O Estado de S. Paulo
“O problema não é quem entra, é por que alguém entra (na Polícia Federal).”
Interferir em investigações da Polícia Federal é muito mais grave que uma pedalada fiscal;
contraponto do presciente Bolsonaro: " “Será que é interferir na Polícia Federal exigir, quase que implorar, o Sergio Moro para que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro?
Com essa frase forte, poderosa, o juiz Sérgio Moro encerrou sua
participação no Ministério da Justiça deixando acusações de altíssima
gravidade contra um presidente que lhe causou prejuízos, humilhações e
derrotas, depois de encerrar prematuramente sua brilhante carreira na
magistratura. Para um importante jurista, Moro não fez pronunciamento,
fez delação premiada. [acusações graves - lamentavelmente, para os inimigos do presidente Bolsonaro e do Brasil, como bem diz a jornalista são acusações, portanto, precisam ser provadas.
Uma delas - que se a mensagem fosse do presidente Bolsonaro, poderia até configurar o crime de prevaricação e advocacia administrativa - é de autoria da deputada Carla Zambelli, que se oferece para ajudar o ministro, assim, não houve crime, já que a deputada não usaria seu mandato de deputado para ajudar o ministro e nem falava em nome do presidente.]
Traduzindo, a pergunta do ministro é a de milhões de brasileiros que
querem entender “a causa” da troca do delegado Maurício Valeixo na
direçãoda Polícia Federal. O próprio Moro respondeu: o objetivo de Jair
Bolsonaro é interferir diretamente não apenas na PF, mas – e isso é o
mais dramático – nas próprias investigações.
O ponto mais chocante foi quando Moro disse que Bolsonaro exige ter acesso direto ao diretor- geral e aos superintendentes da PF e, inclusive, pasmem!, aos relatórios de inteligência e aos relatórios sigilosos sobre as investigações de corrupção e crime organizado. Isso é gravíssimo. Caracteriza [? - provas... onde estão?] crime de responsabilidade e tem uma dimensão muito maior do que as próprias pedaladas fiscais que deram base jurídica ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff. A sombra do impeachment está se avolumando sobre Bolsonaro.
O Planalto dirá que é a palavra de Bolsonaro contra a de Moro e que cabe ao acusador provar a acusação. Mas, do ponto de vista político e institucional, Moro já ganhou a batalha, pela forma firme, serena e digna com que anunciou a demissão e a ação do presidente para mergulhar de cabeça nas investigações da PF.
[O Brasil e os brasileiros devem muito ao ex-juiz Sérgio Moro, e isto não podemos esquecer - afinal Moro agiu com brilhantismo na Lava-Jato e foi ele (ato que nos fez seus perenes devedores) quem julgou, condenou e encarcerou o maior ladrão de todos os ladrões que existem e existiram no Brasil, o petista Lula da Silva, mas esta condição, lamentavelmente, foi ofuscada pelo ex-juiz, que se mostrou menor do que o cargo de ministro da Justiça.
Sua ambição, e pressa, desmedidas para vôos maiores o levaram a sair do honroso cargo, assacando contra quem foi por ele obrigado a demiti-lo, acusações infundadas e que não serão provadas - não são fatos.]
As circunstâncias sustentam a versão de Moro. É na PF que se desenrolam
diferentes investigações [acusações até o momento não provadas - Queiroz e o ex-deputado estadual são investigados deste antes da posse de Bolsonaro e nada que corrobore, sustente, as denúncias foi encontrado, pelo menos até agora.] contra os filhos do presidente ou se aproximam
perigosamente deles: Fabrício Queiroz, fake news, gabinete do ódio,
agora a organização e o financiamento de atos golpistas de grande
gravidade. Todas se embolam numa só.
No final, Moro deixou uma senha para sua entrada na política: “Sempre estarei à disposição do País. Respeitando o mandamento maior, o de fazer a coisa certa, sempre”. Não é o que Bolsonaro está fazendo e isso pode definir não apenas a distância entre ele e Moro, mas seu destino na Presidência, que pela primeira vez está concretamente sob risco.
Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo