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terça-feira, 7 de setembro de 2021

Ex-ministro da Defesa teme “paralisia” das Forças Armadas diante de crise insuflada por Bolsonaro - Bela Megale

O Globo

Crise entre os poderes

O ex-ministro da Defesa Celso Amorim não acredita nas chances de as Forças Armadas embarcarem numa aventura golpista do presidente Bolsonaro, mas afirma ter outro receio sobre os militares. O temor de Amorim é que haja uma paralisia por parte de integrantes das Forças Armadas diante de um eventual pedido de atuação das mesmas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ou pelo Congresso Nacional, caso a crise atinja seu ápice. – Meu maior temor não é que as Forças Armadas embarquem em um golpe. O que temo é que fiquem paralisadas, e que, na hora que o presidente do STF ou do Senado verem necessidade de intervir em uma situação caótica criada por milicianos ou policiais rebelados, os militares não atuem por estarem divididos e influenciados por esse ambiente. E aí nossa democracia se afundaria pelo ralo – disse à coluna. [temos uma certa dificuldade em entender a motivação de certos órgãos da imprensa em entrevistar EX; Ao que entendemos, ex é ex, especialmente os que além do título de ex também estão mergulhados no ostracismo. Talvez a motivação que não entendemos, se fortaleça na possibilidade de ser mais fácil obter de um ex posições convenientes à quem entrevista.
De qualquer forma, apesar de pouco somar, temos que reconhecer que o entrevistado andou lendo o artigo 142 da Constituição Federal, em uma leitura conjunta com a LC 97/99, especialmente seu artigo 15.]

O ex-ministro também elogiou a atuação do general Edson Pujol, que deixou o comando do Exército com os chefes das demais Forças em março. O presidente Bolsonaro exigiu a demissão de Pujol por não aceitar a sua postura de não defender as pautas do governo. – Pujol fez concessões, como a produção da cloroquina durante a pandemia  pelo Exército, mas fez um esforço para manter as Forças Armadas afastadas dessas atitudes golpistas. Bolsonaro lhe estendeu a mão e ele estendeu o cotovelo – disse Amorim. [sem a ousadia de  criticar a turma da "ciência", que está sempre tentando acertar, conduta louvável, lembramos a cloroquina é adequada para tratamento da malária, moléstia presente em regiões do território brasileiro e nas quais as FF AA estão presente, necessitando de meios eficientes que livre nossos militares do males daquela secular moléstia.]

Bela Megale, colunista - O Globo


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

UM PODER PARALELO QUE NÃO PERDE ELEIÇÃO: NOSSOS MUITOS SOVIETES - Percival Puggina

Durante décadas fui participante ativo de debates políticos nas emissoras de rádio e TV de Porto Alegre. Eram anos de ostracismo para o pensamento conservador e para as ideias liberais de que o país era tão carente. Contavam-se nos dedos os que se dispunham a enfrentar o esquerdismo que ia dominando a política nestas bandas. Na Rádio Guaíba, um estúdio instalado na esquina da Caldas Júnior com a Rua da Praia proporcionava som e ampla visibilidade ao público que se acotovelava para assistir as discussões do programa Espaço Aberto. Durante a Feira do Livro, o “Estúdio de cristal”, como era chamado, mudava-se para a Praça, e a multidão, literalmente, cercava aquele ringue retórico para ver quem iria às cordas.

À medida que nos aproximávamos do fim do milênio, os partidos de centro-direita e de direita foram virando apoiadores de quaisquer governos, espécie de contrapeso nas disputas eleitorais, deixando sem trincheira ou expressão o ideário conservador e liberal. Fechavam-se, no Rio Grande do Sul, as últimas portas ao debate político que fosse além do bate-boca pelo poder. Ou, com palavras melhores, em que essa disputa não fosse a única finalidade de todo argumento.  Lembro-me de ter ouvido do governador Alceu Collares, num desses debates, pela primeira vez, referindo-se ele aos partidos do espectro esquerdista: “Nós, do campo democrático e popular”. A expressão disseminou-se.

Socialistas, marxistas e a esquerda em geral agarraram-se com braços e pernas ao binômio democrático-popular. Posavam como donos desse “campo”. Nele jogavam futebol e golfe, criavam gado e faziam seus melhores discursos. E criavam conselhos populares... Então, como ainda hoje, eram avessos à propriedade privada, mas o tal “campo” foi cercado, escriturado em seu nome e passou a lhes pertencer o inço que ali crescia.

Não falo, apenas, de uma pretensão local, mas de uma obstinação mundial. É bom lembrar que Albânia, Bulgária, China, Cuba, Camboja, Coréia do Norte, Mongólia, Vietnã, Iêmen, e todas as demais republiquetas africanas, asiáticas e europeias, que em décadas anteriores adotaram o socialismo, se apresentavam ao mundo como “democracias populares”. Enchiam a boca e estatutos constitucionais com sua condição de people’s republic. E o leitor está perfeitamente informado sobre seus principais produtos: totalitarismo, supressão das liberdades, genocídio e miséria. Aqui no Brasil, o dito campo esquerdista encontrou na criação e povoamento de conselhos uma forma de se institucionalizar e atuar politicamente. Na administração pública estão em toda parte. Com exceções, formam pequenos sovietes, determinando e impondo políticas. São detentores de um poder paralelo que somente na órbita federal se manifesta através de 2.593 colegiados, segundo matéria de O Globo publicada em 29 de junho de 2019. Na véspera, Bolsonaro havia anunciado a intenção de reduzi-los a 32.

No entanto, esses aparelhos políticos resistem. Os 996 conselhos ligados a instituições federais de ensino operam em ambientes blindados pela autonomia universitária. Outros foram instituídos por lei e só poderão ser cancelados por outra lei. Assim, no curto prazo, apenas 734 criados por decretos federais ou por portarias dos próprios órgãos federais estão liberados para encerramento de atividades. [mesmo assim, se um magistrado federal entender conveniente, concede uma liminar e o presidente da República é desautorizado e impedido de cumprir uma atribuição constitucional.]
Note-se: a criação e operação de grande parte desses conselhos, muitos dos quais altamente onerosos ao pagador de impostos, é apenas uma das formas de aparelhamento da administração pública, que deveria ser apartidária, técnica e comprometida com a redução do peso do Estado sobre a sociedade.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, arquiteto, empresário e escritor e titular do site , colunista de dezenas de jornais e sites no país. 



 

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Se o duelo Bolsonaro-Macron é um jogo de ganha-ganha, quem são os perdedores? - Alon Feuerwerker

À medida que a fumaça (sem ironia) da batalha se dissipa, fica claro: a disputa entre Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron leva jeito de ganha-ganha. O francês afagou seus agricultores e lustrou o figurino de líder mundial na luta pela salvação do planeta. Já o brasileiro reagrupou as tropas. O ambientalismo é a corrente política ascendente na Europa. E o apoio das Forças Armadas é um passaporte para a estabilidade do governante no Brasil.

Bolsonaro terminou bem a semana. Além de varrer do noticiário os resmungos internos, sempre em off, pelo tratamento sem deferência dispensado aos militares graduados palacianos, parece ter fechado um acordo de procedimentos com Sergio Moro. E este leva jeito de ter percebido que não lhe convém sair do governo. Deixaria sua tropa exposta a retaliações. E, após as manchetes lácrimo-laudatórias, ou iria para o ostracismo ou viraria coadjuvante de João Doria.

