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quarta-feira, 8 de março de 2023

Em 2016, PF revelou ‘tesouro’ da Presidência levado por Lula

 Mais de 130 itens estavam armazenados em cofre do Banco do Brasil

O tesouro em questão foi guardado por cinco anos nos cofres de uma agência bancária e pertencia ao atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva
O tesouro em questão foi guardado por cinco anos nos cofres de uma agência bancária e pertencia ao atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Fátima Meira/Estadão Conteúdo

O caso das joias dadas pela Arábia Saudita ao governo brasileiro, e que seriam para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, trouxe à tona outro escândalo envolvendo a apreensão de bens destinados à Presidência da República: os objetos guardados por cinco anos nos cofres de uma agência bancária e que pertenciam a Lula.

Composto de 133 itens valiosos, a maioria dos presentes veio de chefes de Estado ou de governo visitados pelo petista, ou que vieram ao Brasil.

Todos esses itens foram incorporados ao patrimônio público. A Polícia Federal (PF) apreendeu, em março de 2016, os objetos em uma sala-cofre da agência do Banco do Brasil, em São Paulo, onde estavam guardados, em 23 caixas lacradas, desde janeiro de 2011, mês em que Lula deixou a Presidência, em seu segundo mandato.

O cofre foi encontrado pela PF durante uma operação de busca e apreensão contra Lula, no âmbito da Operação Lava Jato, denominada Aletheia. “Foram encontradas nas caixas de papelão, de modo geral, peças decorativas, espadas, adagas, moedas, canetas e condecorações”, diz o relatório da PF, assinado pelo delegado Ivan Ziolkowski, que ilustrou o documento com fotos de peças do acervo.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

"Dois desafios" - Alexandre Garcia

Lula parece não ter se dado conta do desafio que tem pela frente. A avaliação foi feita pelo ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, em entrevista ao Correio, na segunda-feira. Maílson disse que Lula frustrou as expectativas de economistas e do mercado, que esperavam  que o novo mandato fosse uma repetição do primeiro, mas está semelhante ao período de Dilma, "com intervencionismo muito forte, percepção equivocada do papel das estatais, como se o Brasil voltasse aos anos 1970, 1980 ou no período de derrama do Tesouro e do BNDES, do período Dilma". Um alerta baseado na primeira quinzena de governo, em que o calor do discurso de posse inflamou os discursos dos ministros.

O pacote de Haddad foi frustrante, uma tentativa de marketing que não mostrou saídas para o excesso de gastos. Ao mesmo tempo em que estoura o escândalo das Americanas, com pedaladas de 20 bilhões, e o Grupo Guararapes anuncia o fechamento de sua fábrica no Ceará, com perda de 2 mil empregos
A insegurança jurídica, agora alardeada pelo jornalista americano Glenn Greenwald, não anima produtores, empregadores e investidores nacionais e estrangeiros, tampouco o novo tamanho do Poder Executivo federal.

Maílson deve ter olhado o aspecto econômico do desafio, mas o presidente parece não estar também percebendo o tamanho do desafio político, exposto pelo retrato do país em 30 de outubro: Lula tem metade do eleitoradoisso sem a gente saber as preferências de 37 milhões que não votaram. Os acontecimentos de 8 de janeiro, com depredação nas sedes dos Três Poderes, não podem ser considerados apenas atos criminosos; foram também atos políticos. Os responsáveis pelos crimes devem responder na Justiça, mas os atos políticos devem ser respondidos com atos políticos que não inflamem ainda mais as cabeças que comandam braços, mãos e pernas.

E o presidente, ao que parece, está lidando com pombas e falcões nas suas próprias avaliações e no seu entorno. 
Já fez declarações de pacificação, mas, também, já lançou palavras de guerra. No café com jornalistas fez provocações desnecessárias aos militares; agora pretende conversar com eles, talvez num almoço, ainda nesta semana; já houve até uma preliminar, com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, almoçando ontem com os comandantes militares, tendo o ministro da Defesa, José Múcio, como anfitrião. 
É preciso reconhecer que as invasões se constituíram um pretexto conveniente para mostrar força, mas estão esquecendo da proporcionalidade dessa força, no país dividido ao meio. Isso serve para as duas forças que se opõem. 
E quem está no poder tem mais responsabilidade com a paz, porque detém os meios do Estado. Os dois grandes desafios, econômico e político, interagem; um alimenta o outro.

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O bicho da inflação - J.R. Guzzo

O Estado de S. Paulo

Brasil se acostumou a ficar arisco quando ouve falar em aumento de preços, mas os investidores, até o momento, não parecem realmente aflitos

Para um país que viveu sob a gestão econômica do presidente José Sarney, de seus ministros seriais da Fazenda e dos planos de professor Pardal que anunciavam de meia em meia hora para salvar a economia – e cuja única distinção era darem sempre errado –, o Brasil se acostumou a ficar arisco quando ouve falar em inflação. A última vez foi em 2015, já na agonia, paixão e morte do governo Dilma Rousseff. Comparada com os números espetaculares e inesquecíveis de Sarney, a inflação de Dilma foi uma mixaria – mas, ainda assim, ninguém gostou do que viu. Agora, já ao final deste primeiro ano de devastação da covid-19, turbinada pela promoção do pânico, pela demagogia dos governos e por sua inépcia na administração do problema, o bicho volta a se fazer notar.

As últimas cifras a respeito são uma brincadeira, é claro, diante das memórias vivas da inflação brasileira0,90% de aumento do IPCA no mês de novembro, acima do índice de outubro, e 4,30% nos últimos doze meses, o que é mais do que os 4% pretendidos pelas metas do Banco Central
Mas 4 vírgula pouco no ano é melhor do que 40% no mês, como nos tempos da inflação de verdade. Ao final de 2020, de janeiro a dezembro, o resultado deve ficar em algo mais que 3%. Bico.

Leia Também: Vera Magalhães: Acossado pela vacina

Mas aí é que está: no Brasil de hoje, o único que interessa, nada é bico quando se trata de inflação – basta o índice deixar de cair, ou deixar de ficar parado, para os decisores se preocuparem e para os escritórios de análise econômica ouvidos pela mídia começarem a anunciar que o tempo está ficando ruim. Os investidores, até o momento, não parecem realmente aflitos. A Bolsa de Valores está operando acima dos 114.000 pontos, depois de ter ficado abaixo dos 70.000 em março. Está se aproximando do seu recorde de 120.000 pontos em janeiro – e Bolsa em alta nunca foi sinal de inflação, recessão, Tesouro em recuperação judicial e outras desgraças desse tipo. Os primeiros sinais de recuperação da economia, ao mesmo tempo, já começaram a aparecer. 
Mas, como dito acima, inflação é inflação.

Todo o mundo, é claro, vai estar atento à evolução das próximas semanas e do começo de 2021. A gestão econômica do governo não deve ter maior impacto nos índices de inflação – tem limites para diminuir, e não tem planos para aumentar. Mas isso é coisa que não se esconde, e nem se inventa. A situação da economia será exatamente a que os fatos mostrarem.

J.R. Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo

 

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Defunto insepulto - Dora Kramer

Veja - Blog da Dora Kramer

Resta agora a dúvida sobre se a saída de Marcos Cintra significa o enterro definitivo da CPMF


Foi-se o secretário da Receita Federal Marcos Cintra, mas não se encerrou com isso o assunto da volta da CPMF. Seria o enterro definitivo? Restam dúvidas. Primeiro, porque não está claro se ele foi demitido pela defesa ardorosa do mais odiado dos impostos ou se a causa foi a divulgação antecipada de algo que ainda estava em estudos e na dependência do sinal verde do presidente da República.
 
