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terça-feira, 16 de agosto de 2016

O ‘trouxa’ e a ‘inocenta’



Dilma e Bumlai, o amigo de Lula, culpam o PT por suas dores. Ela se acha traída. Ele se vê como o otário usado para pagar a conta de uma suposta chantagem contra Lula
Ela se considera vítima do próprio partido e da oposição, traída pelos aliados e até hoje perseguida pelos assassinos e torturadores da ditadura acabada 31 anos atrás. Ele se acha “trouxa”, otário, simplório, fácil de ser enganado. [a verdade é que tanto ele quanto ela são – independentemente do caso em questão – um pouco pior do que ele se acha.
O pouco pior é que os dois estrupícios, ele um pouco mais, se acham espertos.]

Foi dessa forma que a ex-presidente Dilma Rousseff e o pecuarista José Carlos Bumlai se apresentaram nos últimos dias.  Dilma, em defesa prévia, culpou o PT por “responsabilidade” no pagamento ilícito de US$ 4,5 milhões aos publicitários João Santana e Mônica Moura para saldar dívidas da sua campanha presidencial de 2010. 

O dinheiro teve origem em propinas cobradas pelo ex-secretário de Finanças do PT João Vaccari sobre os contratos da Petrobras com o um estaleiro de Cingapura, Keppel Fels — contou no tribunal o engenheiro Zwi Skornicki, intermediário de repasses mensais de US$ 500 mil para Santana, via Suíça, entre setembro de 2013 e outubro de 2014, quando Dilma foi reeleita.
 
Era um segredo das campanhas presidenciais de 2010 e 2014: “Achava que isso poderia prejudicar profundamente a presidente Dilma”, disse Santana, em juízo, ao explicar por que não contara antes. “Eu que ajudei, de certa maneira, a eleição dela, não seria a pessoa que iria destruir a presidente. Nessa época (da sua prisão, em fevereiro deste ano), já se iniciava um processo de impeachment”.

Há mais coisas ocultas. Envolvem o fluxo de dinheiro da Odebrecht para campanhas de Dilma, Lula e outros do PT. Ficaram reservadas à colaboração premiada cujo desfecho talvez coincida com o impeachment no Senado. Nesse outro processo, a “presidenta inocenta” segundo o golpismo gramatical da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) apresentou sexta-feira uma defesa de 675 páginas. Nela se definiu como vítima de umafarsa” marcada pelo “desvio de poder, pela traição, pela desonestidade e pela ilegalidade”. Amaldiçoou quem discorda: “Nunca poderão afastar das suas mentes a lembrança dos que morreram e foram torturados.” [será que a Afastada afastou da sua mente o cruel assassinato do soldado Mario Kozel Filho, covardemente perpetrado pelos comparsas de Dilma durante seus tempos de guerrilha? Operação cujo planejamento teve a participação de Dilma.
Dilma talvez consiga, haja vista que seu cérebro baldio tem uma capacidade mínima de lembranças.]

Se confirmado o epílogo, Dilma estará fora do baralho, inelegível aos 68 anos de idade. E, sem imunidade, passa ao centro das investigações sobre corrupção na Petrobras. Isso porque os publicitários confirmaram seu aval para operações ilegais com fornecedores da estatal.  Como Dilma, o pecuarista Bumlai também culpa o PT por suas dores. 

 Apresentou uma defesa em 70 páginas na sexta-feira. Delas emerge como o “amigo de Lula” que aos 72 anos coleciona doenças, carros (23) e imóveis (23) — entre eles, uma fazenda de R$ 90,4 milhões. Bumlai se define, literalmente, como “um trouxa usado pelo PT e pelo Banco Schahin” na lavagem de R$ 12 milhões.
 
Esse dinheiro teria sido usado, em parte, para pagamento de uma suposta chantagem sobre Lula, quando era presidente da República. O objetivo era evitar revelações sobre o sequestro, a tortura e o assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, no ano eleitoral de 2002. A vítima teria descoberto desvio dos cofres municipais para o caixa do PT.  O caso permaneceu à sombra por 14 anos. Ressurgiu no juízo de Curitiba pela voz de Bumlai, agora no improvável papel de “trouxa”confissão que lhe abriu o caminho para um acordo de delação premiada. [O assassinato de Celso Daniel não prescreveu e quando voltar a ser investigado – a ocorrer em breve, trará ao palco além de Lula o ex-seminarista de missa  negra Gilberto Carvalho e mais uma meia dúzia de próceres petistas, incluindo Zé Dirceu.]

Fonte: José Casado, jornalista, O Globo