Coadjuvante por coadjuvante, melhor ser do presidente da República.  Do lado de Macron, o protagonismo ambientalista ajuda-o também a receber um olhar mais condescendente nos problemas internos. O chefe do Eliseu foi neste episódio um mestre no manejo do “jornalismo de causas”. Funciona assim: Se você defende uma causa pré-definida como certa, você está certo a priori em qualquer debate relacionado à causa em questão. E não só. Aos amigos, tudo; aos inimigos, nem o manual da redação.   No campo bolsonarista, ganharam muitos pontos os militares, cujos líderes foram os únicos a repudiar expressamente a proposta macroniana de abrir o debate sobre a internacionalização da Amazônia. Já registrei aqui mas não custa repetir. A bandeira “A Amazônia é nossa”, que enfeitou por décadas os ambientes da esquerda, hoje está pendurada como troféu de guerra nas paredes da direita. A raiva é uma péssima conselheira, sempre costuma lembrar o ex-presidente Lula.


Mas, e o risco de isolamento global? No momento é baixo. A força da agropecuária nacional leva França e Irlanda a resistir à invasão do agronegócio brasileiro. Mas para a Alemanha a abertura aqui do mercado de compras públicas e para importar manufaturados é um negócio irresistível. Cada um com seus problemas, deve ter pensado Frau Merkel diante da belicosidade verbal de Monsieur Macron. Ainda que ela também esteja sob pressão dos Verdes. Bolsonaro move-se em circunstâncias geopolíticas favoráveis. Interessa aos Estados Unidos manter o Brasil sob seu guarda-chuva, pois a alternativa é o deslocamento brasileiro para mais perto da órbita da China. E se Trump perder a eleição? Aí teríamos um replay das tensões entre Jimmy Carter e Ernesto Geisel. Bem, nesse caso sempre restará a carta chinesa para colocar na mesa. Como Geisel manejou a carta alemã. E, afinal, cada dia com sua agonia.

Por falar em carta chinesa, veio da embaixada da China em Brasília o apoio verbal mais musculoso ao Brasil no caso dos incêndios amazônicos. Fica a dica.


*
O presidente disse que vai vetar coisas na Lei de Abuso de Autoridade. Aí caberá a Moro lutar no Congresso Nacional para evitar a derrubada. Vetos são derrubáveis pela maioria absoluta dos deputados (257) e senadores (41). Quanto Bolsonaro vai se meter nisso? Mais provável é que se meta pouco, muito pouco. Já está claro que ele dá um boi para não entrar numa briga com o Legislativo, e dá uma boiada para sair.

*
A economia dá sinais de retomada lenta. Mas os empregos gerados são por enquanto poucos e de baixa qualidade. O que vai pesar mais no povão na hora de avaliar o governo? As coisas estarem melhorando? Ou elas melhorarem pouco e devagar? Façam suas apostas. 

Análise Política Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

sábado, 3 de novembro de 2018

Ex-BBB [último colocado entre os deputados eleitos pelo RJ] culpa Bolsonaro por ameaças que recebe na internet

O ex-BBB, j.w. foi reeleito deputado federal pelo Rio, na última colocação - 0,31% dos votos = 24.295 votos.

O ex-BBB teve uma das menores votações, só tendo sido eleito devido o voto de legenda (aproveitou a ampla votação de um outro psolista, que o 'puxou' para os 'eleitos'.

Percebendo que escapou da derrota por pouco e enciumado pelo fato do candidato apoiado por Jair Bolsonaro - Helio Barbosa, 345.234 votos - , mais de doze vezes o total da votação de j.w., tenta atribuir ao ex-presidente tudo de ruim que lhe acontece - afinal caluniar o presidente eleito, o MITO é sempre uma forma de aparecer, flutuar um pouco sobre o ostracismo.

Editores do Blog Prontidão Total

 

segunda-feira, 12 de março de 2018

Ex-acusador-geral não aceita o ostracismo - quer aparecer, custe o que custar

Janot, que se comportou como botequeiro na PGR, resolveu criticar o encontro entre Temer e Cármen. Um pouco de memória…

Rodrigo Janot é mesmo um fanfarrão de quinta categoria. E demonstra não ter senso de ridículo. Compartilhou no Twitter uma nota publicada no jornal O Globo, segundo a qual, em seus meses à frente da Procuradoria-Geral da República, Raquel Dodge ainda não fechou nenhum acordo de delação premiada. O botequeiro aproveitou, também, para censurar o encontro havido no sábado entre o presidente Michel Temer, e Cármen Lúcia, que preside o Supremo. Temer foi à casa da ministra. Então vamos ver.

