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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

À chinesa - Carlos Alberto Sardenberg

 Coluna publicada em O Globo - Economia 29 de outubro de 2020

O presidente Xi Jinping está conduzindo seu carro, tendo ao lado o espírito de Deng Xiaoping, o criador da nova China, que aparecera sabe-se lá de onde para a consulta habitual que fazia com todos os líderes chineses em início de mandato. Seguem por uma longa estrada que a um determinado ponto abre-se numa bifurcação perfeita. O presidente Xi para o carro e pergunta a Deng:
Grande líder, viramos à direita ou à esquerda?

Deng: dê sinal para a esquerda, vire à direita.

Essa piada vem sendo contada desde que Deng Xiaoping aposentou-se e passou a liderança para Chen You, em 1992. Faz sucesso e não perde a atualidade porque reflete exatamente o que se passa com a China ao longo de décadas. A questão era: como introduzir as reformas que abriam a economia para o empreendimento privado, ou seja, para a prática capitalista, sem parecer que se estava fazendo isso?

A economia chinesa estava arrasada pela Revolução Cultural e as pessoas começaram a abrir negócios para garantir a sobrevivência. Negócios privados apareciam por toda parte. Deng assumiu o movimento e assim nascia a China, uma ditadura com capitalismo. Como explicar isso?

Usando habilmente das palavras e conceitos. Reformas liberais? Nunca! Modernizações. Capitalismo? Jamais! Economia socialista de mercado ou economia de mercado socialista. O programa de privatização de pequenas e médias companhias regionais foi denominado “devolver as empresas ao povo”.

Para administrar a moeda de uma economia capitalista foi preciso constituir um banco central, conforme os modelos ocidentais: controlar a taxa de juros, a circulação de moeda, a distribuição de crédito e a taxa de câmbio. Foi criado exatamente assim, com economistas treinados nas melhores escolas americanas e europeias. Mas se chama Banco Popular da China.

No início desta semana, o homem mais rico da China, Jack Ma assim mesmo, com esse apelido americano – dono da Alibaba, a Amazon lá deles, anunciou que vai abrir o capital de sua subsidiária financeira, a Ant Group. Trata-se de uma plataforma de pagamentos digitais, a Alipay, que tem mais de um bilhão de usuários ativos. Nas bolsas de Xangai e Hong Kong duas das maiores bolsas capitalistas do mundo – Jack Ma acredita que pode levantar mais de US$ 34 bilhões. Será sido a maior oferta pública de ações da história do capitalismo.

Tem alguma coisa remotamente parecida com comunismo nisso tudo? Eis porque estamos tratando disso. Para mostrar que é simplesmente ridícula a ideia dos bolsonarianos de que a China é o inimigo comunista que quer exportar seu sistema e dominar o mundo, a começar pelo Brasil. Estão mais de 70 anos atrasados. Lá pelos anos 50/60, o Partido Comunista Brasileiro, PCB, financiado pela União Soviética, tinha, sim, o objetivo de implantar uma ditadura comunista no país. Mas um grupo de militantes se opôs às reformas (“burguesas”) anti-stalinistas iniciadas por Nikita Kruschev.

Dessa dissidência, para encurtar a história, surgiu o Partido Comunista do Brasil (PC do B) que adotou a linha maoísta, depois a linha albanesa (quando a China pós-Mao foi para a economia de mercado) e adotou a tese da luta armada para derrubar o regime. Comandou a Guerrilha do Araguaia. Tempos passados. Caiu o Muro, a URSS caiu num capitalismo corruptos de compadres, a China foi para a economia de mercado, houve a anistia no Brasil, a ditadura militar caiu, iniciou-se a democratização e o PC do B acelerou o movimento de legalização que começara nos anos 70, colocando seus membros no MDB.

Hoje, quem for ao site do PCdoB, vai encontrar um programa socialista. Na prática, o partido está na plena legalidade, em geral aliado do PT, concorrendo em eleições. Um dos seus principais dirigentes, Aldo Rebelo, foi simplesmente o ministro da Defesa do governo Dilma. Chefe das Forças Armadas! [ser ministro do governo da 'engarrafadora de vento' é um detalhe a ser esquecido no currículo de Aldo Rebelo - aliás, defensor da proposta de 'aposentar' os computadores, fazendo voltar as máquinas de datilografia e com isto gerar empregos.]  

Muitos militares não devem ter gostado, mas não houve rebelião nem revolta de nenhuma parte. Alias, o nacionalismo ferrenho de Rebelo agradou os militares. Hoje, o principal posto ocupado pelo PC do B é o governo do Maranhão, com Flavio Dino. [O Maranhão tem o pior IDH do Brasil.]  Não consta que ocorra qualquer revolução por lá.