[enquanto o presidente Jair Bolsonaro tergiversar quando perguntado sobre a CPMF,  ela não volta e quem insistir terá a cabeça cortada pelo presidente da República;
se ele passar a aceitar, estará cometendo suicídio político com dia para ocorrer - eleições presidenciais de 2022, já no primeiro  turno.
Detalhe: argumento de que o  presidente pode pensar em matéria de CPMF e outros assuntos, de forma  diferente do que pensou/prometeu na campanha, não existe. É e sempre será estelionato eleitoral.
Tem outras promessas de Bolsonaro que precisam ser cumpridas e ele certamente quer cumpri-las, só que ainda não chegou o momento.]


Em segundo lugar, porque governos adoram o tributo, de fácil arrecadação (“cai na conta” do Tesouro automaticamente) e vasta base de contribuintes, pois pessoas físicas e jurídicas fazem transações financeiras. Fernando Henrique criou, Luiz Inácio da Silva tentou ressuscitar, o que lhe custou rara e fragorosa derrota no Congresso, Dilma Rousseff chegou a cogitar e agora Jair Bolsonaro retomaria se pudesse. Uma coisa era o candidato que rechaçava a volta da CPMF, outra bem diferente é o presidente e suas circunstâncias administrativas.

A avaliação geral no Congresso e no Executivo é de que tão cedo não haverá clima para retomar o tema, mas como a reforma tributária parece que só avança em 2020, há tempo. Na hipótese de uma retomada, o governo nem precisaria por a digital, podendo recorrer aos serviços de congressistas amigos para apresentação de emenda incluindo o imposto devidamente repaginado na proposta da reorganização dos tributos.

Blog Dora Kramer - Dora Kramer - Publicado na Veja

sexta-feira, 19 de julho de 2019

O Alcance da desestatização - Editorial - O Estado de S. Paulo

Levantamento do 'Estado', indica que o programa federal de desestatização pode render até R$ 450.000,00

A despeito dos programas de desestatização executados pelos diferentes governos desde a década de 1990 – mas com pouco ou nenhum empenho no período lulopetista (2003-2016) –, a presença das empresas estatais na economia brasileira continua excessiva. Ainda existem, segundo dados oficiais, 46 estatais sob controle direto da União e 88 sob controle indireto. A União tem ainda participação minoritária em 58 empresas privadas e públicas. Somando-se às estatais federais as empresas controladas pelos Estados e pelos municípios, o número deve superar 440 – o total pode ser até 50% maior –, de acordo com estimativas do secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Salim Mattar.

Esses números, apresentados na reportagem de José Fucs publicada pelo Estado, dão a dimensão que pode alcançar um amplo programa de desestatização, como o que o governo pretende executar de maneira acelerada após a aprovação da reforma da Previdência. A eles podem ser acrescentados os valores de outorga de cessão onerosa de áreas do pré-sal e de duas rodadas de licitações de petróleo e gás. Ainda falta a votação da reforma em segundo turno na Câmara e em dois turnos no Senado, mas a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, já fez vários cálculos do valor que o Tesouro poderá obter.

Levantamento do Estado indica que o programa federal de desestatização pode render até R$ 450 bilhões. Esse valor inclui 132 participações acionárias diretas da União com potencial para negociação de maneira pulverizada ou em bloco e os valores mínimos para a outorga de áreas do pré-sal e a receita com as rodadas de licitação de gás e petróleo. Nele estão consideradas todas as operações de privatização, desinvestimentos, abertura de capital e venda de participações minoritárias das estatais e suas subsidiárias. Só as participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio de sua controlada BNDESPar, em empresas de capital aberto e fechado têm atualmente valor de mercado de R$ 143,7 bilhões. O
ministro Paulo Guedes já estimou em R$ 1 trilhão o total que pode ser arrecadado pela União até 2022 com a desestatização. A estimativa do secretário Salim Mattar é mais conservadora, de R$ 635 bilhões, com as privatizações. As outorgas e a venda de imóveis da União poderiam render mais R$ 115 bilhões. Há também estimativas de instituições financeiras, próximas de R$ 450 bilhões.