A página que publicou a cobrança feita a Dodge, que Janot endossou, é a mesma que divulgou o “furo” que nunca existiu, a saber: Temer teria dado aval a Joesley Batista para comprar o silêncio de Eduardo Cunha. Lembram-se disso? O dito aval não estava na gravação, era uma invenção, que saiu das catacumbas da PGR de Janot para a imprensa. O “aval” inventado, a “fake news” de Janot, era o centro de uma articulação para derrubar o presidente Michel Temer. A reforma da Previdência, por exemplo, começava a morrer ali.

É de uma ousadia espetacular que aquele que entregou tudo aos irmãos Batistana verdade, negociou com eles a impunidade em troca da entrega das respectivas cabeças dos presidentes da República e do PSDB, Michel Temer e senador Aécio Neves venha agora posar de moralizador, fazendo exigências à sua sucessora. Foi o jeito de Rodrigo Janot conduzir delações que quase levou o país ao abismo. De tal sorte foram dolosos os procedimentos que as delações dos Batistas e sua turma estão suspensas, e só falta agora que Edson Fachin, o relator, homologue o fim da patuscada.

Raquel Dodge está falhando, sim, mas de um modo distinto. Cumpre saber quando a atuação de Janot no caso da delação dos irmãos Joesley e Wesley será investigada. Até agora, não se tem notícia de nada. Já resta evidente — e comprovado — que o ex-procurador Marcelo Miller atuou ao mesmo tempo como auxiliar do então procurador-geral e como advogado da JBS. Assim, é mesmo do balacobaco que Janot, que deveria estar sendo investigado, faça cobranças sobre investigações.

Temer-Cármen Setores da imprensa e moralistas de meia-pataca censuram o encontro entre Michel Temer e Cármen Lúcia — ele foi à casa dela no sábado, não o contrário. Por que o berreiro? Porque a conversa não constava da agenda de ambos. E daí? Todos sabem que um encontro como esse não fica jamais à escondidas. Tampouco era essa a intenção. No dia em que o chefe do Poder Executivo não puder se encontrar com a chefe do Poder Judiciário, bem, aí o país estará mesmo perdido. Eu me nego a fazer qualquer especulação sobre o que conversaram ou não.

Não custa lembrar. Existe uma lei que prevê a obrigatoriedade da divulgação da agenda. É a 12.813, que trata de conflitos de interesses. Os respectivos presidentes dos Três Poderes não estão entre as autoridades obrigadas a tornar públicos seus compromissos. Logo, o encontro, que imoral não é, desde sempre, também não é ilegal.   Mas Janot resolveu tirar a sua casquinha, não é? Escreveu ele: “Causa perplexidade que assuntos republicanos de tamanha importância sejam tratados em convescotes matutinos ou vespertinos”.

Ah, como esquecer? Em setembro de 2017, Janot foi flagrado num boteco, na periferia de Brasília, em companhia de ninguém menos do que Pierpaolo Bottini, advogado de Joesley. À diferença do que ocorre com Temer e Cármen — que não têm como esconder o encontro — o bate-papo do procurador-geral que, havia garantido a impunidade ao empresário, com o advogado que representava o chefão da JBS deveria ter permanecido secreto. Ocorre que alguém flagrou o tête-à-tête, mediada por cerveja — uma exceção na vida de Janot: ele prefere uísques no plural.  É estupefaciente que Janot, um dos artífices da crise política que ameaça devolver o país ao buraco de onde Temer o retirou, esteja por aí a expelir regras.

Blog do Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Muita sorte ao azar

Temer conhecia seus ministros suficientemente bem para saber dos riscos das nomeações. Ainda assim os alojou no primeiro escalão do governo

Michel Temer é habilidoso, bem treinado nas artes e nas manhas, conforme atestam seus anos a fio na presidência do embornal de felinos chamado PMDB e o maneirismo sinuoso exibido na construção do caminho de Dilma Rousseff para o ostracismo. Fala sem dizer, atua se se comprometer. Um político vestido em figurino ao jeito antigo.

Tudo certo, caso tal estilo não tivesse passado da moda. O presidente da República é um homem referido numa época anterior à influência das redes sociais, à independência dos jornalistas em relação às “fontes”, ao noticiário em tempo real, à consolidação do preceito constitucional da liberdade de imprensa, ao peso da opinião do público.  De onde, o presidente segue alheio ao compromisso assumido na substituição ao PT no poder, achando que possíveis consequências acabam por cair no esquecimento. O acordo não escrito, porém implícito, previa mudança radical de procedimentos. Não apenas na condução da economia, mas no critério de mérito e reputação na escolha de ministros, além da recusa a expedientes escusos tais como o abrigo de amigos no foro especial de Justiça.

Distante na forma, Temer se aproxima de Dilma no conteúdo quando não presta atenção à folha corrida de auxiliares, cria ministérios para abrigar afilhados e considera a Presidência da República maior que o país. Nessa trilha, caminha desconectado das prioridades postas no contrato firmado com a maioria favorável ao impeachment. A expectativa não inclui nomeação de ministros cuja reputação os tornasse passíveis de demissão – como ocorreu em menos de seis meses – nem escolhas questionáveis do ponto de vista político ou atos que poderiam sugerir interferência indevida no andar da carruagem jurídico-policial que busca conduzir o Brasil aos trilhos.

Temer conhecia seus ministros detonados suficientemente bem para saber dos riscos das nomeações. Ainda assim os alojou no primeiro escalão do governo. Sabia da semelhança entre a nomeação de Moreira Franco e a tentativa de Dilma de dar foro privilegiado a Luiz Inácio da Silva. Ainda assim repetiu o gesto.  O presidente dispunha de inúmeras possibilidades juridicamente consistentes para ocupar a vaga do ministro Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal. Ainda assim optou por aquela que mais suscitava questionamentos sólidos. Mais fortes que as críticas às relações petistas de Ricardo Lewandowski e Antonio Dias Toffoli, pelo fato de Alexandre de Moraes ser um político. 

Anteontem filiado ao PMDB de Michel Temer, até ontem registrado no PSDB de Aécio Neves.
No contexto de uma operação como a Lava-Jato é de se perguntar porque um governante daria tanta sorte para o azar. Provavelmente por razões de DNA. Características que o fazem habilidoso, mas, de outro lado, o colocam na condição de político à moda antiga. Estilo superado e popularmente rejeitado.

 Por: Dora Kramer - Publicado na edição impressa de VEJA

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A turma da operação "lava jato" deve confiar na Justiça

Os doutores da operação "lava jato" dizem que o projeto que pune os abusos de autoridade praticados por policiais, juízes e promotores destina-se a "aterrorizar procuradores, promotores e juízes".

Não estão sozinhos. A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, pergunta : "Criminalizar a jurisdição é fulminar a democracia. Eu pergunto a quem isso interessa? Não é ao povo, certamente. Não é aos democratas, por óbvio. (...) Desconstruir-nos como Poder Judiciário ou como juízes independentes interessa a quem?"

Joaquim Barbosa, que ocupou a cadeira da ministra, fez um raciocínio mais acrobático. Segundo ele, as forças que cassaram o mandato de Dilma Rousseff estariam num novo lance: "Se eu posso derrubar um chefe de Estado, por que não posso intimidar e encurralar juízes?" [Joaquim Barbosa não se conforma com o ostracismo ao qual foi relegado.]

