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terça-feira, 15 de agosto de 2017

Carlos Fernando, o procurador buliçoso, joga lei no lixo e ataca futura titular da PGR

Falando em nome de uma lei que não existe, o doutor já se coloca como ombudsman da sucessora de Janot e contribui objetivamente para difamá-la. Quem vai enquadrar esses malucos na lei?

Carlos Fernando, o mais virulento, ainda que não midiático, dos procuradores de Curitiba (a estrela é Deltan Dallganol), já resolveu se comportar como se fosse chefe ou ombudsman de Raquel Dodge, futura procuradora-geral da República. Em um evento sobre compliance, este senhor afirmou que a futura procuradora tem de se explicar sobre encontro com o presidente da República, que se deu fora da agenda, como não se cansa de noticiar por aí. Será que todos os encontros de Rodrigo Janot com o próprio presidente e com outros figurões da República, como deputados e senadores, estavam marcados?

Vamos lembrar? Janot se encontrou, secretamente, com José Eduardo Cardozo, então ministro da Justiça, em Buenos Aires, no dia 22 de novembro de 2014. Temer não é obrigado a divulgar a sua agenda. Mas o titular da Justiça é, sim. É o fim da picada! No dia 24 de fevereiro de 2015, houve outro encontro realmente secreto entre o procurador-geral e o ministro petista. Aguardava-se para aquela semana a chamada “Primeira Lista de Janot”. Como a coisa veio a público, ele esperou um pouquinho. Os nomes das pessoas que Janot queria investigar foram divulgados só no dia 6 de março daquele ano.

O que os dois discutiram? Ninguém quis revelar. Em Brasília, tinha-se uma certeza: a lista havia sido tema da conversa. Escrevo de novo: segundo a Lei 12.813, Cardozo era, sim, obrigado a divulgar a sua agenda. Que desculpa se deu? Ah, teria sido uma coisa fortuita, um mero acaso. E ficou tudo por isso mesmo! Raquel Dodge, como fica claro, pediu uma audiência por escrito.

Cheguei a censurar doutora Raquel hoje de manhã por ter divulgado o e-mail. Como se nota, ela estava, de algum modo, dando trela aos sequestradores de sua reputação, como faz Carlos Fernando, o homem que agride de maneira sistemática, determinada e metódica a Lei Complementar nº 75, que dispõe sobre a “organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União”.

Raquel não será a dona do Conselho Nacional do Ministério Público Federal. Tampouco mandará na Corregedoria. Mas se espera que, com a voz influente de uma procuradora-geral, cobre que tais órgãos enquadrem os comportamentos e falas que avancem a linha que separa o rigor da delinquência.  Como se Raquel, e não ele próprio, estivesse atuando fora de sua competência, afirmou Carlos Fernando: “Ela deu uma explicação e tem que ser cobrada pelas consequências desse ato”. Quais consequências? De que ato ele está falando? Observem que a criminalização do nada, que passou a ser a tarefa principal da Lava Jato, agora atinge membros do próprio Ministério Público que a Seita de Curitiba toma como adversários.

Em tal evento, o doutor desceu o pau nas escolhas do Congresso, atacou de forma indisfarçável prerrogativas do Poder e chegou a sugerir que o brasileiro não é um povo avançado o bastante. Vale dizer: o doutor transgredia uma penca de disposições do estatuto que rege a sua atividade. E, no entanto, resolveu se colocar como o bedel de Dodge: “Todo funcionário público é responsável pelos atos que tem. Infelizmente não há como fugir da responsabilização perante a sociedade.” Ele conferiu uma palestra sobre investigações anticorrupção, em fórum organizado pela Amcham (Câmara Americana de Comércio).

Observem que ele não diz que o funcionário público é obrigado a responder por seus atos segundo a lei. Ele escolhe como fórum “a sociedade”. Entenderam? Para gente como Carlos Fernando, o que importa é o alarido.  A quem atende? A Rodrigo Janot, o homem que celebrou o acordo com Joesley Batista, que é, este sim, personagem do maior escândalo da história do país. Considerando a impunidade garantida ao criminoso, é mais vexaminoso do que o próprio petrolão. Se Carlos Fernando combinou ou não com Janot o ataque a Raquel Dodge, não sei. Mas a sua fala se afina com a do ainda procurador-geral. Em recente entrevista à Folha, além de ameaçar o presidente da República, Janot expressou o temor de que sua sucessora passasse a atuar como engavetadora de investigações.

Carlos Fernando não age mais como procurador da República. Hoje, é um militante político. Se o Conselho Nacional do Ministério Público e a Corregedoria do órgão não os enquadrarem e a outros nos dispositivos da lei, teremos um Ministério Público que não mais zelará pelos fundamentos da República e pela defesa dos interesses dos cidadãos. Ao contrário: o MPF passará a ser a sede de uma seita disposta a, se necessário, em nome de suas idiossincrasias e de seus próprios preconceitos, levar o país ao abismo.
Tornaram-se os fanáticos do próprio oportunismo.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo