Forças federais no Rio retornam com antigas incertezas
A chegada das tropas do Exército às ruas soou como o Desembarque da
Normandia, data comemorada como o início da vitória dos aliados na 2ª
Grande Guerra. As operações começaram às 14h ainda fora da cidade, no
Arco Metropolitano e na Rodovia Presidente Dutra, mas a notícia se
espalhou em minutos pelas redes sociais, trazendo ao Rio a sensação de
segurança que parecia ter fugido do estado na bagagem das equipes
olímpicas.
Forças armadas patrulham rodovias. Linha Vermelha - Paulo Nicolella / Agência O Globo
As primeiras ações indicam que o primeiro foco será a repressão aos
roubos de carga, mas tanto o ministro da Justiça, Torquato Jardim, como o
da Defesa, Raul Jungmann, garantem que também serão combatidos outros
delitos, e que as ações serão pontuais. Ou seja, na contramão de outras
ocupações, o foco não será o patrulhamento ostensivo, mas uma ação
direta ao crime organizado.
Jungmann acentuou ainda que, ao invés de uma operação pelo
tempo determinado de um mega evento - como vem ocorrendo desde a Rio 92
-, desta vez as operações serão de assalto, e poderão prosseguir até o
fim de 2018, prazo máximo para o fim do mandato do presidente Michel
Temer. Segundo o ministro, isto dará fim ao vai-e-vem da criminalidade
que "tira férias durante as operações".
Apesar de necessária por sua urgência, a chegada das forças
desta vez acontece no mesmo momento em que aprovação ao governo caiu ao
limite crítico de 5% de aprovação, segundo o Ibope, o mais baixo em 30
anos, criando uma agenda positiva para Temer às vésperas da votação na
Câmara Federal que irá decidir se ele será processado por corrupção
ativa.
As diferenças operacionais anunciadas também não eliminam as
dúvidas sobre o seu desfecho. Em todos os casos até hoje, a violência
recrudesceu após a retirada das forças e, em alguns casos, como na
ocupação do Complexo da Maré, ela inclusive acelerou sua retirada,
devido ao desgaste junto à população local. Em todos os casos também não houve período de transição para
a paz. Portanto, se a nova atuação da tropa tem o limite legal da
mudança de governo, e se, até o momento, não há um plano estratégico de
longo prazo para a segurança, a dúvida sobre a eficácia dessas operações
há de persistir. Em resumo: o que virá depois?