A ideia de que o projeto aprovado na Câmara intimida, encurrala, ou amedronta os juízes, procuradores e policiais repetiu-se dezenas de vezes. Basicamente, o projeto estabelece penas de seis meses a dois anos de prisão para magistrados que ajuízem ações com má-fé, por promoção pessoal ou perseguição política ou para procuradores que instaurem procedimentos "em desfavor de alguém, sem que existam indícios mínimos de prática de algum delito". O nó está aí, uma investigação aberta levianamente pode dar cadeia.

Alguns artigos são banais, como o que penaliza os servidores que venham a "proceder de modo incompatível com a honra, a dignidade e o decoro de suas funções." Houve época em que um presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo deixava sua Porsche no estacionamento da corte. Vá lá. Num surto, o projeto quer proibir juízes de dar entrevistas. É verdade que eles não deveriam falar fora dos autos, mas não podem ser amordaçados. A "lava jato" e todas as investigações estariam ameaçadas porque, aberto um inquérito, um cidadão que se julgue prejudicado poderá processar procuradores ou mesmo o juiz por abuso de autoridade. "Um atentado à magistratura", nas palavras do juiz Sergio Moro.

Antes de concordar com o fim do mundo, fica uma pergunta: quem poderá condenar o policial, o procurador ou o juiz? Um magistrado, e só um magistrado.  Se os procuradores da "lava jato", o juiz Moro, a ministra Cármen Lúcia e seu colega Joaquim Barbosa não confiam na Justiça, por que alguém haverá de fazê-lo?  De fato, juízes e procuradores podem se sentir intimidados, até mesmo aterrorizados. A Lei Maria da Penha, por exemplo, intimida e aterroriza milhares de homens que pensam em bater numa mulher. Assim são as coisas e é bom que assim sejam.

Com novos mecanismos de correição uma juíza como a doutora Clarice Maria de Andrade, da comarca paraense de Abaetetuba poderia ficar intimidada ou mesmo aterrorizada antes de permitir, em 2007, que na sua jurisdição uma menina de 15 anos fosse mantida presa numa cela com 23 homens durante 26 dias. Três anos depois o Conselho Nacional de Justiça puniu-a, com a pena de aposentadoria compulsória. Em outubro passado o CNJ reviu a decisão, colocando-a em disponibilidade, por dois anos, com vencimentos proporcionais. Depois, zero a zero e bola ao centro.

A defesa da lei do abuso tem uma carga maldita. De um lado estão juízes e procuradores que batalham em defesa da moralidade e do outro, personagens de pouca reputação. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Imagine-se que um sujeito entra numa igreja e vê um batizado. Os padrinhos são os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, mais os deputados Rodrigo Maia e Weverton Rocha, signatário da emenda que define crimes de responsabilidade para juízes e procuradores. O bebê é inocente, nada sabe da vida, mas acaba associado aos quatro padrinhos.

Artigo originalmente publicado no jornal Folha de S.Paulo 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O lorotário da ‘presidenta’

De lorota em lorota, Dilma tenta adiar o ostracismo o quanto pode à custa da Nação

O comparecimento da presidente afastada, Dilma Rousseff, ao julgamento de seu impeachment foi agendado e ela tratou na semana passada com o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), do rito a ser adotado na sessão. Foi-lhe atribuída a intenção de reverter a crônica da condenação anunciada com um discurso capaz de constranger oito dentre os julgadores, que foram seus ministros, a votar por sua volta, depois de terem aprovado a pronúncia dela na votação anterior. Eles figuraram entre os 55 favoráveis a seu afastamento, e não entre os 21 que decidiram paralisar o processo, menos da metade dos 43 necessários (metade mais um).