Todos esses valores são muito maiores do que os alcançados em governos anteriores. Mesmo que o programa do governo alcance apenas a metade da estimativa mais conservadora, resultando em receita de R$ 200 bilhões a R$ 225 bilhões para o Tesouro, será o maior gerado por desestatizações na história do País. Vistas pelo valor de mercado ou por critérios contábeis e financeiros, são imensas, de fato, as perspectivas para o programa de desestatização – e, por extensão, para o programa de ajuste fiscal do governo federal. Para que essas possibilidades de obtenção de receita e de drástica redução da presença do Estado na economia se concretizem, no entanto, muitos obstáculos terão de ser superados. Eles são de natureza política e boa parte está dentro do próprio governo do presidente Jair Bolsonaro. Há resistências à privatização da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), da Valec, [todas as estatais devem ser vendidas, sendo aceitável uma ou outra exceção - justificada de forma detalhada e fundamentada;

a Valec, pela sua inutilidade, deveria ter sido desestatizada antes mesmo de ser criada.]  da EBC, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), da Finep, dos Correios e outras mais.

A definição de modelos de privatização e de concessões, de sua parte, será decisiva para despertar o interesse de investidores nacionais e estrangeiros e estimular entre eles a competição que assegure receitas adequadas para a União.  Ainda que tudo ocorra de acordo com a projeção mais otimista, a presença do Estado na atividade econômica por meio de empresas controladas pela União continuará expressiva. A lista das empresas privatizáveis não inclui Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES, todas com forte atuação em seus mercados. [a CEF - Caixa Econômica Federal - deveria ser dividida: 

o banco vendido; 
e a parte que exerce funções de apoio a programas de governo se manter como órgão público, incluindo programas imobiliários para pessoas de baixa renda, PIS, FGTS e similares.]

Editorial - O Estado de S. Paulo

 

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Venezuela e Cuba têm R$ 2,3 bi em atraso com BNDES

Se pagamento não for feito, calote terá de ser coberto pela União; banco registrou perdas de R$ 4,4 bi em 2018 em função dos empréstimos

Venezuela, Cuba e Moçambique somam R$ 2,3 bilhões em dívidas atrasadas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo câmbio de quarta-feira. Se esses países não honrarem o pagamento, o governo brasileiro terá de cobrir o calote. O risco de não-pagamento apenas de Venezuela e Cuba levou o banco a registrar perdas de R$ 4,4 bilhões no balanço financeiro de 2018, divulgado na semana passada. A cifra equivale a tudo que o BNDES ainda tem a receber dos dois países. 

Impulsionados nos governos do PT, os financiamentos do banco de fomento para obras no exterior foram muito criticados por economistas, que viam nas operações motivações políticas ou excesso de subsídios para beneficiar as grandes construtoras, contratadas pelos governos estrangeiros para tocar os projetos. As empreiteiras acabaram alvo das investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. 
 
Os financiamentos do BNDES ao exterior são cobertos pelo Tesouro, via Fundo de Garantia à Exportação (FGE), que custeia o Seguro de Crédito à Exportação (SCE). Por causa dos atrasos desses três países, o banco já foi indenizado em um total de R$ 1,3 bilhão. 


No Orçamento de 2019, feito ano passado, o governo alocou R$ 1,5 bilhão de despesas do FGE. Se confirmado, o gasto de 2019 será 26% superior ao de 2018, de R$ 1,2 bilhão, que cobriu atrasos de Venezuela e Moçambique.  O BNDES registrou as perdas no balanço para cumprir as regras do Banco Central (BC) para “provisão para créditos de liquidação duvidosa”. Pelas normas, quando um banco começa a registrar atrasos no pagamento de dívidas, fica obrigado a reservar valores no balanço para fazer frente ao provável calote. Isso não quer dizer que o banco perdeu o dinheiro de vez, mas o lucro é diminuído. Quando o devedor inadimplente regulariza os pagamentos, o banco pode tirar a dívida dessa “reserva”.

