiz amigo” arquive tudo ou deixe-os prescrever.
Não bastasse isso, para dar credibilidade ao apadrinhamento do “Poderoso Chefão”, perdeu-se a conta dos outros criminosos da quadrilha já soltos e articulando a volta para dar continuidade à destruição do país como fizeram seus idolatrados em Cuba e Venezuela por exemplo.

Deve-se ressaltar que o Brasil de verde e amarelo, verdadeiramente democrático, aos milhões, clamam por um país melhor, com retorno de suas liberdades individuais, como ocorreu no último dia 07 de setembro. Enquanto isso, defensores da baderna e da corrupção, enaltecendo a falsa democracia do jeitinho, em número inexpressivo com suas bandeiras vermelhas, mas com apoio de jornalistas inescrupulosos e manipuladores, tentam convencer ao mundo que o ex-presidiário lidera pesquisas eleitorais, esquecendo-se que hoje as imagens correm a internet em tempo real e mostram claramente quem está nos braços da população e quem não consegue aparecer em público.

Assim, de acordo com o jeitinho brasileiro protagonizado pelas minorias, Democracia é:

- fazer bola de futebol com a cabeça do Presidente da República;
- queimar patrimônio público;
- queimar o símbolo máximo da Nação, a Bandeira do Brasil;
- apedrejar policiais;
- exaltar ditaduras como China, Cuba, Venezuela, etc;
- defender e libertar  criminosos e corruptos;
- falar mal de integrantes do Poder Executivo Federal ou políticos de direita;
- elogiar os Ministros do STF; entre outros.

Esses integram o “Clube do amor”.

Já a Antidemocracia seria:

- falar mal de políticos de esquerda e Ministros do STF;
- ostentar a Bandeira do Brasil, demonstrando amor à Pátria;
- fazer manifestação pacífica;
- defender que médicos tratem livremente seus pacientes;
- não aceitar imposição de tratamento ou vacina experimental;
- querer a apuração de desvios de dinheiro público em todos os níveis;
- querer eleições com apuração transparente e voto auditável;
- querer criminosos e corruptos na cadeia; entre outros.

Esses integram o “Clube do ódio”.

Resumindo, na Democracia distorcida pelo jeitinho brasileiro, ser democrata quer dizer utilizar de todos os recursos antipatrióticos e até mesmo ilegais para impedir o retorno de um Brasil ético e moral, livre de corrupção, conforme foi decidido democraticamente nas eleições presidenciais de 2018.

Será que vivemos mesmo em uma Democracia?

 

Gen Div Eduardo José Barbosa
Presidente do Clube Militar

 

domingo, 24 de outubro de 2021

A imprensa doente - Revista Oeste

A “CPI da Covid” não está chegando realmente ao seu fim está acabando, isto sim, com as marcas mais deprimentes de uma agonia. Essa aberração, uma das mais alucinantes que o Congresso Nacional produziu em toda a sua história, já estava destruída por uma metástase terminal antes mesmo de começar
Foi armada para falsificar fatos, condenar inimigos políticos e fraudar as próximas eleições presidenciais, com uma tentativa grosseira de derrubar o presidente da República e evitar a sua candidatura em 2022; nunca teve, assim, a mínima intenção de apurar honestamente nenhum erro no combate à covid. Ao longo dos seis meses em que esteve viva, foi um trem fantasma que levou o país a patamares de baixeza nunca atingidos antes numa disputa política. Jamais apurou coisa nenhuma. 
 
Ocultou crimes. Comportou-se nos interrogatórios como uma delegacia policial de ditadura; ofendeu, perseguiu e pisoteou os direitos das testemunhas como cidadãos e como seres humanos. Mentiu a partir do primeiro dia, e não parou até o último. Entregou-se de corpo e alma ao falso testemunho e a provas que não convencem um aluno de curso primário. Não investigou coisa nenhuma só acusou, como se os interrogados fossem criminosos e já estivessem condenados antes de abrir a boca. Inventou, e jogou em cima do governo, crimes que não existem na lei brasileira. Não teve um único momento de luz. 
Era natural, nessas condições, que acabasse como acabou: num funeral de terceira categoria, com seus donos se comendo entre si e uma lista de acusações oficiais integralmente miserável na sua qualidade e na sua consistência.

Da política brasileira, em geral, pode se esperar tudo, e do Senado, em particular, não se deve esperar nada

Qual a surpresa? O relator da CPI, Renan Calheiros, é possivelmente o cidadão mais enrolado com o Código Penal Brasileiro que habita neste momento o Congresso Nacional — nove processos no lombo por corrupção estilo-livre, ou todos-os-estilos, fora 20 anos de frequência à seção policial mais pesada do noticiário político. O presidente é outra piada sinistra: vem do Amazonas, o Estado onde mais se roubou dinheiro público destinado ao combate da covid. (Num certo momento faltou oxigênio em Manaus, uma responsabilidade direta e elementar das autoridades locais; meteu-se a mão em tudo, por ali.) 

Ele mesmo, Omar Aziz, aliado direto da politicalha local, esteve envolvido até o talo em investigações de corrupção na área da saúde; sua própria mulher e irmãos chegaram a puxar cadeia fechada sob acusações de ladroagem no mesmo setor. Nenhum dos seus principais subordinados, com problemas que foram da inépcia à histeria, teve comportamento melhor. Nada mais natural, assim, que a CPI tenha acabado como está acabando — com acusações mútuas de jogo baixo entre os grupinhos que mandavam na operação, xingatório de mãe e falta de acordo, sequer, sobre a data de publicação do relatório. 
Pior: não se sabia até a última hora do que, exatamente, estavam acusando o governo. Nem isso, depois de seis meses inteiros sem pensar em outra coisa? Nem isso.
 
Da política brasileira, em geral, pode se esperar tudo, e do Senado, em particular, não se deve esperar nada — tudo normal, portanto, com o nível de qualidade infame da CPI. 
O que sobrou de mais chocante no caso, na verdade, foi o comportamento que a mídia considerada de elite, a começar pelo julgamento que ela faz de si própria, teve diante de todo esse desastre. A imprensa brasileira, a partir do primeiro minuto, renunciou à sua função profissional de levar ao público informações objetivas sobre os fatos ligados à investigação — e de fazer suas análises com um mínimo de lógica e respeito às realidades. 
Em vez disso, atirou-se a uma militância política aberta, agressiva e sem freios em favor do relator e do presidente da comissão, mais os seus ajudantes de ordem — como se, no seu conjunto, fosse uma espécie de jornal oficial dos donos da CPI e do condomínio de partidos políticos interessados na sua exploração. Foi assim que se viu, nos últimos seis meses, um espetáculo realmente notável: jornalistas empenhados em servir a Renan, a Omar e a todos os que se dedicam a usar a CPI como ferramenta para virar a mesa; agiram o tempo todo como polícia, delatores e assistentes de acusação. Continuam a agir assim.

O fato é que as duas figuras centrais da CPI, Renan e Omar, foram transformadas de abril para cá, por decisão da mídia, em dois dos mais notáveis patriotas que a República já produziu em seus 132 anos de existência. Como entender um negócio desses? Com outros personagens, quem sabe — mas com esses dois aí? Tudo bem: a imprensa brasileira sofre, já há anos, de uma síndrome que não tem cura — o ódio a Jair Bolsonaro, que é tratado como se fosse o ser humano mais calamitoso que já apareceu neste mundo desde o nascimento de Caim. É irracional, envolve questões de descompensação psíquica e, mais do que tudo, produz um subjornalismo de teor cada vez mais baixo — mas o que se vai fazer? A vida das paixões leva mesmo a esses territórios escuros, e o público já se acostumou à mídia que tem. O extraordinário, no caso, é o apagão geral da imprensa quanto aos dois gestores da CPI — uma espécie de “queda no sistema” que responde pela estabilidade básica da atividade mental das pessoas. Como é possível alguém ser jornalista profissional e, ao mesmo tempo, ser capaz de passar seis meses inteiros de CPI sem dizer, uma única vez, quem são — do ponto de vista penal — o seu relator e o seu presidente? Aí já é mais do que militância política; é desvario.

Tão surrealista quanto os crimes de cloroquina e de genocídio é o crime de falta de planejamento, uma das joias da coroa entre as denúncias

Se a mídia brasileira não conseguiu ou não quis conseguir — dizer para os seus leitores, ouvintes e telespectadores quem são os homens a quem entregou as suas manchetes e o seu horário nobre durante os últimos 180 dias, é natural, também, que tenha fornecido uma certidão oficial de acusação séria, legal e técnica a cada um dos delírios produzidos pela CPI. Todo tipo de ilegalidade, ou de simples estupidez, cometido pelos acusadores foi aceito sem um mínimo de olhar crítico — ou a mera verificação dos fatos — por parte da mídia. Testemunhas foram humilhadas na frente dos jornalistas sem se ouvir um pio. Insultos grosseiros foram tratados como perguntas legítimas. Publicou-se com a maior seriedade do mundo que um dos crimes cometidos pelo presidente da República foi ter permitido ou incentivado a distribuição de kits” com cloroquina — um tratamento absolutamente legal e publicamente reconhecido como válido pelo Conselho Federal de Medicina. 

Como assim, “crime”, se milhares de médicos em todo o Brasil receitaram cloroquina para os seus pacientes, e se o CFM atestou que cabe aos profissionais aplicarem as terapias que julgarem mais acertadas, como em toda e qualquer doença? E o “crime de genocídio”, então, expressamente descrito na lei brasileira como o conjunto de ações praticado com a intenção deliberada de destruir “grupo nacional, étnico, racial ou religioso?” 