O crítico severo poderá achar destemperado o gesto, o que condiz com seu temperamento tempestuoso. Mas é contrário a todas as leis da probabilidade e da lógica. Pois é Dilma a maior responsável pelo calvário que ela mesma, seu criador, Luiz Inácio Lula da Silva, e o Partido dos Trabalhadores (PT), de ambos, estão vivendo neste agosto de seu desgosto. Em março de 2014 o Estadão publicou documentos, até então inéditos, revelando que em 2006, quando era ministra da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, ela aprovou a compra onerosa de 50% de uma refinaria da belga Astra Oil em Pasadena, no Texas (EUA). Divulgada a notícia, explicou a discutível decisão dizendo que só a apoiou por ter recebido “informações incompletas” de um parecer “técnica e juridicamente falho”. Sua primeira manifestação pública sobre o tema foi chamada, e com toda a razão, de “sincericídio”.

Pois às vésperas de se impor como candidata à reeleição presidencial, contrariando a vontade de Lula, responsável por sua eleição em 2010, Dilma acendeu o estopim de uma bomba que viria a explodir no colo de ambos, ao delatar e encalacrar o ex-diretor internacional da petroleira, Nestor Cerveró. Aí, este, como delator premiado na Operação Lava Jato, virou um algoz de que Lula e ela não se livraram e, ao que tudo indica, nunca se livrarão.

A expulsão de Lula do páreo provocou ressentimento nesse patrono de seus triunfos. Apesar de tudo, Dilma reelegeu-se. Mas isso complicou seu desempenho no cargo em quase todas as decisões importantes que tomou, ou deixou de tomar. Ela obteve 51,64% dos votos e Aécio Neves, do PSDB, 48,36%. A diferença foi de 3,4 milhões. Essa foi a menor margem de sufrágios em segundo turno desde a redemocratização. No entanto, ela reagiu como se tivesse obtido a votação total. Em contraste com a atitude educada do opositor, que a saudou pela vitória, afirmou: “Não acredito que essas eleições tenham dividido o País ao meio.” Assim, inaugurou uma falsa aritmética, na qual o mais sempre vale tudo.

Seu primeiro erro fatal, após empossada pela segunda vez, foi atender a seus espíritos santos de orelha Cid Gomes e Aloizio Mercadante Oliva, entrar na fria de enfrentar Eduardo Cunha e o PMDB do vice eleito com ela, Michel Temer, e apoiar Arlindo Chinaglia (PT-SP) na disputa pela presidência da Câmara. Perdeu no primeiro turno por larga maioria, na primeira de uma série de derrotas que, mesmo nas vezes em que teve apoio de menos de um terço, ela nunca aceitou.

Tentando corrigir esse erro, ela prometeu os votos do PT no Conselho de Ética da Casa para evitar a punição de Cunha, que, acusado de corrupção ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mostrara força reduzindo a pó projetos do governo com “pautas-bomba”. Só que o PT lhe puxou o tapete, negou apoio ao desafeto e aprofundou o fosso que a separava do parceiro majoritário na base parlamentar. Cunha virou algoz, aceitando o processo de impeachment contra ela da lavra de um fundador do PT, Hélio Bicudo, do ex-ministro da Justiça do tucano Fernando Henrique Miguel Reale Júnior e da professora de Direito da USP Janaína Paschoal.

Nos 272 dias sob julgamento no Congresso 160 no cargo e 112 dele afastada (se for mesmo impedida em 1.º de setembro) – ela atribuiu o dissabor à “vingança” de Cunha. Este, de fato, o abriu, mas não foi decisivo na maioria contra ela na comissão da Câmara (38 a 27), composta à feição dos interesses de sua defesa por intervenção do STF. Nem em mais quatro sessões: duas na comissão (15 a 5 e 14 a 5) e duas no plenário do Senado (55 a 22 e 59 a 21). E mais: mesmo tendo até agora logrado adiar sua cassação, o ex-presidente da Câmara não provou ter os votos de que precisa para manter o mandato.

Outra conta de seu lorotário é a do presidente em exercício, seu único sócio na chapa vencedora de 2014, com 54,5 milhões de votos. Temer tem o dever funcional, exigido pela Constituição, de assumir seu lugar, não merecendo, assim, as acusações que amiúde ela lhe faz de “traidor e golpista”.

