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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

"Dois desafios" - Alexandre Garcia

Lula parece não ter se dado conta do desafio que tem pela frente. A avaliação foi feita pelo ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, em entrevista ao Correio, na segunda-feira. Maílson disse que Lula frustrou as expectativas de economistas e do mercado, que esperavam  que o novo mandato fosse uma repetição do primeiro, mas está semelhante ao período de Dilma, "com intervencionismo muito forte, percepção equivocada do papel das estatais, como se o Brasil voltasse aos anos 1970, 1980 ou no período de derrama do Tesouro e do BNDES, do período Dilma". Um alerta baseado na primeira quinzena de governo, em que o calor do discurso de posse inflamou os discursos dos ministros.

O pacote de Haddad foi frustrante, uma tentativa de marketing que não mostrou saídas para o excesso de gastos. Ao mesmo tempo em que estoura o escândalo das Americanas, com pedaladas de 20 bilhões, e o Grupo Guararapes anuncia o fechamento de sua fábrica no Ceará, com perda de 2 mil empregos
A insegurança jurídica, agora alardeada pelo jornalista americano Glenn Greenwald, não anima produtores, empregadores e investidores nacionais e estrangeiros, tampouco o novo tamanho do Poder Executivo federal.

Maílson deve ter olhado o aspecto econômico do desafio, mas o presidente parece não estar também percebendo o tamanho do desafio político, exposto pelo retrato do país em 30 de outubro: Lula tem metade do eleitoradoisso sem a gente saber as preferências de 37 milhões que não votaram. Os acontecimentos de 8 de janeiro, com depredação nas sedes dos Três Poderes, não podem ser considerados apenas atos criminosos; foram também atos políticos. Os responsáveis pelos crimes devem responder na Justiça, mas os atos políticos devem ser respondidos com atos políticos que não inflamem ainda mais as cabeças que comandam braços, mãos e pernas.

E o presidente, ao que parece, está lidando com pombas e falcões nas suas próprias avaliações e no seu entorno. 
Já fez declarações de pacificação, mas, também, já lançou palavras de guerra. No café com jornalistas fez provocações desnecessárias aos militares; agora pretende conversar com eles, talvez num almoço, ainda nesta semana; já houve até uma preliminar, com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, almoçando ontem com os comandantes militares, tendo o ministro da Defesa, José Múcio, como anfitrião. 
É preciso reconhecer que as invasões se constituíram um pretexto conveniente para mostrar força, mas estão esquecendo da proporcionalidade dessa força, no país dividido ao meio. Isso serve para as duas forças que se opõem. 
E quem está no poder tem mais responsabilidade com a paz, porque detém os meios do Estado. Os dois grandes desafios, econômico e político, interagem; um alimenta o outro.

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense