Mãe que teve filha morta por caseiro luta para manter condenado na cadeia
[o verme Bernardino foi condenado a 65 anos de prisão, que foram reduzidos para 52, que somados aos 58 anos de condenação pelo estupro e tentativa de homicidio, resultada em 110 anos de prisão.
Pela generosidade das leis penais - sempre generosas com os bandidos - o cômputo do cumprimento de um sexto da pena é aplicado apenas sobre os 52 anos e não sobre os 110 da soma das penas e que resultaria, no mínimo, em 18 anos em regime fechado.]
Cristina Del'sola lamenta a possibilidade de um dos assassinos da filha ser beneficiado pela progressão de regime, do fechado para o semiaberto. Para ela, caso serve de exemplo para que "outras Marias não se tornem vítimas nas mãos dele"
“Eu não quero vingança, eu apenas não quero que nenhuma outra mãe seja
alvejada como a minha família foi”. Assim reagiu Cristina Del’Isola,
mãe da jovem Maria Cláudia Del’Isola, ao avaliar a possibilidade de
concessão de um benefício àquele que assassinou a filha dela, em 2004.
No último dia 12, o ex-caseiro da família da vítima Bernardino do
Espírito Santo Filho obteve a progressão de pena em regime fechado para
semiaberto. Ele ainda não saiu às ruas porque aguarda exames
psicológicos que possam atestar a condição de reintegração. “O perfil
dele é de psicopata. A minha necessidade é sensibilizar as autoridades à
frente dessa decisão para que outras Marias não se tornem vítimas nas
mãos dele”, argumenta Cristina.
Ao tomar conhecimento da decisão na segunda-feira, Cristina,
presidente do Movimento Maria Cláudia, preferiu silenciar. Mas a
situação fez com que a mãe relembrasse toda a tristeza provocada por um
dos crimes mais bárbaros da história de Brasília. Em 9 de dezembro,
completaram-se 12 anos do homicídio. Bernardino e a então namorada, a
empregada doméstica da casa, Adriana de Jesus Santos, foram condenados
pelo assassinato. Segundo a investigação, eles abordaram a garota
quando ela saía de casa, no Lago Sul, para a faculdade. A dupla
imobilizou e agrediu Maria Cláudia, e, depois, o homem a estuprou. O
corpo dela foi encontrado três dias depois, enterrado debaixo da escada
da residência dos Del’Isola.
“Foram
quase três anos de convivência dele (Bernardino) com a família, e ele
se mostrou dissimulado com todos. O que quero lembrar neste momento é
que perdi a minha filha de uma forma brutal e monstruosa. O fato é que
estamos diante de um assassino inescrupuloso. A minha preocupação é
saber que alguém com esse perfil pode, daqui a alguns dias, estar
empregado, convivendo com outras pessoas sem elas saberem o que aguardam
ao lado. O medo é da possibilidade de um novo crime”, afirma a mãe.
Dor
A
Justiça sentenciou Bernardino a 65 anos de prisão em 2007. Mas, assim
como Adriana, ele conseguiu reduzir a pena para 52 anos. Contra o
ex-caseiro também há uma condenação por tentativa de homicídio e estupro
contra uma adolescente de 13 anos, crime que ocorreu meses antes da
morte de Maria Cláudia. “Diante de tantos crimes, nunca imaginei que ele
poderia ser beneficiado pela Justiça”, lamenta Cristina.
Adriana
também tenta o mesmo benefício de Bernardino. Em novembro de 2015, ela
apresentou proposta de emprego à Justiça, mas ela foi vetada após
exames atestarem transtornos psicológicos. A possibilidade de
progressão de regime do ex-caseiro só foi possível pelo fato de que, à
época do crime, a Lei de Execuções Penais previa que os presos com bom
comportamento poderiam ser beneficiados depois de cumprirem um sexto da
pena. No caso dele, no dia da decisão, ele havia cumprido
aproximadamente 12 anos de reclusão. “A minha filha não voltará. Essa é
a minha realidade, e eu tenho de conviver com essa dor. Mas o que não
quero para mim, eu não quero para o próximo; por isso, peço que as
autoridades sejam sensíveis e analisem bem o que isso pode
representar”, conclui a mãe de Maria Cláudia.
Fonte: Correio Braziliense