A
jararaca parece ser a novidade. Todos dizem que ela apanhou. Alguns dizem que a pancada
pegou na cabeça. Outros juram que foi no rabo. Mas todos concordam. A jararaca parece não ter saído incólume.
Confesso
que não lembrava exatamente o que era uma jararaca. Fui pesquisar. A original,
segundo a Wikipédia, é uma serpente muito venenosa e
responsável por grande parte das picadas de cobra em sua região de origem.
Na natureza, tem jararaca de todo tipo e atendendo por muitos e diferentes
nomes... Jararaca-do-campo, jararaca-do-cerrado, jararaca-dormideira,
jararaca-preguiçosa e jararaca-verdadeira... E que todas gostam de ratos.
Já em sua forma humana, jararaca,
na gíria, é Pessoa fofoqueira, traiçoeira. Qualidades adequadas para descrever a jararaca em questão.
Esta, sem duvida alguma, foi atingida pela paulada metafórica. E virou noticia.
Apesar do golpe, sobreviveu. Meio tonta, fez barulhos,
esperneou, reclamou. Tem o direito.
Alguns podem achar que esta
jararaca luta contra a extinção. É improvável. Ela provavelmente sobreviverá para ver o futuro,
viver nele, testemunha-lo. Para esta
jararaca, o futuro, especialmente o imediato, é importante. Para o futuro, é possível que a jararaca não tenha importância
alguma.
Futuros são assim. Relegam a (no máximo) notas de rodapé personagens menores da trama. Lembram
somente daquilo que vale a pena preservar. E, convenhamos, muita coisa e muita gente nos dias de hoje merecem ser esquecidos. Ou ignorados. A jararaca, inclusive.
Com sorte, em alguns anos, os
ratos, as jararacas, o veneno, o bote, os ataques, enfim, estes tempo
com muito calor e nenhuma luz talvez façam parte de
passado distante que a gente possa ignorar. E dele levar somente o
aprendizado para que nada disso se repita.
No meio
tempo, a gente vai ter que ouvir e
presenciar o estrebucho e barulho da jararaca. E entender que ela luta não
pela sua sobrevivência. A jararaca (ou pelo menos esta jararaca) não está nem corre o risco de ser, extinta. Ela
apenas perdeu a importância.
A gente já cansou dela. E prefere que ela continue sua
caminhada relutante em direção ao ostracismo, enquanto, infelizmente, abusa da
paciência, dos ouvidos e da boa educação. Continua viva. Mas cada vez mais
esquecida. E irremediavelmente irrelevante.
Fonte: O Globo – Elton Simões