[ o presidente Bolsonaro se confundiu com os países e incorreu no mesmo erro de Cristiano Ronaldo - craque na bola e perna de pau em matéria de meio ambiente.]
De uma certa forma, tento falar disso há muito tempo: Bolsonaro não tinha noção das forças que enfrenta quando está em jogo o futuro da Amazônia. É algo que acontecia também com seu ministro Onyx Lorenzoni. Ele disse que não iria ver as queimadas na Amazônia porque há coisa mais importante para fazer. Como assim? Pareciam ignorar até mesmo a repercussão internacional dessas queimadas. Grande parte do planeta preocupada com o tema; Onyx subestimava. Por muito menos, nas queimadas de Roraima, ministros se deslocaram para lá. Ver o que estava sendo feito, o que era preciso fazer. [Optamos por começar registrando nossa posição contra as queimadas - realizadas de forma descontrolada.
Agora enfatizamos que salvo inesperada mudança de rumo, as queimadas não vão produzir o 'escândalo' que grande parte da imprensa e os inimigos do presidente Bolsonara desejam e esperam.
Óbvio que as queimadas devem ocorrer de forma controlada, mas, quem dita o que ocorre no Brasil não são os gringos - o que inclui o ritmo das queimadas.
E os franceses não se destacam pela credibilidade/confiabilidade - o que fizeram com os argentinos da Guerra das Malvinas, na qual venderam mísseis EXOCET para os 'hermanos' e ao mesmo tempo passavam os códigos de controle para os ingleses. Fácil deduzir qual país foi o traidor e qual foi o traído.
O Macron quis ser o xerife do mundo, mas, não foi aprovado - antes tem resolver os problemas internos, o que inclui os COLETES AMARELOS.
Da mesma forma que o Brasil precisa vender seus produtos agropecuários a outros países estes também precisam comprar do Brasil.
É um jogo complicado - só que é mais fácil enfrentar por algum tempo a falta de dólares, euros, etc do que a falta de comida - especialmente em países em que os que passam fomes são uma minoria.]
Isso numa semana intensa, em que o crepúsculo precoce em São Paulo intrigou a população. Era resultado de queimadas, possivelmente da região de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Mas, de uma certa maneira, realçaram a preocupação com queimadas.
O secretário-geral da ONU se diz preocupado. Macron também se diz preocupado, embora use uma foto antiga e repita o mito da Amazônia pulmão do mundo.
Bolsonaro não inventou as queimadas. Existe uma estação anual do fogo. Mas sabotou muitas formas de combatê-la. Inicialmente, anunciou sua oposição às multas do Ibama, proibiu que fossem destruídos equipamentos clandestinos na mata, questionou os dados do Inpe, demitiu o diretor, rompeu com o Fundo Amazônia, hostilizou a Alemanha e a Noruega. Que, por sinal, financiam a prevenção às queimadas.
O nível de desmatamento sempre aumenta quando diminui a fiscalização. E todos que conhecem um pouco da Amazônia sabem da importância do fator subjetivo. Os desmatadores leem atentamente os sinais do governo. Bolsonaro sinalizou com enérgicas bandeiradas permissivas. Caminhamos agora para uma grande turbulência. A ideia de refugiar-se no nacionalismo acaba fazendo do Brasil que deseja manter a floresta de pé uma parte da conspiração estrangeira para entregar a Amazônia. Bolsonaro tende à aventura isolacionista. O caminho é reconhecer a importância planetária da Amazônia, conjugar esforços internacionais para preservá-la e valorizá-la pelo conhecimento.
Num programa de TV, o cientista Carlos Nobre mencionou o açaí, um caso de sucesso rendendo por hectare dez vezes mais que a pecuária. Nos Estados Unidos, o açaí virou moda e seu consumo certamente inspira pesquisas para melhorar e encarecer o produto.Há pelo menos 400 plantas amazônicas que poderiam ser desenvolvidas, centenas com propriedades medicinais a serem pesquisadas.
Grandes equívocos ambientais são provocados pela busca da riqueza. A política amazônica do governo é um equívoco provocado pela busca da pobreza. Ameaça destruir a biodiversidade em busca de minério, ignorando que o maior valor está sendo destruído.
Se tudo se desse apenas num espaço da economia, já seria um erro. Diante dos olhos do mundo, o governo Bolsonaro se comporta como um aprendiz de feiticeiro. Inclusive com respostas patéticas. Bolsonaro divulgando vídeo de caça à baleia na Dinamarca e acusando a Noruega. [Bolsonaro incorreu no mesmo erro de Cristiano Ronaldo, craque na bola e perna de pau em matéria de meio ambiente:
- Divulgou fotos de um incêndio no Rio Grande do Sul como se fosse na Amazônia e o Macron divulgou como foto de agora, uma tirada por um fotógrafo falecido em 2002 - mais detalhes, aqui. Aproveite e veja um vídeo do ORLANDO VILLAS BOAS, já falecido, mas um dos maiores especialistas em índios e Amazônia, que mostra as razões do interesse dos que se julgam 'donos do mundo' em tomar posse da Amazônia.
O fato é que a Noruega mata baleias de forma cruel no Ártico, onde também explora petróleo.] Onyx afirmando que a pressão europeia se deve a interesses econômicos, sobretudo porque a esquerda no Pós-Guerra abraçou a ecologia.
Macron não é de esquerda; muito menos Angela Merkel. O secretario-geral da ONU?
Desde o princípio, sabia que isso ia ser problemático para o Brasil. Bolsonaro não percebeu que, além das ONGs e dos políticos mundiais, existem milhões no planeta que consideram a Amazônia um bem da Humanidade.
Importante que saibam também que existem brasileiros contra a política de Bolsonaro. Mesmo porque depositam nas costas do brasileiro no exterior um fardo que não é dele. De alguma forma, é preciso mostrar que a visão do governo não é a visão do Brasil. Considerando as condições históricas, a política de Bolsonaro é apenas um desvario. Ela contraria até as forças que o apoiaram, como os setores do agronegócio.
No quartel, ouve-se às vezes o grito “meia-volta, volver”. De um modo geral, vem do oficial superior. Quem vai gritar “meia-volta, volver” para Bolsonaro será uma grande parte da Humanidade. Vamos testar o seu ouvido. Infelizmente, já existe um desgaste para a imagem internacional do pais. É hora de reduzir os danos.
Blog do Gabeira
Artigo publicado no Jornal O Globo em 26/08/2019