O capitão reformado lamentou todas as mortes que tiveram 'dos dois lados', mas avaliou que nenhuma teria ocorrido se 'não tivesse aquela vontade de implantar o comunismo no Brasil'
O presidente Jair Bolsonaro sinalizou que vai formalizar ao Supremo Tribunal Federal (STF) os esclarecimentos sobre a ação protocolada por ex-presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que pedem explicações do chefe do Executivo federal sobre declarações ditas na segunda-feira (29/7) sobre o advogado Fernando Santa Cruz, vítima de crime contra a humanidade durante a ditadura militar e pai do atual presidente da Ordem, Felipe Santa Cruz. [destaque-se que o presidente da República não tem, conforme artigo 144 do Código Penal Brasileiro, obrigação de responder aos questionamentos apresentados pelo ministro Barroso.]
O capitão reformado [atualmente, presidente da República Federativa do Brasil, eleito com quase 60.000.000 de votos.] lamentou todas as mortes que tiveram “dos dois lados”, mas avaliou que nenhuma teria ocorrido se “não tivesse aquela vontade de implantar o comunismo no Brasil”. Para ele, as pessoas deveriam ter “aceitado a normalidade que acontecia”. A
formalização de esclarecimentos não foi confirmada assertivamente por
Bolsonaro. Questionado pela imprensa, nesta sexta-feira (2/8), na saída
do Palácio da Alvorada, disse que o relator da interpelação no STF,
ministro Luís Roberto Barroso, manifestou que ele não tem a obrigação.
“O próprio ministro (disse que) não tenho essa obrigação. É só
transcrever o que falei pra vocês. O que falei demais? Me responda. O
que tive conhecimento na época… eu ofendi o pai dele (Santa Cruz)? O que
eu tive conhecimento na época o assunto foi esse”, destacou.
Questionado novamente se prestaria esclarecimentos, Bolsonaro foi
mais objetivo. “Mesmo eu não sendo obrigado, eu presto (explicações),
não tem nada demais. Vou entregar o vídeo, fazer a degravação e mandar”,
afirmou. A ideia, segundo ele, é transcrever em texto as respostas
ditas por ele na segunda-feira, à imprensa, e, depois, em “live” feita
em uma rede social, na tarde do mesmo dia.
Comunismo
Ao
comentar o assunto, Bolsonaro disse que, nessa quinta-feira (1º/8), se
encontrou com o filho do jornalista Edson Régis de Carvalho, morto em
julho de 1966. O comunicador era secretário do governo de Pernambuco e
faleceu vítima da explosão de uma bomba, no saguão do Aeroporto
Internacional do Recife. O caso ficou conhecido como Atentado do
Aeroporto dos Guararapes. Nenhum grupo reivindicou a autoria à época.
Décadas
depois, nos anos 1980, membros da Ação Popular, um dos principais
grupos contrários à ditadura -- do qual Fernando Santa Cruz era
integrante --, informou que o atentado foi uma ação isolada de um
membro. A ação criminosa visava a morte do general Arthur da Costa e
Silva, então ministro do Exército e candidato à sucessão presidencial.
Foi um dos presidentes durante o regime militar.
O
presidente da República disse que o filho de Régis, que não teve o nome
revelado, negou o pedido de um vídeo. “Eu o recebi, não gravei vídeo
com ele. Estava exaltado e queria gravar vídeo comigo”, justificou.
Bolsonaro disse que, na época, Fernando Santa Cruz tinha 14 anos (na
verdade, ele tinha 18 anos) e citou que, segundo publicação em uma
revista Veja, dizendo que, “em especial no Rio de Janeiro”, se
“arrebanhava a garotada com 14 anos nas escolas”.
A
declaração de Bolsonaro, embora não tenha mencionado o nome, faz
referência ao núcleo da Ação Popular no Rio de Janeiro, onde Fernando
Santa Cruz desapareceu. “É uma verdade, a verdade dói, machuca, tá
certo. Agora, lamento todas as mortes que tiveram dos dois lados. Se não
tivesse aquela vontade de implantar o comunismo no Brasil, não teria
acontecido nada disso. Se tivessem aceitado a normalidade que acontecia,
nada teria (acontecido)”, avaliou.
Correio Braziliense