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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

A novilíngua da transição - Revista Oeste

Augusto Nunes

Fake news de bom tamanho é a história da Folha contada pelo próprio jornal 

A velocidade com que foi servida avisa que a metamorfose estava no forno faz tempo —provavelmente, desde o fim do primeiro turno. E as mudanças foram produzidas para que tudo ficasse essencialmente igual, informaram as edições da Folha de S.Paulo já na primeira semana de novembro. 
Até 30 de outubro, o jornal fez o diabo para que Luiz Inácio Lula da Silva vencesse o duelo travado com Jair Bolsonaro. 
Agora, faz o que pode e o que é proibido para garantir ao ex-presidiário que promoveu a gênio da raça uma posse de monarca e um majestoso início de mandato — o terceiro e certamente o último. Para facilitar as coisas, o jornal luta para varrer da face do país Jair Bolsonaro e seus mais de 58,2 milhões de  eleitores.

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock 

Aos olhos de quem preza o convívio dos contrários, essa imensidão de gente equivale à metade dos brasileiros habilitados a escolher diretamente qualquer dos candidatos à Presidência da República (e tem todo o direito de fazer o que lhe der na telha).  
Na cabeça despótica da seita que se lixa para o Mensalão e o Petrolão, fora o resto, os inimigos encarnam o que há de mais tenebroso no planeta: o bolsonarismo, que seria o fascismo em sua versão mais medonha. 
Pertencem a uma subespécie que apoia o vírus chinês, o negacionismo científico, o negacionismo eleitoral, o golpismo, a distribuição de armas entre bebês de colo, a misoginia, a homofobia, o machismo, a canonização dos milicianos homicidas, a proclamação da escravatura
Um bolsonarista merece prisão perpétua. E Jair Bolsonaro não merece menos que a morte.[já tentaram e se houver chance tentarão de novo]
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
É com isso que sonham publicamente dois colunistas da Folha. Os demais torcem para que o sonho se concretize
Não existe no bunker do jornal alguém que se atreva a digitar um único e escasso circunflexo que pareça favorável a Bolsonaro. 
Se algum distraído de nascença entrar nesse campo minado, e sussurrar algo semelhante às falas do contraponto imposto pelo PT e pelo TSE à Jovem Pan, não escapará do linchamento ao som do Lula Lá.  
Os militantes acampados nas páginas do jornal defendem sem disfarces a censura à imprensa. 
Liberdade de expressão não se aplica à desinformação, miam os democratas de picadeiro.

Sem explicações aos leitores, o jornal substituiu “Orçamento secreto” por “emendas do relator” no dia em que Lula topou manter a gastança intocada

Há semanas, um editorialista desavisado pediu a Lula que revelasse logo o nome de quem será seu ministro da Economia. 
Foi repreendido pelo ombudsman
 Incomodar com tal cobrança a reencarnação de Nelson Mandela, comparou um colunista, é como exigir do técnico espanhol Pep Guardiola que divulgue antes do jogo a escalação do time. 
Guardiola, que aliás costuma antecipar os nomes de quem jogará, jamais promoveria a capitão da equipe um José Dirceu, como fez Lula no primeiro mandato. 
Só jornalistas de baixíssimo calibre poderiam parir as mudanças que aperfeiçoaram a novilíngua da  transição.

Até o fim de outubro, por exemplo, o atual presidente foi chicoteado por um aluvião de vogais e consoantes que lhe atribuíam a paternidade do crime de lesa-pátria: o “Orçamento secreto”, como a Folha sempre denominou o bilionário balaio de verbas distribuídas entre parlamentares pelo relator do Orçamento da União. Sem explicações aos leitores, sem sequer uma nota na seção Erramos, o jornal substituiu “Orçamento secreto” por “emendas do relator” no dia em que Lula topou manter a gastança intocada em troca da ampliação do bando de parceiros na Câmara Federal. 

Também subitamente a “PEC Kamicaze” virou “PEC da Transição”. O conteúdo é o mesmo: trata-se de um conjunto de medidas destinadas a bancar despesas adicionais sem que o governo se exponha a punições reservadas a quem ultrapassa o teto de gastos. O nome mudou depois que os dribles nas restrições legais ganharam a benção do presidente eleito. Lula é um estadista. Quem rima com kamicaze é Bolsonaro.

Tanto assim que nunca inspira manifestações de rua promovidas por seus eleitores. Na visão estrábica da Folha, ocorrem invariavelmente “atos antidemocráticos”, ou “mobilizações de viés golpista”. 
Também por isso, teve o mandato encurtado por outra invencionice dos linguistas de galinheiro que abundam na turma pautada por Alexandre de Moraes. Bolsonaro deixou de ser um presidente no exercício do cargo. Foi rebaixado a “incumbente”. Aprendi no dicionário que o palavrão quer dizer “titular de um cargo político”. Há um outro significado: “Algo que se inclina para baixo”. Foi decerto a segunda acepção que apressou sua anexação ao repertório vocabular do matutino cuja tiragem diária agoniza pouco acima de 60 mil  exemplares.

“Combater fake news não é censura”, recitam de meia em meia hora os reinventores da imprensa. E só é considerado jornalista quem milita na Folha ou em redações controladas por esquerdistas que confundem O Capital com Brasília. Os outros são blogueiros bolsonaristas, apresentadores bolsonaristas ou difusores de mentiras a serviço do Gabinete do Ódio.  

Merecem o silêncio ordenado por Alexandre de Moraes e seus Vigilantes da Suprema Verdade. Devem ser banidos das redes sociais, como exige a “agência de checagem” criada pelo jornal em adiantado estado de decomposição. É preciso exterminar a qualquer preço os propagadores de mentiras. Haja cinismo: uma das maiores fake news difundidas desde Gutenberg é a história da Folha contada pela Folha.

Nessa versão de Sessão da Tarde, o jornal nasceu de verdade em março de 1983, no primeiro comício da campanha das Diretas Já, que reivindicava a volta da eleição do presidente da República pelo voto popular.  Essa fantasia conveniente apaga o passado sombrio da empresa surgida há 100 anos. Desaparece, por exemplo, a fortuna extraída do terminal rodoviário instalado ilegalmente numa praça de São Paulo. Somem os veículos cedidos aos órgãos de repressão política pelo diretor de um vespertino pertencente ao mesmo grupo empresarial. E são enterrados em cova rasa fatos que deixariam envergonhado o mais inescrupuloso rufião da Boca do Lixo.

A Folha acaba de noticiar com o distanciamento de quem registra uma queda de temperatura no Alasca a proposta apresentada a Lula por Alexandre de Moraes: o ministro acha indispensável a aprovação, em regime de urgência urgentíssima, de um projeto de lei que submeta à censura o Google e outros espaços da internet. 

O fairplay faz sentido. Entre 1968 e 1975, a revista Veja, o Estadão e o Jornal do Brasil enfrentaram com bravura, altivez e inventividade a censura praticada por censores federais numa sala da redação. A Folha nunca soube o que é isso. Graças à autocensura praticada pelos próprios jornalistas, nunca foi publicada uma única vírgula que aborrecesse os donos do poder.

É o que acontecerá se as algemas que ameaçam a internet se estenderem a toda a imprensa. A Folha não vai precisar de censores externos. Os editores serão mais eficientes.

Leia também “O “Fora Lula!” só começou”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste


domingo, 18 de setembro de 2022

Corporativismo midiático - Revista Oeste

 Rodrigo Constantino

Os jornalistas dos principais veículos de comunicação criaram uma espécie de clubinho, de patota onde ninguém solta a mão de ningué

Foto: Shutterstock

 Foto: Shutterstock 

Não tenho a pretensão de ser um ombudsman da imprensa, mas muito antes de virar um comentarista político eu já era bastante crítico a duas posturas que me incomodam muito na maioria dos jornalistas: o viés ideológico mascarado de imparcialidade e o excessivo corporativismo. É verdade que esse “espírito de corpo” não é exclusividade da imprensa e existe em várias áreas, mas nunca vi nada igual nesse setor.

Os jornalistas dos principais veículos de comunicação criaram uma espécie de clubinho, de patota, de tribo onde ninguém solta a mão de ninguém. Uma vez parte desse clubinho, você será protegido pelos colegas, estará blindado de críticas, até mesmo quando confundir coisas óbvias, como aquilo que está escrito em nossa bandeira nacional. 
Você vai receber prêmios que são enaltecidos apenas pelo próprio clubinho, terá afagos constantes no ego, trocando elogios mútuos com seus pares.
 
O personagem de humor mais famoso das redes sociais, Joaquim Teixeira, resumiu bem: “Para quem não gosta de responsabilidades, eu indico o jornalismo: você pode falar o que quiser e quando é questionado sobre algo é só alegar que foi agredido”
Ele se referia ao novo ato de vitimização da jornalista Vera Magalhães, que mentiu dizendo que foi agredida pelo deputado Douglas Garcia, alegando que precisou até de escolta para sair do local onde estavam.
 
As imagens mostram fatos bem distintos: o deputado pode ter sido inconveniente ao cobrar explicações da jornalista naquele momento e daquela forma, mas jamais a atacou. 
Já Vera apertou o queixo do deputado, que é negro e gay, e chamou seguranças. 
Um colega seu da TV Cultura, Leão Serva, arrancou o telefone da mão do deputado e o arremessou longe, xingando-o de F.D.P. e o mandando para a P.Q.P. Quem foi agressor no caso?
Podemos trocar de personagens num cenário hipotético para deixar mais claro o absurdo. Vamos imaginar que um parlamentar do Psol resolve questionar um “blogueiro bolsonarista” sobre seus ganhos públicos.  
Um colega blogueiro arranca seu celular e o arremessa longe, xingando-o e mandando-o para aquele lugar. O parlamentar é negro e gay. 
Qual a reação da velha imprensa? Sabemos a resposta a essa pergunta retórica: seria uma histeria sem tamanho contra os jornalistas, não contra o deputado!
 
Não obstante, todo o clubinho midiático embarcou na narrativa de que Vera Magalhães foi agredida, e o ministro Alexandre de Moraes, o imperador onipresente, chegou a determinar que a “ofensa” do deputado fosse analisada pela procuradoria eleitoral de São Paulo. 
O sistema tucanopetista se protege, não é mesmo?  
Eu adoraria que alguém me explicasse onde consta a ofensa ou o ataque na simples opinião pessoal de que determinado jornalista representa uma vergonha para o jornalismo nacional…

Eis a triste verdade: esse clubinho corporativista de jornalistas se acha acima do bem e do mal, pois exala empáfia e arrogância com sua visão de que são missionários numa cruzada moral, guias que devem apontar o rumo para o progresso a uma horda de ignorantes e bárbaros — sua própria audiência, formada por um monte de Homer Simpsons, segundo eles. Esses jornalistas jamais aceitariam ser cobrados na mesma moeda em que cobram os outros

Eles não entenderam que a bolha estourou com as redes sociais. Ou entenderam, e por isso mesmo fazem de tudo para censurá-las.

O antibolsonarismo histérico, seja por viés ideológico ou por corrupção, tem sido a cola que une essa patota corporativista. É assim que uma simples opinião vira “ataque”

Quando há o Congresso em Foco, uma eleição dos melhores parlamentares escolhidos por jornalistas, invariavelmente temos a turma da esquerda radical como preferida. Uma reportagem de Bruna Komarchesqui na Gazeta do Povo mostrou estudo que aponta o viés: “Em sua edição mais recente, uma das maiores pesquisas feitas com jornalistas brasileiros mostra que a maioria esmagadora (81%) dos que responderam sobre convicções políticas se declarara de esquerda (52,8%) ou centro-esquerda (29%). Por outro lado, apenas 4% dos jornalistas disseram ter posicionamento mais à direita (sendo 1,4% de direita e 2,5% de centro-direita). Até mesmo os que se identificam como extrema esquerda (2%) superam os que os que se dizem de direita”.

Mas, se você aponta o óbvio, o viés esquerdista da patota, você é recebido com pedras. Eles precisam manter as aparências, afinal, o ideal de isenção e imparcialidade aprendido na faculdade de jornalismo. Eles são JOR-NA-LIS-TAS, não esquerdistas ou militantes. Não importa que todos possam perceber o duplo padrão escancarado de quando entrevistam um petista ou um bolsonarista. Nossa mídia virou partido de oposição, os entrevistadores se acham debatedores quando o “alvo” é de direita, e, quando são cobrados da mesma forma com que cobram os políticos, bancam a vítima e alegam que foram “atacados”.

Não custa lembrar que são os mesmos que dizem que os atos patrióticos pacíficos e ordeiros do 7 de Setembro representam “ataques” às instituições democráticas. Estão todos unidos num esforço conjunto para derrubar Bolsonaro, mesmo que para tanto seja preciso trazer o ladrão de volta à cena do crime. 

São “jornalistas” que não se importam quando jornalistas, tratados como “blogueiros bolsonaristas”, são presos pelo arbítrio supremo. São “jornalistas” que pregam a censura a veículos de comunicação independentes e plurais, como a Jovem Pan — que possui mais petistas em seu quadro de comentaristas do que qualquer concorrente possui de conservadores.

