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quarta-feira, 2 de março de 2016

Por que o Estado Islâmico é muito islâmico



O Estado Islâmico é um subproduto daquilo que é programático em Al-Azhar. A universidade de Al-Azhar diz que deve haver um califado e que é uma obrigação do mundo islâmico [criá-lo]".
Lewis Carroll colocou na boca de sua mais famosa criação literária, Alice, um diálogo que ele próprio jamais poderia imaginar que seria tão útil para explicar o conflito pelo qual passa a civilização ocidental, mormente no século XX. Certa feita, em Alice no País das Maravilhas, Alice está a conversar com a Rainha Branca sobre a possibilidade de se pensar em coisas impossíveis

A Rainha exorta a Alice que faça isso, ao passo que esta replica que isso já, por si mesmo, seria impossível; não satisfeita, a Rainha diz que é uma besteira e conta que ela própria costumava pensar todos os dias, por meia-hora, antes do café da manhã, sobre coisas impossíveis e com esse exercício conseguia pensar em ao menos 6 delas por dia. 

Somos diariamente bombardeados com coisas impossíveis (com a ressalva que não em forma de experimento mental, mas em forma de possibilidade ontológica viável): nacional-socialismo que não é socialismo, socialismo que não foi socialismo (!) e outras impossibilidades que muitos tentam vender ao mundo civilizado e que pretendo cobrir nesse artigo e, ainda, estão longe de ser as meras platitudes que aparentam: o Estado Islâmico que não é nem estado nem islâmico e a ideia que o islamismo é uma religião da paz. 

 Vários pontos mostram o caráter impossível dessas duas arraigadas farsas. A primeira que quero apontar tem relação com a natureza mesma do islam. Ao contrário do cristianismo, essencialmente ocupado do cultivo das almas como sementes que florescerão no paraíso pós-vida, o islamismo apresenta um plano completo de realização na terra: tem direito próprio (a famigerada sharia), economia própria (KUNG, p. 679-692), um extenso quadro de recomendações sobre o trato com oskafirs” (não-muçulmanos) – que é maior que o quadro com recomendações para a vida do devoto islâmico, recomendações sobre a escovação dental (presentes nas “hadith” – os “ditos” do profeta Maomé) e até sobre como bater em sua mulher de forma apropriada.