A Inteligência Israelense
“O Serviço de Inteligência é
a batalha das mentes e cérebros e a função dos equipamentos é ajudar o ser humanos em seu desafio
conceitual. Mas na integração do homem e
da máquina o fator
humano é decisivo, mormente no Serviço de Inteligência” (Meir
Amit, diretor do MOSSAD de 1963 a 1968)
Trinta e dois séculos após Moisés ter acatado
a ordem de Deus, escolhendo 12 eminentes
israelitas para se infiltrarem na Terra Prometida,
o Estado de Israel foi criado, em 1948, e Ben
Gurion, seu primeiro presidente, fez exigências rigorosas
a seus agentes secretos:
- que fossem
motivados pelo patriotismo; que representassem
os melhores aspectos da sociedade israelense;
- que obedecessem ao postulado singular de comedimento;
e
- que se lembrassem que defendiam uma democracia e não um Estado monolítico.
Nesse sentido, Israel
é um país singular sob muitos aspectos, um dos quais tem
sido o total
apoio de seus cidadãos aos Serviços de Inteligência,
considerados entre os melhores do mundo.Os Serviços de Inteligência de
Israel, assim como os de outras nações, são um reflexo de suas
sociedades,
dos quais trazem seu poder de inspiração. Cada país possui
uma estrutura de Inteligência moldada
à sua própria imagem, refletindo a índole e
as características culturais da Nação.
O que está no centro dos Serviços de Inteligência de
Israel, diferenciando-os dos demais
serviços de qualquer outra Nação, é
a imigração. Desde a sua formação a comunidade de
Inteligência de Israel empenhou-se em proteger os judeus em todo o mundo e
ajudá-los a emigrarem para sua Pátria bíblica. Quem pode
imaginar a CIA, por exemplo, com a tarefa de proteger cada possuidor
de passaporte dos EUA através do mundo?
A tarefa de defender não apenas o Estado, mas também “todo o povo
de Israel” é a missão
precípua dos Serviços de Inteligência de Israel: MOSSAD (Inteligência Externa, criado em1951), AMAN (Inteligência Militar, criado em 1949)
SHIN BET (Segurança Interna, criado em
1948) Serviço de Ligação para a
Imigração Judaica, criado em 1958), LAKAM
(com a função primária de resguardar o programa nuclear secreto e obter
dados científicos e tecnológicos no exterior, criado em 1957)
e Departamento Político do Ministério do Exterior, criado em 1948.
Desde sua criação, o Estado de Israel vê-se cercado
por um círculo de nações árabes hostis. Todas
essas nações, todavia, possuem minorias étnicas e religiosas e
Israel sempre pôs em prática o desenvolvimento de amizades com essas minorias, que
sofrem, como Israel, em maior ou menor grau, com a ascensão do nacionalismo e do radicalismo árabes.
A idéia por trás dessa
tática pode ser resumida em uma frase: “os inimigos do meu inimigo são meus amigos”.
Qualquer força que lute ou se oponha
ao nacionalismo árabe é considerada por Israel
uma aliada em potencial: a minoria maronita no Líbano, os
drusos na Síria, os curdos no Iraque e os
cristãos do Sul do Sudão, todos sofrendo
o jugo das maiorias muçulmanas de seus países.
O conceito de manter contato com todos eles tornou-se conhecido para
as lideranças israelenses como “a aliança periférica”.
Desde 1951, quando foi criada, a agência externa, o MOSSAD, possui acordos de cooperação
com a CIA. Mas a grande abertura dos altos escalões dos Serviços de dos Serviços de Inteligência ocidentais
para com o MOSSAD decorreu de
uma vitória conseguida na
Europa em 1956, quando os
israelenses conseguiram superar a CIA,
o MI6 inglês, franceses, holandeses
e outros Serviços de
Inteligência ocidentais que buscavam
o texto de um discurso:
o discurso secreto pronunciado por Nikita Kruschev no
XX Congresso do PCUS, em fevereiro de
1956, que praticamente sepultou a era Stalin
ao relatar, pela primeira vez,
os horrores dos gulags, dos dos julgamentos encenados,
dos assassinatos e
das deportações de populações inteiras.
A partir de então,
a reputação do MOSSAD tornou-se uma lenda. Em suas memórias, Isser Harel, que dirigiu o MOSSAD de
1952 a 1963 e o SHIN BET de 1948 a 1952, escreveu: “Fornecemos
a nossos equivalentes americanos um documento que é
considerado uma das maiores realizações na história da espionagem:
o discurso secreto,completo, do 1º Secretário do
PCUS”. Harel, entretanto, não revelou como conseguiu
o discurso.
Como qualquer outro país,
o MOSSAD possui agentes secretos trabalhando
nas embaixadas nas embaixadas, sob cobertura diplomática. Onde não é possível estabelecer relações oficiais ou estas são cortadas por divergências políticas,
os diplomatas alternativos do MOSSAD desempenham tarefas que normalmente não são da competência não são da competência dos Serviços de Inteligência.
Especificamente, na África, a CIA forneceu milhões de
dólares para financiar as atividades clandestinas de
Israel, pois sempre foram consideradas
do interesse geral do Ocidente. De acordo com o conceito periférico do primeiro diretor do MOSSAD, os vínculos sigilosos de Israel com a Etiópia, Turquia e Irã nunca deixaram
de existir. Tanto Israel quanto o Irã ajudaram
a revolta dos curdos contra o governo do
Iraque; agentes do MOSSAD no Iêmen do Sul ajudaram os
realistas a combater os egípcios; no Sul do
Sudão aviões israelenses lançaram suprimentos para os rebeldes cristãos;
e, no fundo da África, o MOSSAD operou
num lugar tão
distante como Uganda, em outubro de 1970, ajudando Idi
Amin a depor o presidente Milton Obote.
Em todos os países há Estações do MOSSAD, sempre operando
sob a cobertura diplomática,dentro das embaixadas. O chefe da Estação, todavia não comunica suas atividades O chefe da Estação, todavia, não comunica suas atividades ao
embaixador e
remete seus relatórios diretamente para o MOSSAD, em Tel-Aviv. Suas missões incluem ligações oficiais com os Serviços de Inteligência do
país anfitrião, mas mas também operam
suas próprias redes, sem o conhecimento do
país anfitrião. A ênfase em em atividades semi-diplomáticas
concentra-se basicamente em dois continentes: África e Ásia.
O sucesso do SHIN
BET em controlar os territórios tomados em junho de
1967, na Guerra na Guerra dos
Seis Dias (margem ocidental da Jordânia, Sinai
e Faixa de Gaza do Egito, e as colinas de Golan)
teve um preço: a sociedade israelense passou
a ser julgada no mundo exterior pelo que se
podia observar a respeito de sua política de segurança.
A subversão e os atentados com os homens e
mulheres-bomba foram e vêm sendo esmagadas, mas a
boa vontade para com Israel no resto do
mundo diminui, graças, fundamentalmente, à mídia. Em vez de admirado por grande parte da
opinião política internacional,
o Estado judaico tornou-se abominado para muita gente.
O SHIN BET, forçado pelas circunstâncias passou
a ser encarado como uma força superiora de ocupação. Teve que aumentar seus efetivos,
os critérios de recrutamento foram facilitados e o
perfil social de seu pessoal mudou. Os novos agentes baseavam sua atuação mais na força do que na inteligência.
A natureza diferente da missão também determinou novos métodos.
Numa época em que dois mil árabes era detidos para interrogatórios, em que carros explodiam
e hotéis e aviões passaram
a ser alvo dos terroristas,
o essencial era extrair informações tão rápido
quanto possível.
O fator tempo – aliás, como em todas
as guerras sujas - passou a ser o
elemento mais importante e a ação rápida passou
a exigir a brutalidade. Isso também ocorreu no Brasil na guerra
suja dos anos 70.
Em 23 de julho de 1968, um Boeing 707 da El AL,
num vôo de Roma para Tel-Aviv, foi seqüestrado e aterrissou
na Argélia. Os seqüestradores eram
três árabes, militantes da Frente Popular pela Libertação da Palestina. Esse foi
o primeiro e último sequestro bem sucedido de
um avião israelense. A partir daí Israel
introduziu um esquema de se de segurança radicalmente novo
em seus aviões de passageiros,
colocando homens do SHIN BET, armados, em cada vôo,
viajando em poltronas comuns, disfarçados de passageiros,
tornando a EL AL a empresa mais segura do mundo.
O mundo,
no entanto, só tomou conhecimento dessas medidas quando um desses agentes
respondeu
a um ataque terrorista, em Zurique, em fevereiro de
1969, na pista do aeroporto de de Kloten. Em 1968, Meir
Amit, diretor do MOSSAD desde 1963,
foi surpreendentemente substituído pelo general Zvi
Zamir, sem experiência anterior no Serviço de Inteligência. Segundo as
especulações, ele havia sido
substituído por ser eficiente. Os líderes do Partido Trabalhista, então no Poder, não desejavam um chefe do Serviço de Inteligência que fosse forte demais... então no Poder, não desejavam um chefe do Serviço de Inteligência que fosse forte
demais...
Dados bibliográficos:
Noticiário da imprensa nacional e internacional e livro “Todo o Espião é um
Príncipe”, Imago Editora, 1991, de Dan Ravin e Yossi Melman.
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.