A mais nova investida do clubinho foi justamente contra a emissora de rádio que virou TV e faz enorme sucesso por romper com essa “omertà” mafiosa, a espiral de silêncio imposta pelo clubinho. Guilherme Fiuza comentou: “A resistência democrática encontrou seu plano genial: capar a audiência dos Pingos nos Is na internet. Bravo! A censura é a alma da democracia. Ainda assim, considerem a possibilidade de um dia sair do armário. Vocês vão ver como é bonita a vista aqui fora”. Fiuza passou a chamar essa mídia corrompida de “consórcio”, e lamenta profundamente no que se transformou a velha imprensa. Resta a ironia mesmo: “Sobe para 99,9% o índice de jornalistas em transe dispostos a tudo para eleger um ladrão”.

A militância é tão bizarra que esses jornalistas precisam apagar o passado recente. Bolsonaro passou a representar a maior ameaça à liberdade de imprensa, sendo que não moveu uma palha contra o trabalho da mídia, enquanto Lula fala abertamente em controlar a imprensa e, quando esteve no poder, criou o famoso “PIG”, Partido da Imprensa Golpista. Sua tática consistia em ataques machistas e blogs “chapas-brancas” para radicalizar os ataques à imprensa independente.

O antibolsonarismo histérico, seja por viés ideológico ou por corrupção, tem sido a cola que une essa patota corporativista. É assim que uma simples opinião vira “ataque”, enquanto os constantes ataques contra o presidente viram mera opinião — ou pior, “reportagem”. Mas todos fora da bolha notam, e por isso a credibilidade da velha imprensa só faz desabar. Dentro da bolha, porém, ninguém larga a mão de ninguém, e um fica bajulando o outro. É constrangedor…

 Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste

 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Minoria abandonada - Revista Oeste

 Augusto Nunes

Não há esperança de salvação para héteros brancos de olhos claros da classe média   

Como todos os jornalistas que viram a cena no cinema americano, também sonhei alguns anos com o dia em que, no comando de uma redação, seria confrontado com uma notícia tão poderosamente inesperada que ocuparia o espaço da manchete sem pedir licença, com o mesmo desembaraço exibido por Lula ao instalar-se por 111 fins de semana no sítio em Atibaia que era dele mas pertencia a um amigo. A carga explosiva da informação permitiria que, de pé na minha sala, eu berrasse a ordem que imobilizaria simultaneamente editorialistas, editores, repórteres, ascensoristas, redatores, fotógrafos, o homem do cafezinho, secretárias, computadores — até o HOMEM, substantivo em maiúsculas reservado exclusivamente ao dono do jornal, aguardaria paralisado na poltrona do seu bunker a explicação para o grito histórico:

PAREM AS MÁQUINAS!!!

Essa chance chegou quando dirigia a redação do Estadão, na virada dos anos 80 para os 90. E então percebi que essa gente do cinema mente muito. Pretexto para o berro consagrador até havia. No começo da madrugada, quando a edição do dia seguinte estava em trabalhos de parto nas rotativas, a vinheta do Plantão Globo preveniu que lá vinha coisa forte. Era mesmo, confirmou a voz solene do locutor: “Iraque ataca Israel com armas químicas”. A penúltima do Oriente Médio (lá não há a última) alcançou o comando da redação aglomerado em minha sala, não para debater os destinos do Brasil ou redesenhar os rumos da Humanidade, mas para comer pão feito em casa com manteiga feita em casa. Se um de nós sussurrasse um “parem as máquinas” naquele anticlímax, seria desterrado no botequim da esquina.

Sem reduzir o ritmo da ofensiva sobre a gastronomia doméstica, demoramos menos de um minuto para concluir que era o caso de avisar a gráfica para suspender momentaneamente a impressão, escalar um grupo de profissionais para conferir a notícia quanto antes e, verdadeira, ceder-lhe a área mais nobre do Estadão. Embora também estivesse mais interessado na receita do pão do que em improváveis acordos de paz na terra conflagrada, um dos editores executivos resumiu o palpite endossado pelos demais quarentões de larga milhagem: “A Folha vai trocar a manchete e continuar rodando. Gente jovem não sabe segurar a ejaculação”. Assim fez nosso impetuoso concorrente — até que o Plantão Globo reaparecesse na telinha e resolvesse a questão. A mesma voz avisou que o Oriente Médio não chegara a tanto, deu o dito por não dito e pediu desculpas aos telespectadores por eventuais desconfortos. Perdi a chance de parar máquinas no grito. Mas não perderia a piada.

Jornalistas contrários à liberdade de imprensa não se rendem facilmente

Na manhã seguinte, escalei um punhado de repórteres para a missão de altíssima relevância: localizar exemplares da Folha impressos entre o Plantão Globo da falsidade e o Plantão Globo do desmentido. Nos 30 minutos que separaram o furo do fiasco, milhares de folhas sem serventia haviam pousado nas bancas ou nos endereços dos assinantes. Como a direção do concorrente fizera o diabo para recolher as provas do crime, a colheita resultou em 20 papelórios com graves defeitos de fabricação. Mas bastaria uma única escassa primeira página que documentasse a perversidade química para ilustrar o texto que condensou o que ocorrera na madrugada. E justificar o título pronto na cabeça desde a véspera: FOLHA ATACA ISRAEL COM ARMAS QUÍMICAS. “Mas não se preocupem”, tranquilizava o fecho do relato. “No domingo, o ombudsman vai explicar tudo.”

Depois desse remoto incidente, a Folha nunca perdeu nenhuma chance de incluir-me na mais desprezível minoria abandonada, composta de héteros brancos de olhos claros e nascidos em famílias de classe média. Quando silenciei a insolência de Glenn Greenwald, as gralhas do jornal — são tantas que povoam até colunas esportivas assinadas por revolucionários de picadeiro — enxergaram uma erupção de homofobia no que não passou de um tabefe pedagógico. (Notaram como o receptador de material roubado se tornou bem menos disponível para entrevistas em estúdios e debates públicos? Pois é.) No mesmo episódio, afirmei que a diferença de gênero não impede que uma jornalista seja tão cafajeste quanto um similar masculino. Amuada, a inspiradora da constatação diagnosticou-me publicamente: sou um caso grave de misoginia. E então fiquei sabendo que odeio mulheres.

Neto de austríaco e italiana, agora cismaram que devo pedir perdão aos brasileiros negros pelo que fizeram a seus avós os portugueses e ingleses traficantes de escravos (além dos africanos que abasteciam navios negreiros com a captura de integrantes de etnias hostis). Meus antepassados não incluem bandeirantes, mas cresce a pressão para que eu peça desculpas aos antigos donos da terra pelo que fizeram os conquistadores do Brasil, em parceria com tribos que tinham tanto apreço pelos vizinhos quanto pelo Bispo Sardinha. Não importa: se venho de europeus, sou fascista (e um genocida em construção). Devolvo tais exigências com a anotação recorrente: erro de destinatário. Mas jornalistas contrários à liberdade de imprensa não se rendem facilmente.

Neste 25 de junho, por exemplo, estava posto em sossego quando recebi pelo WhatsApp a mensagem cujos trechos essenciais reproduzo sem correções:

“Estou entrando em contato com o senhor para perguntar se gostaria de se posicionar acerca de reportagem que estou apurando sobre racismo. Abaixo, encontrará as perguntas []

1. Na última quarta (23), o senhor disse ao vivo na Rádio Jovem Pan que “Todos os casos, inclusive essa evidente fraude ensaiada pelo deputado, seu irmão, Renan Calheiros e etc. As imagens que nós mostramos, elas falam. Nessas imagens, o rosto fala, os olhos, o tom de voz, o timbre, tudo. Até a tonalidade da pele fala e tal. É evidente que o Onyx, um político muito tarimbado, está dizendo a verdade”. O trecho em negrito foi considerado por ativistas negros como sendo expressão de racismo de sua parte. Gostaria de comentar o caso?”.

 Mandei a resposta em cinco minutos:

“Afirmei já no começo do comentário que, na TV, o rosto fala. Fala com o olhar inseguro, por exemplo. Ou com a boca ressecada. Ou com a tonalidade da pele. Quem mente corre o risco de ficar com o rosto ruborizado, com a pele avermelhada. Quando me exponho ao sol por muito tempo, meu rosto adquire uma tonalidade bronzeada. Quem vê racismo nessa constatação (sem ficar ruborizado) precisa de psiquiatra”.

Na sexta-feira, contei a história na Jovem Pan e li a resposta à reportagem prometida para a edição de domingo. Até agora, continua engavetada. Os editores do jornal devem estar empenhados em provar que sou pelo menos preconceituoso. Vou ajudá-los: sou preconceituoso com jornalistas que não sabem escrever. E despertam meus mais baixos instintos os que passam a vida infiltrados em cargos de chefia.

Leia também “Os vigaristas da adversativa”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste
 

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Lula e a Lava Jato

Opiniões sobre culpa ou inocência de Lula voltam à estaca zero

A condenação de Lula no caso do tríplex deve ser anulada. As conversas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol divulgadas pelo The Intercept Brasil provam que Moro atuou como parte da acusação. Se o juiz é acusador, não há defesa possível. Sem direito de defesa, não há julgamento justo. Lula não foi submetido a um julgamento justo. [importante: para que ocorra o que a primeira frase do parágrafo acima  expresse o resultado de uma sentença judicial é necessário que:
- os acusadores do ministro Moro consigam 'sumir' com o inciso LVI, artigo 5º, da Constituição Federal, cujo teor decreta  que provas obtidas por meios ilícitos não são admitidas no processo.
- provar a autenticidade dos diálogos atribuídos a Moro e aos procuradores,  obtidos através da prática de crimes.
Após o cumprimento desses passos, talvez o Supremo anule a condenação do presidiário Lula - só o STF pode decretar a anulação da condenação, tendo em conta que o processo foi examinado por todas as instâncias (até pelo Plenário virtual do STF)  e o STJ em sentença recente, confirmou a condenação do criminoso petista, reconhecendo como válidas todas as provas apensas ao processo, apenas procedeu uma redução da pena.
Importante ter em conta, que caso venha a ocorrer o absurdo da sentença condenatória ser anulada, mesmo assim, o ladrão petista está completando o cumprimento de um sexto da pena aplicada e isto não pode ser desfeito.
Já existe uma outra condenação sobre o ladrão mais querido do Brasil e que em breve será confirma pelo TRF - 4 = mais cadeia para Lula = volta para a prisão.]

Quanto às opiniões sobre a culpa ou inocência de Lula, elas voltam à estaca zero. Cada um achará Lula culpado ou inocente segundo sua própria avaliação pessoal das evidências, ou, o que é imensamente mais provável, segundo suas preferências políticas. A sentença de Moro deixa de ter qualquer peso nessa análise.

A propósito, o leitor Pablo López Guelli escreveu para a ombudsman me dando uma bronca porque não dei minha opinião sobre a condenação de Lula. Pablo, eu acho o seguinte: ficou razoavelmente bem estabelecido que Lula recebeu favores de uma empreiteira que participava do cartel no centro da Lava Jato. Não foram lá uns favores muito espetaculares, mas recebeu. O que eu acho difícil de estabelecer é o vínculo desses favores com o escândalo da Petrobras, e os vazamentos mostram que o próprio Dallagnol sabia que o difícil era isso.

Mas, sinceramente, essa é uma questão jurídica mais complexa do que “o réu tem que ter direito de defesa”, de modo que acho melhor deixar o debate para os juristas. E, sim, o fato de ter votado em Lula a vida inteira me deixa um pouco consciente demais de meu viés para opinar sobre isso com muita confiança.

Enquanto isso, amigos de esquerda reclamam porque eu ainda defendo a Lava Jato (a operação, não a sentença de Moro). Meus amigos, eu não largo as causas com facilidade. Pra vocês terem uma ideia, eu ainda defendo o PT. Quem tem que se sentir atingido é quem vendeu a narrativa “A Lava Jato foi a operação que descobriu os esquemas do Lula”. Se é seu caso, filho, você se ferrou: amarrou a operação a um caso que não é nem de longe o centro da investigação, e agora ajudou a desmoralizar a coisa toda.

Quem apostou a imagem da operação no processo de Lula que se vire para rebolar contra os fatos. Nunca achei que a Lava Jato fosse sobre Lula. Sempre achei, e continuo achando, que a operação merece entrar na história por ter provado algo que todo mundo sabia que existia, o cartel das empreiteiras. Era um negócio que fazia todas as obras públicas serem mais caras do que deveriam, financiava todos os grandes partidos desde sempre e criava incentivos para obras monumentais em que se podia roubar bastante.