Há seis meses a imprensa aceita as acusações formais feitas na CPI de que Bolsonaro cometeu genocídiouma denúncia tão patética que acabou sendo retirada pelos próprios acusadores. (Retirada contra a vontade de Renan, o herói número 1 da mídia.) Tão surrealista quanto os crimes de cloroquina e de genocídio é o crime de falta de planejamento, uma das joias da coroa entre as denúncias. Como adotar um “plano nacional” se, por decisão formal do STF, nenhum ato ou projeto do governo federal poderia interferir nas decisões das “autoridades locais”? Esse o nível das acusações oficiais da CPI. Esse é o nível em que a imprensa se colocou.

O coroamento da história toda foram as expressões de pesar explícito que ocuparam o noticiário quando os acionistas majoritários da CPI, divididos por mesquinharias pessoais, interesses contrariados e ambições mal definidas, chegaram aos dias finais brigados uns com os outros. A imprensa derramou lágrimas, então, lamentando a “desunião” entre os inquisidores — no “momento decisivo”, comentou-se, eles deveriam fazer uma frente única contra Bolsonaro, em nome de “todos nós”. Nós quem? Não o público em geral, com certeza — mídia e público caminham há muito tempo em direções opostas.

Renan é Renan, Omar é Omar. Mas a imprensa brasileira deveria ser outra coisa.

Leia também “Só no Brasil”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Avalie as “conclusões” da CPI antes de tirar as suas - Vozes

J. R. Guzzo

 
Relatório final

Eis aí: a CPI da Covid” afinal soltou, após muita briguinha e brigona entre os seus sócios-controladores, a famosa lista de crimes que, no seu entendimento, o presidente Jair Bolsonaro cometeu no combate à epidemia. Fica evidente, logo de cara, que algo deu profundamente errado: não aparece, entre os nove diferentes delitos imputados ao presidente, nenhuma denúncia de corrupção. Nada? Nada.

Tinha de aparecer, é claro: há seis meses o grupo que manda na CPI, a esquerda em geral e a mídia em particular prometem, sem descanso, que a qualquer momento iriam estourar casos de ladroagem capazes de mandar o governo todo para fora do sistema solar. Mas não apareceu nada.

Fake news? Segundo a definição das “agências de checagem de notícias”, do ministro Alexandre Moraes e do seu inquérito para salvar a democracia no Brasil, dizer durante 180 dias que a CPI vai descobrir corrupção, e no fim da linha não denunciar corrupção nenhuma, é notícia falsa, sim senhor.

Mas e daí? “Fake news”, por aqui, só funciona da mão direita da rua; sempre foi assim e continuará sendo, e ninguém precisa perder cinco minutos de sono por causa disso. O que chama a atenção é outra coisa: se nem a CPI, que é a mais desesperada ação contra o presidente da República desde a sua entrada no Palácio do Planalto, não encontra roubalheira, qual a seriedade que se pode ter com o resto das acusações?

Muito pouca, com tendência a nenhuma. Não foi só a corrupção que ficou faltando na festa. Vê-se, no fim das contas, que sumiu outra acusação monumental, tratada durante seis meses inteiros como a joia da coroa da CPI: o genocídio. Sumiu isso também, o genocídio? Sumiu.

Na hora de soltar a lista de crimes com a qual pretendem enfiar Bolsonaro na cadeia pelos próximos 80 anos, viram que não conseguiriam manter de pé durante cinco minutos a ideia de que ele fez o que a lei brasileira define como genocídio. Não é fácil, como se pode ler ali, o sujeito ser genocida neste país. Ele tem de destruir um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Precisa matar o grupo, ou impedir que haja nascimentos ali, ou fazer transferência forçada e maciça de suas crianças de um lugar para outro, além de outros horrores. Como seria possível acusar alguém de um negócio desses?

Se os crimes que não estão na lista são esses aí, os que estão seguem pela mesma trilha. Crime de epidemia? Isso, segundo diz o Código Penal, não é andar “sem máscara”, nem produzir “aglomeração” é disseminar germes patogênicos na população.  
Crime de charlatanismo? O que Bolsonaro fez não foi isso, pela lei: ele elogiou o uso da cloroquina, uma terapia declarada perfeitamente legal pelo Conselho Federal de Medicina. Crime contra a humanidade? Também não dá.

A qualidade das “conclusões” da CPI é essa. Vale a pena pensar um pouco antes de tirar as suas.

J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Defensoria Pública virou um X-Tudo - J. R. Guzzo

 O Estado de S. Paulo

Agora é o advogado dizendo para o médico qual o tratamento que ele deve dar ao paciente; o que o tratamento clínico de uma patologia poderia ter a ver com as funções legais da DPU?

Nada pode sair de bom de alguma coisa que nasceu ruim e, por ser ruim “organicamente, como se diz em português moderno, não está sujeita a nenhuma melhora, nunca. A “Defensoria Pública da União”, por exemplo – eis aí mais uma aberração do sistema judiciário brasileiro, inventada em 1994 e que, desde então, não perde nenhuma oportunidade de tumultuar a aplicação da justiça e prejudicar o interesse público. Essa “Defensoria”, infelizmente para todos, não se contenta em ser apenas um grosseiro cabide de empregos – o que já seria bem ruim mas, pelo menos, manteria o prejuízo limitado às somas que custam em dinheiro dos impostos. Também faz questão de mostrar atividade e, daí, consegue dobrar tudo o que tem de naturalmente nocivo.

MOSTRAR SERVIÇO – A tal Defensoria também faz questão de mostrar atividade e, daí, consegue dobrar tudo o que tem de naturalmente nocivo.

Seu último surto é o processo civil que acaba de mover contra o Conselho Federal de Medicina, pedindo uma “indenização” de R$ 60 milhões por um erro que jamais foi feito. A DPU, nesta ação, acusa o CFM de não ter proibido os médicos brasileiros de tratar pacientes de covid com substâncias farmacológicas como a cloroquina.

É isso mesmo: ela não admite que o CFM tenha deixado os médicos em liberdade para aplicar, com a permissão dos pacientes, as terapias que julgam mais adequadas, como em qualquer outra doença. É o advogado dizendo para o médico qual o tratamento que ele deve dar. Mais: é uma ação de pura e simples militância política.

NADA A VER Que raio um negócio desses – o tratamento clínico de uma patologia – poderia ter a ver com as funções legais da DPU? O organismo serviria basicamente, segundo a lei, para defender os direitos dos necessitados – ou seja, gente que precisa se defender legalmente e não tem dinheiro para pagar um advogado.

É um disparate, pois já existem defensores públicos pagos para fazer exatamente essa tarefa nas justiças estaduais; mas é o que está na lei. Muito bem: quais os “necessitados” que a DPU está defendendo nesse caso específico?   
Há algum pobre que se sinta prejudicado em seus direitos pelos médicos, e não tenha dinheiro para entrar com uma ação contra eles? 
Há alguém, aliás, reclamando alguma coisa? Não tem pé nem cabeça.
[A Defensoria Pública do DF, provavelmente prima da DPU, tentou processar o governo do DF por estar prendendo muito = o bandido cometia o crime era preso. 
Conforme  sabemos no Brasil tudo é na base da cota - cota disso, cota daquilo. O que nada vale é o mérito.
Então a Defensoria Pública do DF, percebendo que muitos bandidos estavam sendo presos, entendeu que a cota do número de bandidos presos estava elevada, decidiu processar o Governo do DF e assim adequar a cota. Confira:  - Justiça condena DF a pagar indenização por superlotação de prisão - A ação foi protocolada pela Defensoria Pública.
 
 
Passou algum tempo e o  processo não foi em frente, mas desde então que o número de crimes aumentou e o de prisão diminuiu.]

DEMÊNCIA GERAL – As atribuições da DPU foram ampliadas depois de sua criação, e hoje são um dos exemplos mais agressivos da demência geral que faz da legislação brasileira sobre “direitos” uma piada mundial.

Acreditem ou não, os advogados da “Defensoria” também estão encarregados de reduzir as “desigualdades sociais”, defender a “dignidade humana” e fiscalizar os “direitos fundamentais”, entre uma penca de outras atribuições que vão da proteção dos quilombolas à “conscientização da cidadania”. É um X-Tudo.

O que a aplicação do tratamento precoce da covid teria a ver com a redução das desigualdades sociais? 
E com os quilombolas, então?  
O Brasil, organizado assim, não pode dar certo. É por isso que não está dando.
 
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


Flávio Bolsonaro ataca Renan e diz que senador tem "ejaculação precoce"

Filho do presidente afirmou nesta quarta-feira (20/10) que relator da CPI da Covid não sabe "nada de direito". E aproveitou para atacar também a imprensa e defender o kit covid

Em sua chegada à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 antes da leitura do relatório, nesta quarta-feira (20/10), o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) direcionou fortes críticas ao relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL).

[Senador Flávio, que Calheiros e o direito (seja no sentido de antônimo de ERRADO, seja enquanto  ciência) não combinam é fato público e notório. Não conseguem conviver, se autoexcluem.  
Apenas nunca havia sido declarado na forma que Vossa Excelência fez. 
Torcemos  que o declarado pelo senhor não seja considerado um atentado a democracia
Em nossa opinião o senador Calheiros, devido seu passado de boiadeiro, possui bons conhecimentos de medicina veterinária, o qualificam como um prodigio de pecuarista.] 
 
 Em sua defesa ao governo federal, o filho do presidente afirmou que a classe médica é dividida no tratamento da doença no estágio inicial, defendeu o tratamento precoce e criticou Renan por propor seu indiciamento e o de Jair Bolsonaro (sem partido) por conta da promoção do tratamento precoce, como divulgação de informações falsas e também fez ataque à imprensa.