Carlos Alberto Sardenberg - jornalista



sábado, 31 de janeiro de 2015

Um cadáver no poder

Um cadáver no poder (I)

Por que ainda há quem siga a Teologia da Libertação? Aparentemente nenhuma pessoa razoável deveria fazer isso. Do ponto de vista teológico, a  doutrina que o peruano Gustavo Gutierrez e o brasileiro Leonardo Boff espalharam pelo mundo já foi demolida em 1984 pelo então cardeal Joseph Ratzinger (v.“Liberation Theology”, 1984, http://www.christendomawake.org/pages/ratzinger/liberationtheol.htm dois anos depois de condenada pelo Papa João Paulo II (v. Quentin L. Quade, ed.,The Pope and Revolution: John Paul II Confronts Liberation Theology. Washington, D.C., Ethics and Public Policy Center, 1982). Em 1994 o teólogo Edward Lynch afirmava que ela já tinha se reduzido a uma mera curiosidade intelectual (v. “The retreat of Liberation Theology”, The Homiletic & Pastoral Review, 10024, 212-799-2600,https://www.ewtn.com/library/ISSUES/LIBERATE.TXT. 
Em 1996 o historiador espanhol Ricardo de la Cierva, que ninguém diria mal informado, dava-a por morta e enterrada (v. La Hoz y la Cruz. Auge y Caída del Marxismo y la Teología de la Liberación, Toledo, Fénix, 1996.
 
Uma década e meia depois, ela é praticamente doutrina oficial em doze países da América Latina. Que foi que aconteceu? Tal é a pergunta que me faz um grupo de eminentes católicos americanos e que, com certeza, interessa também aos leitores brasileiros.
Para respondê-la é preciso analisar a questão sob três ângulos:
(1) A TL é uma doutrina católica influenciada por idéias marxistas ou é apenas um ardil comunista camuflado em linguagem católica?
(2) Como se articulam entre si a TL enquanto discurso teórico e a TL enquanto organização política militante?
(3) Respondidas essas duas perguntas pode-se então apreender a TL como fenômeno preciso e descrever a especial forma mentis dos seus teóricos por meio da análise estilística dos seus escritos.
À primeira pergunta tanto o prof. Lynch quanto o cardeal Ratzinger, bem como inumeráveis outros autores católicos (por exemplo, Hubert Lepargneur, A Teologia da Libertação. Uma Avaliação, São Paulo, Convívio, 1979, ou Sobral Pinto,Teologia da Libertação. O Materialismo Marxista na Teologia Espiritualista, Rio, Lidador, 1984), dão respostas notavelmente uniformes: partindo do princípio de que a TL se apresenta como doutrina católica, passam a examiná-la sob esse aspecto, louvando suas possíveis intenções justiceiras e humanitárias mas concluindo que, em essência, ela é incompatível com a doutrina tradicional da Igreja, e portanto herética em sentido estrito. Acrescentam a isso a denúncia de algumas contradições internas e a crítica das suas propostas sociais fundadas numa arqui desmoralizada economia marxista.
Daí partem para decretar a sua morte, assegurando, nos termos do prof. Lynch, que
“Embora ainda seja atraente para muitos estudiosos americanos e europeus, ela falhou naquilo que os liberacionistas sempre disseram ser a sua missão principal, a completa renovação do catolicismo latino-americano”.
Todo discurso ideológico revolucionário pode ser compreendido em pelo menos três níveis de significado, que é preciso primeiro distinguir pela análise e depois rearticular hierarquicamente conforme algum desses níveis se revele o mais decisivo na situação política concreta, subordinando os demais.
O primeiro é o nível descritivo, no qual ele apresenta um diagnóstico, descrição ou explicação da realidade ou uma interpretação de alguma doutrina anterior. Neste nível o discurso pode ser julgado pela sua veracidade, adequação ou fidelidade, seja aos fatos, seja ao estado dos conhecimentos disponíveis, seja à doutrina considerada. Quando o discurso traz uma proposta definida de ação, pode ser julgado pela viabilidade ou conveniência dessa ação.
O segundo é o da autodefinição ideológica, em que o teórico ou doutrinador expressa os símbolos nos quais o grupo interessado se reconhece e pelo qual ele distingue os de dentro e os de fora, os amigos e os inimigos. Neste nível ele pode ser julgado pela sua eficácia psicológica ou correspondência com as expectativas e anseios da platéia.
O terceiro é o da desinformação estratégica, que fornece falsas pistas para desorientar o adversário e desviar antecipadamente qualquer tentativa de bloquear a ação proposta ou de neutralizar outros efeitos visados pelo discurso.
No primeiro nível, o discurso dirige-se idealmente ao observador neutro, cuja adesão pretende ganhar pela persuasão. No segundo, ao adepto ou militante atual ou virtual, para reforçar sua adesão ao grupo e obter dele o máximo de colaboração possível. No terceiro, dirige-se ao adversário, ou alvo da operação.
Praticamente todas as críticas de intelectuais católicos à Teologia da Libertação limitaram-se a examiná-la no primeiro nível. Desmoralizaram-na intelectualmente, provaram o seu caráter de heresia e assinalaram nela os velhos vícios que tornam inviável e destrutiva toda proposta de remodelagem socialista da sociedade.
Se os mentores da TL fossem católicos sinceramente empenhados em “renovar o catolicismo latino-americano”, ainda que por meios contaminados de ideologia marxista, isso teria bastado para desativá-la por completo. Uma vez que esse tipo de análise crítica saiu das meras discussões intelectuais para tornar-se palavra oficial da Igreja, com o estudo do Cardeal Ratzinger em 1984, a TL podia considerar-se, sob esse ângulo, extinta e superada.
Leiam agora este depoimento do general Ion Mihai Pacepa, o oficial de mais alta patente da KGB que já desertou para o Ocidente, e começarão a entender por que a desmoralização intelectual e teológica não foi suficiente para dar cabo da TL (v. “Kremlin’s religious Crusade”, em Frontpage Magazine, junho de 2009, http://archive.frontpagemag.com/readArticle.aspx?ARTID=35388 Em 1959, como chefe da espionagem romena na Alemanha Ocidental, o general Pacepa ouviu da própria boca de Nikita Kruschev: “Usaremos Cuba como trampolim para lançar uma religião concebida pela KGB na América Latina.”