Os erros de Moro e Dallagnol no caso Lula não comprometem nada disso. O importante ainda está de pé, a direita é que mentiu sobre o que era importante. Não se trata, absolutamente, de minimizar o escândalo da “VazaJato”. Discordo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que, em primeira avaliação, disse que se tratava de “tempestade em copo d’água”. O julgamento a ser anulado foi o que tirou Lula da disputa eleitoral de 2018. Lula liderava as pesquisas. Lula subiu nas pesquisas enquanto estava preso. Lula era o candidato preferido dos brasileiros mais pobres. [caso ocorresse a tragédia de Lula ganhar, o Brasil já estaria na metade do caminho para se tornar outra Venezuela - a inflação com Bolsonaro está em queda, o que é importantíssimo, inclusive e especialmente para os mais pobres.]  Não sei se teria ganho, mas Jair Bolsonaro parece achar que sim. Se não acha, por que disse que Moro livrou o Brasil do bolivarianismo?


terça-feira, 15 de agosto de 2017

Carlos Fernando, o procurador buliçoso, joga lei no lixo e ataca futura titular da PGR

Falando em nome de uma lei que não existe, o doutor já se coloca como ombudsman da sucessora de Janot e contribui objetivamente para difamá-la. Quem vai enquadrar esses malucos na lei?

Carlos Fernando, o mais virulento, ainda que não midiático, dos procuradores de Curitiba (a estrela é Deltan Dallganol), já resolveu se comportar como se fosse chefe ou ombudsman de Raquel Dodge, futura procuradora-geral da República. Em um evento sobre compliance, este senhor afirmou que a futura procuradora tem de se explicar sobre encontro com o presidente da República, que se deu fora da agenda, como não se cansa de noticiar por aí. Será que todos os encontros de Rodrigo Janot com o próprio presidente e com outros figurões da República, como deputados e senadores, estavam marcados?

Vamos lembrar? Janot se encontrou, secretamente, com José Eduardo Cardozo, então ministro da Justiça, em Buenos Aires, no dia 22 de novembro de 2014. Temer não é obrigado a divulgar a sua agenda. Mas o titular da Justiça é, sim. É o fim da picada! No dia 24 de fevereiro de 2015, houve outro encontro realmente secreto entre o procurador-geral e o ministro petista. Aguardava-se para aquela semana a chamada “Primeira Lista de Janot”. Como a coisa veio a público, ele esperou um pouquinho. Os nomes das pessoas que Janot queria investigar foram divulgados só no dia 6 de março daquele ano.

O que os dois discutiram? Ninguém quis revelar. Em Brasília, tinha-se uma certeza: a lista havia sido tema da conversa. Escrevo de novo: segundo a Lei 12.813, Cardozo era, sim, obrigado a divulgar a sua agenda. Que desculpa se deu? Ah, teria sido uma coisa fortuita, um mero acaso. E ficou tudo por isso mesmo! Raquel Dodge, como fica claro, pediu uma audiência por escrito.

Cheguei a censurar doutora Raquel hoje de manhã por ter divulgado o e-mail. Como se nota, ela estava, de algum modo, dando trela aos sequestradores de sua reputação, como faz Carlos Fernando, o homem que agride de maneira sistemática, determinada e metódica a Lei Complementar nº 75, que dispõe sobre a “organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União”.

Raquel não será a dona do Conselho Nacional do Ministério Público Federal. Tampouco mandará na Corregedoria. Mas se espera que, com a voz influente de uma procuradora-geral, cobre que tais órgãos enquadrem os comportamentos e falas que avancem a linha que separa o rigor da delinquência.  Como se Raquel, e não ele próprio, estivesse atuando fora de sua competência, afirmou Carlos Fernando: “Ela deu uma explicação e tem que ser cobrada pelas consequências desse ato”. Quais consequências? De que ato ele está falando? Observem que a criminalização do nada, que passou a ser a tarefa principal da Lava Jato, agora atinge membros do próprio Ministério Público que a Seita de Curitiba toma como adversários.

Em tal evento, o doutor desceu o pau nas escolhas do Congresso, atacou de forma indisfarçável prerrogativas do Poder e chegou a sugerir que o brasileiro não é um povo avançado o bastante. Vale dizer: o doutor transgredia uma penca de disposições do estatuto que rege a sua atividade. E, no entanto, resolveu se colocar como o bedel de Dodge: “Todo funcionário público é responsável pelos atos que tem. Infelizmente não há como fugir da responsabilização perante a sociedade.” Ele conferiu uma palestra sobre investigações anticorrupção, em fórum organizado pela Amcham (Câmara Americana de Comércio).

Observem que ele não diz que o funcionário público é obrigado a responder por seus atos segundo a lei. Ele escolhe como fórum “a sociedade”. Entenderam? Para gente como Carlos Fernando, o que importa é o alarido.  A quem atende? A Rodrigo Janot, o homem que celebrou o acordo com Joesley Batista, que é, este sim, personagem do maior escândalo da história do país. Considerando a impunidade garantida ao criminoso, é mais vexaminoso do que o próprio petrolão. Se Carlos Fernando combinou ou não com Janot o ataque a Raquel Dodge, não sei. Mas a sua fala se afina com a do ainda procurador-geral. Em recente entrevista à Folha, além de ameaçar o presidente da República, Janot expressou o temor de que sua sucessora passasse a atuar como engavetadora de investigações.

Carlos Fernando não age mais como procurador da República. Hoje, é um militante político. Se o Conselho Nacional do Ministério Público e a Corregedoria do órgão não os enquadrarem e a outros nos dispositivos da lei, teremos um Ministério Público que não mais zelará pelos fundamentos da República e pela defesa dos interesses dos cidadãos. Ao contrário: o MPF passará a ser a sede de uma seita disposta a, se necessário, em nome de suas idiossincrasias e de seus próprios preconceitos, levar o país ao abismo.
Tornaram-se os fanáticos do próprio oportunismo.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo 

 

 

quarta-feira, 22 de março de 2017

Gilmar Mendes faz críticas a vazamentos de conteúdos de investigações sigilosas

Em um duro discurso contra o vazamento de conteúdos sigilosos de investigações, o ministro Gilmar Mendes voltou a defender a anulação de materiais e depoimentos vazados de inquéritos. Gilmar criticou, sobretudo, o vazamento por parte de autoridades públicas, nomeando especificamente a Procuradoria-Geral da República (PGR). E disse que “a divulgação de informações sob segredo de Justiça parece ser a regra e não exceção”. 

“Não há nenhuma dúvida de que aqui está narrado um crime. A Procuradoria não está acima da lei. E é grande a nossa responsabilidade, sob pena de transformarmos este tribunal num fantoche. Um fantoche da Procuradoria da República. É preciso tratar o Supremo, Dra. Ella (Wiecko, representante da PGR no julgamento), com mais respeito.”
Gilmar Mendes manteve o mesmo tom crítico em toda a sua fala. “Eu mesmo me manifestei publicamente sobre este lamentável fenômeno em mais de uma oportunidade. Cheguei a propor no final do ano passado o descarte de material vazado, uma espécie de contaminação de provas colhidas licitamente mas divulgadas ilicitamente. E acho que nós deveríamos considerar este aspecto.” 

A manifestação do ministro se deu no início da sessão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), da qual é o presidente, nesta segunda-feira, 21. O ministro também criticou o uso de “offs coletivos” – quando informações são passadas, sob a condição de anonimato, a um grupo de repórteres que se comprometem a manter protegida a fonte da informação. Ele disse que “é importante destacar a fonte da denúncia”. 

“A imprensa parece acomodada com este acordo de traslado de informações. Pouca relevância dá ao fato inescapável de que, quando praticado por funcionário público, vazamento é crime. Os procuradores certamente não desconhecem”O ministro Dias Toffoli, que também integra a turma, endossou as críticas de Gilmar. “Realmente, temos que refletir sobre isso, eminente relator. Temos o cuidado, nas diligências, em determinar, sob pena de nulidade, que o sigilo seja respeitado”, disse Toffoli. 

PGR
Diante das críticas, a subprocuradora-geral da República, Ella Wiecko, representante da PGR na sessão, disse que “o princípio da legalidade deve ser muito respeitado”.
Ella Wiecko falou, também, da mídia. “Uma coisa que me chama a atenção é o poder da mídia. A ombudsman da Folha critica o próprio jornal. A mídia faz a investigação, sim. Eles têm acesso, não sei como, mas eles têm muitas informações e estabelecem um momento para levar estas notícias a público”, disse. 

Dirigindo-se a Gilmar Mendes, Wiecko falou: “Eu só queria dizer que essa sua insatisfação, essa insurgência, ela tem que ser compartilhada com todas as instituições e, certamente, pela mídia”. 

Carne fraca
Gilmar Mendes criticou também a Operação Carne Fraca, logo após dizer quehá uma disputa pela mídia” entre autoridades públicas de promovem investigações. Um delegado decide fazer uma operação, a maior do Brasil, para investigar a situação de carne. Anuncia que todos nós estaríamos comendo carne podre e que o Brasil estaria exportando para o mundo carne viciada. Por que fez isso? Porque, no quadro de debilidade da política, não há mais anteparo, perderam os freios. Não há mais freios e contrapesos”, disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo