A Amazônia tem diante de si uma ameaça maior do que a cana, a do plantio de soja
As ameaças à floresta amazônica vão muito além do fogo e aumentaram
depois que as queimadas saíram de cena, em meio ao espanto internacional
causado pela omissão ativa do governo de Jair Bolsonaro. O desmatamento
continua crescendo a ponto de tornar inviável a meta de reduzi-lo em
80% até 2020, obrigação assumida pelo Brasil nas Conferências do Clima. O
governo brasileiro não só não está muito interessado nisso, como passou
a trabalhar ativamente para que a livre exploração de terras amazônicas
possa ocorrer sem entraves legais ou barreiras de nenhuma espécie.
[O Brasil, especialmente o Governo Bolsonaro, tem que ficar atento as interpretações xiitas sobre a Amazônia.
Se o objetivo dos xiitas é manter a Amazônia intocada, uma vitrine de luxo, destina a ser saqueada em um futuro próximo por ambientalistas estrangeiros, ela não serve os interesses soberanos do Brasil.
Condenam as queimadas, condenam a pecuário, condenam o plantio da cana, começam a falar mal da soja, condenam restrições eventuais ao abuso da imensidão das reservas indígenas - milhares de hectares para poucos índios - querem impedir qualquer atividade que traga o progresso para a região e propicie a melhora das condições vida dos que lá habitam, incluindo os índios.
Para completar o deputado Rodrigo Maia, passou a agir como INTERVENTOR GERAL SUPREMO da Amazônia, quando decreta: "vai
arquivar o projeto do governo para mineração em terra indígena, acha
“inacreditável” a moção de repúdio aprovada pela comissão presidida por
Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) contra o presidente eleito da Argentina e diz
que preservar o meio ambiente é a forma de proteger a economia."
Matéria em O Globo - Míriam Leitão - Maia atua nas falhas e omissões]
A Amazônia já é uma terra de ninguém, mesmo com proteção legal
existente, que é frágil, carece de recursos, pessoal e fiscalização.
Anteontem, o presidente Jair Bolsonaro, a ministra da Agricultura,
Tereza Cristina e o ministro Paulo Guedes, da Economia, por meio do
decreto 10.084, revogaram decreto de 17 de setembro de 2009, que
estabeleceu o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar e, em função
dele, normas para o financiamento do setor. O zoneamento excluiu a
possibilidade de exploração da cultura na Amazônia, no Pantanal e na
Bacia do Alto Paraguai.
O governo julga a legislação obsoleta, mas ela foi efetiva para afastar
mais um meio de pressão sobre a floresta e, tão importante quanto, criar
um selo verde informal para o etanol brasileiro como alternativa
bem-sucedida de energia mais limpa e menos agressiva ao ambiente. Graças
ao decreto, apenas 144 mil hectares, ou 1,5 % da área total plantada
com cana no país, estão na Amazônia.
A penada do governo em uma iniciativa bem-sucedida não resultará na
invasão da floresta por vastos canaviais porque boa parte da região é
inapta para o cultivo. Mas a ocupação produtiva nas franjas da floresta
ocupada por pastagens, por exemplo, empurrará os bois mais para dentro
da floresta, uma das linhas de frente do desmatamento contínuo da
região. A posição oficial é deplorável do ponto de vista ambiental e
visa continuar com o desmonte legal e institucional dos meios de
proteção da Amazônia, em nome da liberdade de produção sem freios. É
obscurantista e retrógrada, porque há uma grande quantidade de terras
disponíveis para isso fora dos biomas protegidos.
A Amazônia tem diante de si uma ameaça maior do que a cana, a do plantio
de soja, da qual o Brasil é o maior exportador mundial. Após contar com
o beneplácito do governo e do presidente Jair Bolsonaro, a Associação
dos Produtores de Soja abriu campanha contra a “moratória da soja”, um
acordo feito entre a Abiove (produtores de óleo vegetal) e 13 tradings,
entre as maiores do mundo, para que não fossem comprados e
comercializados grãos produzidos em áreas desmatadas após 22 de julho de
2008. O estopim para a campanha, que desembocará no Cade contra o
suposto cartel, que estaria impondo condições aos fornecedores, parece
ter sido a ação dos organizadores da moratória para barrar o avanço do
desmatamento a partir da nova fronteira agrícola do Matopiba (Maranhão,
Tocantins, Piaui e Bahia) e no norte do Pará.
A moratória da soja tornou-se um caso de sucesso internacional. Na
prática, a área com soja no bioma amazônico desde 2006 mais do que
quadruplicou de 1,1 milhão para 4,66 milhões de hectares em 2018 (Valor,
7 de novembro), mas dentro de padrões ambientais aceitáveis. A Aprosoja
argumenta que têm o direito de desmatar até 20% da propriedade no bioma
amazônico e em 65% no Cerrado, e que não podem ser discriminados por
isso. A esse argumento fez eco um secretário da Casa Civil, Abelardo
Lupion, que disse que era preciso “acabar com essa palhaçada da Abiove”.
O direito ao desmate precisa ser qualificado. 12% da soja cultivada na
Amazônia e no Cerrado, numa área de 2,6 milhões de hectares, ocorre em
imóveis sem Cadastro Ambiental Rural (Luís Paulo Guedes e Toby Gardner,
Valor, 31 de outubro). Por pressão da bancada ruralista, foi aprovada
uma MP que acabou com o prazo legal para esse cadastramento.
Destinar dinheiro do Fundo da Amazônia para regularizar terras de
grileiros, abrir as áreas indígenas para mineração e outras atividades,
restringir a ação do Ibama contra madeireiros ilegais são ações que se
sucedem sem parar, fruto de planejada e insistente intenção de pôr fim a
restrições legais à exploração privada sem limites dos recursos
naturais do país. A soja, porém, é o carro chefe das exportações
brasileiras de commodities. O prejuízo pode ser é severo.
Editorial - Valor Econômico