O depoimento prossegue:Khrushchev nomeou ‘Teologia da Libertação’ a nova religião criada pela KGB. A inclinação dela para a ‘libertação’ foi herdada da KGB, que mais tarde criou a Organização para a ‘Libertação’ da Palestina (OLP), o Exército de ‘Libertação’ Nacional da Colômbia (ELN), e o Exército de ‘Libertação’ Nacional da Bolívia. A Romênia era um país latino, e Khrushchev queria nossa “visão latina” sobre sua nova guerra de “libertação” religiosa. Ele também nos queria para enviar alguns padres que eram cooptadores ou agentes disfarçados para a América Latina – queria ver como “nós” poderíamos tornar palatável para aquela parte do mundo a sua nova Teologia da Libertação.
“Naquele momento a KGB estava construindo uma nova organização religiosa internacional em Praga, chamada “Christian Peace Conference” (CPC), cujo objetivo seria espalhar a Teologia da Libertação pela América Latina.
“Em 1968, o CPC – criado pela KGB – foi capaz de dirigir um grupo de bispos esquerdistas sul-americanos na realização de uma Conferência de Bispos Latino-americanos em Medellín, na Colômbia. O propósito oficial da Conferência era superar a pobreza. O objetivo não declarado foi reconhecer um novo movimento religioso, que encorajasse o pobre a se rebelar contra a ‘violência da pobreza institucionalizada’, e recomendá-lo ao Conselho Mundial de Igrejas para aprovação oficial. A Conferência de Medellín fez as duas coisas. Também engoliu o nome de batismo dado pela KGB: ‘Teologia da Libertação.’”

Ou seja, em suas linhas essenciais, a idéia da TL veio pronta de Moscou três anos antes de que o jesuíta peruano Gustavo Gutierrez, com o livro Teología de la Liberación(Lima, Centro de Estudios y Publicaciones, 1971), se apresentasse como seu inventor original, decerto com a aprovação de seus verdadeiros criadores, que não tinham o menor interesse num reconhecimento público de paternidade. O tutor da criança, Leonardo Boff, entraria em cena ainda mais tarde, não antes de 1977. Até hoje as fontes populares, como por exemplo a Wikipedia, repetem como papagaios adestrados que o Pe. Gutierrez foi mesmo o gerador da coisa e o sr. Boff seu segundo pai.

Escrito por Olavo de Carvalho e publicado no Diário do Comércio.

http://olavodecarvalho.org

domingo, 25 de janeiro de 2015

Para manter sua fama Israel precisa matar civis palestinos desarmados?