Na dita “mensagem ao Senado Federal e ao povo brasileiro”, divulgada em palácio e na presença decorativa de repórteres, ela repetiu as lorotas de hábito. Pela primeira vez reconheceu ter cometido um “erro”. Este seria a escolha do vice e, em consequência, a aliança com o PMDB. Esqueceu-se de que sem esses aliados não teria sequer disputado o segundo turno em 2010 e 2014. Comprometeu-se ainda a adotar “as medidas necessárias à superação do impasse político que tantos prejuízos já causou ao povo”. Sem contar sequer com um terço do Senado e da Câmara, cujas decisões têm sido referendadas pelo STF, contudo, a única medida que ela poderá tomar será imitar Fernando Collor, atualmente seu prestativo serviçal, e renunciar. Para tanto, contudo, a Nação não aceita pacto de nenhuma espécie, seja a imunidade penal pessoal, seja outro privilégio. Não tem, muito menos, como convocar plebiscito para eleger quem cumpriria o resto do mandato, se a ele renunciar.

Só lhe restará, então, voltar ao merecido ostracismo, do qual não deveria ter sido retirada, e responder pelos vários crimes de que é acusada – e nega.

Fonte: José Nêumanne, jornalista, poeta e escrito
- Estadão



 

terça-feira, 8 de março de 2016

Jararaca irrelevante



A jararaca parece ser a novidade. Todos dizem que ela apanhou. Alguns dizem que a pancada pegou na cabeça. Outros juram que foi no rabo. Mas todos concordam. A jararaca parece não ter saído incólume.

Confesso que não lembrava exatamente o que era uma jararaca. Fui pesquisar. A original, segundo a Wikipédia, é uma serpente muito venenosa e responsável por grande parte das picadas de cobra em sua região de origem. Na natureza, tem jararaca de todo tipo e atendendo por muitos e diferentes nomes... Jararaca-do-campo, jararaca-do-cerrado, jararaca-dormideira, jararaca-preguiçosa e jararaca-verdadeira... E que todas gostam de ratos.

Já em sua forma humana, jararaca, na gíria, é Pessoa fofoqueira, traiçoeira. Qualidades adequadas para descrever a jararaca em questão. Esta, sem duvida alguma, foi atingida pela paulada metafórica. E virou noticia. Apesar do golpe, sobreviveu. Meio tonta, fez barulhos, esperneou, reclamou. Tem o direito.

Alguns podem achar que esta jararaca luta contra a extinção. É improvável. Ela provavelmente sobreviverá para ver o futuro, viver nele, testemunha-lo. Para esta jararaca, o futuro, especialmente o imediato, é importante. Para o futuro, é possível que a jararaca não tenha importância alguma.

Futuros são assim. Relegam a (no máximo) notas de rodapé personagens menores da trama. Lembram somente daquilo que vale a pena preservar. E, convenhamos, muita coisa e muita gente nos dias de hoje merecem ser esquecidos. Ou ignorados. A jararaca, inclusive.

Com sorte, em alguns anos, os ratos, as jararacas, o veneno, o bote, os ataques, enfim, estes tempo com muito calor e nenhuma luz talvez façam parte de passado distante que a gente possa ignorar. E dele levar somente o aprendizado para que nada disso se repita.
No meio tempo, a gente vai ter que ouvir e presenciar o estrebucho e barulho da jararaca. E entender que ela luta não pela sua sobrevivência. A jararaca (ou pelo menos esta jararaca) não está nem corre o risco de ser, extinta. Ela apenas perdeu a importância.

A gente já cansou dela. E prefere que ela continue sua caminhada relutante em direção ao ostracismo, enquanto, infelizmente, abusa da paciência, dos ouvidos e da boa educação. Continua viva. Mas cada vez mais esquecida. E irremediavelmente irrelevante.

Fonte: O Globo – Elton Simões