O relator Renan Calheiros tem uma ejaculação precoce. Ele se antecipa até a classe médica. O senador Renan Calheiros já não entende de direito e está provando também que não sabe nada de medicina. A própria classe médica é dividida, por exemplo, no tratamento da doença em estágio inicial. Há médicos que defendem e médicos que não defendem. O problema é que parte da imprensa, de uma forma maldosa e politizando a pandemia, quer atrelar o tratamento inicial de uma doença. Qualquer doença o quanto antes começar a ser tratada melhor, só com a covid que entendem que não é assim", disse. 

"A covid não é tratada só com cloroquina, ivermectina e hidroxicloroquina. Uma série de medicamentos são usados off label. Então por que a gente vai para o hospital? Se um médico quer tratar o paciente, isso é crime? Até hoje ninguém sabe (sobre a eficiência do tratamento precoce), por isso, jamais no relatório o senador Renan Calheiros deveria colocar algo de conclusivo no tocante a esse tema", concluiu

Apesar dos comentários em defesa do kit covid, autoridades de saúde de todo o mundo, como a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), FDA (agência dos Estados Unidos) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), desaconselham o uso de medicamentos defendidos pelo governo no tratamento do coronavírus, como cloroquina, ivermectina e azitromicina. [desaconselhar não significa proibir; o CFM - Conselho Federal de Medicina, que tem a competência legal para fiscalização do exercício da medicina, a atividade médica, concede aos médicos o direito de escolher o tratamento adequado aos seus pacientes - se obrigando apenas a solicitar a concordância dos doentes que estão sob seus cuidados.]

Política - Correio Braziliense


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O recomeço - Com avanço da vacinação, a vida começa a ser retomada em todo o Brasil - VEJA

Países reabrem as portas aos brasileiros, escolas retornam 100% presenciais, shows e peças voltam aos palcos. O pior da pandemia... 

Em um dos trechos mais conhecidos do clássico Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, o personagem Riobaldo sintetiza o que é a passagem da vida. “O correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” Há quase dois anos, a humanidade aprende, dia a dia, o que significam as palavras do jagunço criado pela cabeça brilhante de Guimarães Rosa. O medo de um vírus desconhecido, a angústia do isolamento, a esperança com a vacina e a montanha-russa de emoções com o sobe e desce de casos nos colocaram em um ciclo que parecia infinito de esquenta e esfria, de aperta e afrouxa, de sossega e desinquieta. Hoje, porém, depois de 22 meses de pandemia, na escala de Riobaldo estamos mais perto do sossega. Aos poucos, a vida retorna sem tanto sobressalto e comemoramos, enfim, a retomada. É um retorno que vem cheio de questionamentos e emoções inesperadas. Surpreende, por exemplo, a alegria de poder ir de novo ao mercado e escolher a fruta preferida sem medo – ou com menos medo. Ou o prazer ao ver o time de novo da arquibancada. Boa parte do mundo está vivendo essa experiência de renascer de um jeito diferente. No Brasil, já se planeja o Carnaval de 2022, enquanto nos Estados Unidos o infectologista Anthony Fauci, conselheiro para assun­tos de saúde do governo americano, liberou a criançada para brincar no Halloween. “Se você estiver vacinado, pode aproveitar a brincadeira”, disse Fauci.

O caminho para chegar até esse ponto não foi fácil e ele só se tornou possível graças aos enormes sacrifícios feitos para a adoção de temporadas de isolamento social e da histórica contribuição da ciência no desenvolvimento de imunizantes em tempo recorde. Mas o fato é que a atmosfera está completamente diferente da vivida há um ano — e o Brasil tem também motivos para uma comemoração cautelosa. É verdade que o governo fez de tudo para sabotar as medidas necessárias de combate à doença, mas, quando ficou claro que a esmagadora maioria da população queria vacina no braço (e não a cloroquina propagandeada por Bolsonaro), a oferta de doses de proteção foi se multiplicando e a campanha de imunização mostrou-se efetiva para reduzir números de óbitos e de contaminações. Chegou-se a ponto de algumas cidades começarem a discutir o afrouxamento das regras de uso de máscara de proteção em ambientes ao ar livre, sem que isso soe como negacionismo.

Estimulados por essa perspectiva otimista, comércio e turismo, dois dos segmentos mais afetados pela pandemia, preparam-se para um retorno que deverá ser suficiente para injetar o fôlego necessário para a recuperação. As projeções de Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers, dão o tamanho da expectativa. “Vai ser um grande Natal”, diz. “Neste ano, esperamos crescer em vendas cerca de 60% em relação ao ano passado, ficando próximo do aumento registrado em 2019”, diz. Empresários do setor de turismo têm esperanças semelhantes. Os cruzeiros, por exemplo, estarão de volta, gerando 35 000 empregos e 2,5 bilhões de reais em receitas, segundo a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos. 

O segmento todo calcula a criação de 600 000 postos de trabalho e o aumento das receitas em 4,6% neste ano comparado a 2020. Um bom termômetro são os índices do Airbnb, plataforma de aluguel de imóveis. As reservas ultrapassaram os níveis dos tempos pré-Covid e, em municípios com mais de 50 000 moradores, subiram 50%. Fernando de Noronha e Ilhabela, duas das ilhas mais famosas do país, estão apostando nas comemorações de fim de ano depois de passarem o réveillon de 2021 sem festas. Em Ilhabela, no Litoral Norte paulista, não há mais barreira sanitária para visitantes desde agosto. Em Noronha, a reabertura gradual começou em setembro do ano passado. “Estamos em uma situação que nos deixa tranquilos e esperançosos para a retomada”, afirma o administrador do arquipélago, Guilherme Rocha. A Pousada Zé Maria, a mais famosa da ilha, ainda vende ingressos para a sua concorrida festa de réveillon, mas não tem mais vagas para hospedagem nesse período.

Durante os quase dois anos de pandemia, as engrenagens do circuito de shows e eventos também foram duramente afetadas. Felizmente, o vento mudou para quem trabalha no segmento. Em São Paulo, a partir do dia 1º de novembro não haverá mais restrições para a lotação de público em casas de shows e serão permitidos espetáculos ao vivo com as pessoas em pé.

Em VEJA, Matéria Completa 

Publicado em VEJA, edição nº 2760 de 20 de outubro de 2021


segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Atos de sábado decidem destino do impeachment

Sem ruas cheias e com políticos arredios, a possibilidade de afastamento diminui

[todos sabem, inclusive e especialmente a turma da mídia militante, que NÃO TEM IMPEACHMENT para o presidente Bolsonaro e pelas razões mais simples:
- faltam os crimes de responsabilidade;
- falta povo nas ruas pedindo a saída do presidente; e,
- falta o voto de no  mínimo de 342 deputados para que um pedido de impeachment,  eventualmente encaminhado por Arthur Lira aos deputados para análise, se transforme em processo.
A insistência no tema deve-se a que acusar Bolsonaro - ainda que com acusações ridículas - e difundir esperanças vazias da saída do capitão rende holofotes e a maior parte da turma da mídia militante tem que cumprir pauta.]

As manifestações anti-Bolsonaro marcadas para o próximo sábado, 2, decidem o destino do projeto de impeachment do presidente. A tendência hoje é que o evento tenha centenas de milhares de pessoas, mas fique restrito aos eleitores de PT e PSOL, repetindo o ocorreu nos maiores atos ao longo da pandemia. Só que para destravar o impeachment de Bolsonaro, é preciso muito mais.

Bolsonaro mentiu desenfreadamente no discurso na ONU, na semana passada, mas disse uma verdade ao chamar de histórico as manifestações de Sete de Setembro, que juntaram centenas de milhares de pessoas em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e outras capitais. Foram as primeiras marchas golpistas desde os anos 1960 e demonstraram que o presidente tem uma capacidade de mobilização que o protege. Para fazer o Congresso enfrentar a fúria bolsonarista e abrir um processo de impeachment, seria necessário que os atos deste sábado fossem na casa dos milhões de pessoas. Não é o que parece que vai acontecer.

Líder nas pesquisas [nas pesquisas da Fakedata e de um instrituto que criaram agora para concorrer com a Datafake.] , Luiz Inácio Lula da Silva tende a não comparecer alegando cuidados com a Covid. Temendo vaias dos petistas, os pré-candidatos tucanos João Doria e Eduardo Leite também querem um pretexto para não ir. Por enquanto, só Ciro Gomes está confirmado. [Ciro Gomes talvez finja que vai aparecer; afinal, ele é corajoso (ou covarde?) o bastante para colocar um irmão para levar tiro no lugar dele - aconteceu durante o motim da PM do Ceará.]

O governo Bolsonaro é rejeitado por três de cada cinco brasileiro e a maioria absoluta quer o seu afastamento. [quer? como sabem disso? aliás, como tem 3/5 de rejeição e enche as ruas; já o ladrão petista tem, segundo a mídia militante 8/5 de aprovação e evita as ruas - alegando medo da Covid.] O número de pedidos pedindo a abertura de um processo de responsabilidade protocolados na presidência da Câmara já está perto de 200. A CPI da Covid deve se encerrar com um novo pedido, responsabilizando Bolsonaro diretamente pela morte de 100 mil brasileiros pelo atraso na encomenda de vacinas e incentivo ao uso de remédios charlatães, como a cloroquina. Mas isso não basta para forçar o presidente da Câmara, Arthur Lira, a colocar o processo para andar. É preciso povo na rua e acordo nos bastidores. [não tentem acusar Arthur Lira por não colocar os pedidos de impeachment em apreciação; ele sabe que não passam - houvesse a menor chance de um pedido se transformar em processo o deputado Maia, vulgo Botafogo, teria colocado em votação quando presidia a Câmara.]

Além do medo natural de contaminação pelo coronavírus, os protestos têm falhado pela falta de um mínimo de coordenação nas oposições. Ninguém confia em ninguém. Faltando só um ano para a eleição, os candidatos acham mais simples enfraquecer Bolsonaro e derrotá-lo nas urnas do que se juntar e bancar uma substituição que será complicada e de confrontos nas ruas. Se houvesse um impeachment, o sucessor seria o vice Hamilton Mourão. 
Ninguém o conhece ou sabe quais seriam suas ambições se assumisse a cadeira presidencial. 
Faria uma transição pacífica ou se prepararia para ser ele mesmo o candidato herdeiro do bolsonarismo? 
Na dúvida, ninguém arrisca. [o general  Mourão jamais trairia Bolsonaro - os militares consideram a lealdade algo inegociável 'minha honra é lealdade' - ocorrendo o impedimento de Bolsonaro, certamente o capitão apoiaria seu vice.]

Mas além do enigma Mourão, os partidos querem um Bolsonaro fraco. Com o presidente neste nível de rejeição, Lula teria vitória garantida no segundo turno. [repórteres, até os competentes, tem o direito de sonhar = é de graça e melhor quando o sonho combina com a pauta.] Para a oposição de direita, a única chance de vitória seria que os eleitores de Bolsonaro o abandonassem em troca de outro candidato que jure ser tão antipetista quanto ele. Por isso, como observou o colunista Bruno Boghossian, da Folha, João Doria e Eduardo Leite iniciaram suas campanhas com ataques ao PT. [atacar o PT é tarefa fácil, afinal aquele que dizem ser a principal liderança do 'perda total' é, comprovadamente,  o maior ladrão do Brasil.] Para Lula, Doria e Leite o impeachment cria mais incertezas do que vantagens. Neste domingo (26/09), o presidente completou 1.000 dias no cargo. Sem milhões de eleitores nas ruas e com os políticos arredios, Bolsonaro garante os 460 dias restantes do seu mandato. [que terminará engatando já no primeiro dia do segundo mandato.]

 Thomas Traumann - Blog em  VEJA

 

Demissão de Alexandre Garcia diz muito sobre quem a celebrou - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr.

Hoje queremos compartilhar com você uma análise sobre a demissão do jornalista Alexandre Garcia da CNN Brasil. Uma visão diferente que você não irá encontrar em outros veículos.

Quem escreveu sobre isso na Gazeta do Povo foi o colunista Paulo Polzonoff, uma das figuras mais afiadas na análise política brasileira. Nosso colunista crava: a demissão de Alexandre Garcia diz muito sobre quem a celebrou.

Veja um trecho da opinião do Polzonoff:

Para a surpresa de ninguém além da minha porção mais ingênua e esperançosa, a maioria dos comentários dos nobres colegas que recebi celebrava a demissão de Alexandre Garcia como um sinal de que “as coisas estão voltando ao seu devido lugar”, “o negacionismo está perdendo força” e “genocida não tem que ter liberdade mesmo”.

Deve ser difícil para os que se refestelam na semidesgraça alheia essa constatação evidente de que nunca (!) a destruição do outro será capaz de salvá-los.

Na sexta-feira, os poucos grupos de jornalistas de que faço parte estavam em polvorosa. O motivo: um dos nossos, que atende pelo nome de Alexandre Garcia, foi demitido da CNN Brasil. A justificativa para a demissãoanunciada com estardalhaço pela própria emissorafoi o fato de Garcia defender o chamado tratamento precoce contra a Covid-19. Mas se engana quem acha que este texto diz respeito ao futuro profissional do jornalista ou à decisão da emissora.


Engana-se quem acha que este texto diz respeito ao futuro profissional do jornalista ou à decisão da emissora.| Foto: Reprodução/ Twitter

Para a surpresa de ninguém além da minha porção mais ingênua e esperançosa, a maioria dos comentários dos nobres colegas celebrava a demissão de Alexandre Garcia como um sinal de que “as coisas estão voltando ao seu devido lugar”, “o negacionismo está perdendo força” e “genocida não tem que ter liberdade mesmo”. Não faltaram emojis de festa & regozijo. Transbordaram os slogans – atalho eficientíssimo na busca por likes sem que seja necessária muita capacidade cognitiva.

Na mesma noite, uma frase de “A Morte de Ivan Ilitch” – que em outro dia talvez passasse despercebida – me chamou a atenção. (Aliás, me permita abrir um parêntesis aqui para criar uma polêmica vazia e sem maiores consequências e dizer que as 92 páginas da novela de Tolstói, por sua profundidade, simplicidade e gravidade, são infinitamente superiores ao sarcasmo falsamente profundo, simples e grave de Machado de Assis. Pode fechar os parêntesis agora, maestro).