A Inteligência Israelense  


“O Serviço de Inteligência é a batalha das mentes e cérebros e a função dos equipamentos é ajudar o ser humanos em seu desafio conceitual. Mas na integração do homem e da máquina o fator humano é decisivo, mormente no Serviço de Inteligência” (Meir Amit, diretor do MOSSAD de 1963 a 1968)

Trinta e dois séculos após Moisés ter acatado a ordem de Deus, escolhendo 12 eminentes israelitas para se infiltrarem na Terra Prometida, o Estado de Israel foi criado, em 1948, e Ben Gurion, seu primeiro presidente,  fez exigências rigorosas a seus agentes secretos: 

 - que fossem motivados pelo patriotismo; que representassem os melhores aspectos da sociedade israelense; 
- que obedecessem ao postulado singular de comedimento; e
-  que se lembrassem que defendiam  uma democracia e não um Estado monolítico.

Nesse sentido, Israel é um país singular sob muitos aspectos, um dos quais tem sido o total apoio de seus cidadãos aos Serviços de Inteligência, considerados entre os melhores do mundo.Os Serviços de Inteligência de Israel, assim como os de outras nações, são um reflexo de suas sociedades, dos quais trazem seu poder de inspiração. Cada país possui uma estrutura de Inteligência moldada à sua própria imagem, refletindo a índole e as características culturais da Nação.




O que está no centro dos Serviços de Inteligência de Israel, diferenciando-os dos demais serviços de qualquer outra Nação, é a imigração. Desde a sua formação a comunidade de Inteligência de Israel empenhou-se em proteger os judeus em todo o mundo e ajudá-los a emigrarem para sua Pátria bíblica. Quem pode imaginar a CIA, por exemplo, com a tarefa de proteger cada possuidor de passaporte dos EUA através do mundo?

A tarefa de defender não apenas o Estado, mas também “todo o povo de Israel” é a missão precípua dos Serviços de Inteligência de Israel:  MOSSAD (Inteligência Externa, criado em1951), AMAN (Inteligência Militar, criado em 1949)
SHIN BET (Segurança Interna, criado em 1948)  Serviço de Ligação para a Imigração Judaica, criado em 1958),  LAKAM (com a função primária de resguardar o programa nuclear secreto e obter dados científicos  e tecnológicos no exterior, criado em 1957) e Departamento Político do Ministério do Exterior, criado em 1948.

Desde sua criação, o Estado de Israel vê-se cercado por um círculo de nações árabes  hostis. Todas essas nações, todavia, possuem minorias étnicas e religiosas e Israel sempre pôs em  prática o desenvolvimento de amizades com essas minorias, que sofrem, como Israel, em maior ou menor grau, com a ascensão do nacionalismo e do radicalismo árabes.

A idéia por trás dessa tática pode ser resumida em uma frase: “os inimigos do meu inimigo são meus amigos”.


Qualquer força que lute ou se oponha ao nacionalismo árabe é considerada por Israel uma aliada em potencial: a minoria maronita no Líbano, os drusos na Síria, os curdos no Iraque e os cristãos do Sul do Sudão, todos sofrendo o jugo das maiorias muçulmanas de seus países. O conceito de manter contato com todos eles tornou-se conhecido para as lideranças israelenses como “a aliança periférica”.


Desde 1951, quando foi criada, a agência externa, o MOSSAD, possui acordos de  cooperação com a CIA. Mas a grande abertura dos altos escalões dos Serviços de dos Serviços de Inteligência ocidentais para com o MOSSAD decorreu de uma vitória conseguida na Europa em 1956, quando os israelenses conseguiram  superar a CIA, o MI6 inglês, franceses, holandeses e outros Serviços de Inteligência  ocidentais que buscavam o texto de um discurso: o discurso secreto pronunciado por Nikita Kruschev no XX Congresso do PCUS, em fevereiro de 1956, que praticamente  sepultou a era Stalin ao relatar, pela primeira vez, os horrores dos gulags,  dos dos julgamentos encenados, dos assassinatos e das deportações de populações inteiras.


A  partir de então, a reputação do MOSSAD tornou-se uma lenda. Em suas memórias, Isser Harel, que dirigiu o MOSSAD de 1952 a 1963 e o SHIN BET de 1948 a 1952, escreveu:  “Fornecemos a nossos equivalentes americanos um documento que é considerado uma das maiores realizações na história da espionagem: o discurso secreto,completo, do 1º Secretário do PCUS”. Harel, entretanto, não revelou como conseguiu o discurso.