MATÉRIA COMPLETA, no O Estado de S. Paulo
 



 

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Socializar prejuízos

Faz todo sentido que funcionários contribuam para cobrir déficits de seus fundos de pensão

O debate que transcorre em torno da reforma da Previdência, em que emerge o tratamento privilegiado de que usufruem o funcionalismo público como um todo e certas castas de servidores em especial, tem servido para destacar o fato de como grupos organizados conseguiram capturar áreas do Estado em benefício próprio. Um dos motivos de ser a brasileira uma sociedade muito desigual. Há vários casos do mesmo tipo. Além deste, sobre benesses de aposentados da Justiça, do Ministério Público, do Legislativo, entre outros setores do serviço público, há os segurados de fundos de pensão de empresas estatais.

Hoje, enfrentam dificuldades. Mas não se pode esquecer a trajetória destes fundos, entre os quais se destacam os de funcionários da Petrobras (Petros), do Banco do Brasil (Previ) e da Caixa Econômica (Funcex). Segmento também bastante privilegiado durante muito tempo, esses fundos, chamados no passado de “caixas de seguridade”, garantiram altas aposentadorias vitalícias. Uma impropriedade do ponto de vista técnico, atuarial, mas que ainda é garantido a funcionários públicos que recebem benefícios iguais ao último salário obtido na ativa, também beneficiando-se dos reajustes concedidos à categoria. A norma vigorou até dezembro de 2003, garantindo-se o direito do funcionário que estava no serviço público até então.

Até as crises econômicas pós-ditadura militar, o regime destes fundos de pensão de estatais era basicamente de “beneficio definido” — a aposentadoria era preestabelecida.
E se desequilíbrios houvesse, e passaram a ser frequentes à medida que a inflação subia, a empresa mantenedora cobria o rombo, e posteriormente o repassava ao Tesouro. Em artigos no GLOBO, Roberto Campos chamava a atenção que algumas estatais transferiam mais dinheiro para o fundo de seus funcionários do que pagavam dividendos ao seu acionista controlador, o Tesouro, em nome da União. Um caso evidente de captura de estatais por corporações de servidores. A instabilidade econômica levou a que esses fundos estimulassem a adesão a planos de “contribuição definida”. Quer dizer, sabe-se quanto se recolhe ao plano de aposentadoria, mas seu valor só será conhecido quando o benefício for requerido. Portanto, hoje, parte dos empregados de estatais já corre um risco, como os assalariados do setor privado, que os funcionários mais antigos nunca correram.
Nesta evolução, há desencontro de contas, desavenças e disputas judiciais. A questão é que empregados mais jovens têm sido convocados a também contribuir para o reequilíbrio do fundo de sua estatal. Sensato. Reclama-se que rombos foram causados por corrupção. Principalmente nos governos lulopetistas (vide petrolão). Neste caso, houve problemas sérios de governança, com falta de fiscalização dos próprios empregados. Além do mais, se representantes dos empregados não denunciaram equívocos na gestão do fundo devido a simpatias ideológicas com governantes, os contribuintes como um todo não podem ser forçados, por meio do Tesouro, a cobrir esses déficits. [os deficits dos fundos de pensão das estatais devem ser cobertos por contribuições extras dos empregados daquelas estatais.

É questão de Justiça - mesmo o deficit tendo sido por corrupção e/ou outras causas, houve a conivência, ainda que por omissão, dos empregados ou dos seus representantes - eleitos pelos empregados.
É um assunto que sequer merece ser discutido.
Afinal, os funcionários públicos que sempre contribuíram com percentuais superiores aos cobrados dos empregados das empresas privadas, se o teto de contribuição dos servidores públicos sempre foi superior ao teto de contribuição do contribuintes privados, resultando, por óbvio, em benefícios para os servidores = em síntese: pagou percentual maior sobre uma base de cálculo maior, nada mais justo receber aposentadoria maior = estão sendo compelidos a pagar percentuais maiores e receber valores menores, qual a razão dos empregados das estatais serem bancados pelos contribuintes?]

 Editorial - O Globo


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O funcionalismo e a crise fiscal

Os números falam

Tudo justifica que servidores contribuam para o ajuste de forma equivalente às vantagens usufruídas

Há de existir algo no imaginário da população que leva a que figuras caricatas de servidores públicos apareçam em roteiros de ficção, cômicos ou não, e mesmo inspirem piadas em que o funcionário sempre assume papéis incômodos. Como de operadores insensíveis da infernal burocracia do Estado brasileiro. Obras ficcionais costumam explorar estereótipos, mas nem por isso deixam de ter uma ligação com a realidade. Daí a popularidade de muitas delas. O traço de injustiça que pode existir nessas imagens do servidor público está na generalização. Mas elas refletem o que se passa em torres de marfim no serviço público, em que salários e outros benefícios chegam a superar a realidade da administração pública de países ricos. Sem falarmos da corrupção, no varejo e atacado.

A mais séria crise fiscal de que se tem notícia na história brasileira — muito porque nesta não existe inflação elevada para ajudar a mascarar as despesas públicas reais — tem ajudado a iluminar a contabilidade pública. Com o Tesouro a caminho da insolvência — até que seja cortado o nó previdenciário —, números que nunca foram levados a sério ou chamaram a atenção devida passaram a frequentar com mais assiduidade o noticiário da imprensa profissional.

Tem então ficado evidente que, no descalabro fiscal, em que se destaca a Previdência já responsável por pouco menos que a metade das despesas primárias da União, portanto sem considerar os juros da dívida —, os benefícios pagos aos servidores têm grande peso no déficit total. Não apenas isto, também fica demonstrado pelos números que a disparidade entre aposentadorias de castas de servidores e os benefícios do trabalhador da iniciativa privada (INSS) é eficiente indutor da concentração de renda no Brasil.

Aos números: o déficit existente nas aposentadorias de apenas um milhão de servidores da União, em 2015, forçou o Tesouro a transferir para este sistema R$ 90,7 bilhões, arrecadados de todos os contribuintes brasileiros, pessoas físicas e jurídicas. Mais do que os R$ 85 bilhões repassados para os 33 milhões de segurados do INSS. Disparidades como esta ajudam a entender por que, apesar da miríade de programas ditos sociais, a má distribuição de renda persiste. Há, é evidente, uma usina de desigualdades operando a todo vapor em prol de castas e elites que habitam o Estado.

As discrepâncias são extensas no sistema previdenciário como um todo. Enquanto no INSS há um teto de cinco salários mínimos para os benefícios (R$ 5.531),[teto que também vale para a contribuição máxima para o INSS] durante muitas anos os servidores se aposentaram com o último salário, ganhando ainda a paridade automática com o funcionário da ativa. A regra só mudou para os admitidos a partir de 2013.

Resultado: a aposentadoria média no Ministério Público é de R$ 18 mil; no Judiciário, R$ 26,3 mil e, no Congresso, R$ 28,5 mil. No INSS é impossível ultrapassar R$5.531. E poucos chegam a este teto.  Os números justificam medidas que levem servidores a dar uma contribuição ao ajuste minimamente proporcional às vantagens de que usufruem. Isto se chama justiça social, no verdadeiro sentido do termo.

Editorial - O Globo




quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Crescem pressões sobre um Planalto fragilizado


Está em funcionamento o balcão de negociatas fisiológicas, para a comercialização de apoios ao presidente na votação da segunda denúncia da PGR

Lida na Câmara a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer, abre-se formalmente a tramitação desta nova acusação. Trata de “obstrução de Justiça" — no caso, envolvendo a compra do silêncio de Lúcio Funaro e Eduardo Cunha — e de uma “organização criminosa” no PMDB, com a participação, entre outros, de dois ministros, Moreira Franco e Eliseu Padilha, incluídos na denúncia.

As circunstâncias tumultuadas em que ocorreu a delação de Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS, permitiram que a defesa do presidente tentasse barrar esta segunda denúncia ainda no Supremo. Em vão, porque ao MP foi garantido, por dez votos a um, o direito de fazer as denúncias, a serem aceitas ou não pelo STF, mas só se passarem pela Câmara.

Porém, a base de Temer na Casa diz ter confiança em que impedirá, pela segunda vez, que denúncia da PGR seja devolvida ao Supremo, para efetiva análise da Corte. Neste caso, ela fica à espera do fim do mandato do presidente, quando ele perde o foro especial do STF, para, então, ser remetida à primeira instância. A aprovação da admissibilidade da acusação necessita de 342 votos, ou dois terços da Câmara

Ou seja, com o apoio de 172 deputados, no plenário, o presidente susta a denúncia. Na primeira, obteve 263 votos. [quem precisa reunir 342 deputados para abrir a sessão é a Oposição; se tiver apenas 341 deputados a sessão não será aberta, exceto se for para tratar de outra pauta - examinar a denúncia contra Temer só com 342 deputados presentes - e ao iniciar a votação o primeiro deputado a votar for pelo arquivamento da denúncia, é só pedir contagem do quórum e se for de 342 votos, faltando 341 deputados para votar, se interrompe a sessão.
Tem uma turma de deputados tipo Chico Alencar, Alexandre Molon, Randolfe Rodrigues que estão sempre fazendo contas e dizendo que desta vez Temer perde.
Estão enganados, aliás, aqui cabe uma pergunta: algum dos citados já teve um projeto de lei - mesmo que seja dando nome a uma praça - aprovado?
A única produtividade dos parlamentares citados - e de outros, ora ignorados - é fazer contas,  nas quais Temer sempre perde.
Encerrando com um lembrete: paralisar a Câmara a pretexto de punir Temer só prejudica o Brasil.
Deixem a denúncia seguir o trâmite normal - ser arquivada - e deixem o Temer trabalhar para a recuperação econômica do Brasil.
Os opositores de Temer não perderão nada, já que os desempregados que voltarem a ter trabalho ficarão felizes e logo que Temer termine o mandato as denúncias serão encaminhadas a um juiz para o devido julgamento.
Temer sequer precisa comprar apoio - mesmo descartando os parlamentares que queiram vender o voto , a oposição não conseguirá os 342 votos necessários. ]
Mas, como sabido, o governo Temer está fragilizado pelas próprias acusações, e se fragiliza mais ainda à medida que crescem as pressões para a “venda” de apoio, a fim de que o Planalto saia vencedor neste embate. Primeiro, na Comissão de Constituição e Justiça; depois, no plenário da Câmara. Um obstáculo a Temer e grupo é que o cobertor está curto. O governo já foi obrigado a rever a meta fiscal, que é de déficit, ampliando-a, este ano e em 2018, para R$ 159 bilhões em cada um deles.

Na primeira denúncia, dos R$ 4,17 bilhões de emendas previstas para de 1º de janeiro a 4 de agosto, R$ 4,03 bilhões, ou 96,6% das emendas, foram liberados em junho e julho, não por coincidência pouco antes da votação decisiva, em 3 de agosto.

Mas emendas também são finitas, até porque parlamentares querem utilizar parte delas para compor o Fundo Partidário, depois da grande e merecida resistência a que se usasse mais dinheiro do contribuinte para financiar as campanhas. Esta ideia foi aprovada ontem à noite pelo Senado.  Mas ainda parece haver mercadoria no saco de bondades do presidente — sempre às custas do Tesouro, por óbvio, e, portanto, do equilíbrio fiscal.
Resta esperar que a Câmara e o Planalto apressem esta tramitação, para que o funcionamento do Congresso volte a um mínimo de normalidade.

Fonte: Editorial - O Globo