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Mostrando postagens com marcador Eduardo Villas-Bôas. Mostrar todas as postagens
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sábado, 17 de outubro de 2020

Generais e seus labirintos - Folha de S. Paulo

Cristina Serra 

Villas-Bôas não destoa da atuação histórica das Forças Armadas no Brasil

 Passou quase em branco informação importante publicada nesta Folha para a reconstituição dos bastidores do golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff (ou alguém aqui ainda acredita em pedaladas fiscais?). A colunista Camila Mattoso, no Painel, informou que, um ano antes do impeachment, o vice, Michel Temer, teve um encontro sigiloso com o então comandante do Exército, Eduardo Villas-Bôas, e o chefe do Estado Maior, Sérgio Etchegoyen.



A revelação foi feita pelo filósofo e amigo de Temer, Denis Rosenfield, que intermediou o encontro. Segundo ele, o comandante o procurou porque os militares estavam "preocupados com o país". Etchegoyen foi nomeado ministro da Segurança Institucional de Temer. Villas-Bôas é o general tuiteiro que se tornou uma espécie de tutor-geral da República, com desenvoltura suficiente para postar ameaças ao STF quando bem entende.

No exercício de tutela danosa para a democracia, o general não destoa da atuação histórica das Forças Armadas no Brasil: da origem da República (com um golpe militar), ao longo de todo o século 20, culminando com os 21 anos de ditadura. Os militares, ora no poder em trajes civis, têm como herói o bestial Brilhante Ustra, que, entre outras atrocidades, levou crianças para ver os pais sendo torturados. "Um homem de honra", disse Mourão, em vexaminosa entrevista.

O governo de extrema direita [sic] reúne um arranjo de interesses que degrada e perverte o país. Além dos generais embalsamados na Guerra Fria, fundamentalistas religiosos, defensores do ultraliberalismo econômico, o agronegócio do "correntão", milícias e a família do chefe, de braços dados sob a regência do centrão. Todos fazem de conta que Bolsonaro aprendeu as virtudes da moderação, que a corrupção acabou e a vida segue. Aí, aparece um senador, vice-líder do governo, com dinheiro enfiado no bumbum para nos lembrar que estamos trancafiados num labirinto e que alguém jogou a chave fora.

Cristina Serra, jornalista - Folha de S. Paulo


terça-feira, 21 de maio de 2019

E se fosse Lula a chamar o povo às ruas contra o Congresso e a Justiça?

Só um cego não vê o que se desenha

[o que pega na pergunta é que o Lula é um condenado, um presidiário, não tem direitos políticos, não pode chamar ninguém às ruas; achamos intempestiva a manifestação, mas mesmo intempestiva ela não pode ser convocada por sentenciados - devido a sentença impedir e ao fato de estarem na jaula.]

Imagine que o presidente da República fosse Lula. E que, sentindo-se fraco, ele admitisse participar de manifestações de ruas convocadas por seus devotos para apoiá-lo e protestar contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal que o estariam impedindo de governar. A essa altura, o que os adversários de Lula diriam? No mínimo, que ele quer emparedar os demais poderes da República jogando o povo contra eles. No extremo, que Lula trama um golpe para acabar com a democracia e governar sozinho.

E se os ministros que cercassem Lula em Brasília fossem generais da reserva? E se os comandantes militares calados estivessem e assim permanecessem? A propósito: ameaçada pelo impeachment, Dilma quis decretar o Estado de Emergência. Os militares disseram não. [é tradição que quando os militares entendem necessário uma manifestação mais presencial - sem o uso, para alerta, do Twitter - eles realizam atos mais efetivos.
Manifestação intempestiva, apenas para responder a uns imbecis que consideram CONTINGENCIAR e CORTAR sinônimos, é perder tempo, se desgastar a toa.]
 
No ano passado, ao sinal de que Lula poderia ser solto, Eduardo Villas-Bôas, comandante do Exército, postou uma mensagem no Twitter ameaçando o Supremo. Lula segue preso. Villas-Bôas despacha no Planalto. Sérgio Moro, no Ministério da Justiça.  Ou falta inteligência política ao presidente Jair Bolsonaro, ou ele é louco, ou, como disse o ex-presidente José Sarney em entrevista no último fim de semana ao jornal “Correio Braziliense”, Bolsonaro está “no olho de um furacão e joga todas as suas cartas no caos”.

De Sarney se poderá dizer tudo, menos que lhe falte experiência aos 89 anos de idade, 52 dos quais vividos como deputado e senador, fora os quatro anos como governador do Maranhão e os cinco como presidente da República. Já viu tudo que gostaria ou não de ter visto. O furacão ao qual Sarney se refere foi provocado por Bolsonaro que não governa, que só se aplica em desatar crises, quase uma por semana. A um presidente responsável e bem-intencionado caberia desinflar crises e debelar furacões criados à sua revelia.

Bolsonaro passou 28 longos anos na Câmara dos Deputados e está cabalmente demonstrado até aqui que nada aprendeu. Eleito presidente por “milagre” como ele mesmo reconhece, não se preparou para tal, e não parece interessado em preparar-se. Mas de golpe entende.  Defendeu o golpe de 64. Defendeu a ditadura militar que se arrastou por 21 tenebrosos anos. Defendeu a tortura de opositores do regime. Lamentou que a ditadura tenha matado menos gente do que mata o carnaval. [Bolsonaro defendeu práticas perfeitamente necessárias para o restabelecimento da ORDEM PÚBLICA  e a manutenção do BRASIL INDEPENDENTE e SOBERANO.] Jamais se penitenciou por ter dito todas essas infâmias.

Mesmo que acabe convencido por seus generais de pijama de que não deve comparecer às manifestações marcadas para o próximo domingo, só ter cogitado de ir é uma prova de sua insanidade ou de sua disposição por ora reprimida de forçar uma ruptura institucional.  De resto, terá estimulado seus seguidores a ocuparem as ruas em sua defesa e em ataque ao Congresso e à Justiça. Por sinal, foi o que fez ontem ao compartilhar no WhatsApp um texto favorável às manifestações e ao dizer que o problema do Brasil “é a classe política”.[na qual ele fez questão de se incluir, lembrando ainda ser daquela classe.]
Só não enxerga o que se desenha no horizonte quem é cego ou se recusa a ver.

OUÇA OS PODCASTS DE VEJA

Nesta semana, a surpreendente história de Hamilton Mourão, o vice destoante da República.