Como qualquer outro país, o MOSSAD possui agentes secretos trabalhando nas embaixadas nas embaixadas, sob cobertura diplomática. Onde não é possível estabelecer  relações oficiais ou estas são cortadas por divergências políticas, os diplomatas alternativos do MOSSAD desempenham tarefas que normalmente não são da competência  não são da competência dos Serviços de Inteligência. 

Especificamente, na África, a CIA forneceu milhões de dólares para financiar as atividades  clandestinas de Israel, pois sempre foram consideradas do interesse geral do Ocidente. De acordo com o conceito periférico do primeiro diretor do MOSSAD, os vínculos sigilosos de Israel com a Etiópia, Turquia e Irã nunca deixaram de existir. Tanto Israel quanto o Irã ajudaram a revolta dos curdos contra o governo do Iraque; agentes do MOSSAD no Iêmen do Sul ajudaram os realistas a combater os egípcios; no Sul do Sudão aviões israelenses  lançaram suprimentos para os rebeldes cristãos; e, no fundo da África, o MOSSAD  operou num lugar tão distante como Uganda,  em outubro de 1970, ajudando Idi Amin a depor o presidente Milton Obote.


Em todos os países há Estações do MOSSAD, sempre operando sob a cobertura diplomática,dentro das embaixadas. O chefe da Estação, todavia não comunica suas atividades O chefe da Estação, todavia, não comunica suas atividades ao embaixador e remete seus relatórios diretamente para o MOSSAD, em Tel-Aviv. Suas missões incluem ligações oficiais com os Serviços de Inteligência do país anfitrião, mas mas também operam suas próprias redes, sem o conhecimento do país anfitrião. A ênfase em em atividades semi-diplomáticas concentra-se basicamente em dois continentes: África e Ásia.

O sucesso do SHIN BET em controlar os territórios tomados em junho de 1967, na Guerra na Guerra dos Seis Dias (margem ocidental da Jordânia, Sinai e Faixa de Gaza do Egito, e as colinas de Golan) teve um preço: a sociedade israelense passou a ser julgada no mundo exterior pelo que se podia observar a respeito de sua política de segurança. A subversão e os atentados com os homens e mulheres-bomba foram e vêm sendo esmagadas, mas a boa vontade para com Israel no resto do mundo diminui, graças, fundamentalmente, à mídia. Em vez de admirado por grande parte da opinião política  internacional, o Estado judaico tornou-se abominado para muita gente.

O SHIN BET, forçado pelas circunstâncias passou a ser encarado como uma força superiora de ocupação. Teve que aumentar seus efetivos, os critérios de recrutamento foram facilitados e o perfil social de seu pessoal mudou. Os novos agentes baseavam sua atuação mais na força  do que na inteligência. 

A natureza diferente da missão também determinou novos métodos. Numa época em que  dois mil árabes era detidos para interrogatórios, em que carros explodiam e hotéis e aviões passaram a ser alvo dos terroristas, o essencial era extrair informações tão rápido quanto possível. O fator tempo  aliás, como em todas as guerras sujas - passou a ser o elemento mais importante e a ação rápida passou a exigir a brutalidade. Isso também ocorreu no Brasil na guerra suja dos anos 70.

Em 23 de julho de 1968, um Boeing 707 da El AL, num vôo de Roma para Tel-Aviv, foi seqüestrado e aterrissou na Argélia. Os seqüestradores eram três árabes, militantes  da Frente Popular pela Libertação da Palestina. Esse foi o primeiro e último sequestro  bem sucedido de um avião israelense. A partir daí Israel introduziu um esquema de se de segurança radicalmente novo em seus aviões de passageiros, colocando homens do SHIN BET, armados, em cada vôo, viajando em poltronas comuns, disfarçados de passageiros, tornando a EL AL a empresa mais segura do mundo.


O mundo, no entanto, só tomou conhecimento dessas medidas quando um desses agentes respondeu a um ataque terrorista, em Zurique, em fevereiro de 1969, na pista do aeroporto de de Kloten. Em 1968, Meir Amit, diretor do MOSSAD desde 1963, foi surpreendentemente substituído pelo general Zvi Zamir, sem experiência anterior no Serviço de Inteligência. Segundo as especulações, ele havia sido substituído por ser eficiente. Os líderes do Partido Trabalhista, então no Poder, não desejavam um chefe do Serviço de Inteligência que fosse forte demais... então no Poder, não desejavam um chefe do Serviço de Inteligência que fosse forte demais...

Dados bibliográficos:
Noticiário da imprensa nacional e internacional e livro “Todo o Espião é um Príncipe”, Imago Editora, 1991, de Dan Ravin e Yossi Melman.

Carlos I. S. Azambuja é Historiador.