Nesse trecho do livrinho, Ivan Ilitch começa a adoecer. Os incômodos da doença fazem com que ele se desentenda com a esposa – que já não tem lá o mais agradável dos gênios. Ela começa a desejar a morte do marido. Mas, ao se dar conta do que isso representaria para as finanças da família, repreende-se. E daí vem a frase que chamou minha atenção (sublinhei à caneta e tudo) e que gostaria de compartilhar com os leitores: “Ela [a esposa] considerava-se terrivelmente infeliz justamente porque mesmo a morte dele [o marido] não poderia salvá-la”.

Deve ser difícil para os que se refestelam na semidesgraça alheia essa constatação evidente de que nunca (!) a destruição do outro será capaz de salvá-los. Pressupondo, claro, que eles sejam capazes de tal abstração. Para além do cala-boca e da humilhação pública de qualquer pessoa, o que há senão a infelicidade persistente dos homens pequenos que, feito criança birrenta, desejam ver sua visão de mundo triunfar sobre as demais?

Tratamento popular
Volto ao assunto da demissão de Alexandre Garcia no fim do texto, mas antes gostaria de trocar dois dedinhos de prosa sobre um tema que, até hoje, esteve ausente das minhas crônicas: o tratamento precoce. Calma! Segura aí sua apreensão ou indignação que não estou aqui para dar o argumento definitivo pró ou contra o uso deste ou daquele remédio. Meu olhar é outro.

Apesar dos esforços de toda uma casta, o uso disseminado de cloroquina e ivermectiva no tratamento popular da Covid-19 é uma realidade incontornável. As pessoas usaram, usam e usarão. As pessoas desejam usar. O fato de a ciência ter legado esse tratamento à lata de lixo da história médica não muda absolutamente nada. Isso porque o tratamento popular contra a Covid-19 não tem mais muito a ver com medicina. À revelia do que dizem as revistas científicas e da autoridade dos homens de jaleco, ele hoje é indissociável de uma característica inata do ser humano: a esperança.

Além disso, para a Maria ou o João (ou Paulo ou Daniele), nem todas as estatísticas e termos científicos e latinórios e letras gregas do mundo são capazes de ir contra aquilo que os olhos viram, os ouvidos ouviram e, em alguns casos, o pulmão sentiu. As evidências anedóticas, isto é, o vizinho ou parente que se curou da Covid-19 porque fez uso do tratamento popular (e na vida real essa associação é inegável), valem muito mais do que qualquer palavra de especialista.

É essa a realidade que os militantes antitratamento popular não enxergam: nada do que um PhD diga vai se sobrepor àquilo que os sentidos perceberam. Ainda mais numa situação de caos e ruído como essa pandemia. Somos humanos, temos medo e esperança. E, por isso mesmo, é difícil encontrar entre os homens livres quem não esteja disposto a ignorar quaisquer discursos políticos e científicos para domar o medo se esbaldando na esperança.

Reticência
De volta à pandemia de Schadenfreude que tomou conta das redes sociais por conta da demissão de Alexandre Garcia, antes de mais nada gostaria de sugerir a leitura da bela coluna de Luciano Trigo aqui nesta Gazeta do Povo. Por causa dela, no fim de semana recorri a umas fontes estoicas e encontrei uns escritos que combinam muitíssimo com a ocasião. “Grandes homens cultivam o amor; apenas os homens pequenos cultivam o espírito do ódio”, disse, com uma obviedade incômoda, o educador Booker T. Washington. Justamente ele, que tinha tudo para apostar no ressentimento, na divisão e na vingança. Afinal, quando Washington nasceu a escravidão ainda era uma realidade nos Estados Unidos. E ele enfrentou racismo e todos os tipos de adversidade para se tornar conselheiro de vários presidentes daquele país.

As perguntas que gostaria de estender aos homens pequenos (à direita, à esquerda, isentões e transversais) que celebram a destruição do inimigo apesar de essa destruição ser insuficiente para salvá-los são estas
- qual a sua justifica para ser tão pequeno? 
- O que você espera conseguir por meio dessa pequenez? 
- Os likes e toda a atenção que sua pequenez possa despertar nas redes sociais o torna uma pessoa melhor – ou até mesmo mais feliz?
E aqui, acredite se quiser, eu pretendia lutar contra minha ojeriza a textos que terminam com pergunta e encerrá-lo assim, com esse horroroso ponto de interrogação aí. Mas não deu. Então vou encerrá-lo com outra excrescência estilística que me dá arrepios. Vou terminar o texto com “profundas” reticências, como se meu pensamento, de tão elevado, tivesse o poder de pairar no ar. Como se minhas palavras fossem névoa, e não bigorna. Reticências.

Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES